domingo, 29 de novembro de 2009

Sobre o 25 de Novembro

Quanto mais leio sobre o 25 de Novembro, mais me convenço de que os pára-quedistas de Tancos fizeram um enorme favor a toda a gente (mesmo aos extremos aparentemente mais sedentos de sangue), ao possibilitarem que tudo se «normalizasse» nas Forças Armadas sem desastres de maior. Até talvez lhes devessemos fazer uma estátua por terem aliviado, cirurgicamente, a tensão que se acumulava e poderia facilmente descambar. Este ano, o texto mais interessante sobre o 25 de Novembro apareceu no Público e lê-se ali. Conclusão:
  • «Apesar de todos os mistérios que persistem, visto de hoje o 25 de Novembro parece antes de tudo uma imensa encenação, em que, tacitamente, todos, da extrema-esquerda à extrema-direita, conspiraram para o mesmo desfecho. Como se estivessem cansados, e optassem pela paz.»
Evidentemente, à direita (e a alguma esquerda) interessa usar a tese do «golpe da esquerda radical a 25 de Novembro» como argumento para excluir do espaço do poder as forças à esquerda do PS. À medida que os anos passam e as provas do pretenso «golpe» tardam em aparecer, o argumento perde força. E, se um dia se descobrir que boa parte da direita conspirou, depois da «normalização» do 25 de Novembro, para fazer algo semelhante ao «23-F» espanhol, quero ver como vão descalçar a bota.

Não se defende a liberdade destruindo a liberdade

Sou anticlerical e, em certa medida, anti-religioso. Mas não me regozijo com o resultado do referendo sobre os minaretes na Suíça: a liberdade não é liberdade sem igualdade. Se se entende que os minaretes serem um símbolo de poder (que são, sem dúvida) é razão suficiente para os proibir, então deveriam ter-se proibido também as torres das igrejas cristãs (que têm exactamente o mesmo significado). Interditar a construção de edifícios de uma determinada confissão religiosa, mas não de outra, chama-se discriminação.

O voto suíço contra os minaretes (57%) não é, portanto, uma expressão de laicismo. Quando muito, será de xenofobia ou, talvez, de rejeição (mal dirigida) do fundamentalismo islâmico. E se há sem dúvida um enorme debate a fazer sobre o islamismo, a submissão-humilhação das mulheres nessa religião (e noutras), os casamentos forçados, a ausência de liberdade religiosa nos países de população muçulmana, e a tibieza com que os responsáveis muçulmanos «moderados» se exprimem sobre o terrorismo de inspiração islâmica, todavia construir locais de culto com forma exterior de templo não deixa de ser um direito das comunidades religiosas, e proibir minaretes é restringir a liberdade religiosa, ou seja, a laicidade (se a volumetria é excessiva ou o mau gosto muito gritante, há as autoridades municipais; que falham). Mais facilmente defenderei a proibição do véu islâmico ou da burca, que são sinais de fundamentalismo, do que a proibição da construção de minaretes ou de mesquitas, que atinge por igual todos os muçulmanos, civilizados ou fundamentalistas.

Posto isto, não deixa de ser verdade que uma boa parte dos muçulmanos sonha  em ver-nos agachados no chão na direcção de Meca, e que o seu sector fundamentalista constitui uma ameaça à liberdade. Mas a solução não é proibi-los: é mandá-los estudar Darwin e Voltaire (de preferência, sem véu).

  • «A Religião Católica Apostólica Romana continuará a ser a Religião do Reino. Todas as outras Religiões serão permitidas aos Estrangeiros com seu culto doméstico, ou particular, em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior de Templo.» (Carta Constitucional, em vigor até 1910)
  • «É também livre o culto público de qualquer religião nas casas para isso destinadas, que podem sempre tomar forma exterior de templo (...)» (Lei de Separação, 1911)

Democracia sem laicidade, ou laicidade sem democracia?

O dilema dos países de população muçulmana:
  • «Entre la Turquie, le Maroc, l’Algérie et la Tunisie, on voit bien que ceux qui s’en sortent bien, sont ceux qui ont sécularisé avant de démocratiser. Si vous démocratisez sans séculariser, comme l’Algérie en 1991, vous donnez les clefs à un régime totalitaire qui ne les rendra jamais. A l’inverse, si vous sécularisez sans démocratiser, comme en Turquie ou en Tunisie, vous nourrissez aussi une alternative religieuse… Mais elle est moins dangereuse qu’en Algérie. L’AKP au pouvoir, ce n’est pas le FIS au pouvoir. Le gouvernement tunisien devrait comprendre qu’il est temps de démocratiser… Pendant ce temps, l’Algérie, qui n’a ni démocratisé ni sécularisé, se trouve dans une impasse totale.» (Caroline Fourest na ReSPUBLICA)

Duplicidade de critérios

O mesmo Ministério da Administração Interna que multa os cidadãos que estacionam o carro em cima do passeio auto-atribuiu-se o direito de estacionar em cima do passeio na Baixa de Lisboa. Até colocaram uma plaquinha para se auto-autorizarem a fazer o que eu presumo que seja uma ilegalidade. Ver no blogue Passeio Livre.

sábado, 28 de novembro de 2009

O país dos doidos

Portugal é um país cheio de doidos que se orgulham de conduzir depressa, de violarem as regras de trânsito e de se colocarem a si próprios e aos outros em risco. Uma sub-casta de doidos, por conduzir veículos do Estado que costumam carregar os que «fazem as leis», acha-se «acima das leis» e não hesita em fazer ralis em plena Avenida da Liberdade.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Os mesmos valores, prioridades diferentes

De leitura indispensável esta entrada do Arrastão. Da minha parte, não só por causa do texto do Daniel Oliveira em si, mas sobretudo por causa da discussão que se segue (no que diz respeito à Alemanha - o caso francês referido parece ser mais um fait-divers sarkozyano). Sobretudo com o comentadores Bossito e JP, com quem estou de acordo. Valores como a igualdade básica e a liberdade de imprensa não podem ser relativizados. Ao pé desta discussão fundamental - como deve a Europa tratar os seus imigrantes? - , a do véu islâmico (onde mais uma vez defendo a não relativização da igualdade básica) parece marginal. Mas sempre a vi como fundamental, pois evidencia as diferentes concepções sobre integração de imigrantes e diferentes culturas em vista. Esta é uma questão a que, cada vez mais urgentemente, a esquerda não pode fugir. Quanto mais tempo esta discussão demorar, mais a extrema direita subirá.
"Quem fala assim certamente nunca perdeu o emprego para mão de obra mais barata vinda do estrangeiro. O perigo da esquerda continuar a alimentar estas visões completamente irrealistas, alienadas e sem qualquer possibilidade de aplicação prática sobre as questões da imigração, está precisamente em deixar para as mãos da direita o exclusivo do tratamento do tema. Isso sim, assusta-me."

"O que se defende aqui (e reparará que a maioria defende uma solução de “bom senso”) é que a abertura é bem vinda desde que, pela sua quantidade, não degrade as condições de vida, e pela sua qualidade, não ponha em causa os direitos liberdades e garantias que tanto custaram a conquistar. (...)O argumento (do nosso lado digamos assim) é que quem defende o mesmo que o Daniel geralmente vive em locais pouco afectados por aquilo que defende (acontece o mesmo com a localização dos bairros sociais ou com a co-incineração. São óptimos mas niguém os quer ao pé de casa.)."

Entretanto, num café da Avenida de Roma...

...Parece que Fernando Lima não tomou um café a mais. Pelo contrário, até parece que alguém lhe pagou o café. E não foi o jornalista do Público.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Comunista homenageia Cerejeira

Parece que já nem os comunistas se recordam do que foi o Estado Novo e do papel que desempenhou a ICAR e um certo cardeal Cerejeira: um vereador CDU da Câmara Municipal de Almada esteve presente na inauguração clericalista de um busto do cardeal fascista Cerejeira, junto ao horrendo «Cristo-Rei». E teve palavras simpáticas: «este é um momento importante para a nossa terra. Portugal está mais rico e a nossa cidade também».
Ainda hei-de ver o Jerónimo de joelhos em Fátima. Ou os comunistas ao lado da ICAR contra os ricos, os homossexuais e a burguesia. Tudo é possível.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

On the Origin of Species

Foi publicado há precisamente 150 anos!

Os ingleses fizeram um filme a comemorar os 150 anos da publicação deste livro (hoje) e os 200 anos do nascimento de Darwin (em 12 de fevereiro de 1809).

Nos EUA não vamos poder vê-lo porque não há distribuidor.

Dawkins, em 2007: "I'm a biologist, and the central theorem of our subject: the theory of design, Darwin's theory of evolution by natural selection. In professional circles everywhere, it's of course universally accepted. In non-professional circles outside America, it's largely ignored. But in non-professional circles within America, it arouses so much hostility -- (Laughter) -- that it's fair to say that American biologists are in a state of war. The war is so worrying at present, with court cases coming up in one state after another, that I felt I had to say something about it."

«A Ideia de República: de 1910 aos nossos dias», conferência no dia 28 de Novembro

Estarei na Biblioteca-Museu República e Resistência(*), no dia 28 de Novembro às 16 horas, para apresentar uma conferência sobre «A Ideia de República: de 1910 aos nossos dias» (em representação, evidentemente, da Associação República e Laicidade).
(*)  Espaço Cidade Universitária da Biblioteca Museu República e Resistência: Rua Alberto de Sousa, 10A, Zona B do Rego (Metro: Cidade Universitária).

Notícias

Uma das coisas mais irritantes do jornalismo é a falta de diversidade de opiniões. Chego a casa, passo os olhos pelo Guardian, o Monde, o El País e o Huffington Post, e o ponto de vista é sempre o mesmo: o dos magnatas que controlam os jornais politicamente.

sábado, 21 de novembro de 2009

Gostos discutem-se, sim senhor

Eu acho o trabalho do arquitecto Troufa Real horrível. Acho que, como dizia um pintor que conheci, ele 'tem muito gosto, mas é do mau'. Pessoalmente estou-me nas tintas para a nova igreja (é para ficar vazia como as outras), até porque não se vê do Texas, onde vivo, e Lisboa cada vez parece menos a cidade onde vivi e me diverti tanto.

Quando andava no Técnico fartei-me de experimentar grupos de pessoas e uma vez frequentei um curso na Gulbenkian com um título como 'ver a arte' ou coisa que o valha. Nesse curso lembro-me de o Eduardo Nery dar uma aula sobre o 'mau gosto' com uma sensatez enorme. A definição dele, que mais tarde li em muitos livros e artigos diferentes, era que 'mau gosto' queria dizer desadequado. Ou seja, uma coisa de mau gosto era uma coisa mal pensada, um macaquear de um modelo erudito mal compreendido, uma imitação barata.

Acho que muitos de nós já sofremos a experiência de vermos no teatro uma peça encenada por um encenador que não a percebeu: um exemplo típico de 'mau gosto'.

O pós-modernismo português foi isso mesmo: um macaquear de experiências eruditas de arquitectos com talento (na maior parte falhadas, até porque pretendiam basear-se num olhar erudito que parodiava, ironizava e reutilizava outras linguagens, portanto sempre muito próximo do mau gosto por definição).

Os pós-modernos portugueses eram confrangedores na simplicidade tonta com que imitavam os gurus da moda e deixaram-nos um sem número de edifícios sem pés nem cabeça, com pilares em frente das janelas, cantos esconços onde não se pode viver, fachadas horríveis, materiais e tintas baratas que o sol queimou imediatamente, torres, chaminés e janelas torcidas, mal colocadas, que não fecham, jardins que nos projectos eram verdejantes e alegres e depois de construídos nos lembram Beirut Oriental, normalmente com montes de lixo das obras onde ao fim de cinco ou seis anos começaram a crescer ervas. Um horror terceiro mundista, onde cada edifício gritava "olhem para mim!" e transformava a cidade e o país ainda mais num caos de mau gosto, triste, sujo e disfuncional.

Depois de um curto período em que encheu as capas das revistas, o pós-modernismo morreu. Há muitos anos. Passou de moda, ficou esquecido como um beco da história da arquitectura que não levou ninguém a lado nenhum.

Mas parece que se esqueceram de dizer isto ao arquitecto Troufa Real. E agora Belém vai ter uma igreja com um minarete e um barco e uma onda no telhado - referências um bocado óbvias, para não dizer boçais, ao sítio e ao tema. Porque não um pastel de Belém gigante (em cima do barco)?

Pour épater le bourgeois. Pessoalmente, preferia que ele tivesse metido um padre e um menino de coro, nus. Mau gosto por mau gosto, acho que era mais divertido...

Mas enfim, levamos com o barco e o minarete e a onda. Até aquilo cair, daqui a uns anos. Até lá é um mamarracho horrível cuja única função é ser fotografado por turistas chocados.

Mais um mamarracho, menos um mamarracho... Lisboa tem sido projectada por desenhadores da construção civil e por arquitectos da E.S.B.A.L. (entretanto elevada inexplicavelmente a Fac. Arquitectura, onde os arqueitectos da E.S.B.A.L. depois se 'doutoraram' uns aos outros). Vá o diabo e escolha.

Acima de tudo acho que este projecto é triste porque é triste ver uma pessoa sem talento a tentar fazer-se engraçada. Este 'enfant terrible raté' só conhece um tipo de traquinices: pinceladas de tinta.

Troufa, Taveira e Graça Dias são só isso: eternos rapazes traquinas com ambições artísticas. A tragédia deles é que para se ser artista não basta fazermo-nos artistas...

:o) estava a pensar reler isto e contar os francesismos... de mau gosto? provavelmente! mas agora não vou corrigir isto.

Israelitas e palestinianos

A religião é uma coisa fantástica: este grupo de pessoas (israelitas e palestinianos) etnicamente tão próximas, está dividido em duas facções que interpretam a mensagem do mesmo deus de maneiras diferentes.

Há poucas semanas vi um documentário sobre Joseph Campbell em que ele defendia que a religiosidade era uma forma das pessoas se relacionarem com coisas que não têm explicações simples, como o facto de morrermos, a necessidade de termos que matar para comermos e, enfim, os conflitos entre as nossas paixões e as nossas necessidades. Nesse sentido, não tinha dúvidas sobre a importância da religiosidade, que tentava explicar ideias por metáforas, para podermos tenter percebê-las melhor, mas deplorava a religião, que resultava da incompreensão das pessoas que tomavam essas metáforas como factos.

Segundo ele, no original (a filosofia da primeira metade do primeiro milénio antes da nossa Era, na India), a "terra prometida" não era um projecto imobiliário. E a virgindade da Nossa Senhora não era um facto ginecológico.

São metáforas escritas por pessoas inteligentes, sobre a necessidade de tentarmos compreender a nossa condição com as imagens que o conhecimento que temos do mundo, em cada geração, nos permitem.

E estes idiotas - israelitas e palestinianos - agarram-se a duas versões de uma mesma religião, que foi concebida por pastores da Idade do Bronze num mundo que era um quadrado com 250 Km de lado, e matam-se uns aos outros com um ódio racista e fanático difícil de conceber.

Tenho amigos israelitas formidáveis, razoáveis, generosos, bons. Excepto quando se lhes fala de árabes. Há uns tempos li, não me lembro aonde, que em 1947 ou 48 Martin Bubber (um homem adorável e um filósofo que advogava a paz e a coexistência) se mudou para a casa dum poeta palestiniano que foi despejado para o efeito.

Esta recusa em ver 'os outros' como seres humanos - Thomas Friedman descreveu eloquentemente em 'From Beirut to Jerusalem' os arrepios que sentia quando os israelitas diziam 'arranja-se um árabe para fazer isso' - transformou o Médio Oriente num inferno de estupidez e brutalidade indiscritíveis.

E, por favor, não me venham dizer que uns são piores do que os outros. A estupidez e a brutalidade sociopata são atributos igualmente abundantes entre estes dois grupos de selvagens, racistas e sociopatas.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Como se deslocam os portugueses nas cidades europeias?

Há um mito – talvez seja mais correcto falar-se numa desculpa – para o hábito errado (pelo menos por parte de quem habita nas áreas metropolitanas de Lisboa ou Porto) dos portugueses se transportarem sempre de carro, para onde quer que vão. Não importa se os transportes públicos estejam cada vez melhores, pelo menos em Lisboa. O Metro está cada vez mais eficiente e com melhores ligações. Já se podem fazer transferências gratuitas entre autocarros. O serviço nocturno da rede de autocarros foi melhorado e ampliado. Os comboios suburbanos estenderam o seu serviço pela madrugada nas vésperas de fim de semana e feriados. Mas os portugueses – sendo que os lisboetas sem qualquer desculpa – insistem que o serviço de transportes públicos “não é adequado”. Dado que outros povos da Europa não exibem este comportamento e utilizam correntemente os transportes públicos, poderíamos ser levados a pensar que, apesar de tudo o que enumerei, o problema estaria nos transportes portugueses. Dado que “lá fora” se anda de transporte público, se tivéssemos transportes como “lá fora” talvez os usássemos. Quem continua a defender esta ideia (ou mais correctamente a usar esta desculpa) que explique este exemplo (a que cheguei via o Menos um Carro).

O horror islâmico

Desemprego vai continuar a subir

Quem o diz é a OCDE:
  • «O desemprego ultrapassará os 10 por cento em 2010. (...) Em 2011, com a economia a crescer 1,5 por cento, a taxa de desemprego voltará para níveis de apenas um dígito, ainda assim, deverá ser de 9,9 por cento.» (Público)
Não vou discutir os curiosos critérios de arredondamento dos economistas, porque o que me preocupa é que continuaremos com 550 mil ou mais desempregados. Não ter havido ainda uma explosão social só reflecte que Portugal tem hoje mais defesas do que em 1983 (rendimento mínimo, por exemplo). Mas esta percentagem de desempregados reflecte uma fraqueza da economia portuguesa que não é agradável.

Mamarracho católico isento de taxas municipais

A igreja-em-forma-de-caravela-em-vermelho-laranja-dourado-verde do Alto do Restelo ficou isenta de taxas municipais. No total, 198 mil euros. Ora bem. Com os 234 mil euros que a autarquia já assumidamente ofereceu, já vamos em 532 mil euros de contribuição da CML, por omissão ou acção, para o mamarracho do Alto do Restelo. Fora o terreno, que dada a zona e a área, deve ser mais ainda. E depois digam que o Estado não financia a ICAR...
P.S. Movimento de opinião contra o mamarracho: assina-se aqui.

Ainda sobre o aquecimento global

Segundo o melhor autor de divulgação científica no youtube:



Se não viram, vejam estes: os melhores videos a que já tive acesso a explicar a questão do aquecimento global, a teoria dos proponentes da teoria do efeito de estufa, e os argumentos dos cépticos sérios.

Também sobre este assunto e pelo mesmo autor podem ver este e este.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Nos EUA: Rape and the U.S. Chamber of Commerce

In 2005, Jamie Leigh Jones was working for a private contractor in Iraq when she was brutally gang-raped by coworkers. Four years later, Jamie is still being denied justice. Jamie can't file U.S. criminal charges because the rape took place overseas, and a fine-print clause in her contract takes away her right to file a lawsuit in the U.S. Why? Because big corporations, led by the U.S. Chamber of Commerce, have worked for years to prevent workers from suing their employers in almost any circumstance, even sexual assault.

Nem bom senso nem bom gosto

Toda a gente tem o direito de subir ao cimo da montanha e gritar que é o rei do mundo. Não faz mal a ninguém e até deve fazer bem aos pulmões. Também é natural que as confissões religiosas rivalizem para construir o edifício mais alto, mais vistoso, mais espampanante - e há males maiores (como cortar o prepúcio das crianças ou assustá-las com o «inferno»). É por isso que votaria «não» se fosse suíço e me fosse colocada a questão «a construção de minaretes deve ser proibida?».
As confissões religiosas têm o direito de construir edifícios com aparência exterior de templo e fachada virada para a rua. Já houve tempo, em Portugal, em que não tinham esse direito. Depois da «tenebrosa» Carbonária e do «5 de Outubro» de 1910, passaram a tê-lo. Faz parte da liberdade religiosa ter casas para fins religiosos, e o serem facilmente identificáveis não me aquece nem me arrefece.
E no entanto, compreende-se perfeitamente que os minaretes que assustam os suíços são símbolos de poder. Ostensivos. Como as torres das igrejas e os sinos tocados a meio da noite são também para recordar que determinada comunidade religiosa existe e se faz ouvir. Ou o «Cristo-Rei» de Almada - não é por acaso que ficou virado para Lisboa e para o poder, bem visível e impositivo.
Mas, lá está. Temos o direito de subir ao cimo da montanha e gritar inanidades.
Agora, e já que o bom senso não abunda, seria de pedir (nem digo exigir...) que houvesse um pouco mais de bom gosto na igreja católica portuguesa. É que um mamarracho em verde, laranja, dourado e vermelho, em forma de caravela e com uma torre de cem metros de altura (mais de trinta andares...) plantada no Alto do Restelo, é um «nadinha» demais. É que a coisa é horrenda. E não o digo por ser anticlerical (que sou).
Como se não bastasse, a Câmara Municipal de Lisboa é a (infeliz) doadora de cerca de 25% do milhão de euros já reunido (e cedeu o terreno, com uma permuta pelo meio). Coisas do tempo do modestíssimo e nada católico Santana Lopes. Mas há-de doar mais. É para os pobres, dirá a ICAR. Pois. Pobres dos pobres. E pobres de nós.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Os arrependidos do islamo-fascismo

Johan Hari é um excelente jornalista britânico que entrevistou alguns dos arrependidos (britânicos) do islamismo terrorista. A amostra será pequena para tirar conclusões muito gerais, mas há alguns pontos interessantes: foram isolados da sociedade britânica quer pelo fechamento natural das suas comunidades de origem, quer pelas pressões exteriores (o racismo da direita e o paternalismo «multiculturalista» da esquerda); sentiram-se alienados do «Ocidente» devido ao imperialismo, às detenções arbitrárias e à tortura; desiludiram-se do islamismo por descobrirem que este, onde detinha o poder, não tinha criado o paraíso, mas o inferno; e sentiram-se atraídos de volta à «normalidade» das democracias europeias por descobrirem que mesmo quem não concordava com eles estava disposto a garantir que tivessem direito a um julgamento justo, e que muitos europeus se opunham, por exemplo, à guerra do Iraque.
A minha conclusão é óbvia: não são as aventuras militares nem a tortura que colocarão um fim ao islamismo. Será o melhor do iluminismo europeu: a igualdade perante a lei, a oposição à injustiça e ao abuso de poder,  a liberdade e o tratar todos como adultos. Todos. Até os que têm ataques de histeria por causa de umas meras caricaturas. Ou sobretudo esses.

Desemprego

  • «A taxa de desemprego em Portugal atingiu os 9,8 por cento no terceiro trimestre de 2009, o que representa o valor mais elevado desde que há registos. O Eurostat, Gabinete Europeu de Estatística, tem dados sobre Portugal desde 1983 e nunca a taxa de desemprego ou o número de desempregados chegou ao nível actual: há actualmente 547,7 mil pessoas sem emprego, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE).» (Diário de Notícias)
  • «Assim, no espaço de três meses, passou a haver mais 40 mil desempregados em Portugal, sendo o acréscimo anual de cerca de 114 mil. Com este resultado, é ultrapassado o máximo de 9,2 por cento para a taxa de desemprego que se registou no primeiro trimestre de 1986, na sequência da crise económica que atravessou o país durante a primeira metade dos anos 80.» (Público)

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

«Portugalex»

Entre entrevistas à televisão, à rádio e aos jornais, admito que alguma coisa me tenha escapado e que possa ter ido longe demais aqui e ali. Mas não me lembro de dar esta entrevista à Antena 1. Nem de ter revelado o meu plano secreto para impedir as pessoas de chamarem Lúcia Jacinta Francisco Ratzinger aos filhos, e para armar os alunos da escola pública com kalasnhikovs. Pois é. Desta vez é que me apanharam. Vou protestar. Com veemência.

As escutas são boas ou más, depende?

Alberto Costa defendeu, enquanto Ministro da Justiça, que se fizessem escutas sem mandado judicial. E pior: que fossem serviços directamente controlados pelo governo a fazê-las. Não me recordo de alguém se indignar com isso, no PS ou na oposição, nos jornais ou nos blogues.
Agora, anda tudo indignadinho porque se gravaram conversas entre Sócrates e Armando Vara. Ai-ai. Conversas, note-se, gravadas no âmbito de uma investigação judicial, decidida por um poder (teoricamente...) independente do poder político.
Talvez seja o momento para parar para pensar no monstro que foi criado quando: a) se organizaram serviços «de informações» sob a alçada directa do governo; b) se lhes deu «carta branca» para fazerem escutas ilegais; c) se colocou a «controlar» os ditos serviços um entusiasta de destruir as garantias constitucionais de privacidade dos cidadãos; d) se começou a defender publicamente que se alterasse a Constituição para legalizar o que serviços na dependência directa do Governo já fazem e não deveriam, constitucionalmente, fazer.
A actual legislatura permite uma revisão constitucional. Os cidadãos que se mantenham atentos. Como se vê pelos acontecimentos dos últimos dias, se já é mau ter escutas autorizadas pelo poder judicial no contexto de um processo judicial, tê-las sem processo aberto e «legalmente» decididas pelo poder político seria péssimo.

domingo, 15 de novembro de 2009

Do jornalismo enquanto forma de manipulação

Um encontro inter-religioso é apresentado no telejornal da RTP2 (e no Expresso), como um encontro de «ateus, agnósticos e religiosos». E no entanto, trata-se de um encontro numa mesquita em que os entrevistados para a respectiva peça jornalística televisiva são o islâmico wahabita Abdul Vakil, o sacerdote católico Peter Stilwell, e o mais «religiosamente correcto» dos agnósticos portugueses: Mário Soares. Só por curiosidade: quem era o ateu dos títulos das notícias? Estava clandestino? Incógnito? Ou não existia?

Umberto Eco sobre Saramago

Até um escritor tão «religiosamente correcto» como Umberto Eco começa a estender uma orelha amigável para os argumentos dos ateus anti-religiosos.
  • «(...) Talvez Ratzinger pensasse naqueles sandeus de Lenine e Estaline, mas esquecia-se que nas bandeiras nazis estava escrito "Gott mit uns" (que significa "Deus está connosco"), que falanges de capelães militares benzeram os arruaceiros fascistas, que inspirado em princípios religiosíssimos e apoiado por Guerrilheiros do Cristo-Rei era o massacrador Francisco Franco (independentemente dos crimes dos adversários, foi sempre ele que começou), que religiosíssimos eram os Vandeanos contra os Republicanos, que até tinham inventado uma Deusa Razão, que católicos e protestantes se massacraram alegremente durante anos e anos, que tanto os Cruzados como os seus inimigos eram impelidos por motivações religiosas, que para defender a religião romana se puseram os leões a comer os cristãos, que por razões religiosas se acenderam inúmeras fogueiras, que religiosíssimos são os fundamentalistas muçulmanos, os autores do atentado das Twin Towers, Osama e os talibãs que bombardearam os Budas, que por razões religiosas se opõem a Índia e o Paquistão, e por fim que foi a invocar God Bless America que Bush invadiu o Iraque. Por isso me punha a reflectir que talvez (se por vezes a religião é ou foi o ópio dos povos) com maior frequência tem sido a sua cocaína. Creio que esta é também a opinião de Saramago e ofereço-lhe a definição - e a sua responsabilidade. (...)» (Umberto Eco no Diário de Notícias)

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Tomás da Fonseca reeditado

Tomás da Fonseca (1877-1968), republicano e anarquista, foi talvez o mais importante escritor ateu em língua portuguesa. Infelizmente, os seus livros são dificílimos de encontrar (até em bibliotecas públicas...), e as edições originais tornaram-se raridades nos alfarrabistas.
É portanto uma excelente novidade que a editora Antígona tenha decidido reeditar algumas das obras clássicas de Tomás da Fonseca, nomeadamente «Na Cova dos Leões» e «O Santo Condestável - Alegações do Cardeal Diabo». Dois temas que, infelizmente, continuam connosco: o fatimismo e a instrumentalização católica de Nuno Álvares Pereira.


Espero que esteja para breve a reedição de «Sermões da Montanha», uma defesa simples e lúcida do ateísmo enquanto forma de vida.
Haverá uma apresentação pública amanhã às 16 horas na FNAC do Chiado (em Lisboa), com a presença do Carlos Esperança, da Associação Ateísta Portuguesa.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Nem de propósito

O blogue A Vez do Peão divulga um «convite para um encontro inter-religioso» na mesquita de Lisboa. No convite, lê-se: «(...) convidamo-lo(a) a participar na última oração da noite. Solicitamos às senhoras que se façam acompanhar de um lenço para este fim». Na coluna ao lado, lê-se: «este blogue é feminista». Pois. O que faria se não fosse...

Entrevista ao VA 195

A minha entrevista ao António Serzedelo no Vidas Alternativas 195 pode ser ouvida aqui (podcast), a partir dos 33 minutos.

Collision

Saíu o filme do Christopher Hitchens, mas acho que sem distribuidor:

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Uma questão de civilização

Há poucos dias, aconteceu algo que foi pouco comentado, e que deveria ser celebrado como um dos raros sinais de que ainda vale a pena ser europeu e acreditar no Estado de Direito: um tribunal italiano, contra as pressões dos governos italianos da direita e da esquerda, condenou a penas de prisão efectivas 22 agentes da CIA e um coronel dos EUA (à revelia), e até dois membros dos serviços «de informações» da própria Itália, por raptarem um islamita em território italiano e o levarem para a tortura no Egipto. Esses agentes da CIA são agora fugitivos que arriscam uma pena de prisão se passarem pela Europa.
Note-se que não se trata de um daqueles casos de «autorização de passagem» de prisioneiros sobre território europeu que tanto têm ocupado o Parlamento Europeu e Ana Gomes. Trata-se de pegar em alguém que está em território europeu e levar esse alguém para ser torturado em território onde a tortura está mais «liberalizada». E, detalhe importante, com a colaboração de cidadãos europeus, actuando, aparentemente, sob as ordens dos respectivos serviços «de informações».
Curiosamente, este tipo de prática tem impedido que alguns terroristas sejam julgados. E transforma, efectivamente, terroristas em vítimas.
E em Portugal? Houve um caso semelhante em Portugal. Na madrugada de 1 de Outubro de 2006, um argelino chamado Sofiane Laib foi «expulso» de Portugal. Tinha cumprido uma pena por falsificação de documentos e teria, aparentemente, pertencido à Al-Qaeda (concretamente, seria um elemento menor da célula de Hamburgo). A pena de expulsão estava suspensa, o que torna o caso, alegadamente, sequestro. Depois de ser levado da prisão, a meio da noite, por «agentes do SEF»,  pode imaginar-se que Sofiane Laib foi levado para tortura à Argélia ou a Marrocos, ou, quem sabe, à Roménia ou à Bulgária. E pode supor-se que foi sempre acompanhado por agentes dos serviços «de informações» portugueses. A ser verdade, os responsáveis deveriam dar com os costados na choça. É uma questão de civilização.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Proselitismo

As Testemunhas de Jeová vão a casa das pessoas, tentar convertê-las.

Muitos consideram que não tem nada de mal acreditarem no que acreditam, o pior é fazerem o que fazem.

Eu acredito que a acção que tomam é coerente com o que acreditam. Estão convencidos que aquilo é verdade, e como tal que aquela atitude é a melhor que podem ter face aos outros. Não espalhar a verdade seria uma forma de egoísmo.
Podemos descartar a atitude como fanática, mas a atitude é simplesmente altruista. Jesus pediu aos seus seguidores para abandonarem tudo e segui-lo, ora espalhar a palavra a estranhos durante os tempos livres exige bem menor fanatismo. Quase que me parece o mínimo que se exige a quem acredite realmente naquilo que diz acreditar.

Por isso, mesmo que veja as acções proselitistas das testemunhas de Jeová como más acções, vejo-as como bem intencionadas e respeito isso. Tento sempre tratá-las com o maior respeito e simpatia que consigo, pois entendo que do ponto de vista deles, estão simplesmente a ajudar. A fazer o bem.

Claro que não é só a intenção que conta. Quem se lançou contra as torres gémeas também acreditava estar a fazer o bem - a dar a sua vida para fazer o bem - e seria bem difícil ter alguma simpatia por essas pessoas.

Mas falar é muito diferente de atentar contra a vida de terceiros, e aí a minha atenção pela intenção é superior. As testemunhas de Jeová estão no seu direito, e estão a fazer algo que acreditam estar correcto, a perder o seu tempo, a abdicar da sua disponibilidade para ajudar pessoas que nem conhecem.


O mesmo sinto em relação a qualquer cristão que esteja a abdicar do seu tempo que me aborde na rua. Sinto respeito, e nenhuma vontade de dicutir com ele.

Não assumo: «bah, ele está a fazer isso para ganhar o céu, em proveito próprio». Parece-me que quando uma pessoa é crente e menos altruista tende a acreditar que é mais importante não roubar, matar e dizer mal de Deus, do que ajudar os outros, para ir para o céu. Quem acredita em ajudar os outros para ir para o céu não o faz por si, e fá-lo-ia sem ser crente.

Claro que em certa medida sinto pena que as testemunhas de jeová percam o seu tempo para enganar os outros. Se sacrifiquem para tornar o mundo um pouco pior. Mas entendo que estão a fazer aquilo que consideram correcto. E se bem que preferisse que nunca tivessem acreditado naquela teia de equívocos, e aproveitassem o tempo que dedicam aos outros de forma mais produtiva, não tenho qualquer sentimento de agressividade para com elas. À priori, repito, tenho simpatia.


Da mesma forma, se souber de um cristão que mantém um blogue religioso, não vou sentir qualquer espécie de revolta ou ansiedade. Claro que esse blogue pode ser uma ferramenta de engano, contribuindo para desinformar as pessoas. Mas parte da minha crença na liberdade da expressão fundamenta-se no idealismo - talvez ingénuo - de que com liberdade de circulação de ideias e informação, pouco a pouco, e apesar de vários enviesamentos cognitivos e outro tipo de factores sociais que atrapalham o processo, as melhores ideias sobrevivem. Pode demorar séculos, ou mais, mas eventualmente, a verdade vem ao de cima.

Continuo a sentir um grande desconforto se deparar com um site negacionista do holocausto, por exemplo, mas isso é porque associo a esse site enganador ideias de ódio e violência que me perturbam. Ora apesar de todo o ódio e violência que as várias instituições religiosas demonstraram enquanto foram poderosas, a verdade é que no ocidente da actualidade não associo esse ódio e violência à esmagadora maioria dos crentes, nem dos sacerdotes.

Por outro lado, se deparar com um site propagandístico que espalhe contra-informação, e souber que o seu autor não acredita naquilo que escreve, também me vou sentir desconfortável (enojado, diria).

Mas um típico site religioso mantido por um cristão português não corresponde a estes problemas. Nem apela directa ou indirectamente à violência (a excepção mais frequente é a homofobia), nem é mantido por quem não acredita no que escreve (diria que podem existir excepções, mas a menos que as identifique, assumo que o autor acredita no que escreve). Por isso não me desperta qualquer incómodo.
Acho a sua leitura um pouco entediante, e por isso não o frequento, mas não sinto senão simpatia pelo autor. É verdade que defronto com esse autor uma batalha pelas ideias. Ele pode querer convencer as pessoas de A, e eu de B. Ele acredita que eu estou a enganá-las; eu acredito que ele está a enganá-las. E suponho que ambos acreditamos que o outro não engana intencionalmente, faz o que faz com a melhor das intenções. Por isso, acredito, é possível manter respeito e simpatia mútuos, apesar de sermos "adversários".

Não?

Vital Moreira sobre a decisão do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem

Do Público de hoje.
  • «(...) Na verdade, o TEDH defende de forma cristalina que a liberdade de religião não envolve somente o direito de ter uma religião e de observar o seu culto, mas também o direito de não ter religião, sem ingerências do Estado. Ora, para além da violação da laicidade – na medida em que não é compatível com a necessária neutralidade e imparcialidade religiosa do Estado –, a exibição de crucifixos nas escolas públicas também impõe às crianças e aos respectivos progenitores uma preferência oficial em matéria religiosa, que eles não têm de compartilhar. (...) Também o direito à educação segundo as convicções de cada um proíbe a preferência oficial por uma dada religião. Numa escola necessariamente plural em termos religiosos, o único modo de respeitar a liberdade individual de convicção e religião, bem como o direito ao ensino de acordo com as convicções religiosas de todos, é a abstenção de apoio oficial a qualquer religião. Se a liberdade religiosa individual implica por definição diferentes opções (incluindo a de não ter nenhuma religião), a escola oficial não pode tomar partido a favor de uma determinada religião, impondo a exibição dos seus símbolos privativos a todos os alunos. (...)» (Vital Moreira, Público)

O peso da ICAR

Vale imenso a pena ler este artigo do WSJ para se ter uma ideia do peso dos bispos na vida política americana.

Outra vez TVI, 14 horas

Hoje estarei outra vez na TVI, para discutir laicidade e crucifixos com um sacerdote católico. No programa «As Tardes da Júlia», a partir das 14  horas.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Crucifixos em Espanha

Em Espanha, uma em cada cinco escolas públicas têm crucifixos, o Governo hesita e as comunidades autónomas (as regiões) têm políticas diferenciadas. E a Esquerda Republicana Catalã, apoiada pela Izquierda Unida, promete levar o assunto ao Congresso.

Mulher agredida por não usar véu islâmico

Uma marroquina residente em Espanha foi agredida por não usar o véu islâmico. A agressão foi de tal violência que parece ter-lhe provocado um aborto.
Talvez seja por desconhecerem a existência de casos como este que muitos insistem em afirmar que o véu é uma «mera peça de roupa», e que os franceses foram horrorosamente totalitários em proibi-lo na escola pública.

Onde pára o poder judicial?

O poder político não pode ser absoluto. Tem que ser limitado pelo Direito. Há quem queira esquecer isto com o pretexto da «guerra cósmica contra o terrorismo». O Ricardo Schiappa apontou, acho que vale a pena destacar o seguinte do que diz a Ana Gomes.
  •  «A Itália pode estar apodrecida pela corrupção e ter um Primeiro-ministro indigno de chefiar uma Junta de Freguesia, quanto mais um governo da República italiana.
    Mas o sistema de justiça italiano, apesar das pressões a que tem sido sujeito, vai dando provas de isenção e competência: assim ficou demonstrado no processo
    Mãos Limpas nos anos 90. E e assim fica demonstrado pela condenação de 23 agentes americanos (e dois italianos) por envolvimento no rapto em território italiano e "extraordinary rendition" de Abu Omar para o Egipto.

    Já no nosso país, a PGR decidiu arquivar a investigação que devia esclarecer o papel de Portugal no programa de "extraordinary renditions" - sem ter verdadeiramente investigado e pondo de lado pistas relevantes.
    (...) Em 8 de julho de 2009 apresentei à PGR um requerimento, de 66 páginas, em que detalhei muitas incongruências e falhas graves da investigação da PGR e em que apelei a que, ao menos, se desse continuação à investigação.
    Em Outubro o DCIAP da PGR reagiu, em superficial resposta condensada em quatro páginas: decidindo engavetar a investigação.
    (...) Como pode o DCIAP chegar a esta conclusão ?

    1. Se a própria investigação revelou que o Ministério dos Negócios Estrangeiros reconhece que concedeu, “a título absolutamente excepcional” aos EUA “autorizações genéricas de sobrevoo do espaço aéreo nacional e utilização da Base das Lajes”, autorizações essas que “permitem o transporte de material contencioso e de pessoas”.
    Ora sucede que a PGR nunca questionou o MNE e o MDN sobre o significado da expressão “MATERIAL CONTENCIOSO”, nem sobre a necessidade de concessão de uma autorização “ABSOLUTAMENTE EXCEPCIONAL” para transportar... “PESSOAS”.
    2. Se 8 dos 148 nomes identificados na mesma investigação coincidem com os nomes de agentes da CIA alvo de mandato de captura alemães ou italianos, por envolvimento em rapto e “extraordinary renditions”. (...) 4. Se aterrou duas vezes em Lisboa (além de dezenas de vezes no Porto) o avião com a matrícula N379P, o “Guantánamo Express”, operado pela empresa-fantasma da CIA STEVENS EXPRESS, classificado de “voo de Estado”, e que, por consequência, devia estar munido de autorização diplomática portuguesa. (...) 5. Se o inquérito revelou a existência de pelo menos dois “voos fantasma” sobre os quais não há quaisquer registos junto das autoridades nacionais:
    a. um passa pelas LAJES a caminho de GUANTÁNAMO
    b. o outro, um “voo ambulância”, com destino desconhecido, levou ao avistamento, também nas LAJES de um “indivíduo [que] vestia um fato-de-macaco cor de laranja”, “algemado nas mãos e nos pés” e era considerado “altamente perigoso”.
    Mas a PGR sobre isto nada diz, não quis saber, nem sobretudo investigar mais...
    » (Causa Nossa)

domingo, 8 de novembro de 2009

Uma vitória para os EUA

A aprovação de uma lei prevendo seguros de saúde estatais para pessoas sem cuidados de saúde é uma revolução social-democrática para os EUA, e a maior vitória de Obama até ao momento. Todavia, as cedências de última hora na questão da IVG mostram como se trata de uma maioria frágil. Prova-se que, no momento actual dos EUA, mais facilmente se expande os serviços de saúde do que se combate a influência clerical.

Os republicanos

Eu vivo no meio destes selvagens:



:o)

sábado, 7 de novembro de 2009

Casamento Gay

Escrevi aqui em baixo, na caixa dos comentários, que achava pena que os homossexuais que integram a classe política andassem a fingir que eram heterossexuais, sobretudo os do PP, que são especialmente homofóbicos.

O Ricardo comentou que achava que o Paulo Portas provavelmente era heterossexual. Eu estou-me completamente nas tintas, como o resto do país, para a vida sexual do Paulo Portas. Não me interessa absolutamente nada se ele é ou não homossexual. Mas eu sei que há homossexuais no PP e acho pena que a vergonha deles sirva para reforçar o estigma com que os países menos educados, como Portugal, perseguem as pessoas LGBT (e outras minorias).

Não tem de ser assim. Quando vou à Holanda vejo as pessoas nas tintas para a sexualidade umas das outras. Ser-se homossexual não diz nada sobre o carácter de ninguém e por isso os homossexuais holandeses casam, adoptam crianças e formam famílias estáveis, saudáveis, económicamente produtivas, felizes e funcionais. Iguaizinhas às dos heterossexuais.

Aqui na República de Jesus olho à minha volta e vejo os homossexuais a serem insultados, acossados e perseguidos todos os dias, porque a Bíblia diz que os judeus (e os cristãos, pelo menos os que acreditam que o Antigo Testamento foi inspirado pelo Espírito Santo) os devíam apanhar e matá-los à pedrada.

Acho que Portugal - que tem um passado horrível: fascista, esclavagista, com inquisidores e autos de fé, pena de morte para o crime de apostasia (uma lei da Idade do Bronze!) até ao século XIX, etc. - devia tentar seguir o caminho da Holanda em vez de querer ser como o Texas (mas pobre e triste).

Acho que não devíamos andar aqui a dançar à volta do assunto: a homossexualidade é um pecado do Antigo Testamento que é perseguido por lei. Só isso.

Revista de blogues (7/11/2009)

  1.  «Nada de realmente surpreendente nas palavras chistosas, assistidas por um delicado sorriso de desdém, de José Sócrates ao investir na Assembleia da República contra José Pacheco Pereira invocando o passado rebelde deste: «uma vez revolucionário, revolucionário toda a vida». Posso garantir que conheço de contacto directo pelo menos quinhentas pessoas que um dia foram revolucionárias e que, apesar de hoje estarem maioritariamente «instaladas na vida», não sentem necessidade alguma de renegar esse lado inconformista do seu passado. (...) É por isso uma verdadeira tristeza que o primeiro-ministro português, com o dever de fazer pedagogia democrática ainda que seja historicamente um parvenu da democracia, tenha afirmado o que afirmou e da forma como o fez. Dir-se-á que foi da adrenalina, que se tratou de uma irrelevância, mas são irrelevâncias destas que definem um carácter. Mário Soares, por exemplo, jamais diria tal coisa. Como exclamou uma amiga minha indignada com o episódio, «apetecia responder-lhe: uma vez PSD, para sempre PSD».» (A Terceira Noite)
  2. «(...) Mas a maior de todas a hipocrisias dos bons e fiéis católicos é, sem dúvida, andarem a fazer de conta que a sua religião está completamente afastada – em TODOS os aspectos – da doutrina formulada na Bíblia, designadamente no Antigo Testamento. Basta dar um salto ao «Catecismo da Igreja Católica» para afastar essa gigantesca mentira.
    E bastam algumas citações, respigadas ao acaso:
    «§81 - A Sagrada Escritura é a Palavra de Deus enquanto redigida sob a moção do Espírito Santo».
    «§106 – Deus inspirou os autores humanos dos livros sagrados. Na redacção dos livros sagrados, Deus escolheu homens, dos quais se serviu fazendo-os usar as suas próprias faculdades e capacidades, a fim de que, agindo ele próprio neles e por meio deles, escrevessem, como verdadeiros autores, tudo e só aquilo que ele próprio queria».
    «§121 – O Antigo Testamento é uma parte indispensável das Sagradas Escrituras. Os seus livros são divinamente inspirados e conservam um valor permanente, pois a Antiga Aliança nunca foi revogada».
    «§123 – Os cristãos veneram o Antigo Testamento como a verdadeira Palavra de Deus. A Igreja sempre rechaçou vigorosamente a ideia de rejeitar o Antigo Testamento sob o pretexto de que o Novo Testamento o teria feito caducar.
    (...)» (Diário Ateísta)

A populaçao a estabilizar

De acordo com a revista Economist, mesmo nos países menos desenvolvidos a fertilidade está a diminuir de forma muito significativa. Neste momento, a taxa de fertilidade mundial é de 2.1, um valor bem mais adequado para um futuro sustentável.

Esta diminuição da fertilidade traz vários benefícios sociais e económicos (alguns dos quais descritos no artigo). No que diz respeito à sustentabilidade ambiental, no entanto, ainda há muito a fazer, e não pode ser exclusivamente pela via demográfica. É necessário lutar para diminuir o impacto ambiental per capita.

Boas notícias, de qualquer forma.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Discriminação no casamento

A Federação Portuguesa de Futebol emitiu um comunicado segundo o qual irá criar uma norma que proibirá os adeptos que assistam a um jogo do clube "Sport Lisboa e Benfica" no estádio de celebrar um golo desse clube de forma audível, bem como qualquer cântico de apoio aos jogadores desse clube.

Quando confrontados com a acusação de estarem a criar uma lei que discrimina os benfiquistas, os representantes da Federação responderam:

«Não existe qualquer discriminação. A regra será a mesma para todos os adeptos. Um benfiquista é tão livre de celebrar o golo do Sporting como o sportinguista; e este último está tão impossibilitado de celebrar o golo do Benfica como o benfiquista»


Este exemplo inventado é absurdo. Mas é precisamente isto que fazem aqueles que alegam que não existe discriminação contra homossexuais quando eles são impedidos de casar com alguém do mesmo sexo.
Serão obcecados com o formalismo? Será que para eles a letra da lei é assim tão mais importante que o seu espírito? A resposta é negativa.

Se fossem coerentes na sua defesa do formalismo, abstraindo-se da discriminação que ocorre «na prática», saberiam que a lei actual, em termos formais, discrimina. Não consoante a orientação sexual, mas sim consoante o sexo.

Discrimina formalmente homens e mulheres. Discrimina os homens pois não lhes permite aquilo que permite às mulheres (casar com homens); e discrimina as mulheres pois não lhes permite aquilo que permite aos homens (casar com mulheres). A lei, em termos formais, viola o princípio da igualdade de homens e mulheres perante a lei.

Claro que tudo isto é um absurdo. A verdadeira discriminação é contra os homossexuais. E é a vontade, consciente ou inconsciente, de os discriminar que motiva a alegação absurda e incoerente de que a lei actual não discrimina.

Crucifixos na escola pública

Fernanda Câncio no DN:
  • «Os crucifixos estão nas escolas para doutrinar - fazer proselitismo. E é mesmo por esse motivo que os defensores dessa situação lá os querem: porque não confiam no poder de atracção da sua crença e querem impô-la aos outros. É compreensível, dir-se-ia mesmo expectável. E muito simbólico, sim: do medo da liberdade. Como será simbólico que um Estado laico, e sobretudo um Governo socialista, se mantenha cúmplice desse medo.» (Diário de Notícias)

A miséria da arte

O 'Artista' que matou um cão à fome vai repetir o acto - Ou NÃO! Depende de nós. Vê como.

Como muitos devem saber e até ter protestado, em 2007,Guillermo Vargas Habacuc, um suposto artista, colheu um cão abandonado de rua, atou-o a uma corda curtíssima na parede de uma galeria de arte e ali o deixou, a morrer lentamente de fome e sede. Durante vários dias, tanto o autor de semelhante crueldade, como os visitantes da galeria de arte presenciaram impassíveis à agonia do pobre animal. Até que finalmente morreu de inanição, seguramente depois de ter passado por um doloroso, absurdo e incompreensível calvário.
Parece-te forte? Pois isso não é tudo: a prestigiosa Bienal Centroamericana de Arte decidiu, incompreensivelmente, que a selvajaria que acabava de ser cometida por tal sujeito era arte, e deste modo tão incompreensível Guillermo Vargas Habacuc foi convidado a repetir a sua cruel acção na dita Bienal em 2009. Facto que podemos tentar impedir, colaborando com a assinatura nesta petição: http://www.petitiononline.com/13031953/petition.html
(não tem que se pagar, nem registar).
Para enviar a petição, de modo que este homem não seja felicitado nem chamado de 'artista' por tão cruel acto, por semelhante insensibilidade e desfrute com a dor alheia. 
Se puseres o nome do 'artista' no Google, saem as fotos deste pobre animal e seguramente também aparecerão páginas web onde poderás confirmar a veracidade da informação.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Referendos e ditadura da maioria

Há muita coisa que, referendada, não teria maioria: o direito das testemunhas de Jeová de baterem à porta das pessoas, o adultério não ter consequências de maior, o toque dos sinos depois das 22h, o direito a uma consulta de planeamento familiar aos 14 anos, o transplante de órgãos de um falecido, a violência doméstica ser crime público, ou o direito de passear cãos na rua sem pratinho e vassoura atrás.
Felizmente (ou não...), ainda ninguém se lembrou de referendar estas candentes questões. E ainda bem que assim é, porque Portugal não é apenas uma democracia, é também uma república em que os direitos estão acima das maiorias. O contrário seria uma ditadura da maioria. O que não seria bom. Para uns ou para outros, conforme as circunstâncias.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

TVI, 14 horas

Estarei na TVI às 14 horas para falar de laicidade e crucifixos.

O lado negro da escola privada confessional

Alguém quer parar para pensar como seria Portugal se as escolas fossem todas privadas e religiosas (ou parecidas com isso)? Num excelente texto na Jugular, Isabel Moreira explica como foi a sua experiência no colégio Opus Dei exclusivamente feminino que ficou em primeiro lugar no «ranking» das notas escolares.
  • «(...) Lembro-me da provocação do C. Hitchens ao perguntar se a religião é abuso de menores. Às vezes é. No Mira Rio onde cresci, nunca ouvi falar de um deus misericordioso, de um deus pai, nunca ouvi falar de amor. A religião foi-me essencialmente incutida por duas vias: a via dogmática, que se traduzia em muito cedo já saber declamar as provas extra-bíblicas da existência de cristo; e a via do medo, esta muito eficaz, porque o pecado, venial e mortal, nas suas consequências, se não sanados, eram ilustrados até à náusea. Insistia-se bastante no limbo, mas, sobretudo, e este é o aspecto fulcral do meu Mira Rio, havia uma atenção doentia, por parte do colégio e do preceptorado, aos pecados da carne. De resto, os sacerdotes do opus dei ajudavam no terror. A primeira aproximação que tive às consequências do fenómeno do desenvolvimento (futuro) do meu corpo e da minha cabeça pecadora foi a explicação de que o dito corpo era o templo do espírito santo. Ora, o templo não pode sentir o que quer que seja. (...) O sacerdote fez-me perguntas de uma minúcia que nunca vi, como advogada, serem feitas em tribunal. O meu corpo, o corpo de uma criança, foi escrutinado atrás de uns quadradinhos de madeira, o confessionário. Havia também a professora sofia, que depois de uma asneira grande que fiz com 9 anos, vendo-me comungar, me levou para uma sala fechada e explicou-me que eu recebera do corpo de cristo em pecado mortal. Convenceu-me, sem apelo nem agravo, de que estava condenada ao inferno. Passei muitas noites da minha quarta classe a adormecer com medo, com uma ideia da esperança de vida, tendo a minha por inútil, já que fatalmente condenada ao inferno. A professora sofia torturou-me de muitas outras maneiras. O ensino era bom? Sim. Havia professoras boas?  Sim. Havia boas pessoas? Sim. Fiz amigas e apesar de tudo, com elas, recordações felizes? Claro. Mas às vezes a religião é abuso de menores. (...)» (Ler na íntegra.)
Ainda hão-de pedir dinheiro do Estado para fazer isto. Cheque-ensino, e tal...

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Entrevista de Henri Peña-Ruiz: laicismo

Henri Peña-Ruiz continua a ser o filósofo de referência para questões de laicidade. Entrevista no Público espanhol.
  • «Desde cuándo existe el concepto de laicismo?Surgió a partir de las luchas de emancipación de los hombres, cuando quisieron lograr el reconocimiento de la libertad de conciencia. El laicismo no surgió como hostilidad a la religión, sino a la imposición pública de la misma. En tiempos del nacionalcatolicismo, la Iglesia, en lugar de mantenerse como una opción espiritual, se impuso como un poder político. Entonces empezaron las diversas formas de opresión, como el Tribunal de la Inquisición. Una época negra de la Humanidad en la que se impedía la libertad de creer o no creer, como se vio con las condenas de Giordano Bruno o Galileo.
    (...) Se puede defender el laicismo siendo creyente?Evidentemente. El mundo no está dividido entre creyentes y no creyentes, sino entre los que quieren imponer su creencia y los que luchan por la estricta igualdad de trato de unos y otros. Eso no existe si en democracia se celebran ceremonias públicas con presencia de símbolos religiosos, porque una parte de la población goza entonces de más reconocimiento que la otra.
    En España, ese debate está presente. ¿Cuál habría de ser la solución?
    Una separación clara y sin ambigüedades entre el Estado y la religión. Mi libertad de no creer es la misma que la de otro para creer. El laicismo surge como ideal cuando los hombres se dieron cuenta de que, siendo creyentes, ateos o agnósticos, la conciencia sólo puede ser libre. El papel de los poderes públicos no es el de privilegiar la religión o el ateísmo, sino poner de relieve lo que es común a todos: la sanidad,la educación... Financiar con dinero público escuelas privadas no es normal.»

Contratada pelo Estado, despedida pela ICAR

As Concordatas, em Portugal e em Espanha, causam situações destas: uma professora de Educação Moral e Religiosa (Católica) pode ser contratada pelo Estado e despedida pela autoridade eclesiástica.
Em Outubro de 2000, uma professora de uma escola pública das Canárias foi despedida. A razão: vivia em união de facto. Quem tomou a decisão não foi o empregador (que era o Estado) mas sim a autoridade eclesiástica (católica). Do ponto de vista da Concordata e do Direito Canónico, imagino que o despedimento seja válido, e até imperioso. Do ponto de vista da Constituição espanhola, foi discriminação e uma injustiça.
Foram necessários oito anos de batalhas judiciais para que Carmen Galayo conseguisse uma sentença final favorável. A diocese das Canárias foi condenada a pagar uma indemnização de 210 mil euros e a renovar contrato com a docente.
Imagina-se que o caso não fique por aqui. Mas evidencia como a criação de nichos confessionais dentro do Estado origina situações perversas. Reconhecer validade ao Direito Canónico é, como se mostra pelo caso exposto, permitir que os cidadãos percam direitos que o Estado, qualquer Estado laico, deve garantir. A laicidade é incompatível com as Concordatas.
[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

ICAR e o sucesso do sexismo e homofobia

A Igreja Anglicana já há 17 anos que permite que mulheres exerçam o sacerdócio, e a Igreja Episcopal ordenou em 2003 um bispo abertamente homossexual. Em ambos os casos, muitos membros destas comunidades foram-nas abandonando para se converterem ao catolicismo, ocorrendo uma verdadeira "sangria" destas Igrejas.

Ainda assim, muitos tradicionalistas, descontentes com esta abertura, mas renitentes em abandonar a sua liturgia e herança, têm mantido a sua pertença a essas Igrejas.

De acordo com esta notícia do Economist, a ICAR está a resolver este "problema", permitindo que dioceses e comunidades inteiras adiram à Igreja Católica como um grupo, mantendo muitas das suas tradições. Os sacerdotes destas comunidades podem até ser casados, muito embora não possam ascender a Bispos nessa circunstância.

Os progressistas católicos ficam portanto numa situação complicada. Será certamente mais difícil defender a ordenação de mulheres quando o exemplo de uma Igreja que seguiu esse caminho é exemplo de um fracasso do qual a ICAR se está agora a aproveitar. Há pessoas (e pelos vistos não são poucas) para quem o sexismo ou homofobia de impedir a ordenação de mulheres ou homossexuais é mais importante do que a tradição familiar, a comunidade em que se cresceu, ou mesmo todas as outras tradições.
Mal por mal, eu sou da opinião que nenhuma tradição deve ter valor intrínseco; mas para quem dá valor às tradições, é curioso que as priorize desta forma, considerando as tradições sexistas e homofóbicas mais importantes que as outras todas.

La piovra, parte 2

O texto de Mário Crespo tem uma componente de populismo anti-políticos, mas os acontecimentos, infelizmente, cada vez dão mais razão a quem faz este tipo de discurso. E sim, é curioso que a Face Oculta não tenha sido conhecida um mês antes. As eleições teriam sido diferentes.
  • «O processo Face Oculta deu-me, finalmente, resposta à pergunta que fiz ao ministro da Presidência Pedro Silva Pereira - se no sector do Estado que lhe estava confiado havia ambiente para trocas de favores por dinheiro. Pedro Silva Pereira respondeu-me na altura que a minha pergunta era insultuosa. Agora, o despacho judicial que descreve a rede de corrupção que abrange o mundo da sucata, executivos da alta finança e agentes do Estado, responde-me ao que Silva Pereira fugiu: Que sim. Havia esse ambiente. (...) Face ao que (felizmente) já se sabe sobre as redes de corrupção em Portugal, um chefe de Governo não se pode refugiar no "no comment" a que a Justiça supostamente o obriga, porque a Justiça não o obriga a nada disso. (...) Declarações idênticas de não-comentário têm sido produzidas pelo presidente Cavaco Silva sobre o Freeport, sobre Lopes da Mota, sobre o BPN, sobre a SLN, sobre Dias Loureiro, sobre Oliveira Costa e tudo o mais que tem lançado dúvidas sobre a lisura da nossa vida pública. Estes silêncios que variam entre o ameaçador, o irónico e o cínico, estão a dar ao país uma mensagem clara: os agentes do Estado protegem-se uns aos outros com silêncios cúmplices sempre que um deles é apanhado com as calças na mão (ou sem elas) violando crianças da Casa Pia, roubando carris para vender na sucata, viabilizando centros comerciais em cima de reservas naturais, comprando habilitações para preencher os vazios humanísticos que a aculturação deixou em aberto ou aceitando acções não cotadas de uma qualquer obscuridade empresarial que rendem 147,5% ao ano.» (Mário Crespo no Jornal de Notícias)

domingo, 1 de novembro de 2009

Polanski

Desculpem-me outra vez os que acham que nenhum crime devia prescrever e que Polanski devia ser preso, extraditado e condenado por um crime que cometeu há 32 anos.

Mas li hoje um texto do Bernard Henry-Levy no El Pais que me relembrou que este desgraçado continua na prisão, vítima da campanha de caça às bruxas lançada por Bush em 2005 e agora aproveitada por um delegado do ministério público abjecto, contra a vontade da vítima, por razões políticas, aparentemente em ano de eleição.

Já sei que os anónimos do costume acham bem prendê-lo, humilhar-lhe a família e retomar um julgamento que começou há 32 anos, com um juiz a dar o dito por não dito e a forçar-lhe a fuga, depois de ter acordado numa pena que Polanski cumpriu integralmente.

Acho que vale a pena lembrar aqui que a vítima de Polanski já o desculpou publicamente e que publicamente pediu ao ministério público que a não fizessem passar, mais uma vez, pelo martírio dos tribunais, dos pormenores mais repugnantes e aviltantes repetidos à exaustão, publicados e lidos e debatidos com as mãos suadas de nervos por todos os tarados sexuais deste triste país. Desta vez em frente dos filhos dela.

Segundo Samantha Gailey, a única vítima desta história, o que Polanski lhe fez foi horrível, mas não foi nada comparado com os olhares e os comentários e o interesse pegajoso que os polícias, os advogados, os contínuos do tribunal, os jurados e todos os homens que acorreram em defesa dela, demonstraram oleosamente, enquanto a interrogavam e lhe saboreavam as respostas.

Porcos como todos os puritanos, fartos de saberem que a linha entre o bem e mal passa pelo meio de cada um de nós, estes mamíferos repugnantes vão-se regalar mais uma vez com a história sórdida deste incidente, exercer o poder de julgarem os outros como se as pessoas fossem simples e coerentes, ou completamente boas, ou completamente más.

Talvez porque vivo aqui há 11 anos a ver juízes e políticos (como os que se vão agora espojar nesta história sórdida) a serem apanhados em actos muito mais revoltantes do que este. Talvez porque me custe ver um artista ser julgado por por boçais. Talvez porque Polanski é judeu e os Suiços têm uma longa história de anti-semitismo. Não sei. Acho esta história triste e injusta. Hipócrita. E como BHL, com quem geralmente nunca concordo, apetece-me perguntar se alguém sabe de outra história de outro criminoso sexual que tenha sido seleccionado e activamente procurado pela interpol.

Esta história é repugnante e de uma injustiça atroz.