domingo, 31 de julho de 2011

Afinal, quem mentiu?

  • «O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, disse hoje, numa nota enviada à Lusa, que José Sócrates não deu “quaisquer ordens ou orientações” ao antigo director do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED), Jorge Silva Carvalho, para transmitir informações ao grupo Ongoing.» (Público)
Episódio anterior aqui.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

O terrorista de Oslo e a sua ideologia (2)

(continuação)

Na terceira parte do «compêndio» de Anders Breivik surge a solução global para as suas angústias: a «revolução conservadora». Ele define cuidadosamente «traidores de categoria A, B ou C». Que incluem todos os «marxistas da linha dura», «marxistas culturais», «humanistas suicidários» e «capitalistas globalistas». Os traidores «A e B» estão condenados à morte pelo «Tribunal Criminal» neo-templário por auxiliarem o «genocídio cultural» da Europa (são os líderes de partidos, mediocratas, conferencistas, deputados, etc). E é a obsessão recorrente com os «traidores multiculturalistas» que explica que Breivik não tenha atacado uma mesquita, mas sim um acampamento de jovens trabalhistas. Apenas após executar os «traidores» se iniciaria a «Cruzada» anti-islâmica que era o seu objectivo derradeiro. (Apocalíptico como qualquer al-qaedista, o senhor Breivik...)

Muitos bytes têm sido escritos sobre se Breivik deve ser considerado, ou não, um «fundamentalista cristão». É verdade que não será, a acreditar no seu texto, uma pessoa profundamente religiosa (apesar de rezar numa ocasião, e escrever que, numa situação como aquela em que se encontrou em  Utoya, pensaria em «Deus»). Mas os seus objectivos eram religiosos, no sentido «cultural» e «identitário». A viragem na vida de Anders Breivik, de militante de partido populista e anti-imigração para terrorista, parece ter sido o apoio da UE aos muçulmanos do Cosovo, que entendeu como uma traição à «cristandade» (que lhe interessa mais do que o cristianismo). A sua obsessão com as cruzadas sublinha a importância que a «Igreja» (pré-reforma) tem para ele como bandeira, muito mais do que como doutrina. Aliás, as suas opiniões em matéria de doutrina são guiadas pelas suas obsessões geoestratégicas: defende que os protestantes sejam mais como os católicos porque vê a ICAR como mais próxima da tradição, e mais centrada na autoridade (papal) do que nos textos (bíblicos). Chega a recuperar, num exercício (voluntariamente?) semelhante ao dos al-qaedistas, as justificações dos papas medievais para as Cruzadas (pag. 1325), e as da Bíblia para a violência (pp 1329-1335).

Na página 1112 do seu «compêndio», explica o que dirá em tribunal depois da sua condenação. Que o «multiculturalismo» é uma «ideologia de ódio», «concebida para exterminar a cultura, as tradições e a nossa identidade europeias». Que só executou «traidores A e B», e que eles «facilitam a islamização e a guerra demográfica islâmica». E mais: que agiu «em autodefesa através de um ataque preventivo», com a autoridade maior da Europa: o «Tribunal Militar e Criminal - Cavaleiros Templários». O seu objectivo, explica a seguir, é matar «traidores» para depois expulsar muçulmanos. Nas páginas seguintes, fala várias vezes em proteger a Europa do Islão. O uso que faz da religião é instrumental (ou oportunista). Interessam-lhe a cristandade e os cruzados enquanto bandeiras guerreiras, e não enquanto espiritualidade. Do mesmo modo que alguns conservadores, mesmo que agnósticos (ou ateus) defendem a ICAR porque ela garante a ordem social e cultural que desejam manter. Breivik é um «cristão identitário» mas não um cristão (profundamente) espiritual.

Em resumo: um fanático e não um louco; um conservador e não um fascista; e um homem que actuou não movido pela religião, mas por objectivos religiosos. Nesse sentido (o sentido identitário e político), pode ser considerado um «terrorista cristão».

[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]

Quem mente?

  1. «Enquanto director do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED), Jorge Silva Carvalho transmitiu informações ao grupo Ongoing, para o qual foi contratado após ter saído das "secretas", com autorização do então primeiro-ministro, José Sócrates, em Novembro de 2010» (Público).
  2. «O ex-primeiro-ministro José Sócrates esclareceu hoje que nunca teve relações diretas com o antigo diretor do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED), negando que alguma vez o tenha autorizado a passar dados à Ongoing» (ionline).

Como assanhar fanáticos II

O Ricardo Alves tem razão ao interpelar nesta entrada o Blasfémias sobre os atentados na Noruega. Relembremos que no Blasfémias também se fez futurismo à moda de Breivik nesta entrada, por exemplo, onde se representa o seguinte mapa:




Estou com um dilema futurista. Será que vamos ser todos pulverizados já para o ano pela Maldição Maia de 2012 ou seremos invadidos pelos mouros em 2015?
A memória é muito curta e esquece-se que há 100 anos, as "vítimas" deste mapa da treta de 2015 eram os "invasores" deste mapa que ainda não passou completamente à história:

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Oslo: a pista inglesa

No seu «compêndio», Anders Breivik refere um «mentor» inglês, designado como «Richard, the Lionhearted». E insinua que a English Defence League poderá ter sido fundada por um dos «patriotas europeus» a ele ligados através da organização neo-templária à qual atribui a sua radicalização ideológica. Estes «Cavaleiros Templários» (não confundir com os outros) já têm mais um membro assumido: um inglês chamado Paul Ray, que nas lides bloguísticas usa o pseudónimo «Lionheart» e que foi fundador da EDL, e diz fazer parte de uma organização neo-templária ferozmente anti-islâmica. Ray nega conhecer Breivik e condena os seus métodos (mas não as ideias, que partilha). E aponta o dedo a Alan Lake, o financiador e estratego por detrás da EDL, como sendo o verdadeiro «Richard». Este último não condena o atentado cometido por Breivik (e nega conhecê-lo). Mas há um vídeo em que defende a «execução» dos que querem implementar a chária na Europa...

Parece-me que é uma questão de tempo até sabermos algo mais.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Disparate colossal

O desvio colossal, aquele que o era, e deixou de o ser, e voltou a sê-lo, e desapareceu e... hoje ainda não li as notícias nacionais por isso desconheço a última versão, não teve apenas impacto mediático aqui no burgo. Todos os artigos que tenho lido nestes últimos dias na imprensa internacional sobre Portugal, incluindo um artigo de hoje no Spiegel, mencionam um buraco orçamental que o governo português descobriu. E sublinho que escrevo descobriu em vez de teria descoberto, porque para um jornalista estrangeiro palavra de primeiro-ministro é para ser levada a sério, e a história que passa para o exterior é apenas a das primeiras manchetes: Portugal tem um buraco de 2 mil milhões no orçamento.
E aqui está um enorme tiro do pé. O que para consumo interno foi apenas uma mentirinha mal conseguida, tem um terrível impacto no exterior. Numa altura em que Portugal precisa de passar a ideia de seguir à risca o que está planeado para ganhar credibilidade junto dos mercados, dos outros governos e das opiniões públicas europeias, o governo não poderia ter feito pior.

Um advogado de defesa de Breivik

Mario Borghezio, eurodeputado da Liga Norte, assume a respeito do terrorista de Oslo que «algumas das ideias que exprime são boas - retirando a violência - e algumas delas são excelentes». Decididamente, as ideias de Breivik são essencialmente semelhantes às da direita populista anti-imigração (como a English Defence League). E o senhor Borghezio, deputado numa assembleia que também elegemos, tem também um passado de acção directa contra imigrantes (menos violenta, todavia) e de elogios a Mladic, esse «patriota europeu». As ideias políticas de Breivik, descontada a defesa explícita da violência, contam realmente com uns 10% de apoio nos países centrais da Europa.

Um atentado que nunca existiu?

Absolutamente incrível: no Blasfémias, mais de quatro dias depois dos atentados de Oslo, ainda não se escreveu um mísero post sobre o segundo maior atentado em solo europeu desde 1945. A intrépida Helena Matos está mais preocupada com o Hamas. (Henrique Raposo, idem aspas: em silêncio.) Para a direita mais «civilizacionista», as vítimas só são vítimas quando o são de um facínora que vai à mesquita?

terça-feira, 26 de julho de 2011

Como assanhar fanáticos

Até poderia ser uma das muitas passagens futuristas do manifesto de Breivik, mas não, o texto abaixo transcrito foi publicado por Vasco Graça Moura na edição do Diário de Notícias de 19 de Fevereiro de 2003, na ressaca do voto do Parlamento Europeu contra a intervenção americana no Iraque.
O mais irónico é que neste texto os EUA são retratados em 2033 como a última reserva de branquitude, de cristianismo e de pureza onomástica. Abençoado Hussein Obama.


Europa, 17 de Fevereiro de 2033

Paris. O presidente Moustapha Ahmed Ibn Dupont aprovou várias medidas de apoio à alta costura francesa para a promoção do chador no mundo. Os oculistas protestam e afirmam que os óculos é que dão mais valor às mulheres, quando elas só mostram os olhos. No Centre Pompidou abriu uma exposição pós-pós-moderna de sapatos acumulados à entrada de Notre-Dame. Um crítico de arte imprudente que falou de souliers de Satan foi defenestrado por blasfémia do alto de um minarete em Montparnasse. Só depois se verificou tratar-se de uma gralha tipográfica. O revisor responsável foi lapidado.

Berlim. O chanceler Abdul Klaus von Rundfunk interditou a Nona Sinfonia de Beethoven em audições públicas ou privadas. A simples detenção de partituras ou discos implicará o corte das orelhas dos prevaricadores. Vai ser intensificada a investigação sobre tecnologia dos altos fornos. Altos responsáveis desmentem quaisquer preocupações étnicas na matéria.

Bruxelas. O rei Babadur-al-Alrun de Hohenlohe convocou o primeiro-ministro Abu-Akhbar Desfôrets e o ministro francófono Hassan Ibn Cocasse com vista à preparação de mais uma acção de sensibilização da opinião pública contra a separação entre a religião e o estado, uma vez que ou o estado se conforma com os preceitos da religião e é dispensável, ou diverge deles e é nefasto. O aiatola Eustache Ibn Gamal, reitor da Universidade Aladdin de Lovaina, falou do “eixo do mel” na abertura do seminário internacional sobre o papel da apicultura intensiva na redução do choque das civilizações. Confirma-se o achado de documentação relativa à extinta União Europeia num bunker da Rue de la Loi: foi nomeada uma comissão de expurgo, presidida pelo ministro flamengo Mohamed van der Roeckwaerts.

Vaticano. O papa Omar I relatou pormenorizadamente ao colégio dos cardeais a sua última peregrinação a Meca, explicando as razões atendíveis por que não foi autorizado a entrar no santuário. Foi aprovada a substituição do tratamento de “Sua Santidade” pelo de “Sua Obediência” e a exportação de vacinas de água-benta para os territórios em que ainda se detecte a presença do vírus da varíola, em consequência da última jihad de libertação da Europa, ocorrida há 30 anos. O consistório, como prova de boa vontade e tolerância, mandou revestir os frescos da Capela Sixtina com azulejos sobrantes da casa de banho de um dos palácios de Saddam Hussein.

Córdova. O rei Tarik II incumbiu o conde Julian Al-Barabi de Mora y Moro das obras de construção da nova e esplendorosa capital da Ibéria. O mulá Osama Extchgandiarra manifestou a sua preferência por Bilbao para sede do califado.

Lisboa. O ministro da educação, Sheik Al-Nefzaouí da Silva Pimentel, declarou não valer a pena mandar queimar Os Lusíadas pelo seu teor anti-islâmico, uma vez que a obra está fora do mercado e completamente esquecida. Mantém-se todavia a sanção do arrancamento dos olhos para quem os ler. Yassib Neca, presidente do F. C. da Merdaleja, denunciou como “cão infiel” o Dr. Samir Getúlio, presidente da Liga de Clubes. O Dr. Samir recolheu ao Aljube. Depois da remoção das vinhas, o vale do Douro vai passar a produzir sémola em socalcos, com vista à exportação de cuscus. Figuras da meiga esquerda lusitana foram condecoradas a título póstumo com a Ordem do Crescente Suave, por serviços prestados à causa de Bagdad.

Washington. O secretário de Estado da Defesa, John K. Merrywhistler, resumiu em quatro palavras a posição do seu país quanto à presente situação da Europa: “Let them fuck themselves”.

Vasco Graça Moura

segunda-feira, 25 de julho de 2011

O número da noite eleitoral

Antes de subir o elevador do hotel Altis, no passado dia 5 de Junho, António José Seguro anunciou que faria uma comunicação ao país nessa mesma noite. Toda a gente julgava, naturalmente, que Seguro iria apresentar a sua candidatura à liderança do PS. Talvez Seguro tenha pensado que não seria de bom tom fazer tal anúncio quando o cadáver político de José Sócrates ainda estava quente. O facto é que, quando desceu o elevador, Seguro deu o dito por não dito, não fez anúncio nenhum e ainda perguntou aos jornalistas por que tinham esperado por ele. É este o novo líder do PS; a maioria dos militantes e apoiantes deste partido já tinha saudades de Sócrates e, desde este fim de semana, ainda deve ter ficado com mais.

Entregues aos Jotinhas

É deprimente constatar que ser Jotinha é um dos principais critérios para se ser líder do PS e do PSD. É um critério que atrai incompetência. Arriscamo-nos, em tempo de crise, a ter o binómio primeiro-ministro e líder da oposição mais incompetente de sempre.

domingo, 24 de julho de 2011

Um hipócrita nojento

Silva Carvalho, o pidoso que enquanto director do SIED chegou a defender a revisão da Constituição para legalizar as escutas telefónicas sem mandado judicial, queixa-se agora de «violação de correspondência». Não contesto o direito do cidadão Silva Carvalho à privacidade das suas comunicações, apesar de ele próprio nos negar esse direito a todos. Mas nego, sim, que um pidoso tenha autoridade moral para se queixar daquilo que ele próprio fez, banalizou e quis generalizar. Há hipócritas, e depois há o senhor Silva Carvalho.

Nota (1): como eu previra, o senhor Silva Carvalho foi convidado para liderar as «secretas» portuguesas. Passos Coelho lá sabe porquê.

Nota (2): como eu também previra, terá sido Silva Carvalho quem passou informação privilegiada do Estado para a Ongoing, antes e depois de ir trabalhar para lá. O Expresso de ontem (edição em papel) confirma.

O terrorista de Oslo e a sua ideologia (1)

O atentado de sexta-feira na Noruega é o maior em solo europeu desde Atocha (em 2004). Ser a obra (directa) de um único homem, que causou quase uma centena de vítimas mortais, lembra o atentado de Oklahoma, perpetrado por Timothy McVeigh.

As ideias de Anders Behring Breivik são de extrema direita, o que constitui uma viragem histórica no terrorismo global. A pouco mais de um mês do décimo aniversário dos atentados de Nova Iorque e Washington, pode ter começado uma nova vaga de atentados, em contra-corrente à campanha islamista que durou, na Europa, até 2006.

Dediquei algum tempo a ler (na diagonal, claro) o manifesto de mil e quinhentas páginas que Anders Breivik (ou «Andrew Berwick») difundiu pelos seus 7000 amigos do Facebook poucas horas antes de detonar explosivos no centro de Oslo («2083: a European Declaration of Independence»). Era esse o seu objectivo: que o estudássemos (na página 16, refere-se a uma «operação de marketing» que devem ser os atentados). Mas, dado que toda a extrema direita deve estar a ler esse manifesto neste momento, é melhor começar a responder-lhe.

A primeira parte do livro é uma longa diatribe contra o «marxismo cultural», o «politicamente correcto» e a «escola de Francoforte» que, através do «multiculturalismo» são a «raiz» para a «islamização» da Europa. O autor descreve-se repetidamente como «conservador», com variantes como «conservador cultural» ou «nacional conservador», e como um nostálgico da sociedade europeia dos anos 50, pervertida a partir dos anos 60 pelo «marxismo cultural». A narrativa é a habitual para um conservador: o feminismo, a banalização da homossexualidade e o anti-racismo destruíram a sociedade europeia tradicional. Algumas passagens desta parte parecem ter sido plagiadas, na íntegra, do manifesto do Unabomber. Mas o mais importante para Breivik/Brewick é a «revisão» da história e o «negacionismo» dos massacres e genocídios perpetrados pelo Islão. E que não se conte como as Cruzadas eram uma empresa benéfica, justa e necessária.

Na segunda parte do livro, Breivik mostra-se um adepto da tese da «Eurábia», segundo a qual existe um plano para islamizar a Europa através da imigração, de taxas de natalidade elevadas e da pressão política. Cita abundantemente blogues como o Brussels Journal, o Jihad Watch e o Gates of Vienna, em particular o bloguista Fjordman e Bat Ye´or, a grande popularizadora dos conceitos de «Eurábia» e «dimitude» (a submissão voluntária ao Islão). Em 2006, escrevi sobre esta corrente de pensamento no Diário Ateísta e no Esquerda Republicana. À época, afirmei que «atribuir à Al-Qaeda capacidade militar para conquistar a Europa, ou olhar para os imigrantes muçulmanos como a vanguarda de uma invasão programada, ou falar da Europa como um protectorado islâmico, são delírios paranóides que relevam de preconceitos racistas, da angústia demográfica, de entusiasmo deslocado pelas aventuras militares dos EUA e de Israel, ou da obsessão identitária com a "civilização ocidental e cristã"». E acrescentei que «nos anos 20 e 30 do século passado, a extrema direita afirmou-se na Europa, manipulando [o] anti-semitismo (...) hoje, o mesmo sector político tem interesse em conjugar os sentimentos islamófobos, o apoio a guerras de conquista e o apelo identitário-conservador cristão».

A corrente de pensamento «civilizacionista» em que Anders Breivik se insere é também a de Melanie Phillips ou Bruce Bawer. Politicamente, Geert Wilders ou a English Defence League. Referências explicitadas por Anders Breivik no seu livro, embora lhes critique o «pacifismo». A passagem à violência não é óbvia. Aliás, Breivik distancia-se do nazismo e afirma-se «anti-jihadista», «anti-marxista» e até, a dado ponto, «anti-fascista». Prefere os «nacional-conservadores» alemães ao nazismo.

Na terceira parte do livro, Breivik anuncia que pertence, desde 2002, a uma organização de novos «Cruzados» (!), simultaneamente ordem militar e tribunal: os Cavaleiros Templários Justiceiros (!!). Ele próprio será apenas uma «célula» desta organização de «Resistência Europeia», liderada por um criminoso de guerra sérvio refugiado na Libéria (!!!).

(continua)

[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]

sábado, 23 de julho de 2011

O laicismo chega à Irlanda


O discurso histórico do Primeiro Ministro irlandês, quarta-feira passada no parlamento. Nada será como dantes.

Revista de blogues (23/7/2011)

  • «Por que razão é que a lista de nomes que se vão sabendo de nomeações para os gabinetes governamentais e para cargos chave na economia e administração do Estado não me surpreende de todo? (...)

    Já que não há o prometido site das nomeações aqui vai uma lista muito incompleta das informações que a Visão tem publicado sobre essas escolhas. Podem ser vistas por jornal ou por blogue, ou por ministério. Qualquer maneira de as ver é particularmente interessante:
    Diário de Notícias / Jornal de Notícias: Maria de Lurdes Vale, Carla Aguiar, Adelino Cunha, Paula Cordeiro, Pedro Correia entre outros.

    RTP: Rui Lopes da Silva, Daniel Pessoa e Costa

    Lusa: Rui Batista

    Público: Anabela Mendes

    31 da Armada: Afonso Azevedo Neves, Carlos Nunes Lopes, João Villalobos

    Albergue Espanhol: Afonso Azevedo Neves, António Nogueira Leite, Pedro Correia

    Cachimbo de Magritte: Miguel Morgado

    Portugal dos Pequeninos: João Gonçalves

    Ministério de Miguel Relvas, o mais interessante de analisar porque é daqui que virá ospin e o que mais se verá: João Gonçalves, Pedro Correia, Adelino Cunha.

    (...) estas listas não dizem tudo. Não nos dizem sobre outro tipo de relações envolvendo as mesma pessoas e com a ligação próxima que alguns blogues têm com agências de comunicação e empresas de marketing que trabalharam para personalidades partidárias ou partidos e agora se vão mudar para o governo. Esta é uma teia de interesses muito pouco escrutinada, mas muito importante para perceber alguns blogues como, por exemplo, o 31 da Armada.
    » (Pacheco Pereira)

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Reestruturação: o Bloco tinha razão

As decisões tomadas ontem durante a Cimeira Europeia configuram uma reestruturação das dívidas da Grécia, Portugal e Irlanda, apesar de ser apenas uma reestruturaçãozinha, ainda tímida. Tal como escrevi nesta entrada sobre a reestruturação da dívida, o tempo iria dar razão ao Bloco.
Pena foram os meses perdidos a insistir em soluções de política de austeridade e aqui há uma grande dose de responsabilidade de Barroso e Van Rompuy. Quem pagou esta inacção foram os europeus através dos seus salários e dos seus empregos.

Só para registar

Nas eleições do PS, Francisco Assis é apoiado por António CostaPaulo Pedroso, Edite Estrela, José Lello, Augusto Santos SilvaPedro Silva Pereira e Luís Amado; António José Seguro é apoiado por João CravinhoMaria de BelémAna Gomes, Ana Benavente, Gabriela Canavilhas, José Lamego, Vítor Ramalho e Vitalino Canas.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Tudo muito tranquilizador

  • «O irlandês que liderava a rede de tráfico de armas, com ligações ao Real IRA, tinha um cúmplice muito especial: um agente do SIS. Esse espião português teria pressionado empresas nacionais para aceitarem negócios com o seu sócio irlandês. Uma das empresas contactada foi uma conhecida petrolífera. Durante as suas acções para conseguir transacções comerciais para o irlandês, o então agente do SIS terá alegado ter conhecimentos e negócios com pessoas do gabinete do, na altura, primeiro-ministro José Sócrates. Na proposta estariam alguns negócios na área do ambiente ligados ao tráfico de licenças de poluição.» (ionline)
É tudo mentira/manipulação/sensacionalismo/etc. Durmam tranquilos que é tudo uma grande invenção.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Caso Bairrão: a pista Silva Carvalho

Pedro Tadeu resume bem a situação do caso Bairrão: ou Passos Coelho mente quando diz que não pediu informações aos SIS/SIED (e tem que desmentir, porque seria ilegal) ou Ricardo Costa mente quando garante que a notícia do Expresso é verdadeira. Entretanto, Moura Guedes não desmente que tenha enviado o SMS fatídico. E eu volto a perguntar: ninguém nos media reparou ainda que o ex-chefe do SIED trabalha na Ongoing?

(Entretanto, quem deveria fiscalizar os serviços «de informações» acredita piamente no que as respectivas chefias lhe garantem. O que, a ser verdade, deixaria a questão de saber por que raio de razão Bairrão foi demitido antes da tomada de posse.)

Uma gente linda

  • «Um agente de um dos serviços secretos portugueses, o Serviço de Informações de Segurança (SIS), é suspeito de estar ligado a uma rede de tráfico de armas e branqueamento de capitais, desmantelada há duas semanas pela Polícia Judiciária no Algarve. O papel de J.N. passaria por facilitar contactos em território português a troco de comissões nos negócios de venda de armas, ao que o DN apurou. A sua casa já foi alvo de uma busca. Segundo várias fontes contactadas pelo DN, o SIS foi informado da investigação em curso e já expulsou o operacional.» (Diário de Notícias)

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Revista de blogues (18/7/2011)

  • «No tempo do «Regime anterior» creio que era o Supremo Tribunal de Justiça quem passava uma espécie de Atestado aos candidatos a eleições, mesmo que estas não fossem livres.Agora leio no Expresso, um concorrente do Diário da República em versão impressa, que um relatório das «secretas» pode ser apreciado para fins de nomeação governamental, como terá acontecido com Bernardo Bairrão.Isto é mesmo assim? Ninguém chama ninguém à AR? Os serviços de fiscalização dos serviços de informação não dão de si? Ou também há relatórios sobre os membros que devem fazer essa fiscalização?» (Medeiros Ferreira)

O terrorista da ponte 25 de Abril

Na ponte 25 de Abril, um homem ameaçou o motorista do autocarro em que seguia, imobilizou-o com uma faca e chegou a feri-lo. A polícia controlou a situação, por uma vez de forma proporcionada. Espero bem que o criminoso seja julgado e condenado como merece. E nada mais haveria a dizer.

Os motivos? Ou é louco ou tinha muita pressa de chegar a casa, acho eu. Mas o incrível Anes não faz a coisa por menos: como se trata de um paquistanês, diz logo que frequenta uma «mesquita radical». Sendo o senhor Anes presidente do pomposo «Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo», e o célebre inventor do Ataque do Perigosíssimo Bloco Preto, sugiro-lhe que da próxima vez que um católico seja acusado de um delito comum vá verificar se não frequenta o Opus Dei ou a Comunhão e Libertação. Fichagem religiosa por fichagem religiosa, ou comem todos ou não há moralidade.

domingo, 17 de julho de 2011

O poder oculto

Há vários anos que alerto neste blogue para o poder desmedido que os serviços ditos «de informações» têm vindo a ganhar na República. Sem que ninguém se indignasse, esses serviços foram concentrados sob a alçada quase directa do Primeiro Ministro José Sócrates, e foi-lhes dado o poder de recolher «informações» das verdadeiras polícias (PJ, SEF, GNR, PSP). Nos jornais, frequentemente se passou a mensagem de que efectuam vigilâncias electrónicas e escutas telefónicas ilegais, e que gostariam, note-se o descaramento e o atrevimento, que a Constituição fosse adequada ao que já fazem. Incrivelmente, num regime fundado sobre o repúdio da PIDE e dos seus métodos, a opinião pública cala-se. E não falta sequer a suspeita de envolvimento na tortura de pelo menos um islamista para que a semelhança com a PIDE seja cada vez maior.

O «caso» Bernardo Bairrão é a primeira ocasião em que a opinião pública se começa a aperceber do poder da escumalha do Forte da Ameixoeira e do Forte do Alto do Duque. Aparentemente, os «sisistas» terão confirmado o envolvimento do senhor em negócios pouco claros em Angola e alhures, que poderiam originar manchetes de jornais daqui por semanas ou meses. Daí a sua exclusão intempestiva da lista de Secretários de Estado. Acontece que Bairrão nega que tenha sequer tido negócios no Brasil ou em Angola. E pede que o relatório da escumalha do SIS seja revelado. Eu concordo com Bairrão: foi processado, julgado e condenado por algo que nem saberá o que é. Obviamente, Miguel Relvas, que substituiu Silva Pereira na tutela dos «informaçõezinhas», desmente a «investigação» a Bairrão. Talvez fosse de aconselhar uma comissão de inquérito parlamentar?

Há outro lado deste caso que cheira muito mal. Terá sido um SMS de Manuela Moura Guedes para Passos Coelho a ocasionar o pedido de «informações» do actual PM. Moura Guedes e José Eduardo Moniz, sabe-se, não gostam do senhor. Compreende-se: Bairrão terá demitido Moura Guedes, e, pior, opõe-se à privatização da RTP, na qual a Ongoing de Moniz (e Teixeira Pinto) está interessada. E chegamos aqui ao último elo da narrativa: um tal Jorge Silva Carvalho demitiu-se (com estrondo) de director do SIED em Novembro. No mês seguinte, já estava na Ongoing. Teve o cuidado de dar uma entrevista dizendo que «o meu dever de reserva em relação aos serviços e às matérias abordadas enquanto em funções será sempre mantido». Face aos desenvolvimentos mais recentes, penso que só alguém muito ingénuo acreditará incondicionalmente que o referido personagem está a manter esse dever de reserva.

(Passo seguinte: nomear Silva Carvalho para director de um serviço de informações que unifique o SIS e o SIED.)

Um facto chocante

sexta-feira, 15 de julho de 2011

A polícia enquanto causa de insegurança

Na terça-feira, dois polícias da esquadra das Mercês (Lisboa) foram condenados a quatro anos de pena de prisão efectiva cada por terem espancado um estudante alemão em 2008: «foi então pontapeado nas costas, no peito e nas pernas. Pediu ajuda e os agentes ter-se-ão rido (...) também lhe foi exigido que se despisse totalmente para que lhe fosse feita uma revista. Não queria, mas acabou por se despir e foi-lhe ordenado que se colocasse de cócoras e se baixasse e levantasse algumas vezes». O estudante tinha cometido o pavoroso crime de andar de eléctrico sem bilhete.

Acontece que os mesmos dois agentes têm outro processo por agressões físicas em 2009: «"Passei muito tempo com os braços cruzados por cima da cabeça. Depois, tal como as cerca de 20 pessoas que foram levadas para a esquadra, fui enfiado numa sala e espancado. Por fim a porrada era tanta que optei por me deitar para o chão, para levar menos. Pisaram-me e deram-me pontapés. Havia um rapaz que pediu para ir à casa de banho. Levaram-no, não sei para onde, e só se ouvia gritar. Espancaram-no" (...) "Um agente bateu-me com uma cadeira nas costas e, mais tarde, obrigou-me a limpar o sangue que estava no chão dizendo: "Olha o porco que tu és""».

Em 2010, houve ainda esta história, aparentemente com polícias da mesma esquadra: «Virei-me e vi uma mulher no chão, havia um polícia a segurá-la, estava algemada e tinha o pé em cima dela. Outro polícia perguntou ao meu amigo onde estava o seu telefone e o meu amigo respondeu-lhe: 'Preferia não lho dar. Não temos nada a ver com isto. Podemos ir embora?' Eles não nos deixavam ir embora. Em determinado momento... (...) Estava a falar com um agente, estava perto dele, a falar. Afastei-me, dei dois ou três passos, ele brandiu o cassetete e atingiu-me na cara». Na mesma semana, mais esta no mesmo bairro (mas com indivíduos de outra esquadra?): «o jovem tentou ajudar a amiga, mas, segundo esta, «atiraram-no para o chão e espancaram-no», enquanto ela própria era alvo de mais agressões».

Ontem, 50% dos senhores incumbidos da segurança pública na dita esquadra meteram baixa médica, presumivelmente como forma de protesto por o espancamento de estrangeiros e nacionais não estar despenalizado quando cometido por agentes da PSP. Uma epidemia: quando não podem espancar, ficam doentinhos, coitados.

O Ministro da Administração Interna deveria inquirir o que se passa na esquadra das Mercês (Lisboa). Não sendo grande entusiasta de despedimentos indiscriminados na função pública, eu ficaria muitíssimo mais tranquilo se os ditos senhores deixassem de andar pela rua de cassetete e pistola, para nada dizer da (indevida) dignidade de autoridade pública. Polícia desta é causa de insegurança.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

quarta-feira, 13 de julho de 2011

«Informaçõezinhas» e jornalistas na mesma cama

Todos sabíamos que Rupert Murdoch é um personagem mafioso (distinguido pelo Papa e tudo). O escândalo do uso de escutas telefónicas para obter informações que saíam no tablóide News of the World (e também noutras folhas da direita britânica, como o The Sun e o Sunday Times) está apenas no início, e que um Primeiro Ministro seja escutado por jornalistas não espanta ninguém que tenha acompanhado a política portuguesa no último par de anos. Mas mesmo estando apenas no início já se descobriu que a distância que vai dos alegadamente «impolutos» serviços «de informações» à imprensa tablóide é mais curta do que uma mesa de pub.

É isto



Concordo com muito do que é dito por Rui Tavares nesta entrevista, principalmente na parte final.
Creio que merece ser ouvido.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Assim, não!

A forma errada de amortizar a dívida é vender activos ao desbarato, piorando a situação líquida, alienando fontes de receita, e compromentendo a prestação de serviços públicos pelo caminho - as privatizações em lista de espera.

Claro que o pior de tudo seria deitar dinheiro pela janela fora, numa situação de enorme necessidade. Tal como acabar com as Golden Shares sem exigir contrapartidas aos restantes accionistas. Na verdade é perfeitamente indigno «queimar» recursos numa altura de enorme escassez para todos, sacrificando o interesse público ao favorecimento dos grandes grupos económicos.

Assim, sim!

Eis a maneira correcta de amortizar a dívida numa situação algo desesperada: vender equipamento desnecessário, evitando despesas de manutenção, sem sacrificar nenhum interesse estratégico.

A ideia de Cadilhe, exposta em 2006, e em relação à qual se ouvem agora uns burburinhos, de utilizar as reservas de ouro para promover uma série de rescisões amigáveis de funcionários públicos que possam não ser necessários, pode envolver uma mudança de algumas regras, mas é sem dúvida adequada à situação actual e às ferramentas que temos para lhe fazer face.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

A Esquerda é mais liberal que a Direita? - Parte IV

No primeiro texto desta série coloquei a pergunta que dá o título à mesma, e apresentei alguns dados que sugerem uma resposta afirmativa, pelo menos no que diz respeito à realidade dos EUA (nos comentários ao primeiro texto o Miguel Madeira referiu lembrar-se de um artigo que corroboraria as mesmas ideias em relação à realidade portuguesa).

A este propósito, gostaria ainda de acrescentar este resumo de um artigo, que infelizmente só se encontra disponível para assinantes:

«In an exploration of the personal basis of resistance to authority, moral judgment and attitudes toward authority were examined in 183 men and women political resisters, including antinuclear, draft registration, and tax resisters, and anarchists, and compared to 34 liberal and 29 conservative activists. The measures used were the Defining Issues Test and a specially designed attitude survey. As predicted, the differences between resisters and nonresisters were in the realm of cognitive beliefs and values. Strong rejection of political and social authority, a belief that individual conscience is a better guide to conduct than the law, a professed unwillingness to be in positions of authority over others, and a lack of conventional religious affiliation significantly differentiated the resisters from the nonresisters. The resisters also measured high in level of moral judgment but were significantly different only from the conservatives.»

Já sem ser relacionado estritamente com este assunto (embora possa sugerir possíveis causas comuns que justifiquem as correlações apresentadas), deixo aqui também alguma informação na qual «tropecei» enquanto escrevia esta série de textos:

«Conservatism and cognitive ability are negatively correlated. The evidence is based on 1254 community college students and 1600 foreign students seeking entry to United States universities. At the individual level of analysis, conservatism scores correlate negatively with SAT, Vocabulary, and Analogy test scores. At the national level of analysis, conservatism scores correlate negatively with measures of education (e.g., gross enrollment at primary, secondary, and tertiary levels) and performance on mathematics and reading assessments from the PISA (Programme for International Student Assessment) project»

E também esta informação interessante:

«I hypothesized that people who were religious fundamentalists would be more likely to value obedience and less likely to value autonomy and that people who are more likely to attend church would be more likely to value obedience and less likely to value autonomy. My findings suggest that this is true. The more liberal a person’s religious beliefs, the less likely they are to value "obedience" and the 24 more likely they would be to value "thinking for oneself". I also found that the more a person attends church, the more likely they will be to value "obedience" and that if the respondent doesn’t attend church often they are more likely to value "thinking for oneself".

My findings affirm the possibility that conservative religious beliefs may be associated with an acceptance of what life brings, a view that is not inconsistent with Marx’s contention that religion (at least its most conservative versions) can be an "opiate of the masses"(Marx, 1959 [1843]).
»

sábado, 9 de julho de 2011

«O CDS da esquerda»

Parece-me que a corrente «Manifesto» do BE é muito cruel com o CDS: «recusamos igualmente o ponto de vista daqueles que gostariam de ver o Bloco como um “CDS da esquerda”, disponível para ser muleta do Partido Socialista em troca de lugares no poder». E o que sobra em crueldade falta em lucidez (um bem precioso em política): o CDS não é uma mera «muleta» do PSD. É muito mais do que isso: é um partido com ideias, organização e pessoal político muito diferente do PSD, e que com ele não se confunde. Não é uma muleta do PSD, é uma das pernas da direita.

(E, obcecado em não passar por «muleta», o BE recusa-se a ser perna; assim deixando a esquerda... coxa.)

sexta-feira, 8 de julho de 2011

«Todo o poder às agências de rating»?

A lógica do jogo político implica que aqueles que se apoiavam nas agências de notação agora as ataquem. Faz parte da política politiqueira. Mas é necessário olhar um pouco mais longe.

A questão de fundo é saber como se combate o poder das ditas agências. É positivo que os afectados pelas decisões comecem a revogar contratos. Como é positivo que o BCE faça o contrário do que elas recomendam. São pequenos passos, quase simbólicos, na direcção da recuperação da soberania democrática. Quanto a passos maiores, nas últimas horas tem-se formado um consenso europeísta pela criação de uma agência de notação europeia. O que não resolve nada: é atirar combustível para o fogo. A crise actual poderá ser uma batalha de uma guerra dólar-euro. Mas criar outra agência (igualmente inimputável?) é aceitar a lógica das democracias governadas pelos mercados. (E duvido, honestamente, que a UE ganhe qualquer tipo de guerra financeira com os EUA.) O que é necessário é limitar o poder dessas agências, e devolver o poder a responsáveis eleitos. Nesse sentido, a proposta que apoio é a de que as agências de notação deixem de avaliar Estados. Já brincaram demasiado connosco e com as nossas vidas. Democracia é o governo pelo povo, não é o povo no lixo.

Uma explicação para a crise europeia

Ter uma nulidade como Presidente da Comissão Europeia é parte do problema, e afastar a dita nulidade seria parte da solução. Merkel e Sarkozy, dirigentes paroquiais e sem visão de futuro, também não ajudam (do cleptocrata Berlusconi, ninguém no seu perfeito juízo espera seja o que for). Num momento em que a política deveria voltar a comandar a finança e a economia, o contributo português para a liderança europeia é um político oportunista, sem brilho e fraco. Que nós tolerámos que fugisse deixando Santana Lopes no seu lugar.

Adivinhem qual é o comboio português

A adivinha não é muito difícil, pois não? É este o modelo de comboio que faz a linha do Oeste, a atravessar cidades como Torres Vedras, Caldas da Rainha e Leiria, entre as quais muitas pessoas se deslocam regularmente todos os dias (não estamos a falar do interior desertificado). É também este tipo de comboio que faz a ligação Porto-Vigo, encurtada a partir da semana que vem só até Valença. É um comboio antigo, que demora mais do dobro do tempo de um carro ou um comboio mais moderno (não precisa de ser TGV). O facto de ainda haver comboios destes a circular em Portugal resulta de décadas de desinvestimento na ferrovia e de um novo riquismo e centralismo (só a pensar nas grandes cidades) que prefere TGVs quando nem sequer há um intercidades decente (os casos Lisboa-Leiria e Porto-Galiza são flagrantes). Apesar de tudo isto, será que não haver nada é melhor do que haver estes comboios? Com certeza que não. O encerramento da ligação a Vigo (e outras que estão anunciadas) é um péssimo sinal e mais uma machadada no transporte ferroviário em Portugal. No caso da ligação a Vigo, bastava que seguisse para Espanha um revisor português (e não um espanhol, da Renfe, que nunca aparece - a ligação Tui-Vigo é feita quase sempre sem revisor). Como ainda por cima é esse revisor que vende os bilhetes (só em Campanhã é que se podem comprar bilhetes até Vigo!), não admira que a CP se queixe de não haver passageiros nesse troço que justifiquem a manutenção da ligação!

PS - Parece que finalmente as notícias são boas.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Maria José Nogueira Pinto e o "direito a existir"

É uma frase que define uma pessoa, os seus pontos de vista, a sua maneira de ver o mundo. Num debate sobre os direitos dos homossexuais, há uns dez anos, Maria José Nogueira Pinto obviamente contrariava todas as reivindicações. Mas a dada altura, e para que as pessoas não pensassem que ela era um monstro insensível, voltou-se para o ativista seu interlocutor e disse-lhe, cheia de compaixão e caridade católica:
"-Mas eu acho que vocês têm o direito a existir!"
E com isto passou com certeza por muito boazinha e piedosa por muito bom povo português.
(É isto mesmo que eu penso da direita em geral, e em particular de pessoas como Maria José Nogueira Pinto: têm o direito a existir.)
No caso concreto da recém falecida deputada, reconheço sem dificuldade que era uma pessoa honesta, frontal e combativa por aquilo em que acreditava. Fazem falta mais pessoas assim. Deveria ter tido o direito a existir por mais tempo.

O recente ódio à Moody's

Parece uma dádiva para a Esquerda: está na moda dizer mal da Moody's (e a Fitch, S&P...) que avaliou a nossa dívida como lixo. Desde respeitáveis figuras das Nações Unidas, até aos jornalistas mais insuspeitos de antipatia contra as agências de rating:



Mas convém ter cuidado, e não ser inconsistente. Aqueles que lutam para que se faça uma auditoria, que tenha como resultado não pagar a dívida integralmente, fazem-no acreditando que terão alguma possibilidade de sucesso. Pois essa possibilidade estar menos distante da realidade resultaria precisamente num maior risco para quem adquire dívida portuguesa em «segunda mão» - pode ser que depois não seja paga.

Assim, não podemos lutar pelo proveito, e indignarmo-nos com a fama.

Ou bem que acreditamos que temos de pagar tudo até ao último cêntimo, e vamos pagar tudo até ao último cêntimo, e não existe nenhuma razão sólida para imaginar que o contrário é mais que um cenário delirante - caso em que a indignação pode ser justificável.
Ou bem que acreditamos que não, que a dívida deve ser renegociada, que o default (parcial ou total) deve ser um cenário em cima da mesa, e queremos lutar nesse sentido, caso em que não podemos ficar indignados com a hipótese de alguém acreditar que esses cenários serão realidade.

O que não faz sentido é a esquizofrenia de gritar «Não pagamos!!» e depois vociferar «Aquelas bestas estão a dizer que não vou pagar!».

Eu sugiro o oposto. Em vez de lutar pelo proveito e nos indignarmos com a fama, aceitar a fama e exigir também o proveito. O principal problema de renegociar a dívida seria mesmo este: isso implicaria uma diminuição dos ratings, o que acarretaria um aumento dos juros. Mas os ratings já estão num nível tão reduzido (lixo), que os ganhos associados à renegociação superam possíveis perdas devidas a uma pior «reputação». Com os juros menores associados a uma renegociação, a economia teria mais recursos para crescer, e de futuro as possibilidades de pagar iriam aumentar em vez de minguar. A prazo isso implicaria um aumento das classificações. Pelo contrário, evitar a renegociação com medo do impacto que isso teria na nossa reputação quando o mercado já «internalizou» esse risco, faz pouco sentido. Acabaremos por renegociar à mesma mas em condições piores.

Ainda assim, concordo com José Gomes Ferreira na sugestão que faz relativa à alteração do funcionamento do BCE, e da influência que as agências têm a esse respeito. O BCE não é uma instituição privada, deveria reger-se por critérios objectivos, e não por critérios opacos que poderão ser - pelo menos em princípio, e a história prova que não apenas... - manipuláveis por interesses inconfessáveis.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Após o Prós e Contras (3)

Melhores intervenções: a de Carlos Carvalhas, o único a notar a contradição entre a necessidade de investir mais para estimular a economia e a necessidade de poupar mais, que só se resolve com melhores salários para as classes mais baixas; e a de um senhor psicólogo (não recordo o nome, mas gostei muito de o ouvir), que explicou que, quando vivemos permanentemente numa situação de ansiedade, segregamos mais cortisol que nos destrói os órgãos. A precariedade ainda nos vai matar a todos!

Após o Prós e Contras (2)

No início da segunda parte apareceu mais um daqueles jovens gurus que Fátima Campos Ferreira tanto gosta de levar ao programa. Primeiro, afirmou que os portugueses devem poupar mais (o que é absolutamente verdade). Logo de seguida, começou a dar sugestões sobre o que fazer com o dinheiro “poupado”: não o colocar nos conservadores certificados de aforro ou depósitos a prazo, mas sim investir em boas aplicações, em economias em desenvolvimento, que possibilitassem um bom rendimento. Pessoalmente acho que não se deve ganhar dinheiro sem ser a trabalhar (incluindo jogo e especulação); se, principalmente nesta altura de crise, alguém não sabe o que há de fazer ao dinheiro a esse ponto, essa pessoa deveria pedir uma redução de salário e/ou pedir ao ministro das Finanças que lhe aumentasse os impostos. De qualquer maneira, e independentemente deste meu ponto de vista, achar que as classes médias ou médias baixas, precárias ou desempregadas ou a ganharem mal (sobretudo esta gente é que tem que poupar) deveria fazer aplicações de capital é digna do cómico arquiteto Saraiva. Afinal, há mais arquitetos Saraivas do que se pensava…

Após o Prós e Contras (1)

Mais uma vez apareceu Fernando Santos a afirmar que “o nível de vida na Grécia é muito mais caro que em Portugal”, e para tal baseou-se nos seus hábitos de consumo enquanto português. Por exemplo, afirmou que um café custa três ou quatro euros. Tenho uma novidade para Fernando Santos e para muita gente que comete o mesmo engano: deve comparar-se, tratando-se da Grécia, com os hábitos de consumo… gregos. Eu já estive na Grécia e garanto que o café é ao mesmo preço da nossa bica. Mas é o café que os gregos tomam: o café… grego. O “espresso”, como é consumido sobretudo por turistas, é natural que seja mais caro. Quem costuma fazer este tipo de comparações (não é só Fernando Santos) provavelmente deve comparar depois o preço da pêra rocha, e de seguida o da água das pedras.

Suecos querem regresso ao sistema público de ensino

À atenção de Passos Coelho e outros defensores do cheque-ensino.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Fernando Nobre abandonou o Parlamento

o Ricardo Alves escreveu:

«Finalmente desiludido, Nobre tomou ontem a única decisão sensata desde que entrou na política: ficar no Parlamento. Contradiz uma promessa da campanha das legislativas, eu sei, mas esta é a única contradição que facilmente se lhe perdoa: porque agora pode sentar-se no Parlamento e mostrar o que vale, trabalhando na labuta parlamentar, como qualquer outro neófito da política, Nobre ou não.»

Pelos vistos, isso não aconteceu: Fernando Nobre abandonou o Parlamento.

domingo, 3 de julho de 2011

A Esquerda é mais liberal que a Direita? - Parte III

A pergunta que dá o título a esta série de textos foi colocada aqui, e o texto anterior pretendeu mostrar alguns dados que lançam luz sobre a questão. É interessante procurar as causas destas diferenças, por exemplo ao nível dos valores morais que suportam as convicções políticas. Afinal, muitas das diferenças políticas entre aqueles que ponderaram melhor sobre as suas convicções políticas e estão mais informados reflectem diferenças de valores morais.

É possível encarar uma perspectiva que divide a sensibilidade moral das pessoas em cinco categorias, que passo a descrever:

-Magoar/Cuidar: é condenável provocar sofrimento desnecessário a terceiros; é louvável ajudar terceiros; é louvável proteger os mais fracos

-Justiça/Reciprocidade: é louvável a gratidão; é louvável castigar os que agrediram outros

-Pertença ao grupo/Lealdade: é louvável defender os interesses do grupo acima dos interesses do próprio; é condenável o abandono do grupo; é condenável criticar o grupo

-Autoridade/Respeito: é louvável obedecer à autoridade instituída; é condenável criticá-la

-Pureza/Santidade: é condenável o que nos provoca naturalmente um sentimento de repulsa, tudo o que é «contra-natura»; é condenável o hedonismo; é louvável o auto-controlo no que diz respeito aos prazeres hedonistas


Qual é a sensibilidade moral de um liberal? Quais destas dimensões deveriam ser mais salientes?
Tratando-se de um liberal, dificilmente seria mais saliente a dimensão relativa ao respeito pela autoridade instituída; ou a lealdade entre o grupo. Ou não sejam o totalitarismo e o colectivismo - duas coisas que o liberalismo vê como abejctas - o corolário da aceitação desses valores morais.
Pelo contrário, para um liberal o valor que a lei deve proteger é fundamentalmente o segundo (justiça/reciprocidade), talvez em certa medida o primeiro (magoar/cuidar), dependendo da sensibilidade moral do liberal em questão.

No entanto, quando comparamos as pessoas de Esquerda e de Direita nos EUA, repetidamente se verifica que são as que se identificam como sendo de Direita aquelas que dão mais valor à terceira e quarta componentes (e à quinta, também); sendo (em termos relativos) as pessoas de Esquerda aquelas que mais valorizam as duas primeiras.



As pessoas de esquerda nos EUA são designadas como «liberals», mas a palavra tem lá um significado diferente daquele que damos na Europa, e daquele que corresponde à sua origem etimológica.

Aquilo que é curioso é que estes estudos demonstram que, de acordo com o significado que nós (europeus) damos à palavra liberal, a esquerda nos EUA é significativamente mais liberal que a direita.



Temos alguma razão para acreditar que em Portugal acontece o oposto?
Não encontro nenhum fundamento para tal alegação.

sábado, 2 de julho de 2011

A Esquerda é mais liberal que a Direita? - Parte II

Vários autores tentaram definir escalas que medem a propensão para valorizar a autoridade de forma independente de qualquer convicção quanto à propriedade privada ou distribuição dos recursos. Elas podem ajudar-nos a responder às questões colocadas no texto anterior.

Uma das escalas refere-se às características que são mais valorizadas nas crianças. Traduzindo:

«Qual é que pensa que é a característica mais desejável numa criança:

a) "Independência" ou "Respeito pelos mais velhos"?
b) "Curiosidade" ou "Boas maneiras"?
c) "Ter empatia e consideração pelos outros" ou "Ser bem comportado"?
»

Parece claro que a primeira resposta a qualquer destas perguntas corresponde a uma sensibilidade mais liberal, enquanto que a segunda resposta manifesta um maior apreço pela autoridade instituída.


Eis outra escala que foi utilizada para aferir o autoritarismo (e, por oposição, o liberalismo), também independentemente de qualquer convicção quanto à distribuição dos recursos. Neste caso, era pedido às pessoas que respondessem se concordavam ou discroordavam com cada uma das seguintes frases:

«1. Existem muitas pessoas radicais e imorais no nosso país hoje em dia, que estão a destruí-lo tendo em vista os seus propósitos sem Deus, em relação aos quais as autoridades deveriam pôr cobro.

2. Não existe «UMA maneira certa» de viver a vida, toda a gente tem de criar a sua própria forma. (-)

3. O nosso país será destruído se não esmagarmos as perversões que destroiem a nossa fibra moral e as nossas crenças tradicionais.

4. Homossexuais e feministas deveriam ser louvados pela bravura ao ter desafiado os «valores da família» tradicionais. (-)

5. Cada um deveria poder escolher o seu próprio estilo de vida, crença religiosa e orientação sexual, mesmo que isso o faça diferente de todos. (-)

6. A única forma do nosso país resistir à crise que se avizinha é voltar aos valores tradicionais, pôr líderes duros no poder, e silenciar gente problemática que insista em espalhar más ideias.

7. O nosso país precisa de pensadores livres, que tenham coragem de desafiar o ponto de vista tradicional, mesmo que isso seja inconveniente para muitos. (-)

8. Aquilo de que este país realmente precisa, em vez de mais «direitos civís», é uma boa dose de lei e ordem.

9. Não existe nada de errado com o sexo antes do casamento. (-)

10. Obediência e respeito pela autoridade são as virtudes mais importantes que uma criança deveria aprender.
»

Parece claro que uma concordância com as afirmações assinaladas com (-) e discordância com a restantes corresponde a uma sensibilidade mais liberal, enquanto que o posicionamento oposto manifesta um maior apreço pela autoridade instituída.


Tendo em conta que, nos EUA, o partido Republicano dá mais valor à defesa da propriedade privada (quando em conflito com outros valores) do que o partido Democrata, se a perspectiva dos liberais de direita estivesse correcta, seria de esperar que os estudos empíricos demonstrassem que no partido Republicano existem mais liberais (de acordo com estas escalas) do que no partido Democrata.

Verifica-se precisamente o oposto.
Inúmeros estudos têm-no confirmado, veja-se este exemplo, e este, e mais este.

Mas há mais...

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Revolta na Síria é orquestrada pela CIA e pela Mossad

A CIA e a Mossad estão por detrás da revolta na Síria (e na Líbia também, parece). São auxiliadas por um príncipe saudita que recrutou mercenários não se sabe onde e estavam armas prontas para ser transferidas pelas fronteiras de Israel e da Jordânia. No entanto, o povo descobriu a marosca e sobressaltou-se em defesa do regime. Assad, forçado pelas manifestações pró-governamentais (muito maiores do que as anti), «empreendeu finalmente as reformas que há muito desejava e que a maioria da população travava por temer a ocidentalização da sociedade» (como as promessas de multipartidarismo). Mas «o plano de desestabilização da Síria está a funcionar mal (...) [porque] uniu a esmagadora maioria da população em torno do seu governo».
Tudo isto e muito mais no jornal oficial de um partido parlamentar. E escrito pelas teclas deste senhor.

A primeira grande mentira de Passos Coelho

A 1 de Abril, disse que não iria cortar no 13º mês. A 30 de Junho, depois das eleições ganhas, anunciou um corte de 50%. No dito 13º mês.

Linhas de defesa previsíveis: «a culpa é do governo anterior» (então, porque não previram isto? ou previram e não disseram?); «não foi uma mentira, foi uma promessa»; «não sabem que 1 de Abril é dia das mentiras?».

A Esquerda é mais liberal que a Direita? - Parte I

Em Portugal, associamos alguém que se refere a si próprio como «liberal» como sendo alguém de direita. Geralmente tende a defender menos impostos, menos prestações sociais, e diz tomar essas posições por apreço às liberdades individuais.

Se perguntarmos a um auto-intitulado «liberal» se os partidos e eleitores mais liberais estão associados aos partidos da direita parlamentar ou da esquerda parlamentar, dificilmente haverá hesitação: a extrema esquerda tem um projecto social totalitário - alegam - e o centro esquerda tembém defende uma sociedade colectivista e um estado paternalista.
Sim, existem conservadores à direita - concedem (embora alguns «liberais» considerem que o conservadorismo pode manter uma relação simbiótica com o liberalismo) - mas o eleitorado de esquerda é certamente menos liberal que o eleitorado de direita.

Será que assim é?
Será que o eleitorado de direita é mais liberal que o de esquerda?
Ou acontecerá precisamente o contrário?

Para já, gostaria de explorar a hipótese que se pretende testar, recorrendo a dois diagramas.
Idealizem-se dois eixos. Um deles é relativo ao binómio autoritarismo vs liberalismo; e outro é relativo à importância da propriedade privada enquanto valor fundamental: num extremo esse valor é tão importante como a defesa da vida humana contra a violência, noutro extremo ela não tem valor algum.

Se o liberalismo for conceptualmente inseparável de uma forte protecção da propriedade privada, tenderemos a ver - em termos da distribuição do eleitorado por posição ideológica - uma forte correlação entre o liberalismo expresso nas questões que não se referem à propriedade e a defesa da propriedade privada. Sendo que os partidos de direita tendem a defender uma maior protecção da propriedade privada, a afirmação de que a direita é mais liberal que a esquerda será perfeitamente justificada.



Mas se o liberalismo for conceptualmente separável dessa protecção (que, como alegam os anarquistas, é ela própria uma imposição das maiorias), é possível que a barreira histórica que separou a Esquerda e a Direita na revolução francesa ainda seja aquela que actualmente ocorre nos nossos dias. Isto implica a situação quase oposta:



Nesta figura, o eixo vermelho corresponde ao tradicional eixo esquerda-direita, de acordo com a perspectiva da esquerda: para a direita sistemas onde existe maior desigualdade política e económica, para a esquerda a luta dos menos poderosos contra o poder instituído, por uma sociedade mais justa. (Note-se que os pontos a rosa relativos ao grupo social democrata não tem qualquer relação com o eleitorado do PSD, ou não tivessem a cor mencionada).

Na primeira figura, o eixo azul corresponde ao mesmo eixo, mas de acordo com a perspectiva dos liberais de direita: para a direita uma maior defesa das liberdades individuais, económicas ou políticas, para a esquerda uma maior defesa do colectivismo e do poder do estado.

Qual destes mapas está mais perto da realidade? Em Portugal, tanto quanto sei, não existem estudos que nos possam dar uma resposta directa*. Mas estudos efectuados nos EUA podem ajudar a dar uma resposta a esta questão.
Nos próximos textos pretendo expor estes dados.

*Nos comentários o Miguel Madeira menciona um que teria conclusões semelhantes aos outros referidos.