sábado, 31 de janeiro de 2015

Um resumo da situação política na Europa após as eleições gregas

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Forças Curdas expulsam o Estado Islâmico de Kobani

Com tanto (e justificado*) entusiasmo com a vitória do Syriza, existiu outra importante vitória que quase passou despercebida a muita esquerda libertária.



Os paralelos com a guerra civil espanhola são vários (uma facção anarquista que quer ter autonomia sobre parte do território, uma facção fascista que quer tomar o estado, e uma facção apoiada pela Rússia que controla o estado), mas desta vez parece que o desfecho é diferente.

Estou muito curioso quanto a futuros desenvolvimentos.


sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Desigualdade

As desigualdades são tão extremas, e os dados são tão claros, que até o FMI reconhece este problema:


Excessiva desigualdade de rendimentos trava crescimento

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

«Eu sou Charlie»=«Eu sou a laicidade»

É o que diz o editorial do Charlie Hebdo, traduzido para português aqui.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Sou "semi-Charlie"

A 6 de Maio de 2002 Pim Fortuyn foi assassinado. Fortuyn era um político populista e xenófobo. Opunha-se abertamente à imigração de muçulmanos, que considerava provenientes de uma cultura "atrasada". Foi assassinado por um extremista ecologista holandês devido às suas posições sobre os muçulmanos.

A 2 de Novembro de 2004 Theo van Gogh foi assassinado. Van Gogh era um cineasta era um cineasta e articulista que também defendia posições polémicas, embora não tanto como Fortuyn, de quem de resto era amigo e apoiante. Foi assassinado por um extremista muçulmano holandês.

Ambas as mortes foram lamentadas, mas não geraram as ondas de comoção que geraram as dos cartunistas do Charlie Hebdo. Talvez por um atentado a um jornal ser visto como um caso extremo de condicionamento de liberdade de expressão, mas também talvez por van Gogh e Fortuyn serem personalidades controversas, sendo este último considerado um político de extrema direita. Ninguém pôs em causa as liberdades de expressão de van Gogh e Fortuyn, e ambos os atentados foram inequivocamente condenados. Mas havia em grande parte das pessoas a necessidade de se demarcar das posições, pelo menos de Fortuyn, apesar de ninguém lhe negar o direito de as afirmar.

Considero que qualquer religião é perfeitamente criticável (e aprecio críticas às religiões), mas alguns dos desenhos do Charlie Hebdo não se limitavam a criticar a religião, transmitindo antes mensagens xenófobas sobre uma comunidade. Por isso condeno absoluta e inequivocamente os atentados ao Charlie Hebdo, pelas vidas perdidas e pelo ataque à liberdade de expressão, mas sinto necessidade de me demarcar pelo menos de algum do conteúdo do Charlie Hebdo. A minha posição, pelo menos sobre alguns dos desenhos do Charlie Hebdo, é justamente esta. Se foi compreensível para os casos de Fortuyn e van Gogh, creio que também o será para este.

Estes assuntos são delicados. Na altura da crise das caricaturas de Maomé por um jornal dinamarquês (publicadas pelo João Vasco numa postagem abaixo), apoiei sem hesitar o direito de o jornal as publicar, e não me demarco delas. Pode ser que sejam de gosto discutível (qualquer desenho é); a intenção do jornal ao publicá-las talvez fosse despertar a ira da comunidade muçulmana e quiçá a islamofobia na Dinamarca; mas, no essencial, as caricaturas consistiam numa crítica a um aspeto totalitário da religião muçulmana: a proibição de representar graficamente Maomé. Essa proibição só é válida para quem quiser seguir os preceitos da religião muçulmana: nunca para todos os cidadãos. Religião e Estado são coisas diferentes. Deveria ser assim em todos os países e para todos os cidadãos. Se não é assim na maioria dos países árabes, considero isso lamentável. É assim na Europa e é assim que deve ser; os muçulmanos, imigrantes ou não, têm de perceber este facto. (Lamento afirmá-lo, mas estou portanto neste aspeto em total e absoluto desacordo com Ana Gomes.) Acrescia na altura um facto mais grave: a ira de diversos países árabes era não só contra o jornal, mas também contra o governo dinamarquês, por permitir a sua publicação. Pretendia-se assim uma censura, algo que na Europa também é inaceitável. Essas caricaturas simbolizavam assim a liberdade de expressão e a laicidade, dois valores muito caros.

No caso do Charlie Hebdo não se chegou a esse ponto de países árabes terem pedido a intervenção do governo francês. Talvez alguns tenham aprendido a lição ou talvez (mais provável) saibam que, em França, uma exigência dessas nunca seria atendida e seria mais um motivo de ridículo. Dito isto, e como já afirmei, alguns dos cartoons do Charlie Hebdo não se limitam a criticar uma religião, lançando anátemas sobre uma comunidade imigrante que já de si vive numa situação desfavorecida. Solidarizo-me com o Charlie Hebdo somente para defender inequivocamente a laicidade e a liberdade de expressão; tenho de me demarcar do Charlie Hebdo na mensagem xenófoba de alguns dos seus cartoons, que não quero que passe à boleia do "Eu Sou Charlie".

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Glenn Greenwald, "The Intercept": "IN SOLIDARITY WITH A FREE PRESS: SOME MORE BLASPHEMOUS CARTOONS"

Um texto que considero muito bom e cuja leitura sugiro. Deixo alguns destaques:

«This week’s defense of free speech rights was so spirited that it gave rise to a brand new principle: to defend free speech, one not only defends the right to disseminate the speech, but embraces the content of the speech itself. Numerous writers thus demanded: to show “solidarity” with the murdered cartoonists, one should not merely condemn the attacks and defend the right of the cartoonists to publish, but should publish and even celebrate those cartoons. “The best response to Charlie Hebdo attack,” announced Slate’s editor Jacob Weisberg, “is to escalate blasphemous satire.”
Some of the cartoons published by Charlie Hebdo were not just offensive but bigoted, such as the one mocking the African sex slaves of Boko Haram as welfare queens. Others went far beyond maligning violence by extremists acting in the name of Islam, or even merely depicting Mohammed with degrading imagery, and instead contained a stream of mockery toward Muslims generally, who in France are not remotely powerful but are largely a marginalized and targeted immigrant population. (...)



When I first began to see these demands to publish these anti-Muslim cartoons, the cynic in me thought perhaps this was really just about sanctioning some types of offensive speech against some religions and their adherents, while shielding more favored groups. In particular, the west has spent years bombing, invading and occupying Muslim countries and killing, torturing and lawlessly imprisoning innocent Muslims, and anti-Muslim speech has been a vital driver in sustaining support for those policies. (...)
So it’s the opposite of surprising to see large numbers of westerners celebrating anti-Muslim cartoons - not on free speech grounds but due to approval of the content. Defending free speech is always easy when you like the content of the ideas being targeted, or aren’t part of (or actively dislike) the group being maligned.
It is simply not the case that Charlie Hebdo “were equal opportunity offenders.” Like Bill Maher, Sam Harris and other anti-Islam obsessives, mocking Judaism, Jews and/or Israel is something they will rarely (if ever) do. If forced, they can point to rare and isolated cases where they uttered some criticism of Judaism or Jews, but the vast bulk of their attacks are reserved for Islam and Muslims, not Judaism and Jews. Parody, free speech and secular atheism are the pretexts; anti-Muslim messaging is the primary goal and the outcome. And this messaging – this special affection for offensive anti-Islam speech – just so happens to coincide with, to feed, the militaristic foreign policy agenda of their governments and culture.
To see how true that is, consider the fact that Charlie Hebdo – the “equal opportunity” offenders and defenders of all types of offensive speech - fired one of their writers in 2009 for writing a sentence some said was anti-Semitic (the writer was then charged with a hate crime offense, and won a judgment against the magazine for unfair termination). Does that sound like “equal opportunity” offending?»


quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Na verdade o Charlie Hebdo também me irrita

Admito perfeitamente que o Charlie Hebdo irrite muita gente muitas vezes. Também me irrita a mim muitas vezes: irritam-me publicações do tipo do Charlie Hebdo. Irrita-me o engraçadismo em geral, para usar a expressão de Pacheco Pereira. Também frequentemente me irritam o DN, o Público, o Expresso, A Bola, o Record, o Jogo e, menos frequentemente (porque não os levo tão a sério), o Correio da Manhã e o Sol. Mas isto é um problema meu. Só meu.

Mais do que irritar, admito perfeitamente que o Charlie Hebdo ofenda muita gente com muitos dos seus clichés. Mas para isso há bons remédios. Se alguém nos ofende, se nos injuria e difama, devemos recorrer aos tribunais. Tirando estes casos, as ideias combatem-se e defendem-se no debate político, que deve ser aberto e livre. Ninguém pode ser silenciado pelas suas ideias. Muito menos morto. É assim que eu quero viver. E é claro que, mesmo que se ganhe o debate político, haverá sempre notícias que nos irritam: o mundo não é perfeito; a vida não é um mar de rosas. Ninguém tem o direito de calar os outros só porque escrevem coisas que não agradam. Muito menos matar. É uma base da nossa civilização que demorou séculos a ser construída e de que não podemos abdicar por nada. Quem quer viver entre nós tem de a aceitar. Na verdade creio que todo o mundo a deveria aceitar: a liberdade de expresão e pensamento é um direito fundamental.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Para marcar a ocasião

É comum sentir algum grau de obrigação em divulgar aquilo que é silenciado pela violência ou ameaça de violência.
Assim, não quero deixar de assinalar esta notícia com as seguintes imagens:




Não passarão


segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

O apego de Berlim à letra das regras treme como gelatina

Os alemães sabem bem como as convicções de Merkel mudam com o vento. Como é afirmado pelos seus biógrafos, o que a orienta não são princípios ou a suposta obsessão germânica com as regras, mas o poder. Apoiante fiel da energia nuclear (um dos tópicos mais quentes da política alemã), deu uma pirueta de 180º semanas depois do desastre de Fukushima estabelecendo um prazo para encerrar as centrais nucleares e arrancar com o maior investimento de sempre nas renováveis.
Nos "resgates" à Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha, cujas dívidas privadas e públicas constavam dos activos dos bancos alemães, Berlim foi implacável ao defender que o ónus da crise deveria recair no devedor e não no credor. No "resgate" ao Chipre, cujas dívidas estavam ligadas à Rússia e não a Alemanha, Berlim dá nova pirueta e defende que os dois lados são responsáveis, impondo grandes perdas aos credores.
Desde 2008 que todos os bancos centrais duplicaram ou triplicaram a moeda em circulação através da compra de títulos de dívida pública; todos excepto o BCE que sob enorme pressão de Berlim foi sempre recordado que o Tratado de Lisboa o impediria. Muito provavelmente uma tal intervenção teria reduzido a crise do euro de 2010 (que foi mais grave que a de 1929 para muitos países do zona euro) a uma mera crise orçamental em Atenas.
Estamos agora perante uma nova pirueta de Berlim no que toca às regras do euro no Tratado de Lisboa. Segundo este, não há hipótese de um país abandonar o euro dentro da UE. Esta é contudo a hipótese levantada por Berlim, uma saída do euro sem saída da UE, agora que os ventos que sopram de Atenas não são do seu agrado.