Não deve ter acontecido hoje na América nada mais triste do que a minha reunião. As pessoas aqui aceitam a brutalidade dos ricos como aceitam o clima. Estava a ouvir estas senhoras, encantadoras, a reiterarem pela centésima vez as mesmas ideias e a escreverem, pela centésima vez, a mesma carta aos homens que mandam na universidade que se estão completamente nas tintas para os problemas das delas e do campus.
Estava a fazer desenhos num caderno e a pensar nas diferenças entre Portugal e os EUA. Não havia ninguém estúpido nem ignorante naquela sala. Toda a gente sabe as diferenças entre a minha universidade e Harvard ou Princeton. Acho que aqui a raiz do problema é o calvinismo e a aceitação cega da realidade como a vontade do deus deles.
Em Portugal há sempre um número de mamíferos em cada comissão que vai às reuniões para se ouvir e que faz fintas com a bola durante o tempo todo, sem se interessar minimamente onde é a baliza. Mas acho que o problema maior em Portugal não é a estupidez das pessoas (promovidas porque são amigas do director, ou são da maçonaria, ou do Opus Dei, ou são gay, ou são do partido...), mas a sabedoria ancestral:
1) Os portugueses sabem que em Portugal não há cola social, ninguém mete o pescoço por ninguém e portanto é impossível organizar seja o que fôr. Uma vez fui a casa de um dirigente da UGT e era uma moradia no Estoril e ele era casado com uma "tia" cheia de pulseiras pelos braços acima como as (e amiga das) namoradas do Santana Lopes. Em Portugal, os dirigentes são os primeiros a abandonar a luta no minuto em que se sentem confortavelmente instalados.
2) Os portugueses sabem que é perigoso provocar os ricos (ou os padres). Primeiro porque os políticos são as criadas dos ricos (e dos padres). Segundo porque os jornalistas são as criadas dos ricos (e dos padres). E terceiro porque os polícias são as criadas dos ricos (e dos padres).
A menos que nos caia em cima um ditador iluminado, não há grandes incentivos para acreditar no progresso social.
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