Num artigo de Janeiro, estimei que os cadernos eleitorais do território da República deveriam ter cerca de um milhão de «eleitores fantasma». Uns 10% do total, portanto. Vale a pena, como se verá, refazer o exercício apenas para o território madeirense.
Os censos de 2011 contaram na Madeira 267 938 pessoas. Subtraídos os menores de 18 anos (58 mil segundo a estimativa do INE) e mais uns três mil imigrantes, ficamos com 207 mil residentes na Madeira com direito de voto. E quantos estavam inscritos para votar ontem? Uns «meros» 256 mil. Ou seja: há 50 mil eleitores «a mais» registados para votar na Madeira. Que podem estar mortos, emigrados ou terem-se mudado para o «cont´nente». De qualquer modo: 19% do registo eleitoral madeirense é permeável a fraudes. É o dobro da proporção nacional de «fantasmas», e pode portanto concluir-se com toda a justiça que a Madeira está mesmo assombrada...
3 comentários :
Eu conheço uma madeirense que me disse que praticamente nunca votou, porque reside em Lisboa mas mantem-se recenseada na Madeira.
O caso é que, até há pouco tempo, explicou-me ela, uma pessoa residente na Madeira beneficiava de reduções substanciais no preço dos bilhetes da TAP em viagens ao Continente. Por esse motivo, todos os madeirenses se esforçavam por permanecê-lo, mesmo residindo regularmente no Continente, como ela. Ela disse que atualmente esse benefício já é insignificante, dado que há companhias low cost a voar para a Madeira, as quais cobram, de qualquer forma, preços muito reduzidos e inferiores aos da TAP; pelo que, segundo ela me disse, já não há verdadeira razão para as pessoas se manterem recenseadas na Madeira.
Já agora, o mesmo argumento é válido para os Açores. Também conheço açorianos que, apesar de residirem regularmente no Continente, mantêm-se recenseados nos Açores. E para os Açores não há low cost...
Açores? Vamos lá ver...
Os censos deram 246 102. Tiramos 62 mil para a população jovem, e mais três mil para os imigrantes. Ficam 181 mil. Os inscritos nos cadernos eleitorais são 222 mil. Resultado: 18.5% de «fantasmas». Quase o mesmo que na Madeira (19.1%), só ligeiramente inferior.
Em ambos os casos, muito acima da média nacional.
Pois, muito acima da média nacional, tanto nos Açores como na Madeira, e precisamente pela mesma razão: porque os migrados para o Continente têm uma forte motivação - vôos mais baratos para a região de origem - para se manterem recenseados nas ilhas.
Ou seja: mesmas causas, mesmas consequências.
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