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quinta-feira, 2 de julho de 2015

A imprensa nacional e os gregos malditos

Não tenho sido o único a notar que a imprensa nacional passa uma história diferente daquela que é passada pela imprensa anglo-saxónica. Nada melhor para ilustrar isto do que os textos sobre a declaração de hoje do FMI:

Enquanto uns dizem que o FMI pede maior flexibilidade na ajuda à Grécia...

The IMF called on Thursday for Europe to grant the country “comprehensive” debt relief.
Concessions proposed by the IMF was a doubling of the maturities on Greece’s existing debts to 40 years and the inclusion of a 20-year grace period on repayments.
 
The International Monetary Fund (...) conceded that the crisis-ridden country needs (...) large-scale debt relief to create “a breathing space” and stabilise the economy.
IMF revealed a deep split with Europe as it warned that Greece’s debts were “unsustainable”.
Fund officials said they would not be prepared to put a proposal for a third Greek bailout package to the Washington-based organisation’s board unless it included both a commitment to economic reform and debt relief.
According to the IMF, Greece should have a 20-year grace period before making any debt repayments.
 
... outros dizem que aponta o dedo à Grécia
 
O Fundo Monetário Internacional (FMI) defende que se a Grécia não concretizar um conjunto de reformas precisará de um perdão de dívida (haircut).

Jornal de Negócios
O Fundo Monetário Internacional efectuou uma análise à sustentabilidade da dívida pública da Grécia, tendo concluído que será necessário um "haircut" caso o país não implemente reformas 
 
Nem tive coragem de abrir o Observador...

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Para começar, convém não confundir a função com a derivada

Tratando-se da evolução do salário mínimo preconizada pelo governo grego, onde o Vítor Cunha vê um delta de Dirac eu vejo uma função de Heaviside.

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Carta Aberta de Alexis Tsipras aos Leitores do Handelsblatt

Lida aqui:

«A maior parte de vós, caros leitores do Handelsblatt, terá já uma ideia preconcebida acerca do tema deste artigo, mesmo antes da leitura. Rogo que não cedais a preconceitos. O preconceito nunca foi bom conselheiro, principalmente durante períodos em que uma crise económica reforça estereótipos e gera fanatismo, nacionalismos e até violência.

Em 2010, a Grécia deixou de conseguir pagar os juros da sua dívida. Infelizmente, as autoridades europeias decidiram fingir que o problema poderia ser ultrapassado através do maior empréstimo de sempre, sob condição de austeridade orçamental, que iria, com uma precisão matemática, diminuir drasticamente o rendimento nacional, que serve para pagar empréstimos novos e antigos. Um problema de insolvência foi tratado como se fosse um problema de falta de liquidez.
Dito de outro modo, a Europa adoptou a táctica dos banqueiros com pior reputação, que não reconhecem maus empréstimos, preferindo conceder novos empréstimos à entidade insolvente, tentando fingir que o empréstimo original está a obter bons resultados, adiando a bancarrota. Bastava bom senso para se perceber que a adopção da táctica “adiar e fingir” levaria o meu país a uma situação trágica. Em vez da estabilização da Grécia, a Europa estava a criar as condições para uma crise auto-sustentada que põe em causa as fundações da própria Europa.

O meu partido e eu próprio discordamos veementemente do acordo de Maio de 2010 sobre o empréstimo, não por vós, cidadãos alemães, nos terdes dado pouco dinheiro, mas por nos terdes dado dinheiro em demasia, muito mais do que devíeis ter dado e do que o nosso governo devia ter aceitado, muito mais do que aquilo a que tinha direito. Dinheiro que não iria, fosse como fosse, nem ajudar o povo grego (pois estava a ser atirado para o buraco negro de uma dívida insustentável), nem sequer evitar o drástico aumento da dívida do governo grego, às custas dos contribuintes gregos e alemães.

Efectivamente, passado menos de um ano, a partir de 2011, as nossas previsões confirmaram-se. A combinação de novos empréstimos gigantescos e rigorosos cortes na despesa governamental diminuíram drasticamente os rendimentos e, não só não conseguiram conter a dívida, como também castigaram os cidadãos mais frágeis, transformando pessoas que, até então, haviam tido uma vida comedida e modesta em pobres e mendigos, negando-lhes, acima de tudo, a dignidade. O colapso nos rendimentos conduziu milhares de empresas à falência, dando um impulso ao poder oligopolista das grandes empresas sobreviventes. Assim, os preços têm caído, mas mais lentamente do que ordenados e salários, reduzindo a procura global de bens e serviços e esmagando rendimentos nominais, enquanto as dívidas continuam a sua ascensão inexorável. Neste contexto, o défice de esperança acelerou de forma descontrolada e, antes que déssemos por ela, o “ovo da serpente” chocou  – consequentemente, os neo-nazis começaram a patrulhar a vizinhança, disseminando a sua mensagem de ódio.

A lógica “adiar e fingir” continua a ser aplicada, apesar do seu evidente fracasso. O segundo “resgate” grego, executado na Primavera de 2012, sobrecarregou com um novo empréstimo os frágeis ombros dos contribuintes gregos, acrescentou uma margem de avaliação aos nossos fundos de segurança social e financiou uma nova cleptocracia implacável.

Recentemente, comentadores respeitados têm mencionado a estabilização da Grécia e até sinais de crescimento. Infelizmente, a ‘recuperação grega’ é tão-somente uma miragem que devemos ignorar o mais rapidamente possível. O recente e modesto aumento do PIB real, ao ritmo de 0,7%, não indica (como tem sido aventado) o fim da recessão, mas a sua continuação. Pensai nisto: as mesmas fontes oficiais comunicam, para o mesmo trimestre, uma taxa de inflação de -1,80%, i.e., deflação. Isto significa que o aumento de 0,7% do PIB real se deveu a uma taxa de crescimento negativo do PIB nominal! Dito de outro modo, aquilo que aconteceu foi uma redução mais rápida dos preços do que do rendimento nacional nominal. Não é exactamente motivo para anunciar o fim de seis anos de recessão!

Permiti-me dizer-vos que esta lamentável tentativa de apresentar uma nova versão das “estatísticas gregas”, para declarar que a crise grega acabou, é um insulto a todos os europeus que, há muito, merecem conhecer a verdade sobre a Grécia e sobre a Europa. Com toda a frontalidade: actualmente, a dívida grega é insustentável e os juros não conseguirão ser pagos, principalmente enquanto a Grécia continua a ser sujeita a um contínuo afogamento simulado orçamental. A insistência nestas políticas de beco sem saída, e em negação relativamente a simples operações aritméticas, é muito onerosa para o contribuinte alemão e, simultaneamente, condena uma orgulhosa nação europeia a indignidade permanente. Pior ainda: desta forma, em breve, os alemães virar-se-ão contra os gregos, os gregos contra os alemães e, obviamente, o ideal europeu sofrerá perdas catastróficas.

Quanto a uma vitória do SYRIZA, a Alemanha e, em particular, os diligentes trabalhadores alemães nada têm a temer. A nossa tarefa não é a de criar conflitos com os nossos parceiros. Nem sequer a de assegurar maiores empréstimos ou, o equivalente, o direito a défices mais elevados. Pelo contrário, o nosso objectivo é conseguir a estabilização do país, orçamentos equilibrados e, evidentemente, o fim do grande aperto dos contribuintes gregos mais frágeis, no contexto de um acordo de empréstimo pura e simplesmente inexequível. Estamos empenhados em acabar com a lógica “adiar e fingir”, não contra os cidadãos alemães, mas pretendendo vantagens mútuas para todos os europeus.

Caros leitores, percebo que, subjacente à vossa “exigência” de que o nosso governo honre todas as suas “obrigações contratuais” se esconda o medo de que, se nos derem espaço para respirar, iremos regressar aos nossos maus e velhos hábitos. Compreendo essa ansiedade. Contudo, devo dizer-vos que não foi o SYRIZA que incubou a cleptocracia que hoje finge lutar por ‘reformas’, desde que estas ‘reformas’ não afectem os seus privilégios ilicitamente obtidos. Estamos dispostos a introduzir reformas importantes e, para tal, procuramos um mandato do povo grego e, claro, a cooperação dos nossos parceiros europeus, para podermos executá-las.

A nossa tarefa é a de obter um New Deal europeu, através do qual o nosso povo possa respirar, criar e viver com dignidade.

No dia 25 de Janeiro, estará a nascer na Grécia uma grande oportunidade para a Europa. Uma oportunidade que a Europa não poderá dar-se ao luxo de perder.»

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Três eleições


  1. Na Grécia, ganhou a direita pró-austeridade. É mesmo isso, e toda a esquerda deveria reflectir tanto na derrocada histórica do PASOK como na incapacidade do SYRIZA de mobilizar e vencer, contra a tróica, o austeritarismo e a Alemanha de Merkel e Westerwelle (e é dos gregos que falamos!). Falar em «grande vitória» neste contexto é absurdo. Pior ainda é o lunático comunicado do PCP (que esconde o pior resultado do KKE desde... 1932, numa situação que chegou a ser descrita como «pré-revolucionária» por alguns irrecuperáveis obcecados com 1917).
  2. No Egipto, o pior de dois mundos: o candidato islamista venceu a eleição presidencial, e os militares parecem querer recuperar o poder. Entre uma ditadura dos militares e uma «democracia» dominada por  islamistas, os democratas laicos são afinal uma pequena minoria.
  3. Melhor notícia da noite, e talvez a mais importante para os próximos meses em Portugal: em França, os socialistas terão maioria no Parlamento, depois de Hollande ter sido eleito Presidente. O PSF é o mais à esquerda dos partidos socialistas europeus. Merkel hoje deita-se mal disposta, apesar da Grécia. François Hollande é a verdadeira esperança da esquerda europeia para os próximos meses...

domingo, 17 de junho de 2012

Intoxicação

Quem esteve atento à imprensa internacional de hoje, leu as múltiplas de declarações de instituições financeiras e de partidos com elas comprometidos a prever todo o tipo de catástrofes possíveis para a Grécia, a Europa e o Mundo, caso ganhe o Syriza. A intoxicação dá como certa a saída da Grécia do euro. Juntos, os partidos gregos que defendem a saída do euro vão ter menos de 15%. Como é que a Grécia vai sair do euro? Só se for empurrada. Vão ser os bancos e o sistema financeiro a empurrar a Grécia para fora do euro, eles que curiosamente participaram no saque? Ou vai ser a CDU de Merkel?  Estou curioso para ver quem serão os protagonistas que vão tentar ter mais legitimidade do que a expressão dos eleitores gregos nas urnas.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Syriza, uma bela resposta dos gregos

Depois da crise estalar, a reação nas urnas foi, grosso modo, a de castigar o boneco que estava no poder. Outra reação frequente foi votar no candidato-palhaço. Em Portugal tivemos essa versão em José Manuel Coelho sem grande sucesso, mas em Reiquiavique o palhaço ganhou e governa desde 2010. Depois houve a reação mais clássica que é votar na constelação de partidos ultra-conservadores e nacionalistas, partidos que não têm programa político a médio e a longo prazo, onde tudo se baseia na culpabilidade de uma certa faixa da população por todos os males do país (ciganos, desempregados, imigrantes, judeus, muçulmanos, etc.). Outro clássico é o discurso anti-políticos muito do agrado dos principais culpados da crise, setor financeiro e banca, para sacudir a água do capote. Foi deste discurso anti-políticos, por exemplo, que surgiu a Forza Italia de Berlusconi em meados dos anos 90, depois da operação Mãos Limpas. Eram todos maus e corruptos, exceto ele Berlusconi, aliás como o tempo veio a demonstrar...
Se recuarmos um pouquinho na máquina do tempo, até aos anos 30 do século XX, descobrimos o maravilhoso futuro que este cocktail de nacionalistas, palhaços e políticos anti-políticos reservou à Europa. Foi só a pior catástrofe de sempre. Nunca se destruiu tanto e nunca se morreu tanto na Europa em tão pouco tempo.

Durante as últimas décadas houve algumas famílias políticas que sempre se recusaram a compactuar com uma economia onde o estado e os cidadãos estivessem reféns dos mercados financeiros, que preferiam um modelo onde os mercados estivessem ao serviço dos cidadãos, das empresas e da qualidade de vida. E por isso foram frequentemente ostracizados.  
Exemplos conhecidos são a família dos Verdes Europeus, esquerdas alternativas (a que pertence o BE e o Syriza), alguns partidos socialistas e sociais-democratas que não se deslumbraram com os mercados e, à direita, alguns partidos democratas-cristãos genuínos que não venderam a alma ao diabo. Estes partidos raramente governaram nas últimas décadas de devaneio financeiro, é natural. 
Dada a gravidade da sua situação, a Islândia foi um dos primeiros casos em que os eleitores perceberam que era preciso escolher os que sempre se bateram contra o tipo de economia que destruiu o país e elegeram a Aliança Social Democrata (partido da família do BE). Em toda a Europa, partidos desta mesma família esquerdista e europeísta (a favor do euro e de mais integração) como o Front de Gauche em França, o Syriza na Grécia, o Partido Socialista na Holanda e partidos da família dos Verdes estão a aumentar consideravelmente a sua representatividade. Os Verdes já governam em Baden-Württemberg. Na Holanda e na Grécia tudo indica que estes partidos poderão discutir a vitória nas próximas eleições. Se forem governo não é garantido que os respetivos países se transformem num mar de rosas, mas uma coisa é certa, os mercados por muito que lhes custe vão começar a trabalhar mais ao serviço do Estado, dos cidadãos, das empresas e dos produtores. A expressão da vontade de mudança dos gregos, aderindo massivamente ao Syriza, é de louvar. O mais fácil seria exprimir a vontade de mudança aderindo aos nacionalismos, aos populismos anti-políticos e aos palhaços cujo programa político é nulo a médio e a longo prazo e que só iria agravar o caso das gerações seguintes. A escolha dos gregos pelo Syriza até poderá revelar-se uma desilusão, mas por muito má que seja essa desilusão esta escolha comportará consigo sempre mais futuro e mais esperança para as próximas gerações do que todas as outras opões, aliás já mais do que batidas.

Boa sorte Syriza!

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Sondagens na Grécia


Mais sobre os vários partidos, sondagens, outros aspectos destas eleições aqui.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Debater com um neonazi


Hoje de manhã, ocorreu um debate televisivo no canal ANT1, com convidados de vários partidos, entre os quais o KKE, SYRIZA, ND, Aurora Dourada (neonazi).
A representante do partido SYRIZA questionou o representante do partido Aurora Dourada sobre o processo em tribunal que este tem por agressão a um estudante universitário, apoio em assalto e posse e uso ilegal de armas. Em reacção (ilustrativa), o membro do partido Aurora Dourada atirou água à represetante do SYRIZA. Logo de seguida, como a representante do KKE exigiu que saísse da sala, esbofeteou-a.
Foi colocado numa sala, aguardando a chegada da polícia. Antes que isso acontecesse, destruiu a porta e fugiu. Encontra-se neste momento a ser procurado pelas autoridades.

Infelizmente o vídeo que se segue não tem legendas, mas no essencial não são necessárias:



segunda-feira, 4 de junho de 2012

Incertezas

Na China, no Chipre, e em Espanha.
E na Grécia, claro está.

No discurso do executivo alemão, a mesma falta de pudor em atacar a soberania dos parceiros europeus. Não se trata de um discurso federalista, mas sim de um discurso imperialista, a lembrar a «piada de Trichet».

Tempos imprevisíveis e, talvez por isso, algo assustadores.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Revista de blogues (22/5/2012)


  • «A direita europeia tem passado as duas últimas semanas a chantagear o povo grego e a demonizar o líder do Syriza, Alexis Tsipras; e reafirmando um poder de soberania que manifestamente os gregos não admitem. Desde Merkel até Lagarde, passando pelo inefável José Manuel Barroso, todos parecem querer ter uma palavra a dizer sobre o destino da Grécia.

    Não se pode negar que tenham. O que preferem querer esquecer é que ao destino de Grécia está intimamente unido o futuro do Euro e da União Europeia. Por isso não se percebe a posição de força desta direita que oscila entre a cegueira ideológica e a orgulhosa teimosia. Todos os dias se repetem as ameaças: as medidas de austeridade são para cumprir. Ignorando que foram essas medidas de austeridade que levaram ao descalabro económico da Grécia e, estranhamente, de acordo com as belas cabecinhas pensadoras desta gente, à ascensão dos partidos de protesto nas legislativas. É como se a Europa estivesse a seguir disparada em direcção ao abismo, ignorando todos os sinais alertando para o fim da linha.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Rescaldo das eleições gregas

Bloco central: passou de 77,4% para 32%. O PASOK perdeu mais de dois terços do seu eleitorado, a Nova Democracia quase metade. O troiquismo levou uma tareia: perderam três quintos do apoio

Esquerda (parlamentar): de 56% para 45%. A esquerda perdeu votos.

Direita (parlamentar): de 40% para 51%. A direita ganhou votos.

Já agora: a esquerda mais à esquerda beneficiou. O KKE subiu 1%, a Esquerda Democrática estreou-se com 6% e o SYRIZA subiu 12%. Simplesmente, tendo em conta que o PASOK perdeu 31%, a subida destas esquerdas não me parece impressionante...

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Grécia: subida dos anti-tróica mas tudo na mesma?

As eleições na Grécia (já no domingo) têm merecido pouca atenção nos media e na blogosfera (com uma excepção). E no entanto, vai a votos o país que vai «um ano à nossa frente» na espiral da crise.

A confirmarem-se as sondagens, os resultados não serão muito tranquilizadores para a esquerda. O PASOK, como era de esperar, será quase varrido do mapa (passará de 44% para uns 15%). A esquerda mais radical beneficia, mas (atendendo às circunstâncias) muito pouco: o KKE (os únicos comunistas da UE «antiga» mais estalinistas do que o PCP) passarão de 7,5% para 10%; já o SYRIZA (o BE lá do sítio) irá de 4,5% para 11%. Portanto, numa situação que já foi descrita quase como «pré-revolucionária», os «revolucionários» terão cerca de 20%. A Esquerda Democrática (equivalente a uma união entre dissidentes do BE e do PS) que se apresenta pela primeira vez e é anti-tróica mas não anticapitalista, terá uns 8%. Ou seja, a esquerda «anti-tróica» ganhará votos e deputados, mas no meio de uma crise criada pelo capitalismo a esquerda como um todo perderá bastante.

A direita até pode ganhar. A Nova Democracia, lado direito do bloco central grego, comprometida como está com o troiquismo, é certo que perde: irá de 33% para uns 23%. Os seus dissidentes «anti-tróica» (o ANEL) terão uns 10%. O LAOS, que era descrito por toda a imprensa como «extrema-direita» antes de ir para o governo, passa de 5,6% para 3,6%, enquanto os neo-nazis (é o termo apropriado) surgem com 5%. A direita anti-tróica também deve ganhar votos e deputados.

Este cenário é confuso para um país em que o bloco central costumava esmagar. A pulverização partidária é agora enorme (há ainda os ecologistas e outros partidos de dissidentes, mas a minha paciência não chega lá). O sistema eleitoral simplifica: com 40 deputados de «jackpot» para o partido mais votado e imensos círculos eleitorais, a proporcionalidade entre votos e deputados nunca existiu e obviamente existirá ainda menos desta vez. O mais provável, ironia das ironias, é que o novo parlamento grego tenha uma maioria pró-tróica com os dois actuais partidos de governo: a Nova Democracia e o PASOK. Ou seja, ficará tudo na mesma. Com a pequena diferença de que os «anti-tróica» terão todos «subidas» para os motivar (e alentar novos protestos).

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A dívida alemã

Porque me parece uma reflexão que merece ampla divulgação, também citarei integralmente o artigo de opinião de Manuel António Pina, com o título «A dívida alemã»:


«Gostaria de ver os arautos dos "mercados" que moralizam que "as dívidas são para pagar" (no caso da Grécia, com a perda da própria soberania) moralizarem igualmente acerca do pagamento da dívida de 7,1 mil milhões de dólares que, a título de reparações de guerra, a Alemanha foi condenada a pagar à Grécia na Conferência de Paris de 1946.

Segundo cálculos divulgados pelo jornal económico francês "Les Echos", a Alemanha deverá à Grécia em resultado de obrigações decorrentes da brutal ocupação do país na II Guerra Mundial 575 mil milhões de euros a valores actuais (a dívida grega aos "mercados", entre os quais avultam gestoras de activos, fundos soberanos, banco central e bancos comerciais alemães, é de 350 mil milhões).

A Grécia tem inutilmente tentado cobrar essa dívida desde o fim da II Guerra. Fê-lo em 1945, 1946, 1947, 1964, 1965, 1966, 1974, 1987 e, após a reunificação, em 1995. Ao contrário de outros países do Eixo, a Alemanha nunca pagou. Estes dados e outros, amplamente documentados, constam de uma petição em curso na Net reclamando o pagamento da dívida alemã à Grécia.
Talvez seja a altura de a Grécia exigir que um comissário grego assuma a soberania orçamental alemã de modo a que a Alemanha dê, como a sra. Merkel exige à Grécia, "prioridade absoluta ao pagamento da dívida".»

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

É oficial: Alemanha quer tutelar a Grécia

É oficial: a Alemanha quer que a Grécia aceite um comissário da UE em Atenas, com direito de veto sobre as despesas correntes e outras «competências orçamentais». A proposta, ontem, era só um rumor. Hoje tem a cara de Philipp Roesler. Ou seja, o FDP confirma-se como o partido mais «imperialista» do actual governo da Europa (o real, o alemão). E Martin Schulz, presidente do Parlamento europeu, também alemão mas socialista, apoia a ideia.

Parece uma situação de «pegar ou largar». A brutalidade da proposta ou se destina a empurrar a Grécia para fora da UE e para a bancarrota, ou então esconde um plano B de bastidores, presumivelmente tão ou mais brutal. Em qualquer dos casos, a Grécia chegou ao dilema final da UE, que desde Maastricht se desenhava: ou democracia nacional ou Europa alemã.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Pegar ou largar?

É isso que parece a proposta feita à Grécia.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Grécia: subida dos extremos?

Tem faltado à crise actual um elemento para duvidar seriamente do futuro da democracia na Europa: a subida dos partidos dos extremos.

Na Grécia, no momento em que o governo dos tecnocratas tomou posse, a «esquerda radical» tem realmente uma subida assinalável: atinge os cerca de 34% de intenções de voto numa sondagem. É muito (para a Grécia, não o seria para o Chipre), e reflecte principalmente o descrédito do PASOK, que cai para 19.5% (-24% relativamente às eleições de 2009). Como, ainda mais do que em Portugal, os partidos à sua esquerda estão muito divididos (quatro facções: comunistas, BE em grego, dissidentes do BE e ecologistas), o PASOK, de qualquer modo, permaneceria o segundo maior partido se se realizassem eleições.

Significativamente, a mesma sondagem dá uma queda aos conservadores (28.5%, -5%), presumivelmente a favor da extrema-direita (8.5%, +3%).

Tudo isto mostra, no país mais avançado na crise, um emagrecimento dos partidos do «bloco central». Mas não mostra uma alternativa a formar-se.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O silêncio dos carneiros

Anteontem à noite, Papandreou levou um par de estalos de Merkel. Sarkozy apanhou-o de costas e deu-lhe um calduço. Logo a seguir, um grupo de tipos com ar de banqueiros empurraram-no para a casa de banho e meteram-lhe a cabeça debaixo da torneira. Ao chegar a casa, Papandreou viu um grupo de generais ao fundo da rua, fardados e armados.

Ontem, borregou.

E António José Seguro?
Foi tudo bastante mais simples.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A Europa Soberanista no seu pior

Esta União Europeia representa o modelo soberanista no seu pior. O Conselho, composto pelos chefes de estado de cada país, tem um poder excessivo onde pesam demasiado os egoísmos nacionais e os protagonismos individuais (Sarkozy e Berlusconi, por exemplo). São os mesmos chefes de estado que escolhem o Presidente da Comissão Europeia e o Presidente do Conselho. De preferência escolhem quem não lhes faça sombra, figurinhas de segunda ou terceira linha como Van Rompuy ou Barroso. Por exemplo, é hoje conhecido que Blair (ou seja indirectamente Bush) boicotou a escolha de Jean-Claude Juncker para presidente da Comissão para escolher o prestável Barroso aquando da invasão do Iraque.

Este modelo da UE tanto é o modelo de Sarkozy, como o de Merkel ou o modelo de Papandreou. Este último promovido anteontem a grande democrata, nunca batalhou pelo reforço dos poderes do Parlamento Europeu ou pela democratização da Comissão ou do Conselho. A nível interno Papandreou nunca propôs referendar a entrada da Grécia no euro quando esta não cumpria as condições mínimas em 2001, ou referendar a organização de uns jogos olímpicos que a Grécia não podia pagar, ou referendar um orçamento da defesa que rondava os 5% do PIB ou referendar o poder excessivo e ilegítimo de uma oligarquia financeira na economia do seu país. Se tocasse neste último ponto, aí sim estaria genuinamente a defender o futuro da Grécia e aí sim a Grécia poderia tornar-se mais democrática. O referendo que propõe é puramente tacticista, é um referendo para salvar a face, onde os Gregos vão decidir entre dose e meia-dose de austeridade.

Há muito que Delors e depois Prodi defenderam a inevitabilidade de uma maior integração europeia, opiniões transversais ao espectro do Parlamento Europeu, que vão de Juncker a Cohn-Bendit, têm combatido a via soberanista. Não é por falta de opções que a UE não progride. A eleição directa pelos europeus dos Presidentes da Comissão ou do Conselho e o reforço dos poderes do Parlamento Europeu facilitaria a escolha de candidatos de primeira linha, que verdadeiramente se interessam pelo projecto europeu e poderia evitar uma Europa à deriva, ao sabor dos caprichos de Sarkozy, Papandreou ou Merkel.