Um texto muito curioso de Óscar Mascarenhas no Jornal de Notícias.
- «Vá lá saber-se se foi Marx quem os iluminou, mas o facto é que os líderes da direita portuguesa têm uma noção perfeita da natureza da classe que pretendem conduzir. Perceberam que a burguesia, aqui ou em qualquer lado, tem uma reacção idêntica perante as dificuldades: enche-se de medo e, como os pioneiros do faroeste, fecha em círculo as carroças, prontos a disparar para fora. Quem está de fora? Os pobres. A partir daquele momento, os pobres são um perigo. São 'o' perigo. Só deles pode vir o mal. Chumbo neles. (...)
- No fundo, a burguesia projecta no pobre o comportamento que teria se estivesse na condição deste: antes de ser 'loser', faria batota, fugiria aos impostos a que ainda não se atreve a fugir, roubaria se fosse preciso.
A burguesia não tem a lucidez e os seus líderes não têm a honestidade de identificar os culpados - os ricos - das suas tribulações: a burguesia, por idolatria aos 'winners', os vencedores; os seus líderes, por respeito de capataz a quem manda neles.
Começou Paulo Portas com a cruzada contra o rendimento mínimo, pintando os seus beneficiários (?) como vadios, calaceiros, ladrões da coisa pública. Por isso, exige que a verba seja paga em géneros, não vá o malandro gastá-la em vinho ou tabaco. Percebe-se: na sua base de apoio na 'lavoura' e nas empresas, sabe-se como certos subsídios são convertidos em jipes, iates ou fundos em 'off-shore', com a diferença de que cada um destes desvios vale por milhares de subproletários que recebam ilegitimamente o óbolo; e com a outra diferença de que estes são espiados e denunciados pelos seus iguais.
Para não ficar atrás, Pedro Passos Coelho inventou o trabalho comunitário gratuito para o desempregado. Só para humilhar: porque hão-de os jovens burgueses, quando se embebedam e espatifam o automóvel, ter de cumprir horas de serviço comunitário por sentença do tribunal e o malandro do ocioso não há-de estar ali também, para que aprenda? (...)»
2 comentários :
O grande Óscar Mascarenhas agora escreve no JN? Só isso já é um motivo para ler o diário do Porto (no DN temos que levar com o Jorge Fiel, que nunca deveria ter saído do JN). Terá ficado a substituir o Mário Crespo? Se foi assim, o JN ganhou muito com a troca.
É pá, camaradas, calma que os camaradas socialistas estão a resolver o problema da melhor maneira: extinguir os cagarolas burgueses, também conhecidos pelo eufemismo "classe média".
Na verdade os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais e mais pobres. Do lado dos ricos ficam os que já eram ricos e os camaradas do Partido (Socialista) sendo que estes últimos servem para dizer aos pobres que estão a tratar mal dos outros ricos (ainda que depois o que estejam a fazer com os todos eles fiquem cada vez mais ricos).
Do outro lado ficam os pobres cada vez em maior número e mais pobres, logo, mais dependentes e dispostos a acreditar em quem lhes prometa a lua e desejos de que haja quem tome conta deles contra os ricos.
Entretanto a burguesia deixa de ser cobarde e passa a ver valente porque alguns (poucos) ascenderam a ricos pela mão do PS e os outros (quase todos) passaram a pobres e aprenderam a ser pedinchões, a gritar esganiçados contra a malvadez dos ricos, a desdenhar a cobardia dos burgueses e desejar que alguém tome conta deles.
E assim a sociedade fica mais socialista do que antes.
Abaixo a burguesia e viva o socialismo.
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