Espanta-me o silêncio da «esquerda» perante o fim do feriado do 5 de Outubro. Eu sei, existe uma ofensiva em curso contra os direitos laborais e anuncia-se a privatização dos serviços públicos. Mas os feriados que um regime celebra são mais do que simbólicos. São a cor do regime. E tirando intervenções como as de Mário Soares e Manuel Alegre, ouço um silêncio estranho. De todos. Do PS, do BE e do PCP. E ainda mais absurdo (embora menos espantoso) é o silêncio perante a subserviência à ICAR.
A esquerda vive desde o 25 de Abril entre derrotas e intervalos entre derrotas. Com a direita no poder (AD, Cavaco, Passos), o regime vira sempre bastante à direita. Com o PS no governo, gere-se o centro sem reverter nada do que a direita fez. É assim porque nunca houve governos de esquerda desde 1976, só governos do PS. E não é a mesma coisa.
Seguro deveria comprometer-se desde já com o regresso do feriado do 5 de Outubro. Não o fazer, mostra que nem uma batalha por algo tão fundamental está disposto a travar.
5 comentários :
Foi a pensar em situações como esta que o Maquiavel propôs que o governante fizesse o bem aos poucos e o mal todo de uma vez, e é isso que este governo está a fazer. São tantas coisas más que as pessoas nem sabem para que lado se virar. Eu discordo totalmente da supressão destes feriados históricos, mas para a maior parte das pessoas é presentemente muito mais preocupante o novo código laboral ou a nova lei do arrendamento. Não perceber isto é andar completamente alheado do povo.
Filipe,
concordo. O mal é tanto, são tantos os atentados, que é difícil priorizar um ou outro. Mas queria mesmo era saber a tua opinião sobre o segundo parágrafo.
Mas neste caso do 5 de Outubro as coisas estão interligadas: acabar com feriados também vai agravar o problema do desemprego.
João Vasco,
não me parece que acabar com feriados seja relevante para o desemprego.
Tem alguma relevância. A supressão de um feriado faz aumentar as horas de trabalho por ano de 1832 para 1840, que é um aumento de 0,43%. Mais coisa menos coisa pode ter uma influência na taxa de desemprego na ordem das décimas (e cada décima são logo 5500 pessoas que passam a viver a angústia do desemprego, mais coisa menos coisa).
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