terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O ideólogo de Merkel ou o travão da Europa



Depois de mais uma cimeira europeia sem novidades para combater a crise, vale a pena relembrar esta entrevista de Wolfgang Franz (conselheiro de Merkel) à Euronews, onde este explica porque é contra a emissão de títulos de dívida em euros. Neste resumo da entrevista falta a passagem mais interessante. Quando pressionado pelo jornalista como justificava a sua oposição às euro-obrigações, Wolfgang Franz referiu que os restantes países da zona euro não sabiam o que é ter uma inflação alta. Acrescentou que na Alemanha ainda há quem se lembre dessa péssima experiência. O problema é que os motivos que levaram à hiper-inflação de 1923 (um pão chegou a custar dezenas de milhares de milhões de marcos) se devem exclusivamente à sucessão de castigos absurdos que os vencedores da primeira guerra infligiram à Alemanha. Em particular, quando a França passou a absorver nesse ano toda a produção de carvão alemã como represália ao atraso no pagamento das dívidas de guerra.

À primeira vista as motivações de Wolfgang Franz parecem enquadradas pelo típico ódio contra a inflação, tão típicos da ideologia Reagan-Thatcher. Como se uma inflação alta fosse pior do que o momento económico que estamos a viver. Mas numa segunda análise perguntamo-nos se não estamos perante uma vingança velada de muito mau gosto (que atinge a própria Alemanha). É nisto que anda a patinar a Europa. Resta a esperança de as próximas eleições alemãs apearem estes senhores definitivamente.

3 comentários :

Ricardo Alves disse...

Faltam 20 longos meses para as eleições para o Bundestag. Não sei se ainda haverá cacos para apanhar nessa altura...

Rui Curado Silva disse...

essa é a grande questão

fec disse...

a inflação é um imposto proporcional que, ainda por cima, atinge sobretudo o consumo, isto é, os pobres, as necessidades básicas

nem os neoliberais puros e duros defendem impostos proporcionais e que, ainda por cima, atingem sobretudo os mais pobres

antes de se ser de esquerda é preciso pensar primeiro