A demissão do segundo governo de Sócrates reflecte três problemas de fundo: a ausência de uma cultura política de negociação, a transformação da União Europeia num «Império» informal dominado pela Alemanha e vulnerável ao poder financeiro, e os milhentos esquemas que existem encostados ao Estado português, muitas vezes sem abdicar, paradoxalmente, de um discurso de «dispensabilidade» do Estado.
Há um quarto de século que as eleições legislativas em Portugal são encaradas como a coroação de um César, que se considera sempre legitimado para governar sozinho mesmo que tenha uma maioria relativíssima, e que se esquece que a substância da democracia é negociar e fazer compromissos entre o programa apresentado ao eleitorado, e as medidas que se podem executar com os aliados parlamentares eleitos com igual legitimidade.
Há duas décadas que se sabe que a União Europeia, enquanto projecto essencialmente monetarista unindo Estados muito diversos social e economicamente, era vulnerável aos especuladores e aos interesses corporativos, e que facilmente seria, num momento de crise, dominada pela Alemanha. Que Merkel critique o Parlamento português perante o parlamento alemão é um sinal da hierarquia entre Estados que deixámos que se instalasse.
E nunca como hoje foi tão claro que o Estado português é pobre demais para sustentar parcerias público-privadas, contratos de associação, os desvarios de Jardim, os estádios de futebol e as oligarquias económicas que parasitam empresas públicas, monopólios naturais e negócios extraordinários.
Eleições, só por si, não resolvem nenhum destes problemas.
Há um quarto de século que as eleições legislativas em Portugal são encaradas como a coroação de um César, que se considera sempre legitimado para governar sozinho mesmo que tenha uma maioria relativíssima, e que se esquece que a substância da democracia é negociar e fazer compromissos entre o programa apresentado ao eleitorado, e as medidas que se podem executar com os aliados parlamentares eleitos com igual legitimidade.
Há duas décadas que se sabe que a União Europeia, enquanto projecto essencialmente monetarista unindo Estados muito diversos social e economicamente, era vulnerável aos especuladores e aos interesses corporativos, e que facilmente seria, num momento de crise, dominada pela Alemanha. Que Merkel critique o Parlamento português perante o parlamento alemão é um sinal da hierarquia entre Estados que deixámos que se instalasse.
E nunca como hoje foi tão claro que o Estado português é pobre demais para sustentar parcerias público-privadas, contratos de associação, os desvarios de Jardim, os estádios de futebol e as oligarquias económicas que parasitam empresas públicas, monopólios naturais e negócios extraordinários.
Eleições, só por si, não resolvem nenhum destes problemas.
10 comentários :
Excelente post.
Então e o 1?
eleições num resolvem e até agravam estes problemas
felizmente isto é um maná para as tipografias
tenho um vizinho com 6 brasileiros ao dia enquanto isto durar deve fazer uns 300 a 500mil de lucro com estas eleições
pelo menos no hospital está isento
logo as finanças dele deviam andar mal....
O 1 cumpriu o seu mandato, em maioria absoluta. Um dos problemas é justamente o sr. Sócrates nunca ter entendido que o 2 teria que ser diferente do 1, porque as condições eram também diferentes.
"Que Merkel critique o Parlamento português perante o parlamento alemão é um sinal da hierarquia entre Estados que deixámos que se instalasse."
nem mais.
Ok, Ricardo.
Pensei que este era o segundo texto sobre esse assunto, e não queria perder o primeiro :)
Já sabiamos que Sócrates é o culpado de tudo e de mais alguma coisa. Cassete arrumada. Viemos agora a saber que não é com eleições, portanto com os votos dos portugueses, que a situação se resolve. Então como é? Desculpe-me a curiosidade.
Falou bem, Ricardo.
Falou bem, mas disse pouco, ou melhor, não explicou nada.
Disse que a solução dos nossos problemas não está só em eleições, o que já é muito. Esta mania de atirar tomates e ovos pôdres a quem sai do palco, como aconteceu com Santana Lopes, qualifica mais a assistência do que os artistas. Se não houver portugueses empreendedores em número suficiente, capazes de agregar valor aos nossos recursos, pelo menos na medida dos nossos gastos, ou se não os deixarem trabalhar, não há governo que nos salve.
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