terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Patriotismo é pedir recibo

Um país como o nosso que exporta tantos produtos interessantes (da cortiça ao vinho) e com qualidade, confesso que me dá asco essa conversa do "compre nacional". Se os outros países fizessem o mesmo íamos lavar os pés com vinho e deixar o CDS cortar rente os sobreiros que Nobre Guedes e Assunção Cristas pouparam. Separo esta questão do debate muito válido de taxar produtos em função da distância onde foram produzidos, por razões ecológicas.

Se quisermos ser uns grandes patriotas o melhor serviço que temos a fazer pelo país é pedir SEMPRE o recibo. Mas aí o patriota que há em nós perde logo a mesma garganta que se inflamou com o slogan "compre nacional". Em publicação recente, o Observatório de Economia e Gestão de Fraude estima em cerca de 42,7 mil milhões, ou 24,8% do PIB, o volume da economia paralela em 2010. A média estimada da economia paralela entre os países da OCDE é de 16,4 % do PIB. Se estas transações pagassem um imposto médio de 20% no nosso país, o défice em 2010 teria sido de 2,8% em vez de 8,6%. É esta a dimensão do roubo.

11 comentários :

tempus fugit à pressa disse...

Num país que importa 70% do laranjal e deita 20 mil tones nacionais para o lixo ou para sumo

20 milhões de quilos a 20 cêntimos
2 milhões de euros e uns centos de milhares de IVA e IRS associados

comprar leite carne e queijo nacional é permitir a quem paga impostos alimentar o estado...

quando for consertar o chaço peça ao mecânico com IVA

quando for comprar no Take Away ou tomar uma bica lá no seu diga com factura...

quando comprar nos ciguenos faça o mesmo ma leve faca...

exportamos cortiça tirada em Marrocos...que um tirador de cortiça em Portugal pode ganhar 1500 ao mês ...mas há poucos

felizmente os ciganos são gente de trabalho..desde que seja de graça agente bai a tudo
cortiça alfarroba...
compra bolos de alfarroba?
nem por isso...e a espanha também baixou as compras

mais uma fábrica de bolos que vai meter pessoal na rua..
(tem con trato com a auchan)

a auchan e o intermarché metem leite aqui a 40 cêntimos se necessário
o mesmo que o grupo Sonae fez...
nisso ainda tinhamos quase auto-suficiência..

mas leite franciu é mejor

Maquiavel disse...

Um belo artigo, uma resposta acutilante ao execrável artigo do outro no 5 Dias!!! Que idiota (in)útil do neoliberalismo! Os neoliberais querem precisamente é que o Estado perca receitas para justificar cortes nos serviços públicos. Ao boicotar os impostos, quem lhe paga o salário? Vou-lhe perguntar!
Quando o Estado tudo privatizar, aí sim, que justificaçäo existirá para pagar impostos? AH, a Defesa, como escreveu o Adam Smith, cuja teoria NUNCA está ultrapassada, embora escrita 150 anos antes da do Marx...

Quanto ao resto:
Essa "taxa ecológica" näo está já incluída no preço do transporte? Vem de mais longe, gasta mais energia.
Mais, uma taxa por quilómetro näo leva em conta transporte por camiäo (gasóleo) vs. transporte por comboio (eléctrico)!!!
Taxem mais ainda os combustíveis fósseis e assunto resolvido.

E à entidade do costume: tem a certeza o senhor de que o leite/iogurtes/etc. do auchan e intermarché é franciu? Entäo pergunte-se porque é que os produtores portugueses, com custos de factores metade dos francius, näo conseguem também produzir ao mesmo preço.

E já agora informe-se porque é que a Finländia até tomate produz (!!!), mas os portugueses nem adubo podem meter nos deles porque desse modo excedem a quota -- tudo bem, depois passa a "tomate biológico" e sabe melhor...

NG disse...

"confesso que me dá asco essa conversa do "compre nacional". Se os outros países fizessem o mesmo..."

Nomeie um (um só)que não o faça.

João Vasco disse...

Nenhum dos países a quem exportamos faz aquilo que a frase sugere, pois de outra forma não exportaríamos nada.

João Vasco disse...

Em vez da conversa do «compre nacional» deveriam sim existir tarifas alfandegárias tendo em conta a falta de liberdade sindical, a legislação laboral que permita situações de quase-escravatura (incluindo trabalho infantil), ou a falta de legislação que acautele a sustentabilidade ambiental do produto. E em vez de indexar o que quer que fosse à distância, deveria existir um imposto mundial sobre as emissões de CO2, que por si só tornaria os produtos mais distantes mais caros na proporção certa para evitar o dano ambiental quando ele é superior aos benefícios causados pela troca internacional (encorajando no processo formas mais ecológicas de transportar os produtos).

NG disse...

João Vasco,

Qual a diferença entre aquilo que sugeres e a atitude "compre nacional"?

João Vasco disse...

Nuno Gaspar,

Imagina que na Alemanha fazem sofás mais baratos, ou com uma relação qualidade preço que os faz mais apetecíveis para os consumidores - mesmo depois das externalidades pelas emissões terem sido pagas. Neste caso eu acharia mal que o consumidor português se refreasse de comprar o sofá alemão, da mesma forma que acharia mal que o consumidor alemão nas mesmas circunstâncias (externalidades pagas) se refreasse de comprar vinho português, ou sapatos portugueses, ou roupa portuguesa, etc..

NG disse...

Mas fazem sofás mais baratos porquê? Usam varinhas de condão? Tudo isso são cantigas. Há poucas coisas tão cínicas na história do pensamento económico como a teoria das vantagens comparativas. A OMC e os seus processos bilionários, a PAC europeia, as políticas agrícolas e industriais americanas, da Coreia ou do Japão, estão aí para o provar. O livre comércio é uma fantasia adolescente.

João Vasco disse...

Nuno Gaspar,

Os sofás foram um exemplo, mas a razão poderia ser uma questão de economia de escala, e a localização na Alemanha uma questão de preferir uma localização central (por oposição a periférica).

A teoria das vantagens comparativas em si não está errada - desde que seja lida como aquilo que é: um modelo simplificado. Ela não deve é ser usada para justificar aversão a qualquer tipo de intervenção respeitante ao comércio internacional quando na realidade podem existir vários outros problemas neste tipo de transacções (além dos que já referi, que já de si são relevantes - impacto ambiental das emissões de CO2 no transporte, legislações laborais e ambientais com diferenças radicais - existem ainda questões de segurança que se colocam particularmente no caso da agricultura, entre outras)

João Vasco disse...

Um outro exemplo seria cerveja Belga... :)

tempus fugit à pressa disse...

João Vasco disse...

Nuno Gaspar,

Imagina que na Alemanha fazem sofás mais baratos de 100 a 150 quilos e são transportados 2000 km a preço 0 pois

a cerveja belga ou a maior parte da alemã (alguma nem por isso) tem custos superiores à nossa
temos instalações de dimensão comparável às maiores na bélgica
e apesar de lúpulo ser quase todo de importação e dos custos de transporte temos mão de obra e papelão para embalage mais baratuchos

de resto estamos a exportar para a Alemanha mercado da saudade português mas também para as lojas lidl

A heinekken é dona de metade da nossa cervejaria

tiro nu submarine Jã baskiste

outro exemplo era comprar genéricos fabricados pela indústria farmacêutica nacional ou da restante que ficou por cá

comprar na suiça...sai caro
e 70% da medicamenta acaba no lixo

comprem morcelas e alheiras nacionais
o fiambre alemão tem mais nitratos

e o dos francius tem muito mais hormonas intermarchés...quanto aos yogurtes da paturage..e os do dia...muito mais baratos e com excedentes enormes em espanha e frança vêm em 10 a 15 toneladas 4 a 6 vezes por dia quer para Alcanena quer para...alguém há-de ter que os comer
a agro-indústria portuguesa são só uns 200 mil e poucos empregos
quase nada