segunda-feira, 28 de março de 2011

Tiros pela culatra na política económica - benefícios à compra de casa

Outro grande tiro no pé, e que também envolve a política de habitação, foi o apoio dado pelo Estado à compra de casa própria. Só os vários apertos orçamentais dos últimos tempos acabaram, há já uns anos, com o crédito jovem bonificado, e vão possivelmente anular num futuro próximo a possibilidade de se descontar as amortizações no IRS. Chamando os bois pelos nomes, o Estado paga, e muito, a quem se quer endividar em vez de promover outras alternativas de habitação. Para piorar a situação, este empurrão estatal aconteceu num período em que os portugueses tiveram acesso a empréstimos com juros historicamente baixos, graças à entrada no euro em 1999.
O resultado é conhecido. Muitas famílias contraíram empréstimos ajudando a levar a dívida privada portuguesa a níveis insuportáveis. No centro do actual crise, e pior do que a dívida pública, cujo valor não se afasta muito da média europeia, temos a dívida privada acima dos 200% do PIB.

6 comentários :

João Vasco disse...

De acordo.

tempus fugit à pressa disse...

propriedade sobrevalorizada é uma coisa

200mil carros por ano
a 3.000milhões anuais

durante mais de 20 anos e que foram transformados maioritariamente em sucata

foram outro desinvestimento nacional

Ricardo Alves disse...

Miguel,
de acordo.

Mas, quanto às alternativas: habitação social e arrendamento? E que papel do Estado?

Luís Lavoura disse...

Excelente post. Concordo.

Miguel Carvalho disse...

Ricardo,
perguntas bem, especialmente porque pessoalmente não gosto de crítica sem alternativas. Mas há muitas alternativas aqui.

Primeiro, do ponto de vista social, e como já tenho escrito, discordo de toda estas políticas de intervenção no mercado feitas a martelo com argumentos redistributivos. Para mim, a redistribuição deveria ser uma transferência mensal do Estado para os mais desfavorecidos - em vez de ser o Estado a dizer "vou interferir no mercado para tu poderes ter casa".


Segundo, em termos de política habitacional, defendo que haja fortes punições para proprietários especuladores - seja por IMIs altos como o PS fez muito timidamente, ou pela legalização da okupação como havia na Holanda.

A habitação social não me convence muito pelo estigma que cria.

dorean paxorales disse...

"A habitação social não me convence muito pelo estigma que cria."

o argumento do estigma tem a sua pertinência (como o é para o desemprego e outras coisas).
não sei se com horror ao estigma, a câmara fez distinções sociais (EPUL jovem, etc) e facilitou a transição de muitos arrendatários para proprietários do fogo. muitos venderam-nos logo de seguida.

(lembro-me de um cavalheiro que me queria vender a casa dele em alvalade por 30milcontos, qdo a tinha comprado à CML no ano atrasado por 1500. o plano, contou-me, era agarrar no lucro e ir para a arruda dos vinhos gozar o rendimento)

na prática, a CML construiu a custo reduzido um produto em categorias diferenciadas. depois, vendeu-o barato, subsidiando a especulação.
tudo pq se não formos todos proprietários, é um estigma.

para acabar: é norma nos países ricos e social-democratas garantir a habitação a quem não tem meios para a obter no mercado. é considerado absolutamente normal que um caixa de supermercado, por exemplo, não ganhe o suficiente para pagar uma renda sozinho no centro da cidade e que para o fazer tente obter um arrendamento em habitação social. absolutamente normal.