quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Compromisso à esquerda

Um apelo à estabilidade governativa. Assinar aqui.

Lido na Jugular

Crime talvez não, mas falta de ética, com certeza

Analisemos a comunicação de Cavaco.
  • «(...) declarações de destacadas personalidades do partido do Governo exigindo ao Presidente da República que interrompesse as férias e viesse falar sobre a participação de membros da sua casa civil na elaboração do programa do PSD (o que, de acordo com a informação que me foi prestada, era mentira) (...)»
Versão de Cavaco: os assessores não participaram na elaboração do programa do PSD. Facto: há uma assessora que foi candidata. Também há uma «fonte» de Belém que, creio que sem se deslocar à Avenida de Roma, diz que «posso almoçar com uma ou outra pessoa e isso significa o quê?». Enfim, almoçar não é elaborar. É dar umas ideias. Prossigamos.
  • «(...) não tenho conhecimento de que no tempo dos presidentes que me antecederam no cargo, os membros das respectivas casas civis tenham sido limitados na sua liberdade cívica, incluindo contactos com os partidos a que pertenciam (...)».
Hm. Afinal, era «mentira» ou não?
  • «(...) as interrogações que qualquer cidadão pode fazer sobre como é que aqueles políticos sabiam dos passos dados por membros da Casa Civil da Presidência da República (...)»
Está bem. Os outros sabiam dos «passos dados». Portanto, houve passos. E contactos. Mas não é «participação»: não pagaram as fotocópias nem fizeram as actas.
Vamos à parte substantiva.

  • «(...) onde está o crime de alguém, a título pessoal, se interrogar sobre a razão das declarações políticas de outrem? (...)»
Crime não será, mas é pouco ético lançar suspeições de vigilâncias quando não se tem certezas. Particularmente, quando se pertence à Casa Civil da Presidência e estão em causa as relações entre órgãos de soberania.
  • «(...) Desconhecia totalmente a existência e o conteúdo do referido e-mail e, pessoalmente, tenho sérias dúvidas quanto à veracidade das afirmações nele contidas. (...)»
Muito bem. O PR não lê os e-mails do Público. Certo.
  • «(...) confesso que não consigo ver bem onde está o crime de um cidadão, mesmo que seja membro do staff da casa civil do Presidente, ter sentimentos de desconfiança ou de outra natureza em relação a atitudes de outras pessoas (...)»
O problema, como se entende, não são os «sentimentos» de Fernando Lima. O problema é ele ter pegado num dossiê e ir partilhar, não «sentimentos», mas pseudo-«informações». Com um jornalista. E dizendo-se autorizado superiormente. Quanto a isso, não basta «duvidar» da «veracidade» do e-mail. O Presidente tem razões para concluir que o e-mail é falso? Não tem: tê-lo-ia dito peremptoriamente. Fernando Lima agiu à revelia de Cavaco? Não o fez, pois Cavaco tê-lo-ia corrido de Belém - e ele continua lá. Sim, não há crime. Há só uma grave falha ética - o que, para um Presidente, é imperdoável.
  • «(...) o e-mail publicado deixava a dúvida na opinião pública sobre se teria sido violada uma regra básica que vigora na Presidência da República: ninguém está autorizado a falar em nome do Presidente da República, a não ser os seus chefes da Casa Civil e da Casa Militar. E embora me tenha sido garantido que tal não aconteceu, eu não podia deixar que a dúvida permanecesse. Foi por isso, e só por isso, que procedi a alterações na minha Casa Civil (...)»
Bom. Então, o Fernando Lima garante que não falou em nome de. Mas Cavaco demitiu-o só pela metade, o que pode significar que: a) não acredita em Lima (mas nesse caso, porquê mantê-lo por perto?); b) acredita em Lima, mas não leva a mal o procedimento.
  • «"será possível alguém do exterior entrar no meu computador e conhecer os meus e-mails? Estará a informação confidencial contida nos computadores da Presidência da República suficientemente protegida?” Foi para esclarecer esta questão que hoje ouvi várias entidades com responsabilidades na área da segurança. Fiquei a saber que existem vulnerabilidades e pedi que se estudasse a forma de as reduzir
Esta parte é um pouco estranha. Quer isto dizer que o email revelado estava no computador dele? O Fernandes colocou-o em CC? Não entendo.
Em resumo: não nega a já famosa excursão de Lima à Avenida de Roma; não nega que, confrontado com a pergunta «tem autorização superior?», Lima tenha feito um sorriso sábio; não nega que Lima continua por lá; não nega a existência do dossiê.
A renúncia ao mandato está prevista na Constituição.


terça-feira, 29 de setembro de 2009

Revista de blogues (29/9/2009)

  1. «O PS tem que decidir, atendendo a estes resultados, qual é a sua identidade. Tem que decidir se é um partido de esquerda ou se é um partido de centro liberal. Há razões muito óbvias que levaram os eleitores de esquerda que tradicionalmente votam no PS a não votar neste PS: o autoritarismo, a promiscuidade com os grandes interesses económicos e financeiros, uma agenda social tímida e a erosão dos direitos dos trabalhadores. (...) Se se fizer uma análise aprofundada de onde é que o CDS conseguiu captar muitos votos, pode notar-se que houve uma mutação do seu eleitorado tradicional (rural e religioso) para um eleitorado suburbano bastante afectado pela insegurança. Este é um tema que deve ser discutido sem tabus- principalmente ao nível jurídico. Parece-me ser claro que o ordenamento jurídico-criminal português, quase copiado da Alemanha, já deu provas cabais de não estar adequado à realidade da criminalidade e da justiça em Portugal.» (Ponte Europa)

  2. «O que seria do povo português sem a elite iluminada da classe empresarial! Suspenda-se a Democracia; acabe-se com as eleições, e passemos a pedir a opinião ao senhor Francisco Van Zeller e à corporação a que preside, sobre a melhor forma de governar Portugal.

    Francisco Van Zeller devia parar para pensar sobre qual ou quais as razões que levam a que povo conceda votações tão expressivas a partidos à esquerda do PS. Mas isso talvez seja pedir demasiado a mente tão iluminada.» (Der Terrorist)

As perguntas a que o PR deve responder

O Presidente da República fala à comunicação social hoje às 20 horas. Há algumas perguntas a que eu gostaria que respondesse.
  1. O Presidente da República tem ou não indícios de que foi vigiado pelos serviços de informações? Em caso afirmativo, quais?
  2. O Presidente da República deu ou não ordem a Fernando Lima para ir à Avenida de Roma, de dossiê na mão, falar com um jornalista do Público?
  3. É costume a Presidência da República elaborar dossiês sobre assessores do Governo?
  4. É ou não verdade que Fernando Lima continua ao serviço no Palácio de Belém? Caso seja verdade, esta situação é para manter?
  5. O Presidente considera ou não que tem que ter mais cuidado na escolha dos seus colaboradores?

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O Dalai Lama não foi recebido pelo PR

  • «A Associação Ateísta Portuguesa (AAP) considerou que o anúncio da visita do Papa a Portugal feito pela Presidência da República antes das eleições legislativas constituiu "uma politização inadmissível daquilo que é apenas matéria de crença pessoal". (...) "A visita de um papa católico é assunto da Igreja católica e não matéria do Estado português", assinala a AAP.» (Expresso)
O Dalai Lama, que também se reclama Chefe de Estado (que não é nem deve ser, embora haja um povo tibetano e não haja um povo vaticânico), não foi recebido pelo Presidente da República. Cheira-me que Ratzinger o será. Coisas da política realista (ou cínica, se preferirem).

Ideias para receber condignamente Ratzinger, convidado especial das contra-comemorações do centenário da República?

Um governo de esquerda é possível

Ainda é possível um governo de esquerda. Com 97 deputados PS (ou 98, depende da emigração), 16 do BE e... 2 do PEV, chega-se aos 115 (ou 116). É uma hipótese académica, mas seria útil para todos os envolvidos, e até para o PCP, que ficaria meio dentro e meio fora do governo.

A natureza de Louçã



Com os resultados do Bloco de Esquerda, se Francisco Louçã fosse um político responsável nunca o poderíamos ouvir falar em “vitória” ontem. O objectivo de um partido de esquerda responsável seria, retirando a maioria absoluta ao PS, ter mandatos suficientes para conseguir uma maioria em conjunto com este partido. (Para uma coligação ou para um simples acordo parlamentar, depois se veria.) Mas não assim. Excluído que parece estar um acordo com a CDU (a menos que se queira Portugal fora da NATO e da União Europeia), uma maioria de esquerda só me parece possível para propostas “fracturantes” ou em casos pontuais como um imposto sobre as grandes fortunas. A esquerda responsável, por isso, falhou. Mas nada disso parecia importar a Francisco Louçã, que estava mais preocupado com o seu partido do que com a governação do país. Sempre ouvimos falar da “arrogância” de José Sócrates. Após o que ouvimos ontem, será mesmo Sócrates o “arrogante”? A primeira coisa que o líder do Bloco de Esquerda fez, na noite de ontem, foi “exigir” a substituição de Maria de Lurdes Rodrigues sem propor nenhuma contrapartida. Ao ouvi-lo, apeteceu-me que Sócrates descesse ao átrio do Hotel Altis acompanhado da ainda ministra da Educação, anunciando que a manteria no seu cargo se fosse designado primeiro ministro. A verdadeira natureza de Francisco Louçã, escorpião pronto a picar a rã que o poderia ajudar a atravessar o rio, revelou-se aqui. Quem pudesse ter pensado na viabilidade de uma coligação do PS com um partido liderado por este indivíduo terá encontrado aqui a resposta. Enquanto o Bloco não decidir se é um partido de poder ou de protesto, tal não será possível. Mas, para o Bloco ser um partido de poder, terá que ser com outro líder. Neste momento, Francisco Louçã é o maior problema da esquerda portuguesa.

Ingovernabilidade

PS sem maioria absoluta, com um número de deputados inferior a PSD e CDS coligados. PS e BE não formam maioria juntos. A única solução para uma maioria estável seria um acordo do PS com um PSD descredibilizado e em cacos ou com o CDS mais à direita de sempre. O eleitorado do PS não perdoaria qualquer uma destas opções. Eu não perdoaria. Só resta ao PS seguir em frente, tentar avançar com as reformas que quer fazer (e que bem começou enquanto tinha maioria absoluta), motivá-las e justificá-las o melhor que puder perante o país, e esperar pela atitude dos restantes partidos. Não terá força para mais. O futuro será o que tiver que ser.

Bush, ainda e sempre

Este ex-drogado, ex-alcoólico, tornado puritano, lançou em 2005 uma campanha mundial contra Polanski, que acabou por ser preso antes de ontem na Suiça. A hipocrisia dos republicanos - os escândalos sexuais durante os 8 anos de administração Bush não pararam - dá vontade de volitar.

para não falar no prazer sádico, infantil, que eles sentem quando punem os 'outros'.

CDU vence a eleição mais importante

Na eleição mais importante para o que se vai passar em Portugal nos próximos anos(*), a CDU venceu, com 34% dos votos, e formará governo com os liberais FDP (15%). Curiosamente, e à semelhança de Portugal, o Die Linke tem 12% e os Verdes 11%, ou seja, a esquerda à esquerda do PS local anda pelos 20%. O que isto significa para o futuro da Europa deveria ser matéria para reflexão.

(*) Como diria Manuela Ferreira Leite, Portugal é uma província da Alemanha.

O bloqueio que o sectarismo pariu

O movimento eleitoral mais significativo, na comparação entre 2005 e 2009, é o meio milhão de votos que o PS perde. O BE ganha 200 mil votos, o CDS apenas 180 mil. A CDU ganha só 14 mil votos, o PSD uns meros 6 mil. De resto, transitam 55 mil votos para a abstenção, e 60 mil para os partidos extra-parlamentares.

Os resultados nos partidos médios representam uma renovação (ambígua) do sistema partidário: os partidos que efectivamente sobem são o BE, que tem 10 anos de vida, e o CDS, que tem mais que ver com o ex-director d´O Independente do que com Freitas do Amaral. O PSD e a CDU têm os líderes mais idosos e, de certo modo, representam dois portugais que já não voltarão: o de Salazar e o de Cunhal.

As especificidades da divisão de votos pelos círculos levam a que o BE, com apenas 35 mil votos a menos que o CDS, tenha menos cinco deputados. E foram esses 35 mil votos que, na realidade, impossibilitaram uma maioria aritmética PS-BE. (À reflexão dos fanáticos do «voto útil».)

A maioria política será conhecida, o mais tardar, aquando da discussão do orçamento de 2010. Se o PS quiser fazer maioria com um único partido, terá necessariamente que se voltar para a direita. Se se voltar para a esquerda, terá que angariar o apoio de dois-partidos-dois sem cultura de poder (e de cedência).

De qualquer modo, a maioria parlamentar é de esquerda. Teoricamente, chegaria para aprovar os casamentos entre homossexuais ou qualquer coisa desse género, mas duvido que o parlamento dure o tempo suficiente. De resto, tudo ficará na mesma, do código laboral à progressividade do IRS, passando pela escola pública (menos Lurdes Rodrigues, que está a arrumar o gabinete).

O que nos deixa com a constatação habitual: o sistema político-partidário português não está divido entre direita e esquerda, mas entre direita, PS e esquerda «radical». A última está, por acordo tácito mútuo e nunca escrito, excluída do poder. (Tem a ver com o 25 de Novembro, como tentei explicar há uns tempos.) Mas isso significa que a esquerda, como um todo, fica coxa. Ou melhor, a divisão funcional não é, realmente, entre esquerda e direita. E não foi por mais de um milhão de eleitores ter votado à esquerda do PS que deixará de ser assim. E portanto, a política real, as decisões que realmente contam, continuarão a ser negociadas no pseudo-centro que não o é, ali entre o PS e a direita.

Nota a reter: como eu apontei, em campanha houve mais ataques da esquerda «radical» ao PS do que da esquerda «radical» à direita. E mais ataques do PS ao BE do que do PS ao CDS. O resultado está à vista, com uma subida do partido mais poupado às críticas, o CDS. Continuai assim. O bloqueio da esquerda portuguesa está para durar.

domingo, 27 de setembro de 2009

Final

  1. PS 96 (-24)
  2. PSD 78 (+6)
  3. CDS 21 (+9)
  4. BE 16 (+8)
  5. CDU 15 (+1)
Faltam os quatro da emigração (3 PSD e 1 PS?). Ao contrário do que indicavam as sondagens iniciais, PS+BE não chega aos 116.

Sondagens de boca de urna

Na RTP:
  1. PS 36%-40%
  2. PSD 25%-29%
  3. BE 9%-12%
  4. CDS 8.5%-11.5%
  5. CDU 7%-10%
Na SIC:
  1. PS 36.2%-40.4%
  2. PSD 26.9%-30.7%
  3. BE 9%-11.2%
  4. CDS 7.7%-9.9%
  5. CDU 6.5%-8.7%
Na TVI: (quase o mesmo).

Essencialmente, e se as sondagens se confirmarem, a subida do BE tirou a maioria absoluta ao PS.

As eleições

Venceu o P"S". Pelo menos a segundo a projecção da Univ. Católica. :o)

Fico contente. Nada de entusiasmos, mas isto é MUITO melhor que a Manuela a privatizar e a desregulamentar contra o vento (mais uma aragem do que um vento, mas mesmo assim) da história...

Como dizia Krugman antes de ontem: Keynes - zero tragédias; desregulamentação - montes de depressões, volatilidade, desemprego, poluição, injustiça (os salários dos CEOs aqui subiram até chegarem a 550 vezes os dos trabalhadores - antes de Reagan e Thatcher a relação era de 30:1), etc. Muito mais riqueza gerada, sobretudo se se considerar que a riqueza contabilística (por exemplo, as projecções futuras dos cash-flows das empresas cotadas) é riqueza.

Devemos notar de 40% dos eleitores (PPD + CDS) preferem a desregulamentação e o monetarismo, o Banco Mundial a fazer empréstimos ao Terceiro Mundo que o Terceiro Mundo não pode pagar, uma classe de soldados, outra de trabalhadores, a educação privatizada e só ao alcance dos filhos da classe alta, missas em Fátima, etc.

Os dados estão lançados

Agora, restam os resultados.

sábado, 26 de setembro de 2009

Islão

Recebi por email um texto sobre as burcas em França que defende a ilegalização das burcas em espaços públicos pelas razões do costume: porque representa a opressão das mulheres, porque representa um projecto político separatista e porque representa um perigo óbvio para a sociedade civil. Eu concordo com estes argumentos, mas começo a achar que ninguém deveria legislar contra a maneira das pessoas se vestirem. Acho, cada vez mais, que esta moda é uma reacção à estupidez criminosa do Ocidente, sob Bush, Blair e Sharon, e acredito que isto pode passar em poucos anos, se nós nos descontrairmos um bocado. Acho que era importante prender os selvagens (muçulmanos ou não) que batem na mulher e arrancam o clitoris às filhas, mas deixar os outros em paz.

Aqui nos EUA já se sente alguma acalmia. As declarações do Al-qeida contra o Obama são cada vez mais desesperadas. Parece-lhes evidente que não vai ser possível incitar todos os muçulmanos contra Obama. Sobretudo a seguir ao cinismo assassino dos criminosos da administração Bush. Se os Berlusconis e os Sarkozis se calarem, esta animosidade entre religiões pode desaparecer em poucos anos.

Acho cada vez mais que a solução não é a proibição. Se calhar, se os europeus se descontraíssem um bocado, esta moda passava em cinco ou dez anos.

Vestirem as mulheres de sacos do lixo é a única coisa que os muçulmanos podem fazer para se vingarem de um milhão de mortos no Iraque, entre outras afrontas. Estas atitudes irracionais são características da situação de humilhação e impotência que eles viveram nos últimos 10 anos. A imprensa Ocidental chamou "danos colaterais" aos inocentes de morreram durante o assalto dos EUA e da Inglaterra aos recursos naturais do Iraque.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Por que voto no PS

Numa notável música intitulada O Estrangeiro, em 1989, Caetano Veloso remata anunciando:
Some may like a soft brazilian singer but I’ve given up all attempts at perfection.
Não defendo que esqueçamos a perfeição. A perfeição deve permanecer como o objectivo, os objectivos devem ser claros e devemos lutar por eles. Mas devemos ter a noção de que a perfeição nunca é atingível por métodos democráticos, e os métodos antidemocráticos (para além de serem isso mesmo – antidemocráticos) conduziram a resultados que ninguém, nem mesmo o mais fanático, considera perfeitos. Ou seja: devemos tentar aperfeiçoar-nos, conscientes das nossas imperfeições. A perfeição é algo que se tenta atingir, e não algo que se estabelece. Finalmente, há limites à perfeição que queremos atingir (à esquerda: a Igualdade e a Liberdade), provenientes da nossa condição humana de animais sociais, que podemos aprender com a História, mas também com a Segunda Lei da Termodinâmica. São totalmente irrealistas as propostas baseadas na “imaginação”, no “sonho”, no “ideal” e na “utopia”, que tantas vezes se ouve falar à esquerda, e que devemos rejeitar em nome da verdade. (Belo slogan, o do PSD: Política de Verdade. Pena que não tenha nada a ver com o partido que o usa.) Mais valem avanços concretos que tacticismos suicidas que preferem levar a direita ao poder em nome da “pureza ideológica”, na esperança que a revolução fique mais próxima e mais fácil. É em nome destes avanços concretos, é por causa destes avanços concretos, que voto no PS nestas eleições legislativas. Porque sou de esquerda e, relativamente aos outros partidos, o Bloco de Esquerda não consegue (ou não conseguiu, até hoje) assumir nenhum tipo de responsabilidades, e o PCP, se não tiver uma posição hegemónica (que o povo português nunca entendeu dar-lhe), prefere conservar a sua pureza como partido puramente de protesto. Esta minha rejeição poderia motivar-me a procurar uma outra alternativa, ou a votar no PS simplesmente porque era o mal menor. Não é esse o caso: voto no PS nestas eleições com convicção: estou firmemente convencido de que é o melhor para Portugal. O que motiva este meu ponto de vista são alguns dos tais “avanços concretos” dos últimos quatro anos, rumo a uma sociedade mais justa. Sem querer ser exaustivo, vou enumerar alguns:

As propostas do Bloco

Texto imperdível no Avenida Central. A ler de uma ponta à outra.

Faites vos jeux

O meu palpite pessoal:
  1. PS 38%
  2. PSD 32%
  3. BE 9.2%
  4. CDU 8%
  5. CDS 7.8%
  6. OBN 5%
Convido os leitores a partilharem os seus palpites na caixa de comentários. O vencedor terá um prémio (aceitam-se sugestões).

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

PS e Mota-Engil

  • «A Mota-Engil atingiu máximos de 12 meses, nos 3,695 euros, numa altura em que os resultados das eleições são considerados o principal “trigger” de curto prazo da empresa. (...) “O aproximar das eleições” e “a possibilidade de vitória do PS”, estão a impulsionar a cotação da construtora, segundo um operador de mercados contactado pelo Negócios.» (Jornal de Negócios)

Perguntas pertinentes

Interrogações do Marco Oliveira, que pertence a uma confissão religiosa minoritária:
  • «Será que as Confissões Religiosas, a Laicidade, a Lei da Liberdade Religiosa são temas irrelevantes para as forças políticas? Será que os partidos políticos nada têm a dizer ou a propor nessa matéria? Ou isto serão temas demasiado delicados, cuja referência é preferível omitir nos programas eleitorais?» (Povo de Bahá).

Silva Pereira é antifascista?

O ministro católico conservador Silva Pereira diz que o PSD tem um discurso «salazarento». Fantástico, melga. Mais um pouco e vais dizer que o Josemaría Escrivá era um franquista fascistóide? O que se faz para poder defender os interesses da ICAR dentro de um Governo «socialista»...

Sondagem quase final

PS 40%, PSD 31.6%, BE 9%, CDS 8.2%, CDU 7.2% (OBN 4%). Se esta sondagem estiver próxima dos resultados finais, o PS ainda pode não ficar longe da maioria absoluta. E basta mais um partido para ter maioria parlamentar.
E, com margem de erro de 3.45%, ninguém arrisca dizer qual será o terceiro partido. O que pode ser importante para decidir o parceiro menor do poder.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Uma atitude rara

Manuel Maria Carrilho recusou, contra as indicações do MNE Luís Amado, contribuir para a eleição como Secretário-Geral da UNESCO de um anti-semita egípcio.

Factos a reter

  • «Na Europa é usual as esquerdas entenderem-se. Em França há muito que se entenderam para um “programa comum”, o qual tem tido tradução governativa em várias legislaturas desde 1981. Actualmente, no PSF discute-se a hipótese de alianças que vão dos centristas (MoDem) até à “esquerda radical”. Em Espanha, o PSOE já fez uma coligação pré-eleitoral com a Izquierda Unida (2000), e governou com o seu apoio e o da “Esquerda Republicana da Catalunha” (2004-08). Em Itália, desde 1994 que tem havido várias coligações incluindo as várias esquerdas e o centro. No Chipre, os renovadores comunistas do AKEL (o maior partido, que governa o país e do qual é oriundo o presidente) também têm sabido entender-se com os outros partidos. Na Dinamarca, Finlândia, Noruega e Suécia, há muito que os sociais-democratas se entendem com a esquerda pós comunista e libertária para soluções de governo.» (Ladrões de Bicicletas)
Neste contexto, é estranho que Francisco Louçã seja tão taxativo em negar qualquer acordo com o PS depois de Domingo.

Distinção

O Der Terrorist distinguiu-nos, simpaticamente, com o prémio «Vale a Pena Ficar de Olho Nesse Blogue». Como manda a praxe que o vírus se espalhe, escolhi os seguintes para recomendar uma espreitadela aos leitores deste blogue:

Sobre o «Portal Ateu»

Fui fundador da Associação República e Laicidade, já lá vão mais de seis anos, e continuo seu dirigente. Fui fundador da Associação Ateísta Portuguesa, mais recentemente, mas não pretendo ser mais do que associado de base: interessa-me muito mais promover a laicidade do Estado do que difundir o ateísmo, pela simples razão de que, para mim, o essencial não é que as pessoas acreditem ou deixem de acreditar em «Deus» ou na astrologia, mas, isso sim, que sejam livres e iguais independentemente da religião que tenham ou não.

Não me imagino sócio da associação «Portal Ateu - Movimento Ateísta Português». Primeiro, porque já existe uma Associação Ateísta Portuguesa, dinamizada por pessoas que sempre foram dedicadas, competentes, coerentes e leais. E porque, significativamente, a ânsia de demarcação não contribuiu para que a nova associação tivesse um nome original: ficou-se praticamente por um plágio do nome da associação que já existe e que, se tem algum grande defeito, é o de tentar conciliar indivíduos com opiniões tão fortes e díspares como os ateus. Aliás, também é significativo que afirmem não querer «bater na religião», quando o «Portal Ateu» faz isso mesmo em grande parte dos seus artigos.

Finalmente, não deixa de ser (ainda) significativo que as caras conhecidas da nova associação de ateus, o Ricardo Silvestre e o Helder Sanches, acusem a AAP de ter pouca visibilidade - e que o Portal Ateu nada tenha feito para contribuir para essa mesma visibilidade. Tudo isto me tira qualquer vontade de ser conotado com esta nova associação.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Críticas justas

No blogue «Que Treta!», Ludwig Krippahl faz críticas justas ao PS:

«O Magalhães foi uma boa ideia, mas encomendar tudo a uma empresa por ajuste directo e "formar" os professores a compor músicas sobre o portátil foi uma aldrabice. A avaliação dos professores foi uma boa ideia, mas pôr os avaliados e os avaliadores a concorrer para os mesmos lugares em função da classificação tornou-a um absurdo. O Cartão de Cidadão foi uma boa ideia, mas não juntando os números todos e dependendo de sistemas de autenticação que nem os funcionários sabem como manter seguros.

Já para não falar das asneiras que nunca foram boa ideia. O chip das matrículas, os PIN, as leis de "cybercrime", dar à ASAE poder policial sem a aprovação da Assembleia da República, avaliar polícias contando quanta gente prendem, pagar fortunas à Microsoft por ajuste directo e assim por diante.
»

Não concordo com a conclusão do Ludwig no que respeita à melhor opção do eleitor, digamos assim, mas parece-me um bom início para um debate que vale a pena seguir.

Qual “asfixia democrática” (2)?

Fala-se de “asfixia democrática”. Na comunicação social, não vejo onde esteja. Temos a TVI e, como agora se confirma, o Público, que sempre fizeram as campanhas que quiseram. Regressemos uns anos atrás. Não direi muitos (ao tempo em que o Prof. Cavaco era primeiro ministro, os deputados da oposição eram sempre filmados de costas no Parlamento e, no Telejornal, a sua cara aparecia no canto superior direito sempre que o seu nome era referido – no canal único de televisão, a RTP). Eu proponho regressarmos somente seis anos atrás. Num breve intervalo da sua colaboração de mais de 20 anos com Cavaco, o director do DN era... Fernando Lima! Imposto pela PT Multimedia, apesar do voto contrário do Conselho de Redacção do jornal, preocupado em ter um comissário político na direcção. (Como os leitores se recordam, Lima tratou de pôr o cabeçalho do jornal centenário a laranja. E nunca assinava os editoriais que escrevia. As eminências pardas nunca gostam de dar a cara.) O director do Expresso era o arquitecto Saraiva. Na TVI tínhamos José Eduardo Moniz, e no Público... José Manuel Fernandes!
Não me recordo de nenhum órgão de comunicação social não partidária que não estivesse a favor do governo há seis anos. Comparem com a situação hoje. Onde estava há seis anos quem hoje fala em “asfixia democrática”? Nunca eu senti um país tão asfixiante como há seis anos atrás.
É claro que hoje temos órgãos de comunicação social a favor do governo (e contra, nomeadamente os que elenquei), como é normal e desejável numa sociedade plural. Mas há uma diferença entre ter uma tendência e deixar-se manipular.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Economia: PS e PSD

A narrativa dominante diz-nos que o PSD é «melhor para a economia» que o PS. Mesmo que com menos sensibilidade social, é mais contido nas despesas do estado, tendo mais preocupação com o défice e o fardo fiscal.

A narrativa dominante esbarra contra a realidade dos factos. Na verdade, acontece precisamente o contrário no que diz respeito ao défice e à despesa pública.

Veja-se este artigo no Jornal de Negócios, que ilustra eloquentemente esta questão:

«Nos últimos 30 anos, a despesa pública aumentou de 29% para 45% do PIB. Um aumento do peso do Estado na economia de 16,3 pontos percentuais, dos quais 12,1 p.p. (75%) aconteceram em governos liderados pelo PSD e apenas 4,2 em governos PS.

[...]

Façam-se as contas como se fizerem, o contributo dos governos PSD representou entre 74% e 76% do aumento total, um valor três vezes superior ao acumulado pelos governos PS. O contributo para o aumento da carga fiscal dado pelos governos do PSD foi até ligeiramente maior (cerca de 80%), e o contributo para o aumento do peso das despesas com remunerações foi ainda superior.

[...]

Estes [dados] estão disponíveis no Banco de Portugal, no Eurostat, ou no INE. Se o que aqui foi apresentado não corresponde à ideia que tinha, veja por exemplo em www.bportugal.pt e questione-se sobre se os que mais se reclamam do rigor não são afinal os que mais contribuíram para o crescimento do monstro.»



Questões para Cavaco Silva

Para evitar que a sua credibilidade baixe ainda mais, Cavaco Silva tem que responder, cedo ou tarde, às perguntas seguintes.
  1. É verdade que o Presidente da República deu ordem a Fernando Lima para se encontrar com um jornalista do Público e passar-lhe um dossiê?
  2. É verdade que na Presidência da República se organizam dossiês sobre assessores do Governo?
  3. As suspeitas de «vigilância» baseavam-se, concretamente, em quê?
  4. Foi a primeira vez que o Presidente da República recorreu a expedientes destes?
Cavaco pode negar que soubesse, ou pode assumir a responsabilidade. No segundo caso, a renúncia ao mandato será aconselhável. Em qualquer caso, será difícil ajudá-lo a terminar o mandato com dignidade.

«Não fui eu! Eu não sabia de nada!»

Cavaco Silva rompeu o seu silêncio e gritou: demitiu Fernando Lima do cargo de assessor da Presidência da República para a Comunicação Social. Típica operação de contenção de estragos. Será suficiente? Duvido. Eu não acredito que o homem que há um quarto de século acompanhava Cavaco Silva, do gabinete de Primeiro Ministro ao da Presidência da República, que escreveu um livro (autorizado...) sobre os bastidores do cavaquismo, tenha ido tomar café à Avenida de Roma, de dossiê na mão, sem autorização superior.

Fica a suspeita de que Cavaco tentou manipular um dos principais diários, de forma a lançar boatos que atingiriam o governo, e beneficiassem o seu partido de sempre. Apenas a suspeita, porque depois desta demissão Cavaco pode gritar o que eu pus no título. Se acreditamos ou não, é outra conversa.

P.S. Depois de o caso BPN ter abalado o núcleo duro do cavaquismo, levando mesmo à demissão de um Conselheiro de Estado, prova-se que estamos perante a Presidência mais interventiva (e mais trapalhona) desde, pelo menos, Eanes. A seguir às autárquicas, a esquerda vai ter que pensar quem será o candidato que enfrentará Cavaco em Janeiro de 2011. A bem da República.

Mas qual "asfixia democrática" (1)?

Entrevista de José Miguel Júdice ao DN:

A revelação por parte do DN do e-mail trocado entre Luciano Alvarez e Tolentino Nóbrega, jornalistas dos Público, é uma violação de privacidade?

Não sei se o e-mail é privado ou se tem interesse público. Acho muito curioso que a imprensa portuguesa, que durante anos e anos não se preocupou com a revelação de escutas, agora que atinge os jornalistas, estes comecem a ficar preocupados.

Considera reprovável, do ponto de vista ético?

É deontologicamente censurável, mas, durante anos, os jornalistas aceitaram que isso fosse possível em muitas situações que não envolviam jornalistas. É como se estivessem a provar um pouco do seu remédio. Os jornalistas dão muita importância a si próprios. Eticamente, é inadmissível que os jornalistas queiram ser protegidos de uma forma que não se protegem os outros cidadãos.

Considera aceitável que o DN tenha divulgado o e-mail?

É importante que o Diário de Notícias tenha divulgado esta situação. E é importante que os jornalistas ponham a mão na consciência. Eu sou amigo do José Manuel Fernandes, mas a reacção do José Manuel Fernandes, que de manhã afirmou que o Público estava sob escuta e depois vem reconhecer que, afinal, não houve qualquer intrusão no sistema informático do jornal, é de uma gravidade absoluta. E nem pediu desculpa. Depois das suspeições lançadas devia de haver um pedido de desculpa ao País, a todos nós. A comunicação social deve pôr a nu estes métodos de fazer jornalismo. Se é grave o que Fernando Lima, assessor do Presidente da República, fez, também é grave a comunicação social sujeitar-se a isso.

O interesse público justifica a publicação do e-mail?

Está tudo a arrancar os cabelos porque é um jornal a fazer a outro jornal aquilo que é prática da comunicação social fazer a outras entidades não jornalísticas: publicar e revelar documentos, mesmo que protegidos pelo segredo de justiça, em nome do interesse público. Esta dupla ética não é aceitável.


Ler também as declarações do Presidente do Sindicato dos Jornalistas: os jornalistas devem "aprofundar a investigação até ao limite das suas forças".

domingo, 20 de setembro de 2009

Quando o feitiço se vira contra o feiticeiro

O ambiente deve andar lindo para os lados do Público. Leia-se a última crónica do Provedor do Leitor.
  • «Na sequência da última crónica do provedor, instalou-se no PÚBLICO um clima de nervosismo. Na segunda-feira, o director, José Manuel Fernandes (J.M.F.), acusou o provedor de mentiroso e disse-lhe que não voltaria a responder a qualquer outra questão sua. No mesmo dia, J.M.F. admoestou por escrito o jornalista Tolentino de Nóbrega (T.N.), correspondente do PÚBLICO no Funchal, pela resposta escrita dada ao provedor sobre a matéria da crónica e considerou uma "anormalidade" ter falado com ele ao telefone. Na sexta-feira, o provedor tomou conhecimento de que a sua correspondência electrónica, assim como a de jornalistas deste diário, fora vasculhada sem aviso prévio pelos responsáveis do PÚBLICO (certamente com a ajuda de técnicos informáticos), tendo estes procedido à detecção de envios e reenvios de e-mails entre membros da equipa do jornal (e presume-se que também de e para o exterior). (...) Em causa estavam as notícias dando conta de que a Presidência da República (PR) estaria a ser alvo de vigilância e escutas por parte do Governo ou do PS. O único dado minimamente objectivo que a fonte de Belém, que transmitiu a informação ao PÚBLICO, adiantara para substanciar acusação tão grave no plano do funcionamento do nosso sistema democrático fora o comportamento "suspeito" de um adjunto do primeiro-ministro (PM) que fizera parte da comitiva oficial da visita de Cavaco Silva (C.S.) à Madeira, há ano e meio. As explicações eram grotescas - o adjunto sentara-se onde não devia e falara com jornalistas -, mas aceites como válidas pelos jornalistas do PÚBLICO, que não citavam qualquer fonte nessa passagem da notícia (embora tivessem usado o condicional). (...) Numa matéria desta consequência, em que se tornaria crucial ouvir o principal protagonista, o provedor regista a aparente escassa vontade de encontrar R.P.F., telefonando-se ao fim do dia (em que presumivelmente já não estaria a trabalhar) e para o local que o jornalista sabia ser errado. A atitude faz lembrar os métodos seguidos num antigo semanário dirigido por um dos actuais líderes políticos (que por ironia tinha por objectivo destruir politicamente C.S., então PM), mas não se coaduna com a seriedade e o rigor de que deve revestir-se uma boa investigação jornalística. (...) Não tendo havido qualquer remodelação entre os assessores do Presidente da República (PR) nem um desmentido de Belém, era, aliás, legítimo deduzir que o próprio C.S. dava cobertura ao que um dos seus colaboradores dissera ao PÚBLICO. Mais significativo ainda, o PÚBLICO teria indícios de que essa fonte não actuava por iniciativa própria, mas sim a mando do próprio PR - e essa era uma hipótese que, pelo menos jornalisticamente, não poderia ser descartada. Afinal de contas, o jornal até podia ter um Watergate debaixo do nariz, mas não no sentido que os seus responsáveis calculavam. (...) Do comportamento do PÚBLICO, o provedor conclui que resultou uma atitude objectiva de protecção da PR, fonte das notícias, quanto aos efeitos políticos que as manchetes de 18 e 19 de Agosto acabaram por vir a ter. E isto, independentemente da acumulação de graves erros jornalísticos praticados em todo este processo (entre eles, além dos já antes referidos, permitir que o guião da investigação do PÚBLICO fosse ditado pela fonte da PR), leva à questão mais preocupante, que não pode deixar de se colocar: haverá uma agenda política oculta na actuação deste jornal?» (Via Jugular)
Quando eu era jovem, o Público era um jornal de referência e o Cavaco era Primeiro Ministro, aparentemente invencível. Depois das revelações desta campanha, ninguém imagina José Manuel Fernandes e Fernando Lima a continuarem nos seus lugares, e Cavaco não parece elegível para um segundo mandato. Nós estamos mais crescidos. Os adultos, não.

sábado, 19 de setembro de 2009

BE=Burguesia de Esquerda

Estas notícias sobre os dirigentes do BE só confirmam que estamos perante burgueses médios (embora com poupanças pequenitas...), e que apenas por puro preconceito se pode acusá-los de serem perigosos radicais de esquerda.

P.S. Contra quem vão disparar os assessores do PS amanhã? Jerónimo ou Portas?

Grandes títulos

Puseste a cabeça no cepo


  • «(...) o PÚBLICO só publicou a notícia quando, após contacto com suas fontes, um membro da Casa Civil do Presidente assumiu, nessa qualidade, a informação (...)» (Nota da Redacção do Público)
O Dias Loureiro já foi, o Fernando Lima parece que há-de ir. Começa a faltar oxigénio ali para os lados de Belém.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O "Jamé" é um blogue tão, mas tão interessante

...que nem eles se lêem uns aos outros. Tanto assim que dois autores diferentes citam duas vezes o mesmo texto, aqui e aqui.

E deste lado do Atlântico...

Morreu Irving Kristol, "a mãe" de todos os neo-conservadores, como diria Saddam. Apetece dizer o mesmo que Christopher Hitchins disse quando morreu o reverendo Falwell: menos um. Infelizmente este deixou-nos um filho que acha que a próxima presidente dos EUA devia ser a dona Sarah Palin.

Eleição de Barroso causa entusiasmo na Europa


No Le soir, via Klepsýdra.

Luzinha ao fundo do túnel

Ana Gomes defende aliança pós-eleitoral PS-BE.

Informação e contra-informação

De substancial, a «cacha» de hoje do Diário de Notícias só noticia que as «fontes» de Belém jorram nos cafés da Avenida de Roma, e confirma que a «fonte anónima» que denunciou as alegadas escutas do SIS aos assessores de Belém se chama Fernando Lima. Não se refuta que tenha havido escutas, pedidas ou não por diligentes braços direitos de Sócrates, tipo Silva Pereira.

Cavaco Silva fica chamuscado, porque dificilmente se acredita que o «eterno» Fernando Lima, que o acompanha há um bom par de décadas, andasse a passar dossiês aos jornalistas do Público sem autorização superior. Há métodos e práticas que não ficam bem a um Presidente da República.

José Manuel Fernandes fica ardido, porque se prova que avançou com uma estória sem grandes bases, e que o correspondente do Público na Madeira não confirmava. Fica exposta a intencionalidade política de um dos mediocratas do regime, e não será um acaso que se fale hoje na sua saída do jornal diário ex-referência.

José Sócrates não escapa às chamas, porque foi durante a legislatura que agora termina que se concentraram os «serviços de informações e segurança» sob a tutela directa do Primeiro Ministro, se defendeu a «liberalização» das escutas telefónicas e se tentou habituar a opinião pública à ideia de que é «inevitável» a existência de serviços do Estado que trabalhem à margem da lei, cometendo, na prática e na letra da lei, crimes de invasão de privacidade (e outros).

Razão tem Jerónimo de Sousa, quando refere que os «serviços secretos e de informações» já pouco se distinguem dos assessores e adjuntos desta ou daquela facção política no poder. Ou se controla este género de serviços e se os impede de praticar escutas e outras ilegalidades, ou a própria república estará desvirtuada.

Não há festa como esta (4)



O cartaz prometia, no “Fórum”, um debate: “Novas Gerações – Gerações sem direitos”. A sala estava como se vê na fotografia. As “gerações sem direitos” conviviam, bebiam, ouviam música. Cá fora. Fizemos o mesmo.

(Postagem em co-autoria com o João Branco.)

Não há festa como esta (3)



O slogan da CDU nem é mau: “soluções para uma vida melhor.” Só que neste caso (e em todos os quiosques onde este cartaz estava colado) as soluções para uma vida melhor passavam pela venda de tabaco.

(Postagem em co-autoria com o João Branco.)

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Não há festa como esta (2)



A Festa tem um “Espaço Livro”, com obras (muitas, e ainda bem) de autores, comunistas e não só. O que demonstra uma certa e salutar abertura. Mas deveria haver limites: ver, misturados com os romances de Saramago, os “Desenhos da Prisão” de Cunhal ou a “Miséria da Filosofia” do Marx, “manuais” da Paula Bobone e álbuns do Tintim e da Anita parece-me mal. Não combina.

Não há festa como esta (1)



Qualquer pessoa se enternece a ouvir Jerónimo de Sousa. Mesmo Francisco Louçã: recordo o ar embevecido do “coordenador” do Bloco de Esquerda a ouvir o líder do PCP a citar Almeida Garrett no debate entre ambos: “o número de indivíduos que é necessário condenar à miséria (...) para produzir um rico!”. “O antigo operário fabril lê Almeida Garrett!”, terão todos os espectadores do referido debate concluído. É possível que sim. Mas é possível também que Jerónimo se limite a prestar atenção à decoração das tasquinhas da Festa. (Festa que, como é sabido, todos os anos ele ajuda a montar.)

Significativo?

A dez dias das eleições, a última sondagem (realizada já depois dos debates) indica uma descida ligeira do PSD (-3%), o que pode contrariar a tendência que se vinha a registar. Nesta sondagem, a diferença entre PS e PSD passa de 2% para 6%, enquanto os partidos médios registam pequenas oscilações, mas mantendo o já habitual ordenamento BE>CDU>CDS.

O dado potencialmente mais significativo é a inversão da tendência de subida do PSD.

Leitura recomendada

«Dez erros de Manuela Ferreira Leite», vistos da margem direita (no Delito de Opinião).

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Medo



Vindo directamente daqui.

Revista de blogues (15/9/2009)

  1. «Um(a) político(a) avalia-se sobretudo como lida com a ideossincracia do seu povo e das duas uma: ou puxa pela sua modernidade e cosmopolitismo ou esgravata nos preconceitos provincianos, serôdios e enterrados. MFL recorreu ao impensável porque grotesco e estúpido, demonstrando nada a tolher no ódio aos adversários políticos.» (Água Lisa)

  2. «De acordo com a Comissão encarregada de estudar a sustentabilidade do SNS nomeada pelos ministros das Finanças e da Saúde do governo de Sócrates, os 10% mais ricos da população recuperam 27% das suas despesas com saúde, enquanto os 10% mais pobres recuperam apenas 6% das suas despesas com a saúde. A injustiça é muito grande, ficando claro que classes sociais são mais beneficiados.

    A esmagadora maioria dos reformados que têm rendimentos extremamente baixos (mais de 80% recebem pensões inferiores ao salário mínimo nacional), não têm possibilidade de descontar as despesas que têm com a saúde, apesar de serem importantes para eles, pois não têm imposto para deduzir porque, como o seu rendimento é extremamente baixo, ou não pagam imposto ou o imposto pago é insuficiente para deduzir aquela despesa. É evidente que quanto mais rico se for mais se é beneficiado com o actual sistema português de dedução das despesas com saúde.» (resistir.info)

As vítimas da inquisição

Este discurso é curioso para um candidato do partido que vai eleger Pedro Silva Pereira, Maria do Rosário Carneiro e Teresa Venda. Mas, em rigor, as vítimas da inquisição não se resumem aos «cristãos-novos» e aos homossexuais. De grande parte das vítimas, só sabemos que blasfemaram, fizeram graçolas religiosas, faltaram ao respeito à religião do Estado. Eram judeus? Eram gueis? Eram livre-pensadores?

Debates com Manuela Ferreira Leite

«É neste mundo, por exemplo, que basta Manuela Ferreira Leite aparecer em estúdio para nunca perder um debate. Manuela Ferreira Leite joga apenas contra si própria. Uma vez que Manuela Ferreira Leite é inábil com as palavras, justificam os comentadores, ela na verdade não perdeu nenhum debate. Até ganhou — em relação às expectativas. O que quer dizer que se calhar empatou. E, no caso dela, empatar já é ganhar! Mesmo perder por poucos já seria ganhar por muitos. Eu vi dois debates de Ferreira Leite (com Louçã e com Sócrates) e em nenhum dos dois ela se limitou a perder por poucos. Mas chegou ao fim; não saiu do estúdio a meio. Às vezes levou as frases até ao fim. Parabéns!»

Quero lá saber das expectativas
, por Rui Tavares.

Vale a pena ler o resto do texto, que abrange mais que a questão dos debates.

O Esquerda Republicana alarga-se

Pela presente posta se anuncia a entrada para o Esquerda Republicana do Filipe Moura, que actualmente escreve n´O Avesso do Avesso, depois de ter colaborado em alguns dos blogues de maior audiência da blogo-esfera.

O Esquerda Republicana continua assim republicano de esquerda, desalinhado, ateu(?), exclusivamente masculino(!), com uma forte maioria LEFT, e consegue o prodígio de em cinco colaboradores só ter três nomes próprios diferentes.

Desejo as boas vindas ao Filipe.

Texto de Ferro Rodrigues

no qual me revejo parcialmente.

«1. O tema do endividamento tem sido, por vezes, central no debate político e económico em Portugal.
É verdade que temos um sério problema de endividamento; mas este problema tem outra face: um aumento dos activos das famílias, empresas e Estado. Ou seja, embora endividados, os agentes económicos têm mais bens.
Por outro lado, também não faz sentido dizer, como frequentemente acontece, que se não estivéssemos no Euro estaríamos falidos, já que, a verdade, é que se não tivéssemos aderido à moeda única não teria havido a possibilidade de se terem dado aqueles acréscimos, quer de activos, quer de passivos.
Nada disto impede que se reconheça a dimensão do problema e o facto do risco nacional ser forte. Aliás, a lição mais clara dos últimos tempos é que, sendo verdade que uma crise de financiamento internacional foi evitada, se não forem ultrapassados desequilíbrios estruturais, ela não é impossível a prazo. No entanto, uma coisa é o diagnóstico, outra são as respostas para este problema complexo: convém termos presente que não há solução benigna para ultrapassarmos este défice sem regressarmos a taxas de crescimento fortes e sustentáveis. Hoje, o mais grave problema económico português é a fraqueza da taxa de crescimento potencial – e é aqui que se deve concentrar o essencial do nosso esforço.

2. Sob a designação de “Reformas Estruturais” muita coisa se vê e muita coisa se esconde. A bondade das reformas deve ser analisada à luz do seu contributo para aumentar a taxa de crescimento potencial de forma socialmente equilibrada, e assim proporcionar o mais cedo possível taxas de crescimento económico fortes e sustentáveis (ambiental, social e financeiramente).

3. As reformas essenciais que arrancaram na actual legislatura vão no sentido correcto. Visam o aumento da taxa de crescimento potencial de forma equilibrada com a preocupação combinada de reduzir as desigualdades sociais e o poder histórico das corporações. Os passos na consolidação orçamental, a reforma para a sustentabilidade da segurança social pública, a simplificação administrativa e a Governação electrónica, a melhoria na educação básica, o princípio da avaliação séria, a evolução na investigação científica, algumas racionalizações no sistema de saúde, a revolução em marcha nas energias renováveis, são fortes exemplos. A continuação do investimento na inovação, no bem-estar, no saber, nas infra-estruturas capazes de nos permitirem lutar contra a periferização também não é dispensável. A função que desempenho na OCDE leva a que tenha a obrigação de testemunhar que, pese embora a existência frequente de recomendações em várias áreas, o prestígio que o Governo português aqui alcançou é inegável e deve-se, em muito, à coragem reformista que manifesta.

4. A crise internacional e as suas consequências em Portugal adiam o reflexo do arranque das reformas no crescimento potencial. A destruição de capacidades produtivas – desinvestimento real e potencial e desemprego - ofusca e adia o efeito das reformas. Mas o mais trágico seria se as reformas parassem em vez de acelerarem.

5. Em Portugal, e no essencial, foram tomadas as medidas excepcionais que se impunham como resposta à crise, acompanhando a Zona Euro. Os últimos dados demonstram que embora a severidade da crise seja fortíssima, sobretudo no que se refere ao desemprego, é provável que a forte recessão de 2009 seja menos intensa do que no conjunto da Zona Euro. Mas não é esta convergência que devemos ambicionar. A forma como se sai da crise, o aproveitamento das oportunidades que a crise representa vão ser decisivas. Um novo modelo de acumulação, crescimento e redistribuição, com mais força ecológica e social, com novas dinâmicas do mercado e do Estado e também da sua interacção, vai ser construído, com muita tensão e afrontamento a nível global e Portugal não pode ficar de fora deste processo.

6. Embora não seja condição suficiente, a estabilidade política, ou seja a constituição de um Governo com apoio parlamentar maioritário e estável durante a próxima legislatura, constitui uma condição necessária. Oportunidades serão perdidas, desafios serão adiados e problemas serão agravados num quadro de instabilidade política. Os agentes políticos que não se limitem a admitir a possibilidade teórica de novas eleições daqui a dois anos, mas as considerem inevitáveis e mesmo desejáveis demonstram irresponsabilidade e falta de sentido do Estado. Portugal não pode parar durante os próximos dois anos, enquanto os nossos parceiros saem da crise e lançam os fundamentos do seu papel activo num processo de globalização em mudança.

7. O partido do actual governo é, simultaneamente, o partido da esquerda democrática reformista e o partido central no espectro político. É importante que se demarque pelas alternativas, pela recusa dos populismos de todas as proveniências, mas também pela sua vontade e capacidade de diálogo, tanto com as outras Esquerdas, onde a tentação conservadora se sobrepõe aos ideais de mudança realizável, como com o Centro Direita, onde frequentemente o objectivo parece ser desmantelar o Estado Social. Na Europa Democrática, o governo de coligação é normal; o governo minoritário é que é a excepção. Como anterior Secretário-geral do PS, devo dizer o que penso. Mas compreendo e aplaudo quem, disputando directamente as eleições, se foca sobretudo no resultado, no combate pela maioria, e não nos cenários.

8. A utilidade de um voto não se prova através de proclamações ideológicas ou argumentos aritméticos; afirma-se pelas propostas e pela demonstração de que em eleições legislativas o voto de protesto para nada serve. Quem não está interessado em assumir responsabilidades de governo, joga no agudizar da crise económica e social a partir da crise política e assim deveria ser penalizado e ter expressão parlamentar pouco relevante.

9. Em caso de inexistência de maioria absoluta, um governo minoritário constitui assim a última solução, depois de ficar claro e público que a sua formação resultou das posições negativas de outros e não de vontade própria estratégica ou cálculos tácticos.»

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O padrão salta à vista

Jerónimo ataca Sócrates; Louçã ataca o PS; Sócrates ataca BE e PSD; Ferreira Leite ataca Sócrates; Portas ataca o BE.

Um dos lados da divisória esquerda/direita está a fazer uma distribuição do trabalho que, a prazo, só pode ser mais eficaz.

Apontamento para reflexão dos PS´s: atacar o BE é atacar a credibilidade de um acordo pós-eleitoral PS-BE (o PS não terá maioria absoluta).

Apontamento para reflexão dos BE´s e CDU´s: atacar o PS é assustar o eleitorado que não vota à esquerda do PS mas aceitaria um governo de frente de esquerda.

Afinal, quem é o inimigo principal?

A verdadeira face de Manuela

Está de acordo com os facistas do PNR.

domingo, 13 de setembro de 2009

Darwin...

Esse perigoso anarquista que 150 anos depois da publicação de "On The Origin of Species" ainda tenta corromper as mentes dos jovens americanos com ideias perniciosas que contrariam o Antigo Testamento, perdeu uma importante batalha: parece que o filme "Creation" não vai ter distribuição aqui na república evangélica dos EUA.

Em vez deste filme, podemos sempre ver (ou rever) o interessantíssimo documentário de Ben Stein (esse verdadeiro intelectual...) "Expelled: No Intelligence Allowed". Uma jóia da cinema do século XXI!

PS: Cheguei ontem da Europa e já estou a embirrar... :o)

Hayek, Friedmann, & etc.

O Annual Census Bureau report on income, poverty and access to health care deste ano demonstra que o neo-liberalismo de Bush falhou, miserável e criminosamente. Segundo a Atlantic: "While Bush was in office, the median household income declined, poverty increased, childhood poverty increased even more, and the number of Americans without health insurance spiked. By contrast, the country's condition improved on each of those measures during Bill Clinton's two terms, often substantially."

(Ainda e por muito tempo...) Bush!

Não sei se sou demasiado optimistas, mas às vezes penso que se os entusiastas todos da economia desregulamentada se dessem ao trabalho de ler um artigo destes volta e meia, talvez não fossem tão entusiastas...

Este aqui é sobre o impacto REAL (para os economistas isto são externalidades") do Clean Water Act na qualidade da água que se bebe nos EUA.

A lógica do lucro é talvez a ideia mais perigosamente idiota da história da humanidade.

Eu oponho-me

Jardim não se opõe à independência da Madeira. Há quem não se oponha à independência do continente. Eu oponho-me. Estou farto de jogadas de poker grandiloquentes, chantagens, «bluffs» e, principalmente, que se brinque com coisas sérias. Se querem fazer um referendo, faça-se um referendo à revogação da autonomia da Madeira. Eu voto a favor. Ao contrário dos regionalistas, bastam-me o governo central e os municípios.

O Rato e a Cigarra

O que fica do debate de hoje (penso eu, que não pretendo ser neutro...), é Sócrates a «entalar» Ferreira Leite com papéis assinados, a apontar incoerências sem fim, a colar à direita o quererem acabar com o Estado Social, a elencar (com cristalina clareza) algumas das poucas medidas úteis que todos lhe reconhecem, e a dar-se até ao luxo de pré-anunciar a saída de Lurdes Rodrigues do governo. Do outro lado, uma Ferreira Leite que me pareceu estática, acabrunhada, e que cometeu mais uma da sua longa série de gafes ao referir-se de forma tacanhamente nacionalista ao «perigo espanhol».
Posso estar enganado, mas pareceu-me que Ferreira Leite perdeu o debate.

sábado, 12 de setembro de 2009

Notícias da Alemanha

Na Alemanha, a esquerda à esquerda do PS local teve resultados regionais entre os 20% e os 30%. Um sinal de que Portugal não é o único Estado da União Europeia onde a «esquerda radical» baralha os resultados.
  • «En Sarre, la CDU a obtenu 34,5 % des voix (contre 47,5 % en 2004) ; le SPD, 24,5 % (30,8 %) ; Die Linke, 21,3 % (PDS : 2,3 %) ; le FDP, 9,2 % (5,2 %) et les Verts, 5,9 % (5,6 %).

    Dans la Saxe, la CDU a obtenu 40,2 % des voix (contre 41,1 % en 2004) ; Die Linke, 20,6 % (PDS : 23,6 %) ; le SPD, 10,4 % (9,8 %) ; le FDP, 10 % (5,9 %) ; les Verts, 6,4 % (5,1 %) et le NPD, 5,6 % (9,2 %).

    Enfin, pour la Thuringe : la CDU a obtenu 31,2 % des voix (43 % en 2004) ; Die Linke, 27,4 % (PDS : 26,1 %) ; le SPD, 18,5 % (14,5 %) ; le FDP, 7,6 % (3,6 %) et les Verts, 6,2 % (4,5 %).» (Gauche Républicaine)

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Deixem-me adivinhar a data

O Ratzinger vem a Portugal em 2010. Deixem-me adivinhar a data. 5 de Outubro seria óbvio demais. Hm. Aposto em 13 de Outubro.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Política fiscal e PPR´s

  • «A maioria absoluta recusou a proposta do Bloco (...) de levantamento do segredo bancário. E deixou tudo na mesma. Para o Bloco, só há duas formas de combater a evasão fiscal: a comparação entre os rendimentos declarados e os rendimentos registados no banco, e o registo de todas as transferências para offshores. Nenhuma delas está a ser aplicada, como devia.

    Segundo a lei, as transferências para os offshores já deviam estar a ser registadas. Mas não acontece nada. No primeiro semestre deste ano, mais de 6 mil milhões de euros foram transferidos para os paraísos fiscais, não pagando imposto. O que se perdeu daria para pagar a nova ponte sobre o Tejo.

    Pior ainda: o governo orçamentou 1796 milhões de euros de benefícios fiscais para o offshore da Madeira. O que assim se perdeu pagaria 4 grandes hospitais nacionais. O PS tem sido o governo do desperdício fiscal.

  • (...) Os PPR prometem um complemento de reforma e garantem uma dedução fiscal. Assim, todos os contribuintes pagam para os subscritores dos PPR, e os bancos fazem o negócio. O problema é que o rendimento dos PPR é insignificante, e assim vai ser inútil como complemento de reforma. (...) Qualquer depósito a prazo teria melhor resultado. O que os bancos fazem, e isso explica os péssimos resultados dos PPR, é jogar o dinheiro em acções na Bolsa: quando a Bolsa cai, os fundos afundam; quando ganha, os bancos cobram comissões e as pessoas ganham pouco. Os bancos ganham sempre, as pessoas perdem sempre, e os contribuintes financiam o sistema.» (Francisco Louçã no esquerda.net)

Os benefícios fiscais

O Simplex e outros blogues de apoiantes do PS têm criticado fortemente o BE por propor o fim ou a redução, dos benefícios fiscais. Falam em «ataque à classe média». Eu, pelo contrário, penso que faz sentido aumentar a carga fiscal se isso se traduzir em melhores serviços públicos. Aliás, penso, ao contrário da direita, que um escalão fiscal de 50% do IRS seria uma óptima ideia. Sim, «à sueca».

Ler no Arrastão como Vital Moreira criticou também os efeitos perversos dos benefícios fiscais, e ler também no Ladrões de Bicicletas: «temos de quebrar um círculo vicioso que faz com que se incentive fiscalmente a fuga dos serviços públicos e se bloqueie a sua expansão nas áreas da saúde ou da educação onde a lógica do mercado domina e onde o racionamento se faz pela carteira (dos dentistas aos manuais escolares). Eu trocava os benefícios fiscais a despesas privadas por manuais escolares gratuitos e por dentistas no SNS, por exemplo». E mais: «Se juntarmos aos cortes nas pensões os incentivos fiscais ao investimento em PPR (planos de poupança reforma) percebemos que as classes mais abastadas, com capacidade poupança, se deslocarão lentamente do sistema público para o sistema privado, dominado pela finança. O resultado será um sistema dual, onde teremos um frágil e exíguo sistema público destinado aos mais pobres e um sistema privado, dependente das rentabilidades dos mais exóticos produtos financeiros e das escandalosas comissões cobradas aos aforradores».

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

República 2.0

O Conselho Nacional da Juventude tem boas ideias para uma República moderna e inclusiva. Muito melhores do que andar a passear bandeirinhas para aqui e acolá...

Sondagens

É impressão minha ou a tão poucos dias das eleições têm existido surpreendentemente poucas sondagens?

De qualquer forma, aqui está a última, vinda directamente daqui:

PS: 36,7%
PSD: 30,7%
BE: 11,1%
CDS-PP: 8,6%
CDU: 8,3%
OBN:4,6%

De acordo com os comentários a esse texto, a distribuição de deputados, a confiar nestes valores, será:

PS: 90-95
PSD: 85-90
BE: 17-22
PP: 13-17
CDU: 13-17
Outros (MEP?)´: 1-2

Uma maioria parlamentar (mesmo de dois partidos) não parece fácil de aparecer...

terça-feira, 8 de setembro de 2009

E que tal discutir política?

Cito integralmente este pequeno texto publicado no Diário de Notícias:

«O jornal i fez, ontem, o levantamento de algumas das exportações portuguesas durante o Governo de José Sócrates. Fez o levantamento, sim: aqueles negócios levantaram voo. Com a Venezuela (em quatro anos, quintuplicaram), Angola (triplicaram), Argélia (quadruplicaram), Rússia (triplicaram), Líbia e China (em ambas, quase duplicaram) e Jordânia (quase triplicaram)... Esse sucesso foi acompanhado (e, em alguns casos, foi motivado) por uma diplomacia económica em que os governantes não se importaram de fazer de caixeiros-viajantes. Nesses destinos há um país muito importante (Angola, já o quarto comprador) e outros são mercados tentadores (bastava lá estar a China). Eis, pois, um balanço extraordinário - mas que merecia discussão, agora que julgamos quem nos governou nos últimos quatro anos. Todos aqueles países são susceptíveis de crítica (mais uns que outros) sobre o seu comportamento democrático. Eu digo que sim, há que fazer esses negócios - e, daí, eu achar bons os resultados conseguidos. Mas gostaria de saber se isso divide os partidos. Gostaria que na campanha se discutisse política. E não hipóteses de primos, hipóteses de asfixias e tricas sobre carros oficiais.»

Passo a pergunta para o leitor: foi positiva uma política de diplomacia económica que ignorou ostensivamente as diferentes "debilidades democráticas" de diferentes mercados potenciais em nome da eficácia no incentivo ao aumento das exportações? Deveríamos ter abdicado dessa riqueza em nome da defesa de valores democráticos? Deveria ter existido uma solução intermédia?

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

«Asfixia democrática» ou não, depende das conveniências

Manuela Ferreira Leite diz, na Madeira, que «todos os jornalistas, todos os empresários, muitas pessoas da sociedade civil percebem que estão sob algum tipo de retaliação, estão sob algum tipo de chantagem em relação aquilo que é susceptível de fazer caso ousem criticar o governo». É a sua descrição da «asfixia democrática». A da Madeira? Não. A do «contenante». Sobre a Madeira, tem isto para dizer: «quem legitima o poder é o voto do povo e não está ninguém aqui por imposição, é em resultado dos votos». E mais: «Isto aqui é um bom exemplo do bom Governo do PSD».
Ah. Estou a ver. Se 24% da população activa trabalha para o governo regional, se os jornais locais são todos subsidiados pelo governo jardinista (e os do continente, boicotados), se o Parlamento regional permite que o «Presidente» fale sem limite de tempo e sem obrigação de responder a perguntas dos deputados, se há suspeitas de ligações de Jardim ao terrorismo separatista, nada disso é «asfixia democrática». É um «exemplo» para o PSD. Está bem. Ficamos a saber o que significa a expressão.

Rezar pela morte de Obama

Pois. Será que a liberdade religiosa inclui rezar pela morte das pessoas?
  • «Americans United for Separation of Church and State today denounced the violent rhetoric of an Arizona preacher who is praying for the death of President Barack Obama and called on Religious Right leaders to repudiate such extremism.

    The Rev. Steven Anderson of the Faithful Word Baptist Church told his Tempe, Ariz., congregation he prays that Obama “dies and goes to hell.” (...)

    Anderson’s sermon took place just before an Obama visit to Arizona, and a member of the congregation showed up outside the Obama event in Phoenix carrying an AR-15 semi-automatic assault rifle. (...)» (Americans United for Separation of Church and State)

domingo, 6 de setembro de 2009

Surpresas de uma eleição

Alguém sabia da existência do Partido Trabalhista Português?

Inside information

  • «O Bloco de Esquerda tem um problema, o de os seus principais dirigentes ainda não terem definido claramente se querem ou não exercer o poder em Portugal.» (JAD)

Cala-te! Vai para Bruxelas!

  • «a socialista Ana Gomes diz que "mete nojo que ministros europeus se tenham deslocado à Líbia para participar nas celebrações de 40 anos no poder do terrorista Kadhafi". Sendo que uma dessas presenças foi a do ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) português, Luís Amado (...) Uma comemoração a que se associou também a Força Aérea portuguesa, que participou num desfile aéreo por ocasião das celebrações. O ministro dos Negócios Estrangeiros justificou a presença em Tripoli precisamente com razões económicas. "Nós importamos um bilião e 200 milhões de dólares de petróleo e não vendemos praticamente nada à Líbia. É preciso pensar em reforçar as relações com um país que nos fornece uma factura de petróleo tão significativa (...)"» (Diário de Notícias)

sábado, 5 de setembro de 2009

P"S" ou P"SD"?

Há uns meses o comediante Bill Mahers disse aqui na televisão que o sistema político americano está perigosamente doente: só há dois partidos, um que existe para defender os interesses dos ricos, das grandes empresas e do capitalismo selvagem (o Partido Democrático), e um que é uma amalgama de tontos, uns pacíficos, outros furiosos, que vivem num mundo imaginário e não sabem o que querem (o Partido Republicano).

Portugal está igual, só que mais pobre e sem a ética protestante do trabalho.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Boas notícias para o PS

Telejornal de Manuela Moura Guedes suspenso.

(A mim, não me faz falta: vejo pouca televisão, e ainda menos a TVI.)

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Não chega

A «disponibilidade» de Sócrates e a «admissão» de Lurdes Rodrigues não chegam para apaziguar os professores. Se ficarem por aqui, duvido que haja maioria para o PS.

Commanding Heights 2

Só mais uma coisa (ainda estou a pensar nos aldrabões de feira que fizeram este documentário). Parece-me uma ironia básica, mas mesmo assim divertida, que sejam professores universitários (as pessoas com o emprego mais seguro do mundo!) a louvarem as virtudes da insegurança, da volatilidade e do darwinismo social.

Ontem vi o documentário com uma calma relativa, enquanto comia um gelado, mas hoje de manhã acordei a pensar neste assunto deu-me vontade de desancar o realizador com um pau. :o)

Bom senso

Eu li a história do Nouvel Observateur sobre a miúda a quem negaram a netrada num banco por usar um véu e lembrei-me das fotografias da minha mãe nos anos 50, a passear com óculos escuros e um lenço na cabeça, parecidíssimo com o lenço destas miúdas. Por todo o lado as mulheres usavam lenços na cabeça. Nos anos 60 as mulheres usavam lenços na cabeça para irem à missa.

O pessoal está a exagerar. Um amigo meu do IST mandou-me à poucos dias um vídeo neo-nazi com estatísticas sobre demografia, basicamente uma lamúria sobre a falta de vigôr sexual dos "europeus". A julgar pelas estatísticas do vídeo, os muçulmanos passam o dia a olhar para o relógio, a contar os minutos até poderem ir para casa engravidar as mulheres, enquanto os cristãos se metem a ver a TVI e os programas 'desportivos' (que são só e sempre sobre 'a bola').

Concordo que os burkinis sejam proibidos nas piscinas públicas, por razões de higiéne elementar. E concordo que ninguém deva ter o direito de tirar uma fotografia para o passaporte com a burca em cima. Mas esta guerra à moda islâmica parece-me uma coisa absolutamente fascista, como quando havia fiscais nas praias portuguesas, com uma bitola na mão, a medirem o comprimento da perna dos fatos de banho dos homens.

Burca e nicabe: posição da Libre Pensée

A primeira associação laicista francesa a pronunciar-se de forma contrária à interdição da burca e do nicabe: La Libre Pensée.
  • «Une campagne médiatique d’importance a débuté à la fin du mois de juin, à partir de l’initiative d’un député du PCF, rejoint par une majorité de députés de droite, pour stigmatiser le port de la burqa et du niqab en dehors de l’École publique, de l’Administration et des autres services publics. Cette démarche a été entendue et amplifiée par le Président de la République dans son discours devant le Congrès à Versailles.

    Rappelons que Nicolas Sarkozy ne nous avait pas habitués à se parer des vertus de la défense de la laïcité. Bien au contraire, puisqu’il insiste depuis des années sur la « nécessaire place » des religions dans la société et la vie publique. Une mission d’information parlementaire devrait remettre un rapport sur cette question.



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  • (...) La laïcité, comme principe politique d’organisation, s’applique aux institutions et non aux individus. C’est cette claire distinction, mise en œuvre par la loi sur la liberté d’association du 1er juillet 1901, et par la Loi du 9 décembre 1905 qui garantit la non-ingérence des conceptions métaphysiques dans le domaine public pour mieux garantir la liberté d’opinion et de comportement dans le domaine privé. Dans cette acception, il est logiquement républicain et laïque d’interdire tout signe d’appartenance religieux à l’École publique et pour les agents du service public. C’est ce qu’ont fait la loi Goblet de 1886, la Loi de 1905 et les circulaires Jean Zay de 1936 et 1937. En revanche, la loi n’a pas à dicter les modes vestimentaires dans le domaine privé, ou tout autre comportement, tant que ceux-ci ne sont pas une menace pour la vie d’autrui.
  • Il est indéniable que le port imposé de la burqa ou du niqab est un symbole de l’oppression. Mais en quoi le port de la soutane pour les prêtres, de la robe de bure pour les moines, de la robe et de la cornette pour les religieuses, du schtreimel, du spodik ou du caftan pour certains juifs est-il moins oppressif que le port de la burqa pour certaines musulmanes ? (...) La burqa, la soutane, le caftan, sont des tenues imposées pour uniformiser la vie de ceux qui les portent, et « tout uniforme est une livrée » (Ferdinand Buisson). Pourquoi, dès lors, distinguer entre les oppressions vestimentaires ? Pourquoi interdire l’une et autoriser les autres ? (...)» (La Libre Pensée)

Commanding Heights

Resolvi rever esta série televisiva que em 2002 fez a apologia da desiguladade e da desregulamentação: o primeiro episódio é um monumento extraordinário à desonestidade intelectual. As omissões, a escolha do vocabulário e dos adjectivos, a escolha dos acontecimentos relatados, as entrevistas, os pontos de vista escolhidos, são de uma parcialidade que me deixou - ao contrário da minha primeira impressão - com a ideia de que a escola de Chicago era um coito de tontos, alienados e fanáticos de uma religião que não precisa da realidade para reforçar os seus axiomas de fé. Achei as afirmações de Hayek próprias de um... ideólogo alemão dos anos 30! Mas Milton Friedman, o mentor e admirador incondicional de Pinochet, falava de liberdade e de democracia com a convicção pura de um trotskista.

Fiquei com a idea de que estes neo-liberais são uma mistura de tontos, iluminados por uma fé, e sociopatas inteligentíssimos e corruptos, que se aproveitaram desta ideologia para se apropriarem da terra, do ar, da água e da vida dos cidadãos da Europa ocidental.

Rever este documetário foi uma descida ao inferno interessantíssima. Já me tinha esquecido daquele homenzinho horrível que é Newt Gingrich e do ódio perverso que demonstra consistentemente pelo mundo, tipo Ricardo III. Como tantos outros fanáticos de direita (como Karl Rove, por exemplo), é um caso típico do desgraçado, superiormente inteligente e trabalhador incansável, que as miúdas no liceu desprezavam e a quem os jogadores da equipa de futebol roubavam o almoço.

A 'Thatcher Thatcher Milk Snatcher' é outro exemplo perfeito desta mistura perigosa de inteligência e ódio à espécie humana.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Por que não apelo ao voto

Este blogue já conta com dois apelos ao voto no PS, do Ricardo Schiappa e do João Vasco. Eu, não apelo ao voto. Nem no PS, nem no BE, nem na CDU.

Não apelo ao voto no PS porque, na legislatura que agora termina, não houve nenhuma grande medida de reforço do Estado Social. Guterres, que critiquei imenso, deixou o Rendimento Mínimo Garantido. Sócrates será lembrado pelo combate a algumas «corporações», mas não por ter alargado ou melhorado significativamente os serviços públicos de saúde, educação ou segurança social. Na escola pública, «comprou» uma guerra com os professores que ainda lhe poderá custar a vitória de dia 27 - se até lá não der um sinal de apaziguamento. Não se reforma um sector contra a esmagadora maioria dos profissionais desse sector, e um político democrático tem que saber reconhecer os limites da teimosia. E creio que a «municipalização» da gestão da escola pública é um erro cujas consequências, embora possam demorar muito tempo a ser reconhecidas, serão graves.

E não apelo ao voto no PS porque, pela enésima vez, a «questão europeia» foi tratada como o grande tabu do regime democrático (comparável às colónias no salazarismo), sobre o qual não se pode divergir, questionar, ou sequer informar o povo. Não houve referendo, ao contrário do prometido, e nem sequer uma tentativa de explicar aos cidadãos que a União Europeia, hoje, é mais determinante para os próximos quatro anos deste país (e para a legislação que o Parlamento que vamos eleger produzirá) do que as eleições de dia 27.

Finalmente, não apelo ao voto no PS porque ouvi falar em alterar a Constituição para legalizar as escutas telefónicas que os serviços de informações fazem ilegalmente, porque o Primeiro Ministro concentrou as polícias sob a sua tutela directa, por causa disto, e porque um governo que nada faz de significativo pela laicidade do Estado, e até mantém padres equiparados a funcionários públicos quando despede médicos e enfermeiros (isto, num contexto de secularização acelerada da sociedade portuguesa), não merece a caracterização de «socialista, republicano e laico», quando muito de «social-cristão, semi-republicano e laico maricas».

Também não apelo ao voto na CDU porque, embora o PCP seja justamente soberanista na questão europeia, é uma sobrevivência estalinista cada vez mais anacrónica. Claro que isso só afecta quem lá está dentro, e que o PCP tem mérito nas lutas sociais que organiza e na representação dos sectores operários (reconheço-o), mas não é propriamente um sinal de saúde da sociedade portuguesa ter um partido cripto-totalitário que representa 10% do eleitorado e controla dezenas de câmaras. Ponto.

E não apelo ao voto no BE porque cada vez se parece mais com um saco cheio de ilusões que rebentarão no dia em que esse partido for chamado a exercer o poder, seja sob que forma for. Não sei qual é a ideologia do BE, para além do «caldo de cultura» que ficou do 25 de Abril, e que é hegemónico (e ainda bem) em alguma juventude urbana. E, se o BE tem qualidades, até na denúncia da corrupção (apesar dos exageros moralistas), há indefinições que podem ser mortais a prazo. Que tipo de democracia e que tipo de socialismo quer o BE? Da resposta a essa pergunta depende saber se ainda poderá ser a «ala radical» da esquerda de governo que muitos esperavam que fosse, mas que, provavelmente (e o problema é todo esse), os seus dirigentes com mais de 45 anos nunca quiseram que fosse.

Resumindo: não vou votar nem branco nem nulo, muito menos na direita, e apelo a que todos votem. Mesmo que seja contra mim.