Tenho respeito por Guilherme Valente e um grande reconhecimento pela sua obra enquanto editor. No entanto se, tal como ele afirma, o problema da educação é "ideológico", as soluções propostas pelo grupo "anti-eduquês" de que faz parte (e repetidas por Nuno Crato no programa) não o são menos, e não podem merecer o meu acordo (começando por "descentralizar" a escola, que é o primeiro passo para instituir as escolas para a elite e as escolas para a ralé).
Sem querer fugir aos aspetos ideológicos, talvez seja mais construtivo começar por identificar os problemas não-ideológicos (e cuja resolução também não o seria). O problema que abordo no meu texto A roupa não faz o profissional é também um problema de educação: dá-se mais valor à aparência que ao conteúdo. Tal como é dito no programa: mais do que aprender, quer-se sobretudo obter facilmente um diploma. Isso não é ideológico, e deveria ter sido bem focado no programa. Para evitar que continuem a acontecer situações como a da própria página web do programa, que chama "Professor" a Guilherme Valente. Guilherme Valente é tão professor como Mário Crespo-
5 comentários :
Descentralizar já foi feito. E duvido que as pessoas se tenham apercebido do que isso significa, no essencial: colocar mais cargos de nomeação nas mãos dos autarcas. E facilitar a escolas «à la carte», com variações locais não apenas da pedagogia, mas também, a seu tempo, dos programas. O que vai dar disparate do sério.
Houve aspectos muito válidos no programa, como a denúnci de uma filosofia pedagógica que acredita na desresponsabilização do indivíduo, que desdenha a excelência, que desconfia da matemática, do analítico, de qualquer tentativa de abraçar o bjectivo.
Tenho pena que estes pontos, válidos e interessantes, que Gilherme Valente ia fazendo fossem obscurecidos pela "conversa de café" do "taxista" Medina Carreira.
Como é que as pessoas têm tanto fascínio por alguém que, por muito válido que tenha sido no passado, não sei se foi ou não, hoje limita-se a fazer variações do "eles só querem é poleiro", "aos políticos de agora era metê-los na cadeia e deitar fora a chave". Em alturas de enorme frustração até posso fazer discursos parecidos, mas ao menos tenho consciência de que isso não passa de um desabafo inútil. Útil é pensarmos naquilo que devemos fazer face à stuação actual, não caírmos na ladaínha de "os políticos são tão maus" como se a culpa não fosse nossa, eleitores.
"quer-se sobretudo obter facilmente um diploma. Isso não é ideológico"
Pois não, é social, o que é muito pior.
O problema é alguns dos problemas da educação serem essencialmente, principalmente, problemas da sociedade.
Ora, é difícil e impopular criticar a sociedade, e é muito difícil exigir que ela mude. É muito mais fácil refugiarmo-nos no combate ideológico.
Luís Lavoura
"descentralizar a escola, que é o primeiro passo para instituir as escolas para a elite e as escolas para a ralé"
Não vejo que tenha que ser necessariamente assim.
É claro que a descentralização tem que ser acompanhada de medidas que garantam que as escolas satisfazem padrões (e programas escolares) mínimos.
Já hoje, aliás, isso existe, por exemplo nos infantários. A maior parte dos infantários são privados e são, naturalmente, muito diversos. No entanto, os educadores têm que realizar uma avaliação padronizada (pelo Ministério) das aptidões e da evolução das crianças.
Eu considero ridículo muitas coisas que as crianças hoje são forçadas a aprender e que são totalmente desajustadas da realidade cultural atual. Penso que isso se pode resolver parcialmente, precisamente descentralizando a escola.
Luís Lavoura
"dá-se mais valor à aparência que ao conteúdo. Tal como é dito no programa: mais do que aprender, quer-se sobretudo obter facilmente um diploma. Isso não é ideológico, e deveria ter sido bem focado no programa. Para evitar que continuem a acontecer situações como a da própria página web do programa, que chama "Professor" a Guilherme Valente. Guilherme Valente é tão professor como Mário Crespo"
È verdade e concordo em absoluto. Mas quando esses maus exemplos já vêm de cima, daqueles que, supostamente, devia ser bons exemplos, está tudo dito.
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