quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A República e o secretismo

Liberdade inclui privacidade: o direito ao recato das nossas convicções, opiniões, paixões e desânimos, amizades e relações. Só somos realmente livres quando, podendo fazê-lo se quisermos, não somos forçados a dizer o que pensamos, o que somos, quem conhecemos e o que fazemos. Infelizmente, muitos parecem não entender assim: assiste-se a uma estranha caça às bruxas que já chegou à sugestão de que deveriam revelar a sua filiação maçónica os magistrados, e depois os políticos, e até os jornalistas. Ou mesmo todos.

Acontece que existem sempre segredos: dos indivíduos, das famílias, de associações mais ou menos formais e dos partidos políticos. E uma democracia decente não espreita pela fechadura da porta, não faz listas de quem frequenta o quê ou de quem pensa deste ou daquele modo. Essas são práticas mais próprias das ditaduras e das suas polícias secretas cuja sobrevivência em democracia é absurda. Porque uma sociedade civil forte tem necessariamente os seus fóruns de debate ou de aprendizagem, os seus clubes e sociedades (das quais as iniciáticas têm, redundância, segredos), mas não necessita que departamentos estatais, pagos pelos cidadãos e supostamente ao seu serviço, violem a sua privacidade ou lancem manobras mediáticas de contra-informação.

São serviços do Estado secretos e não fiscalizados que constituem um perigo para a liberdade.

6 comentários :

Miguel Gomes Coelho disse...

Ricardo,
tentei partilhar este texto e recebi a informação de que o seu URL está bloqueado. Não sei se está ao corrente.
Abraço.

Ricardo Alves disse...

Não sabia. Tentou partilhar a partir daqui ou do i? E com que serviço (Facebook, email, google)?

Miguel Gomes Coelho disse...

Daqui, Ricardo.
Através de conta Google.

Ricardo Alves disse...

Deve ser um problema do botão google. Tenho que ver isso. É o único artigo em que acontece?

Filipe Moura disse...

"Acontece que existem sempre segredos..."

Pois, Ricardo. Mas eu digo isto mesmo também para os estados (voltamos à discussão da Wikileaks).

"Essas são práticas mais próprias das ditaduras e das suas polícias secretas cuja sobrevivência em democracia é absurda."

Eu digo isto também da clandestinidade.

Ricardo Alves disse...

«"Acontece que existem sempre segredos..."

Pois, Ricardo. Mas eu digo isto mesmo também para os estados (voltamos à discussão da Wikileaks).»

Filipe, eu aceito o secretismo do Conselho de Ministros, o segredo do Ministério de Finanças sobre as operações financeiras que vão fazer na próxima semana, e o secretismo dos tribunais. Mas todas essas instâncias do Estado são escrutináveis, fiscalizáveis e quase ... transparentes, quando comparadas com os serviços ditos «de informações». Transformar em segredo de Estado escutas telefónicas a cidadãos que não são suspeitos de qualquer crime, ou tortura, é proteger o crime. E não me parece (chama-me ingénuo...) que o objectivo do Estado seja proteger o crime.

Além disso, o Estado existe para nos servir. Pagamo-lo, sustentamo-lo, e ele esconde-nos o que faz?

«"Essas são práticas mais próprias das ditaduras e das suas polícias secretas cuja sobrevivência em democracia é absurda."

Eu digo isto também da clandestinidade.»

O que é que chamas clandestinidade? É outra vez as maçonarias? Que têm sites na internet e a televisão lá dentro todos os dias? É isso clandestinidade? Ou clandestinidade é fecharem a porta e depois fazerem qualquer coisa que só a eles diz respeito?