Estima-se que tenham morrido cerca de 170 mil pessoas como consequência dos produtos de fissão altamente radioactivos espalhados na atmosfera depois dos ensaios nucleares realizados na atmosfera até 1963 ("De Tchernobyl en tchernobyls", Georges Charpak, Odile Jacob, pag. 94, 2005). Depois de 1963 os ensaios atmosféricos foram proibidos. Agora que se discute abundantemente o nuclear, convém referir que depois de Hiroshima esta catástrofe nuclear, os ensaios atmosféricos, foi a que fez mais mortos, embora de carácter invisível, pouco conhecida, difusa em todo o planeta, mas bem real.
quinta-feira, 31 de março de 2011
Ensaios nucleares
Estima-se que tenham morrido cerca de 170 mil pessoas como consequência dos produtos de fissão altamente radioactivos espalhados na atmosfera depois dos ensaios nucleares realizados na atmosfera até 1963 ("De Tchernobyl en tchernobyls", Georges Charpak, Odile Jacob, pag. 94, 2005). Depois de 1963 os ensaios atmosféricos foram proibidos. Agora que se discute abundantemente o nuclear, convém referir que depois de Hiroshima esta catástrofe nuclear, os ensaios atmosféricos, foi a que fez mais mortos, embora de carácter invisível, pouco conhecida, difusa em todo o planeta, mas bem real.
O real governo de Portugal
Os Ministros das Finanças, Economia, Trabalho e mais umas coisitas:
A Secretária de Estado:
O tipo que quer ser Primeiro Ministro:
quarta-feira, 30 de março de 2011
Da especulação e a subida dos preços
Claro que há especuladores que manipulam o mercado para proveito próprio, mas achar que o fazem sempre no sentido que nos afecta, é no mínimo egocêntrico.
terça-feira, 29 de março de 2011
Uma terra sem senhorios
Começo por esclarecer o que defendo sobre o assunto: compreendo a necessidade de um mercado de arrendamento de casa: ninguém sai de casa dos pais, seja para estudar ou trabalhar, para ir viver para uma casa própria (a não ser que os pais sejam senhorios e tenham alguma casa vaga). Tal como um namoro não tem que dar em casamento, e um primeiro emprego não tem que ser com um contrato sem termo (é legítimo e lógico um período de teste e adaptação), pelas mesmas razões uma primeira casa não deve ser definitiva, pelo que o arrendamento é a opção mais sensata. Mas considero que, tal como o emprego estável, a habitação própria é uma aspiração legítima. (E uma coisa não pode ser vista sem a outra: quem fala em liberalizar as rendas é exatamente quem fala em liberalizar os despedimentos. A agenda é a mesma.)
No prédio onde vivo, a construtora decidiu pôr alguns apartamentos à venda e manter sob sua posse outros, para alugar. Nas reuniões de condomínio a construtora comporta-se como “acionista maioritário” e basicamente faz o que quer: gere o prédio como se fosse seu (e é em grande parte), pois é do seu interesse manter uma boa reputação sobre os prédios que constrói. Da minha experiência, este esquema funciona bastante bem. Conheço outros casos semelhantes noutras cidades.
Bem diferente é aquilo de que o Miguel fala: “investir em habitação para arrendar por parte dos possíveis proprietários.” Quem compra uma casa somente com a intenção de a arrendar não está verdadeiramente interessado nela, pelo que não fará a melhor manutenção: está somente interessado nas rendas ao fim do mês. (E não me venham com a história das “rendas baratas” que não permitem obras de conservação: nas casas mais recentes e com renda mais alta a situação é a mesma – mais abaixo voltarei a este assunto.) Direi mais: quem compra uma casa (no passado era frequente ver-se prédios inteiros a serem assim comprados pela mesma pessoa – e é esta a situação da maior parte das casas antigas que o Miguel refere) somente com a intenção de a arrendar opta por uma renda segura, sem grande responsabilidade e sem nenhum esforço. Esse seu rendimento resulta somente das suas posses e em nada do seu trabalho (é análogo a um rendimento especulativo) – quem assim procede só está a criar riqueza para si e não está a beneficiar minimamente a sociedade. Embora estejam longe de serem os meus modelos, tenho mais respeito por empresários como Belmiro de Azevedo ou Américo Amorim que por estes senhorios, que nem sequer a casa construíram. A senhorios deste tipo o presidente da Câmara Municipal de Lisboa chamou, a meu ver com toda a legitimidade, “parasitas”.
Resultados eleitorais expectáveis de uma coligação BE+CDU
Memórias de uma campanha suja
- «Em 2004 eu trabalhava para a agência que viria a fazer a campanha que opôs Santana Lopes a José Sócrates (legislativas de 2005). Para os profissionais brasileiros vale tudo quando se está em campanha, e nesse tudo coube a criação do blogue Portugays onde mais do que se insinuou a homossexualidade do candidato socialista. Não satisfeitos com isto, que a imprensa portuguesa da altura ainda mal espiolhava a blogosfera como depois veio a fazer, um dos marqueteiros melhor relacionados com os jornais do Brasil pediu a um camarada que colocasse uma notícia dando conta da alegada ligação entre Sócrates e Diogo Infante que, como é óbvio, passou para a imprensa deste lado do Atlântico.» (Ricardo Gross)
segunda-feira, 28 de março de 2011
Tiros pela culatra na política económica - benefícios à compra de casa
O resultado é conhecido. Muitas famílias contraíram empréstimos ajudando a levar a dívida privada portuguesa a níveis insuportáveis. No centro do actual crise, e pior do que a dívida pública, cujo valor não se afasta muito da média europeia, temos a dívida privada acima dos 200% do PIB.
Crucifixos: uma decisão que não decide por nós
Todavia, desde 2005 que a Associação República e Laicidade questiona o Ministério da Educação, pedindo apenas uma circular que efective a não confessionalidade constitucional, retirando os crucifixos e cessando as cerimónias religiosas rituais que por vezes têm lugar nas escolas. E o ministério continua a fazer depender essa laicização, antipática para muitos, de um pedido explícito dos pais, empurrando os cidadãos para a constrangedora manifestação (pública) das suas convicções religiosas (privadas).
Existem portugueses crentes, católicos ou não; outros não têm religião, e são ateus, agnósticos ou indiferentes; o Estado não pode tomar partido por uns contra outros. E uma escola pública que seja veículo de difusão de uma religião, quer exibindo símbolos religiosos, realizando comunhões pascais ou tolerando proselitismos disfarçados de actividades transdisciplinares, toma partido por uma fracção da população e afasta-se da sua função unificadora e de formação dos futuros cidadãos nos valores democráticos. Uma parede nua, pelo contrário, não impõe a anti-religião.
Na sentença em que decidem que os crucifixos em escolas públicas italianas não violam a Convenção Europeia dos Direitos do Homem, os juízes de Estrasburgo assumiram que a sua decisão seria diferente perante provas de que, no caso concreto em julgamento, a presença daquele símbolo religioso fosse pretexto para doutrinação religiosa, proselitismo ou cerimónias religiosas. Remeteram a regulação da questão para o âmbito interno de cada Estado, e frisam na 2.ª sentença que são poucos os Estados que, como a França ou a Polónia, especificamente proíbem ou obrigam à presença desses símbolos.
Em Portugal, a inacção do Governo tornou um enquadramento constitucional mais próximo do francês numa vivência concreta que, localmente, pode ser quase polaca. É esse o caso da Madeira, onde um recente despacho do Governo regional ordenou a manutenção dos crucifixos, desafiando a Constituição e a Lei da Liberdade Religiosa, mas sem reacção do Governo da República, sempre tíbio perante aquela autonomia.
Os argumentos de tradição, maioria social ou "identidade cultural" foram desconsiderados na sentença. Recorde-se que a tradição dos crucifixos nas escolas portuguesas data de 1936, quando foram impostos como "símbolo da educação cristã determinada pela Constituição" (a de 1933), através da mesma lei que instituiu o livro único e a Mocidade Portuguesa.
A sua permanência, com uma Constituição (a de 1974) omissa em referências religiosas e que preconiza a não confessionalidade do ensino, é um resquício fossilizado da instrumentalização da religião para legitimar uma ditadura felizmente defunta. E a maioria não pode impor à minoria símbolos religiosos: seria esquecer que a liberdade é, sempre, individual.
A sentença do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem mantém a questão em aberto: confessionalismo ou laicidade?
(Diário de Notícias, hoje; ler também o artigo de António Marcelino.)
domingo, 27 de março de 2011
BE + CDU coligados?
Poderia estar em causa o surgimento de uma coligação pré-eleitoral, ou um acordo de coligação pós-eleitoral, ou algo do tipo.
Assinei, e considero desejável que a petição seja bem sucedida por várias razões:
a) o discurso do BE e do PCP carece, a ver de muitos, da credibilidade que tem um partido que tem hipóteses - por pequenas que sejam - de vir a exercer o poder nas próximas eleições. Esta possibilidade torna mais difícil um certo tipo de demagogia. Assim, os eleitores podem ser beneficiados pelo facto destes partidos terem um discurso mais credível, o que é positivo não apenas para estes partidos, mas para a própria democracia.
b) nos órgãos de informação social, em particular na televisão e na rádio, e no que diz respeito à discussão sobre economia, há uma falta de pluralismo que tem vindo a prejudicar toda a esquerda. O pensamento económico é apresentado de forma distorcida, o que inclusivamente leva muitas pessoas a pensar e repetir o disparate de que a economia é quase uma «ciência de direita». Não é.
O enviesamento perpetrado por estes órgãos, que tanto prejudica um debate político honesto e equilibrado, torna-se mais difícil havendo três alternativas de governo sobre a mesa. O discurso à esquerda do PS não poderá ser ignorado da mesma forma, o que beneficiará a esquerda no seu todo.
c) o panorama político português poderá mudar irreversivelmente no sentido de se tornarem mais comuns as alianças entre diferentes partidos de esquerda, e a negociação associada.
Assim, um eleitor de esquerda, mesmo que não pretenda votar nestes partidos, tem boas razões para subscrever esta petição.
Tiros pela culatra na política económica - controlo de rendas
As consequências de longo-prazo são desastrosas, ao ponto de a crítica a esta política ser hoje consensual.
1. Deixou de haver interesse em investir em habitação para arrendar por parte dos possíveis proprietários. Isto levou a uma enorme redução do mercado de arrendamento, à dificuldade de arrendar casa criando uma enorme imobilidade da população, ao aumento dos preços de arrendamento, etc.
2. Deixou os que já eram proprietários sem fundos. Os centros de Lisboa e Porto são cidades fantasma, com prédios degradados e/ou abandonados porque os proprietários deixaram de ter possibilidade e interesse em renovar as habitações. Chegou-se a uma situação em que é mais barato deixar cair do que reconstruir.
3. Devido aos dois pontos acima, os centros das cidades esvaziaram-se, criando enormes problemas de ordenamento de território: os transportes públicos não estão onde as pessoas estão, percorre-se dezenas de quilómetros por dia, os equipamentos sociais não estão bem distribuídos, etc.
A Bloomberg tinha há um mês um excelente artigo sobre o caso português.
sexta-feira, 25 de março de 2011
Da ingenuidade
Em Portugal o fenómeno tem tido contornos diferentes. Não há crescimento nem dos extremos dentro do sistema (BE e CDS), nem dos extra-sistema. Observamos sim um crescimento de discursos pacíficos anti-sistema, um tanto ou quanto ingénuos*, sem ideias concretas mas com muito voluntarismo e energia. A histórica manifestação dos 30 ou 200 mil de há duas semanas, organizada totalmente fora do sistema, foi disso um excelente exemplo. Noto cada vez mais pessoas com poucas noções do funcionamento dos sistemas políticos e económicos, a discutirem a coisa pública.
Este voluntarismo tem a enorme bênção de aumentar a participação cívica em Portugal. Temo contudo que possa ser aglutinado pelos extremos anti-sistema, esses sim com ideias e propósitos bem concretos.
*Gosto particularmente de um conjunto de textos sem fonte, que tem circulado muito e tem sido referido frequentemente, onde a Islândia - cujo governo é liderado por sociais-democratas - é descrita como estando a atravessar a versão 2.0 da Comuna de Paris.
A demissão de Sócrates-2
Há um quarto de século que as eleições legislativas em Portugal são encaradas como a coroação de um César, que se considera sempre legitimado para governar sozinho mesmo que tenha uma maioria relativíssima, e que se esquece que a substância da democracia é negociar e fazer compromissos entre o programa apresentado ao eleitorado, e as medidas que se podem executar com os aliados parlamentares eleitos com igual legitimidade.
Há duas décadas que se sabe que a União Europeia, enquanto projecto essencialmente monetarista unindo Estados muito diversos social e economicamente, era vulnerável aos especuladores e aos interesses corporativos, e que facilmente seria, num momento de crise, dominada pela Alemanha. Que Merkel critique o Parlamento português perante o parlamento alemão é um sinal da hierarquia entre Estados que deixámos que se instalasse.
E nunca como hoje foi tão claro que o Estado português é pobre demais para sustentar parcerias público-privadas, contratos de associação, os desvarios de Jardim, os estádios de futebol e as oligarquias económicas que parasitam empresas públicas, monopólios naturais e negócios extraordinários.
Eleições, só por si, não resolvem nenhum destes problemas.
quinta-feira, 24 de março de 2011
As regras do jogo
Enquanto aceitarmos estas regras, que estão longe de ser democráticas, bem nos podemos regozijar com a saída de Sócrates ou a eleição de um novo governo, o sistema financeiro continuará a engordar às custas do nosso trabalho e o resto é conversa.
quarta-feira, 23 de março de 2011
Cavaco, igual a si mesmo
O sentido de Estado a que nos sempre habituou.
A propósito dos juros, vale sempre a pena lembrar...
Terra incognita
- «José Sócrates foi desafiado, na reunião da comissão política do PS, a deixar que o PS proponha a Cavaco Silva o nome de Jaime Gama para o substituir no cargo de chefe do Governo (...) a mensagem de Sócrates teve implícito que poderá ficar à frente dos destinos do partido, mesmo que não vença as próximas legislativas»
- «o ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, é considerado por Passos Coelho um bom interlocutor (...) para encetar uma nova fase de relações entre os dois principais partidos»
- «Mira Amaral defendeu, esta terça-feira, [que as] eleições devem ser antecipadas e que, depois, deve ser formada uma coligação entre o PSD, PS e CDS-PP»
- «Fernando Nobre entende que o Presidente da República deve deixar claro que o próximo Governo deve ter uma maioria muito alargada, incluindo desde o PCP ao CDS-PP»
Inside Job
Excelente, ao nível ou acima dos documentários de Errol Morris.
terça-feira, 22 de março de 2011
Guerra na Líbia
segunda-feira, 21 de março de 2011
Belgrado, Tripoli
Março 2011 - sob o pretexto de evitar os massacres que as forças líbias estão a cometer, as forças ocidentais bombardeiam alvos não-militares em Tripoli, a centenas de quilómetros dos ditos massacres.
Em ambos os casos apoiei inicialmente a intervenção ocidental para interromper os actos bárbaros levados a cabo pelos governos tiranos. Em ambos os casos fico sem perceber estes desvios militaristas criminosos, contrários ao direito internacional, que destroem qualquer credibilidade que a intervenção pudesse ter.
Subcontratação no sector nuclear
Grave também é verificar que estes trabalhadores subcontratados e pouco qualificados têm responsabilidades fundamentais para a segurança da central, responsabilidades essas que deveriam ser dos quadros da central, e mais preocupante ainda é perceber a pressão a que estes trabalhadores estão sujeitos para produzir bons relatórios de segurança.
domingo, 20 de março de 2011
Egipto: o princípio do fim da revolução?
sexta-feira, 18 de março de 2011
A mão invisível é solidária
O Japão pode contar com os mercados para recuperar do terramoto. Extinga-se o ministério do interior japonês. A bolsa, a caridade e a Opus Dei vão resolver tudo.
Mudar
quinta-feira, 17 de março de 2011
O mundo está perigoso
quarta-feira, 16 de março de 2011
Os apoiantes do PCP e do governo são tão parecidos...
Parece inegável que as manifestações de sábado passado constituíram um sucesso: por todo o país, no conjunto, foram provavelmente as maiores desde o PREC. Mas não foram um sucesso somente em termos de adesão: trouxeram definitivamente a precariedade para a ordem do dia. Nas próximas eleições legislativas, nenhum partido ou candidato a primeiro ministro poderá furtar-se a este tema: será provavelmente o assunto principal de campanha. E isto por si só é uma grande vitória.
O objetivo, plenamente conseguido, era só este: demonstrar que este problema é compreensivelmente uma das principais preocupações dos portugueses. A partir de agora, sim, vai começar o debate de ideias sobre como lidar com este problema.
Infelizmente, não me parece que os partidos políticos à esquerda, excetuando talvez o Bloco, estejam a compreender verdadeiramente o alcance de tudo o que se passou no sábado.
Do lado do PCP, todo este protesto é olhado com desconfiança, por não ter partido dos setores habituais, ligados (e por vezes controlados) por este partido. É claro que o PCP não deixa de saudar os manifestantes, mas desconfia deles por não participarem nas suas iniciativas. Do tipo “os malandros manifestaram-se no sábado passado, mas na manifestação da CGTP do próximo sábado só vêm os do costume”. Na blogosfera há vários exemplos de militantes e apoiantes do PCP que o afirmam explicitamente, como aqui e aqui.
Do lado do governo, é natural que haja algum desconforto e relutância. Uma manifestação, de certa forma, é sempre contra quem detém o poder, embora esta não fosse explicitamente uma manifestação contra o governo. Não teria ficado mal ao PS ter-se pronunciado sobre a mesma, de uma forma moderada, obviamente sem entrar em confronto com o governo. Afinal, o eleitorado base do PS revê-se, de uma forma creio que esmagadora, na manifestação. O estar a fingir que nada se passou (ou, pior ainda, a fazer graçolas de gosto duvidoso) revela um divórcio entre o PS e a sua base natural de apoio, e isso não augura nada de bom.
Não deixa de ser curioso que ambos os partidos, que divergem em tanta coisa, encarem a manifestação com a mesma desconfiança: por escapar ao seu controlo. Mais ainda no caso do PS: por não querer aceitar que lhe façam críticas. Mas não é essa a crítica mais habitual que se faz ao PCP? Não digo que os partidos devessem ter aderido à manifestação; agora, não deveriam fingir que nada se passou.
É notável que a maior manifestação desde o PREC não tenha sido convocada por nenhum partido, estando à margem deles. De certeza que o apoio explícito de um desses partidos só a enfraqueceria e levaria ao afastamento de muitos participantes. Não quero com isto alinhar num discurso bota-abaixo anti-partidos, que nunca foi o meu e que sempre me causou repugnância. Mas a verdade é que os dois partidos tradicionais da esquerda portuguesa estão fechados sobre si mesmos. Este atavismo é um dos maiores problemas da esquerda portuguesa, como eu não me canso de denunciar (por exemplo, aqui). Anteriormente queixava-me de estes partidos viverem de costas voltadas um para o outro (e a culpa é de ambos). Com as reações que vejo à manifestação da parte deles e ao sucesso que esta foi, apesar deles, ou por causa de eles lá não estarem, receio que estes partidos estejam de costas voltadas para uma grande parte da sociedade (daí o descontentamento do “povo de esquerda”). Se estes partidos continuarem assim (principalmente o PS), receio que passem uma grande travessia no deserto e que, por falta de comparência à esquerda, o poder acabe naturalmente à direita.
Portugal tinha tudo para ser pobre?
Pessoalmente não fui o maior entusiasta da construção do Aeroporto, TGV, e tenho sido crítico dos gastos relacionados com o Magalhães, os submarinos, os estádios, e o meu crivo para aquilo que considero gasto excessivo tem sido, ao longo dos anos nos quais estou atento à política nacional, relativamente apertado. O Estado deve ser criterioso na forma como gere o dinheiro dos contribuintes, e muitas vezes existem desperdícios devidos ao jogo de interesses dos políticos próximos do poder (PS, PSD, PP), que me revoltam profundamente não apenas pelo prejuízo concreto que causam à vida das pessoas, mas também pela injustiça dos mesmos.
Mas não é verdade que Portugal «esteja neste estado» porque os políticos se têm endividado desde o 25 de Abril. Aliás, afirmo o contrário: Portugal estaria bem pior se nenhum governante depois do 25 de Abril tivesse gasto mais do que aquilo de que dispunha.
E passo agora a fundamentar esta afirmação. Portugal é um país rico e desenvolvido, mas menos rico que a maioria dos países da UE. Porquê? A resposta óbvia está na boca de todos: são os políticos incompetentes e trapaceiros que nos governam desde o 25 de Abril, dirão. São as políticas de direita que têm vindo a ser seguidas desde essa data, dirá a esquerda. São as políticas de esquerda que têm vindo a ser seguidas desde essa data, dirá a direita.
Mas vejamos antes de onde pode vir a riqueza. Existem três sectores de actividade, e observemos quais as «vantagens comparativas», ou falta delas, de Portugal em cada um deles.
No que diz respeito ao sector primário, Portugal tem desvantagens comparativas face aos outros países da UE. O relevo do nosso solo não é o melhor para a agricultura, temos poucas planícies. O nosso clima não é o melhor para a agricultura, temos mais chuva no Inverno que no Verão (regra geral acontece o oposto) e uma distribuição muito assimétrica de pluviosidade durante o ano. A distribuição das propriedades do nosso território não é a ideal, temos alguns solos muito férteis, mas não assim tantos, etc. É possível, com políticas adequadas e uma boa gestão dos recursos hídricos obter rendimento da actividade agrícola em Portugal. Mas à partida, no que diz respeito à agricultura no geral, a nossa situação é menos propícia à criação de riqueza do que aquilo que acontece em grande parte da Europa (em particular França, Espanha, Alemanha, Irlanda). E se temos uma situação vantajosa em relação às pescas, já no que diz respeito a recursos minerais estamos longe de estar numa situação privilegiada. Se as economias dependessem fundamentalmente do sector primário, dificilmente Portugal deixaria de estar na «cauda da Europa» - se bem que actualmente não é esse o caso: as economias dos países ricos dependem mais dos outros sectores de actividade.
No que diz respeito ao sector secundário, o da Indústria e transformação, Portugal tem duas desvantagens competitivas. Uma delas é a localização periférica: se a cultura, a educação, os gostos e competências de todos os europeus fossem iguais, os salários dos trabalhadores industrais dos países do centro seriam necessariamente superiores. Paul Krugman explicou isto num dos artigos que lhe valeram o Nobel: para uma indústria vir para Portugal, os salários dos trabalhadores teriam de ser inferiores o suficiente para compensar os custos acrescidos de transportar os produtos para todo o mercado. Esta desvantagem pode ser atenuada investindo nas vias de comunicação (férreas, por exemplo), mas não deixará de existir.
No que diz respeito ao sector terciário, o dos serviços, é evidente que Portugal tem uma forte vantagem competitiva no que diz respeito ao Turismo. Mas Portugal tem aproveitado esta vantagem com muito sucesso recentemente. E no que diz respeito a outros serviços? Eles dependem em grande medida do grau de instrução da mão de obra: um país como a Suécia pode ser periférico como Portugal, mas tendo uma mão de obra extremamente qualificada, tem uma vantagem competitiva nas prestação de inúmeros serviços (patentes, desenho, etc..).
Nesta questão, Portugal tem ainda uma enorme desvatagem comparativa, que afecta tanto o sector terciário como o secundário. Mas aqui é preciso atender ao seguinte: esta desvantagem não vem de agora, é uma situação que já vem desde a Monarquia. A primeira República tentou revertê-la, mas nas décadas de Estado Novo fez-se pouco ou nada a este respeito. Não se gastando «o que não se tinha», não se investiu em Escolas, Liceus e Universidades o que se deveria ter investido, e inúmeras crianças cheias de potencial não o puderam desenvolver. Pessoalmente conheci uma senhora, costureira, que era a melhor aluna da sua turma, adorava matemática e queria continuar a estudar, mas os seus pais tiraram-na da escola para ir trabalhar. São estas as faces de uma realidade que as estatísticas confirmam: não se apostou na educação, e por isso o país não pôde deixar de ser pobre. Não havia o «tudo quer ser doutor», mas Portugal era um país menos própero, mais injusto e com menos oportunidades.
Claro que educar uma geração cujos pais tiveram um reduzido acesso à instrução é mais caro e difícil do que educar os filhos de pais instruídos. Em parte é por isso que o enorme investimento que foi feito em educação ainda não foi suficiente, e merece ser continuado.
Assim, a geração de políticos que governa este país desde o 25 de Abril fez muitas asneiras, e certamente que desviou muitos recursos para a defesa de interesses particulares, como alias acontecia antes do 25 de Abril, com a diferença de que antes a responsabilidade era menos de um eleitorado pouco atento, e mais da repressão dos poderosos.
Mas também fez coisas muito acertadas, tais como um investimento sério e estruturado num Sistema Nacional de Saúde relativamente decente, e num sistema de Educação que possibilitará ultrapassar as desvantagens competitivas que Portugal tem face aos outros países ricos e desenvolvidos, e trazer prosperidade e oportunidades. Fizeram bem em gastar o que não tinham em escolas e hospitais, que salvaram vidas e nos deram uma hipótese de ultrapassar um entrave ao desenvolvimento fundamental, sem sequer termos atingido níveis de endividamento (face ao PIB) muito fora do normal para um país desenvolvido (muito abaixo dos EUA, Japão, Bélgica, Itália, etc.)
Seria possível fazê-lo sem tanto desperdício, mas antes o que foi feito que a política salazarista de hipotecar o nosso futuro à lógica da mercearia.
Possíveis consequências de Fukushima
Os riscos para trabalhadores e população serão piores do que Three Mile Island (acidente de nível 4) mas certamente bem menos graves que Chernobyl (nível 7), mesmo que haja uma explosão da cúpula de confinamento dos reactores (e não do edifício como já ocorreu) causada pela operação de arrefecimento. As fissuras e as brechas de 8 metros detectadas nos confinamentos de dois reactores estão a deixar escapar radiação altamente perigosa para as imediações e o incêndio ocorrido na piscina de arrefecimento do reactor 4 lançou uma nuvem radioactiva para a atmosfera durante duas horas. Não é de excluir que estes problemas se possam agravar e estender à piscina do reactor 5 que continua a aquecer e a perder água. Se houver fusão do combustível nuclear é provável que a parte inferior do confinamento de segurança do reactor possa ceder com a consequente contaminação dos solos. O incêndio nas piscinas também poderá contaminar o solo envolvente. Comparando com Chernobyl e o acidente de Palomares (B52 que se despenhou com 4 bombas nucleares) onde houve contaminação radioactiva dos solos é de esperar a criação de uma área interdita à população de alguns quilómetros quadrados durante mais de 50 anos.
terça-feira, 15 de março de 2011
Não foi bem esta a História que me contaram desde pequenino
- «Importa que os jovens deste tempo se empenhem em missões e causas essenciais ao futuro do país com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do Ultramar» (Cavaco Silva)
segunda-feira, 14 de março de 2011
Trickle-down economics
A vitória da direita
A direita está a tornar duas ideias absolutamente inaceitáveis há poucos anos em verdades indiscutíveis: 1) embora o planeta seja muitas vezes mais rico do que em 1950, não há dinheiro para solidariedade social; e 2) as pessoas não têm direito a mais do que o que produzem.
A solidariedade social do século XX é hoje apresentada por uma parte cada vez mais importante dos media como uma forma de parasitismo, uma vitória nietzschiana dos medíocres sobre o génio e os direitos dos proprietários e dos empresários.
Podemo-nos ir manifestando com queixas mais ou menos difusas, mas creio que já não está nas nossas mãos mudar as coisas. Eles são donos dos media e dos políticos, e agora da internet.
O excesso de confiança no sector nuclear
Mas o excesso de confiança estende-se às sociedades mais abertas, sobretudo quando a lógica de mercado é aplicada aos programas nucleares civis, como adverte Georges Charpak (Nobel da Física e um dos responsáveis do programa nuclear francês) na obra "De Tchernobyl en tchernobyls", Odile Jacob, 2005. Por exemplo, o acidente de 1999 em Tokaimura no Japão ocorreu porque a lógica do lucro de uma empresa privada se sobrepôs às regras mais elementares de segurança. A construção de 55 reactores no arquipélago japonês em permanente risco sísmico não são uma opção que se possa considerar razoável, por muito que se possa fazer pela segurança de uma central. Também aqui a lógica do lucro não estará certamente dissociada desta decisão.
domingo, 13 de março de 2011
Os avestruzes do fanatismo e os avestruzes do conformismo
sábado, 12 de março de 2011
A Geração à Rasca e o Aborto, ou Porque torci o Nariz à Manif
Todos somos contra precaridade, o desemprego e as condições de trabalho da minha geração. Alguns defenderão uma solução próxima ao antigo modelo cubano (com empregos garantidos), outros ao americano (flexibilidade total), ao escandinavo (flexível mas com segurança), ao mediterrânico (inflexível e com segurança), etc. mas até hoje ninguém tinha marcado um protesto que englobasse toda a gente. A manif de hoje o que defenderia? Nunca o saberemos, o manifesto é o mais vago possível.
Uma manifestação que consegue englobar desde anarcas, estalinistas até neo-nazis, e que conta com participação de deputados do PCP ao CDS (excepto do PS, não vá o diabo tecê-las), é uma manifestação de Marcelos.
Antecipando-me às críticas: não, não estou com uma situação laboral aconselhável, nem nunca fui de crítica de mesa do café: poucos participarão em tantas manifestações como eu.
O terramoto nas centrais nucleares japonesas
(publicado esta manhã no portal Esquerda.net)
A informação vai saindo a conta-gotas, mas é já uma certeza a ocorrência de um incêndio na central de Onagawa e a existência de problemas muito graves de arrefecimento em dois reactores da central de Fukushima, onde se produziu uma violenta explosão.
A explosão danificou o edifício onde se encontra um desses reactores tendo provocado vários feridos. A central de Fukushima está em alerta máximo e tudo indica que material combustível sobreaquecido entrou em fusão num dos reactores. O governo japonês confirmou uma fuga radioactiva de alta perigosidade e ordenou a evacuação da população num perímetro de 20 km à volta da central.
Em Chernobyl a gravidade do acidente resultou de uma explosão causada pela pressão do vapor da água produzido no circuito de arrefecimento de um dos reactores. Essa explosão pulverizou o tecto do edifício do reactor e projectou grandes quantidades de materiais altamente radioactivos na atmosfera. Neste caso, negligências graves durante a construção e o não respeito do projecto inicial da central tornaram possível um acidente que em condições normais não deveria ter ocorrido.
Ainda se ignora se em Fukushima as cúpulas dos reactores, que servem para impedir a fuga de radiação em caso de acidente, foram destruídas pela explosão como aconteceu em Chernobyl. No entanto, materiais altamente radioactivos armazenados no exterior dos edifícios principais foram já dispersos nas redondezas e na costa japonesa pela inundação provocada pelo tsunami.
O Japão tem 55 reactores nucleares, 11 dos quais pararam automaticamente através de protocolos específicos de segurança assim que ocorreu o terramoto. Teoricamente as centrais japonesas estavam preparadas para lidar com sismos desta intensidade, mas o inesperado tsunami poderá explicar algumas das falhas graves que estão a acontecer.
sexta-feira, 11 de março de 2011
Acidente nuclear grave no Japão
Relembro que em Chernobyl a gravidade do acidente foi agravada pela explosão causada pela pressão do vapor da água do circuito de arrefecimento de um dos reactores e por falhas graves no projecto da central. Na central de Fukushima pode estar a acontecer o pior, mas para já não há indicações de problemas com as cúpulas que encerram os reactores e que evitam fugas radioactivas significativas. No entanto os materiais altamente radioactivos armazenados no exterior foram dispersos pelo tsunami.
11 dos 55 reactores japoneses pararam durante o terramoto.
Ler e/ou ouvir a reportagem da Euronews.
É claro que vou à manif
Eu não gosto nada da canção dos Deolinda (mas é claro que vou à manif à mesma) (II)
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.
Conheci os “Deolinda” num arraial no Instituto Superior Técnico, em 2008. Gostei to muito do concerto e do grupo. Na altura, ao apresentar a banda, e tocando para engenheiros, a vocalista Ana Bacalhau disse que o seu próprio marido era engenheiro, mas tinha acabado por se dedicar à música. Para de seguida recomendar aos futuros engenheiros que “estudassem muito, pois senão iriam acabar como ele”, perante a risota geral. Mais de dois anos depois, gostaria de perguntar ao marido da Ana Bacalhau (peço desculpa, mas não me recordo do seu nome) se, a título pessoal, cantaria “que parvo que eu sou: tirei um curso de engenharia para tocar nos Deolinda”...
Repito: gosto dos Deolinda e acho que representam uma verdadeira lufada de ar fresco na música portuguesa – não aprecio particularmente é o seu mais recente sucesso, muito devido aos polémicos e criticados versos acima. Há que afirmar sem complexos: uma (hipotética) sociedade de escravos educados é melhor que uma sociedade de escravos analfabetos ou pouco educados. Mesmo pensando em termos de liberdade, a educação liberta ou, pelo menos, torna muito mais difícil manter preso alguém educado (que tenderá a revoltar-se) que alguém pouco educado. Não aceito esta secundarização da educação e do conhecimento face à liberdade.
A mentalidade subjacente é, infelizmente, tipicamente portuguesa: estuda-se não para sermos melhores, em todos os aspetos, mas para “termos um diploma” e “sermos «doutores»”. Com a democratização do ensino, ter um grau académico já não garante nada, mas não é por isso que devemos deixar de procurar obter os graus académicos, desde que isso represente obter conhecimentos.
Há que dizer que o maior representante deste paradigma é o atual primeiro ministro.
Eu não gosto nada da canção dos Deolinda (mas é claro que vou à manif à mesma) (I)
Que parva que eu souEu tenho confiança no futuro, e esperança em que, daqui a umas décadas, quando se ler esta letra, se dirá, sem ironia: “Sim, és mesmo parva!” Uma geração onde alguém afirma que se quer casar e ter filhos mas que não o faz porque se queixa de precariedade e baixos salários, mas cuja prioridade é ter um carro é uma geração parva e mimada. O retrato dos seus pais.
Filhos, maridos, estou sempre a adiar
e ainda me falta o carro pagar
Racionalizar a fiscalidade automóvel
Já referi que gosto de automóveis e por isso sei perfeitamente que estas motorizações são exageradíssimas e irracionais quando a esmagadora maioria das pessoas quer é uma caixa com rodas que as leve de um ponto A a um ponto B, estão-se nas tintas para a cavalagem do motor, quando muito exigem que a caixa com rodas seja gira e estilosa. Um ex-engenheiro da VW demonstrou que transformando o motor e a carroçaria de um VW Golf era possível reduzir o consumo abaixo dos 3 litros/100km. Optimizando um novo motor às necessidades básicas do condutor e aos limites de velocidade concebeu um motor apenas de 25 cavalos mas de binário elevado adequado às subidas e acelerações.
quinta-feira, 10 de março de 2011
Não só os transportes públicos devem ser subsidiados como é inteiramente expectável que as empresas de transporte público dêem prejuízo
As políticas que pretendem implementar um dado comportamento não podem partir do pressuposto (largamente contrariado pela experiência quotidiana) de que as pessoas são boazinhas ou responsáveis. Pode-se esperar que, um dia, uma população muito educada decida prescindir do uso quotidiano do carro (sempre que existirem transportes públicos) pelo custo que tal acarreta em combustíveis, dependência energética, emissão de gases poluentes... Para o cidadão médio isso não quer dizer nada: é sempre com os outros. Pode-se esperar que um dia o mesmo cidadão compreenda o prejuízo social e a perda de tempo que constituem os engarrafamentos, mas ele acha mais confortável e sinal de um certo status fazer as viagens em carro próprio, e quanto a isso da perda de tempo, não se perde tempo num carro: vai-se ouvindo rádio sentado, e os atrasos devidos ao trânsito são socialmente bem aceites. Pode-se esperar, finalmente, que ele compreenda que os engarrafamentos são causados pelo excesso de tráfego automóvel, e que tal é incomportável, mas ele pensará que a culpa é sempre do governo e das câmaras que não constroem mais estradas e túneis.
Não se pode esperar que as pessoas sejam boazinhas ou responsáveis, pelo que se queremos que a generalidade da sociedade adote um determinado comportamento ou se governa por decreto ou se lhes (nos) vai ao bolso (eu prefiro a segunda opção). Tal como se demonstra que o aumento do petróleo (e a introdução de portagens em certas SCUTs) levou a um aumento da utilização dos transportes públicos, creio que ninguém contestará que a diminuição ou cessação da comparticipação dos preços dos transportes públicos, por si só, como propõe o Miguel, levará à diminuição do uso dos mesmos e ao aumento do transporte privado.
Censo de 2011: quantos infiéis somos?
O censo é a única operação oficial de contagem dos residentes em Portugal por critério de religião. Felizmente a única, porque o Estado não deve meter o nariz no que é matéria de convicção pessoal. E assim a Constituição nos garante, como deve, o direito de nem responder à questão.
As respostas registam sempre um número elevadíssimo de católicos, quase quatro vezes superior aos que se encontram na missa em qualquer domingo. O que acontece, em primeiro lugar, porque muitas pessoas entendem a pergunta «qual é a sua religião» como uma questão sobre se foram baptizados ou não. Mas não é disso que se trata.
Não ajuda que a pergunta do censo mencione, logo em primeiro lugar, a resposta «católica». Em mais nenhuma pergunta se seguiu, como a da religião aparenta, o critério da maioria (esperada) das respostas para as ordenar. Por exemplo: as respostas para o país de nascimento (quando no estrangeiro, questão 8) seguem a ordem alfabética. E as respostas à pergunta «como se desloca para o trabalho» (questão 21) começam com «a pé», e não «de carro» ou «de autocarro». No mínimo, o ordenamento é capcioso.
Também não ajuda que as categorias não católicas que se oferecem como resposta tenham designações tão estranhas que dificultam a identificação. «Ortodoxa» é um modo de viver a religião, não é uma religião. Seria melhor usar «católica romana» e «católica ortodoxa». «Protestante» será adequado para luteranos ou anglicanos, mas não para a maior minoria religiosa não católica, os que se designam a si próprios como «cristãos evangélicos». «Judaica» levanta outra questão: porquê incluir uma comunidade religiosa tão diminuta (quatro locais de culto no país inteiro) quando o Censo ignora as Testemunhas de Jeová (650 congregações em Portugal, dizem eles) ou a IURD (que chegam a usar estádios de futebol)? Parece, sejamos claros, discriminatório. Porque, das duas, uma: ou o critério aqui deveria ser o número, e as opções seriam outras, ou a lista deveria ser exaustiva, e seria muito mais longa (ou com uma opção em aberto para se acrescentar «ateu», «agnóstico», «pagão», «satânico» ou «cavaleiro de Jedi»).
Seja qual for a opção, nada melhor do que escolhê-la esclarecidamente.
Mas estavam à espera de quê?
quarta-feira, 9 de março de 2011
Revista de blogues (08-03-2011)
Para rir à gargalhada e prolongar o Carnaval por um dia: Então não é que à entidade “doliveiresca” agora lhe deu para plagiar Marx, não tendo para tal jeito nenhum, e ainda por cima para de novo (depois de RTavares) vir em defesa da vida estilo “mal menor”…, de Carlos Vidal.
terça-feira, 8 de março de 2011
O "Prós e Contras" da "geração à rasca"
Foi uma pena que ninguém tivesse confrontado o senhor da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, que pôde fazer livremente a propaganda demagógica que quis: que a solução requer menos estado, maior flexibilidade e que pediu explicitamente menores contribuições para a Segurança Social por parte das entidades empregadoras (houve quem lhe perguntasse se ele aceitaria passar a precário, uma pergunta muito válida mas que o senhor considerou “descabida”, mas ninguém lhe perguntou se se importaria que lhe cortassem a reforma). Fez a propaganda de Passos Coelho (num programa que a apresentadora disse que “não era suposto ser político”) sem nenhum contraditório, e no final ainda disse que não deveria haver “numerus clausus” e que as “universidades de excelência” deveriam poder recrutar os alunos que quisessem. Como se o Estado pudesse aceitar tal negócio numa universidade pública nos atuais moldes – o senhor esqueceu-se de dizer que o seu modelo implicaria um valor brutal de propinas. Mas, de acordo com Isabel Stilwell, deveríamos ouvir o “senhor professor”, que o que ele dizia era “a verdade” e que era muito melhor do que a “demagogia do Sócrates” (textualmente). Enfim, “Prós e Contras” melhores virão, esperamos.
O Carnaval dos Homens da Luta
No entanto, do que se trata aqui não é de humor. Nem de política. Mas de música. E aí, sinceramente, acho que os Homens da Luta estiveram bem, com uma boa música, alegre e agradável de ouvir (e sendo satírica é bastante portuguesa). E que me fizeram ligar alguma atenção ao Festival da Eurovisão, algo que já não acontecia há 20 anos. Vai ser interessante ver a reação da Europa. Prevejo votos em massa de Espanha, Grécia, Itália e talvez Irlanda. Tolerância e sorrisos da parte da França e da Alemanha. E desagrado da parte dos países de Leste.
De qualquer maneira, a música dos Homens da Luta não é mais do que isso: somente uma música. A política faz-se no dia a dia. Na rua, particularmente, no próximo dia 12.
segunda-feira, 7 de março de 2011
Sistemas de saúde públicos
Arrow, Kenneth J. 1963. «Uncertainty and the Welfare Economics of Medical
Care.« American Economic Review, 53(5): 941–73.
This paper provided a framework for thinking about the economics of the market for medical care using the language and tools of modern microeconomics. It argued that the aforementioned market is beset by market failures because consumers are exposed to risks that are not fully insurable (in large part due to problems of moral hazard), and because they lack the information and expertise required to assess risks and treatments. It hypothesized that various salient features of the institutions governing the provision of medical care are best understood as social adaptations aimed at redressing the resulting inefficiencies. It also noted that in some cases those institutional adaptations undermine competition and perversely contribute to inefficiency. Though written well prior to the emergence of the formal literature on asymmetric information, the paper anticipated many of the central issues that continue to occupy health economists today.
Racionalidade automóvel: o exemplo espanhol
domingo, 6 de março de 2011
sábado, 5 de março de 2011
Citações e mentiras de Monckton Bunkum
sexta-feira, 4 de março de 2011
Pedofilia na ICAR
Claro que a primeira pergunta que se põe perante esta história é: como é possível que depois de mais de uma década de histórias terríveis, que ilustram ad nauseam a atitude da ICAR perante esta questão, ainda haja pais que entregam os filhos a padres católicos!
Subsidiar a alimentação e os transportes?
3. Este tipo de instrumentos acarretam sempre altos custos burocráticos e fraudes. Quanto mais complexo um sistema legal, mais difícil é de o controlar a sua aplicação e mais fácil é fugir a ele. Prova disso são os milhões gastos em consultores fiscais que nenhum valor contribuem para a sociedade para lá da ajuda à fuga aos impostos.
4. Muitas políticas ambientais são totalmente bloqueadas com o argumento de atingirem os pobres. Taxas de poluição, por exemplo na electricidade, são fortemente criticadas. Haverá muitos casos onde haveria alternativas mais amigas do ambiente que se tornariam viáveis, se o uso da electricidade pagasse o custo total que tem para a sociedade. Estamos assim a incentivar comportamentos prejudiciais ao ambiente.
*Há apenas alguns economistas, particularmente o Miguel Madeira, que têm escrito esporadicamente sobre este assunto.
Auto-suficiência alimentar
Salazar manteve uma orientação política fortemente rural (no mau sentido da palavra), tendo feito dela uma das suas bandeiras. Pouco importava a pobreza e as condições de trabalho, o importante era sermos honradinhos e cultivar a nossa horta com a ajuda dos bois para ganhar a nossa comidinha. Melhorias tecnológicas eram irrelevantes porque a produção alimentar não era o objectivo primordial, era sim a honra de viver pobre mas honrado.
Esta mentalidade continua bem viva hoje em dia, da esquerda à direita, mesmo que sendo em versão 2.0 (com o expoente máximo no Paulinho das Feiras) sob a forma da auto-suficiência alimentar do país. Em 2011 não deve haver nenhum país auto-suficiente em nenhum tipo de produto, mas Portugal deveria sê-lo na alimentação. E porquê a alimentação, e não a energia, os medicamentos ou outro produto essencial? Até Maria Antónia Figueiredo, presidente de um tal Observatório dos Mercados Agrícolas (um organismo público) defende que Portugal deveria ser auto-suficiente em termos de cereais.
Para lá da impossibilidade física de tal objectivo, e do crime ambiental associado, há que perguntar se esta auto-suficiência serviria para alguma coisa na situação actual de elevados preços dos produtos agrícolas, algo que o Bloco de Esquerda defendia há uns dias. Só vejo dois canais pelos quais isto poderia ajudar. Ou esta produção extra baixaria os preços mundiais, mas Portugal é demasiado pequeno para que isto possa acontecer. Ou então Portugal fecharia as fronteiras, forçando os agricultores portugueses a venderem a 10 o que do outro lado da fronteira poderiam vender a 50.
Outros problemas também surgiriam em tempos de preços mundiais baixos. No tipo de produtos em que Portugal tem desvantagens produtivas, obrigaríamos os consumidores portugueses a comprar a 10 ao produtor local o que poderiam comprar a 2 nos mercados internacionais?
quinta-feira, 3 de março de 2011
Preço do petróleo deverá continuar a aumentar
(publicado no portal Esquerda.net)
As recentes revoltas populares no Magreb e no Médio Oriente, em particular incertezas relativamente ao trânsito de petróleo através do Canal de Suez e do oleoduto Sumed no Egipto, voltaram a desencadear uma subida de preço do petróleo no mercado mundial. Esta subida é sobretudo de carácter especulativo dado que a Arábia Saudita garantiu compensar eventuais baixas de produção.
Actualmente, a produção de petróleo supera o consumo em cerca de 4 milhões de barris por dia (um barril de petróleo ~ 159 litros). No entanto, a curto prazo a Agência Internacional de Energia estima que o consumo de petróleo aumente cerca 1,5% por ano e que a capacidade de produção suba apenas cerca de 0,4% ao ano. A este ritmo poderá verificar-se uma situação de penúria dentro de 5 anos, altura em que a produção de petróleo poderá não satisfazer a totalidade da procura mundial. Os investimentos a realizar pelas petrolíferas para satisfazer a procura poderão fazer subir mais rapidamente o preço do petróleo, o que poderá catapultar o preço do Brent – serve de referência para cerca de dois terços do petróleo comercializado – bem acima dos 150 dólares por barril em 2020.
quarta-feira, 2 de março de 2011
Paulo Portas na Ilha das Maravilhas
Até 2008, Paulo Portas falava da Irlanda de Bertie Ahern como se fosse um quadro do Fianna Fáil classificando a sua política económica como "um exemplo a seguir pelo Estado Português". A partir de 2009 Paulo Portas deixou de falar sobre a Irlanda...
Este fim-de-semana, o mesmo Fianna Fáil teve o seu pior resultado de sempre passando de 41% para 17%. As eleições foram ganhas pelo Fine Gael. Julgaria o caro leitor que Paulo Portas reflectisse seriamente sobre a derrota estrondosa do partido e das políticas que tanto tempo apoiou e que levaram a Irlanda ao abismo. Tal como noutras ocasiões Paulo Portas colou-se a uma vitória que não é sua, à vitória do Fine Gael. Vale a pena ler Paulo Portas no facebook felicitar o Fine Gael recorrendo à justificação esfarrapada de que o Fine Gael faz parte do seu grupo político no Parlamento Europeu, o PPE. Adivinha-se já Paulo Portas a cantar as próximas vitórias do PSD, dado que também este pertence ao PPE... Mas a memória é tramada para os troca-tintas, e a memória diz-nos que foi por iniciativa de Paulo Portas em 1999 que o CDS abandonou o PPE para aderir aos nacionalistas da UEN (União para a Europa das Nações) da qual faziam parte os seus grandes amigos do Fianna Fáil. Se hoje o CDS está no PPE deve-se apenas ao acordo de coligação com o PSD nas europeias de 2004 e 2009 que lhe retirou a autonomia para escolher a UEN.