sexta-feira, 11 de março de 2011

Racionalizar a fiscalidade automóvel

Na fórmula 1 e nos rallies há limites para a capacidade dos motores e há novas categorias para automóveis com soluções ecológicas. No entanto apesar do cidadão comum não ter ambições de piloto de corridas, nas nossas ruas e nas nossas estradas pode circular praticamente tudo sem restrições. Num continente em que a velocidade máxima oscila tipicamente entre os 50 km/h em cidade e os 120 km/h, continuam a vender-se bem carros com motores com mais de 2000, 3000, 3500 cc (mais que nos rallies), com 150, 200 cv, que atingem velocidades máximas de 200, 220, 250 km/h. Continuam a comercializar-se veículos todo-o-terreno que podem circular com toda a liberdade em centros históricos medievais sobre calçadas centenárias, entre fachadas milenárias.

Já referi que gosto de automóveis e por isso sei perfeitamente que estas motorizações são exageradíssimas e irracionais quando a esmagadora maioria das pessoas quer é uma caixa com rodas que as leve de um ponto A a um ponto B, estão-se nas tintas para a cavalagem do motor, quando muito exigem que a caixa com rodas seja gira e estilosa. Um ex-engenheiro da VW demonstrou que transformando o motor e a carroçaria de um VW Golf era possível reduzir o consumo abaixo dos 3 litros/100km. Optimizando um novo motor às necessidades básicas do condutor e aos limites de velocidade concebeu um motor apenas de 25 cavalos mas de binário elevado adequado às subidas e acelerações.

A propósito das medidas adoptadas em Espanha, julgo que este seria o momento acertado para transformar radicalmente a fiscalidade automóvel, as normas de trânsito e a lógica de circulação urbana, antes de esbanjarmos mais dinheiro e petróleo de uma forma fútil. Durante milhões de anos 90 toneladas de matéria orgânica produzem apenas cerca de 4 litros de gasolina... Optimizar a fiscalidade automóvel a nível europeu (ou ibérico) permitiria responder simultaneamente a diversos problemas que se somam e com tendência para piorar como: a escassez do petróleo, o aumento dos preços dos combustíveis fósseis, a poluição, o combate às alterações do clima e o endividamento privado. Como bónus ganharíamos mais segurança rodoviária.

4 comentários :

Ricardo Alves disse...

Rui,
não sei bem que medidas concretas propões, para além da alteração dos limites de velocidade. Estes últimos, na minha opinião, devem ser fixados por critérios de segurança rodoviária. E por essa mesma razão - a segurança - aceitaria uma decisão (necessariamente a nível europeu) que proibisse a venda para fins de circulação viária de viaturas que circulassem a mais de 120 km/h ou 140 km/h. Trata-se de uma matéria em que os cidadãos, nitidamente, não fazem caso da segurança alheia. Quanto aos argumentos ambientais e/ou de escassez do petróleo, a verdade é que sem um melhoramento radical da rede ferroviária a taxação dos gasois é fazer o mal e a caramunha: acabam com o comboio e aumentam os impostos sobre a alternativa, o automóvel.

Ricardo Alves disse...

Note-se que também se proíbe a venda de bebidas alcoólicas com mais do que um determinado teor alcoólico. E no entanto, só as consumiria quem quisesse. Com os automóveis, estamos sujeitos a que um imbecil qualquer que gosta de circular a 180 km/h nos mate.

Rui Curado Silva disse...

Estou a pensar mais em fiscalidade, taxação mais severa tendo em conta a capacidade dos motores, consumo e emissões de CO2. Por exemplo atacando no imposto automóvel e na venda de viaturas novas.

Já temos regras que proíbem a circulação de veículos poluidores (emissões e materiais usados, como o amianto) que abarcam não apenas veículos em mau estado como alguns modelos antigos em bom estado mas muito poluentes. Apertando mais estas regras poderíamos na prática proibir a circulação de muitos modelos novos, como por exemplo o Hummer. E não me chocaria nada esse pacote de medidas incluir os limites de velocidade, como propões.

"a verdade é que sem um melhoramento radical da rede ferroviária a taxação dos gasois é fazer o mal e a caramunha: acabam com o comboio e aumentam os impostos sobre a alternativa, o automóvel."

Pois, essa é outra vertente que não abordei aqui. Concordo plenamente.

JFilipe disse...

Eu gostava de saber onde foste buscar essa informação do ex-engenheiro da VW?

Quantos ás limitações dos motores nas competições, não sei se é apenas por questões de seguranças.
Ex. a Ferrari produziu um motor que foi inserido num carro da FIAT (ficou conhecido como o Ferrari dos pobres - http://en.wikipedia.org/wiki/Fiat_Dino) porque o regulamento da competição da Formula 2 exigia um certo número de produção de motores.
Portanto desconfio que haja também uma questão económica por detrás destas decisões.