Ao mesmo tempo, como cientista, não condeno a referida decisão, embora não quisesse passar por ela. Sei o que move os cientistas, reconheço e respeito a vontade de querer estar sempre na linha da frente, mesmo que graças a isso se sacrifiquem outros valores que consideramos importantes. E sobretudo sei o que é a pressão por ter de produzir resultados, por não ficar para trás nos concursos, por publicar artigos para (no caso dos bolseiros e mesmo dos contratados) poder concorrer à bolsa ou ao contrato seguinte. Se os houver, onde e quando os houver. Sem nunca saber como será o amanhã. Um laboratório constituído por gente assim - e é gente assim que constitui e produz a maioria da nossa ciência - não pode parar. E tem de fazer tudo para não parar. Mesmo o que não acha aceitável.
Quem toma uma atitude destas não o faz por patriotismo: em grande parte dos casos não é português ou, mesmo que o seja, não sabe onde vai trabalhar a seguir, podendo ser em Portugal ou não. Pode ter escolhido o laboratório onde trabalha, mas em grande parte dos casos o facto de esse laboratório ser em Portugal não tem importância nenhuma. Quem toma uma atitude destas fá-lo, nalguns casos, por ambição; noutros (a maioria) por desespero. Nunca por "patriotismo". Se o Daniel quer entender um pouco melhor como é fazer ciência, pode começar por ler esta entrevista (que em muitas coisas não subscrevo) de Rui L. Reis.
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