domingo, 16 de maio de 2010

Ponto sem contraponto: da ignorância de Pacheco Pereira

Nunca prestei muita atenção, mas Pacheco Pereira tem um tempo de antena na SIC que se chama «Ponto Contraponto». Hoje, por puro acaso, assisti ao «espaço de opinião», em que o conhecido mediocrata, de longa data obcecado com o controlo da comunicação social (há quase vinte anos, chegou a conseguir que não houvesse notícias sobre a AR durante semanas), se entretém a comentar os media e a distribuir notas de «bom trabalho» e «mau trabalho» conforme o seu gosto pessoal.

O exemplo de «bom trabalho» dado por Pacheco foi a cobertura da visita de Ratzinger feita por Anselmo Borges e Vilas-Boas. O chocante é que nenhum dos dois se esforçou por manter a mínima neutralidade, e o segundo, embora seja jornalista, acha que a sua obrigação é relatar os seus êxtases místicos em plena emissão radiofónica.

A seguir, piorou. O exemplo de «mau trabalho» foi o facto de os media, durante dias, terem esquecido «o país», e não ter havido «notícias». Ainda arregalei os olhos e arrebitei os ouvidos, por uma fracção de segundo. Mas não era da cobertura exaustiva do microfone de ouro do Papa, dos sapatos do Papa, das crianças que foram ver o Papa, do que o Papa disse ou não disse, que Pacheco falava. Falava do Benfica. Pasmei.

A seguir, pior ainda: uma peça da SIC em que se dizia tudo o que é verdade sobre o Vaticano e que raramente é dito (que é o Estado mais pequeno do mundo, que deve a sua independência a Mussolini, que não tem separação de poderes entre legislativo, executivo e judicial, que tem 800 «cidadãos»), foi criticada porque se referia ao Vaticano como uma «monarquia absoluta», quando, segundo Pacheco, «até tem regras de Estado democrático». Não vou comentar este último disparate, até porque não foi fundamentado. Mas que Pacheco se escandalize por os jornalistas  da SIC se referirem ao Vaticano como uma «monarquia absoluta» só mostra a ignorância da pachequiana figura. É que a própria página oficial do Estado do Vaticano descreve o governo local como uma monarquia absoluta. Aqui vai em castelhano, para ele não dizer que é da tradução: «la forma de gobierno del Estado es la monarquía absoluta. El Jefe del Estado es el Sumo Pontífice, que tiene plenos poderes legislativo, ejecutivo y judicial».

Mau trabalho, Pacheco. Péssimo trabalho. Já ouviste falar do Google?

3 comentários :

Joaquim Moedas Duarte disse...

Este país volta a estar nas mãos dos beatos e dos mais papistas que o Papa.
Pacheco Pereira é insuportável!
Por isso é bom que haja quem malhe nele, como deve ser!

Viseu Esquerda disse...

Bem apanhado. Ontem também fiquei parvo ao tropeçar neste monólogo monocórdico e não diria melhor.
É de pasmar e a ideia que me veio logo também foi de que o homem se ia referir à medíocre cobertura da visita de Ratzinger pelos media, aos chouriços infinitos que se iam metendo, à ditadura da imagem, às horas infindáveis de transmissão... Mas não, P.Pereira referia-se às 2 horas que a RTP dedicou à cobertura da festa benfiquista!
Inenarrável este sr. Depois ainda veio dar um raspanete pela única peça factual transmitida pelas TVs. Incrível!
Nota: penso que na referida peça não se fal de Mussolini, apenas nos anos 30... Também já era pedir muito e a jornalista ainda corria o risco de ser excomungada/despedida tão uníssono que tinha sido o coro mediático.
Bem apanhado!

Filipe Castro disse...

O pior problema dos revolucionários (ou dos reformistas!), desde a Idade Média, é que a maioria das pessoas estão bem assim, na ignorância e na superstição, e odeiam quem lhes vem destruir as ilusões com factos.

O Pacheco Pereira prefere acreditar que o Vaticano é um estado democrático, que George W Bush foi um presidente excelente, e que quando morrer vai para o céu. E nós andamos para aqui a gritar-lhe coisas horríveis sobre a realidade. :o)