- «O poder de um ditador dificilmente se pode chamar república. Poder de 1 = mono + arquia. (...) Uma República que não tem eleições livres, que não tem separação de poderes e que tem um ditador vitalício, a que só uma cadeira teve a coragem de pôr fim, é uma impossibilidade conceptual. O fascismo português, baptizado de «corporativo, democrático-orgânico e anti-parlamentar» como então se aprendia no 7.º ano dos liceus, na OPA, é o que queiram chamar-lhe mas, na minha opinião, não foi república.» (Ponte Europa)
- «É, com efeito, muito simples: se proibimos o desrespeito - de bom ou mau gosto - pela homossexualidade, como não o proibiremos pela sexualidade em geral? Se o proibimos pelo casamento homossexual, como não o proibiremos pelo casamento tout court? Ou pelas convicções políticas e religiosas? Ou pelas tradições culturais?» (Vias de Facto)
segunda-feira, 31 de maio de 2010
Revista de blogues (31/5/2010)
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6 comentários :
"E, avançando um pouco mais, se proibimos a expressão de concepções politicamente incorrectas, que têm como corolário, a serem aplicadas, a opressão ou discriminação de certos grupos ou mesmo do conjunto do género humano, a quem confiaremos senão às autoridades do Estado a definição da correcção política, legitimando o seu poder de limitar a liberdade ao que a sua autoridade entender como correcto?"
Se recomendas um texto, mesmo que só destaques uma parte, estás a recomendá-lo todo. Tu concordas mesmo com o que eu transcrevi acima, Ricardo?
O Miguel Serras Pereira tem vindo a ser criticado (mesmo dentro do seu próprio blogue) por algumas enormidades que escreveu hoje. Este texto, naturalmente relacionado com o outro criticado, nomeadamente o trecho que transcrevi, não lhe fica atrás.
"Para não irmos mais longe, uma porção não despicienda de criações discursivas que foram obra de homossexuais não escaparia à aplicação dos critérios de censura que seria necessário legitimar para criminalizar as cantigas imbecis do tipo atrás referido. Como não escapariam à censura muitas das canções de Brassens, que tão frequentemente tomam por alvo tanto as versões puritanas como as reciclagens fracturantes da servidão voluntária e da imbecilidade auto-satisfeita do "sexualmente correcto"."
O Carlos Vidal não diria melhor.
Sim, Filipe, estou de acordo com todo o texto, embora só tenha citado a parte que me pareceu mais importante (para mim). Poderia também ter transcrito esta parte:
«É assim que a avidez de direitos particulares, muitas vezes redobrada pelos apetites das discriminações positivas, abre caminho à erosão e restrição da concepção democrática dos direitos de cidadania, e, no caso em apreço, à censura generalizada.»
Fundo da questão: o Quim Barreiros tem o direito de cantar canções de mau gosto, e mesmo ofensivas. Proibi-lo de as cantar seria grave. E a seguir, exactamente com os mesmos argumentos, teríamos de proibir a «parada do orgulho guei», que para muita gente é de mau gosto e ofensiva.
E o que tem o Carlos Vidal a ver com isto?
A referência ao Vidal tem a ver com a apologia da pureza da arte, neste caso do Brassens. Isso é o menos importante.
A verdade é que eu discordo (e não é pouco) de muitos pontos deste texto.
Eu leio o primeiro parágrafo que transcrevi e não quero acreditar. Prefere "a opressão ou discriminação de certos grupos ou mesmo do conjunto do género humano" a confiar às "autoridades do Estado a definição da correcção política, legitimando o seu poder de limitar a liberdade ao que a sua autoridade entender como correcto?"
Para além de que muitos dos direitos em questão não são "particulares". (Eu nem gosto muito de discriminações positivas.)
Atenção. A questão fundamental do texto do MSP (parece-me a mim...) é a defesa da liberdade de expressão. Não é a defesa da «opressão ou discriminação de certos grupos ou mesmo do conjunto do género humano». É a defesa da liberdade de expressão desses pontos de vista.
Pois, Ricardo, e ele defende uma liberdade de expressão total, mesmo que implique "a opressão ou discriminação de certos grupos ou mesmo do conjunto do género humano". O texto é honesto, mas eu não estou nada de acordo.
Filipe,
vou repetir-me: o que esse texto defende é a liberdade de expressão para quem defende «a opressão ou discriminação de certos grupos ou mesmo do conjunto do género humano». Não defende a dita «a opressão ou discriminação de certos grupos ou mesmo do conjunto do género humano». Eu também acho asqueroso o que defendem, por exemplo, os negacionistas, mas acho que não devem ser criminalizados por negarem factos históricos.
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