O secretismo em torno dos programas nucleares soviético e americano e o clima de competição da Guerra Fria explicam a falta de comunicação tanto dos EUA como da URSS de problemas e acidentes que iam ocorrendo nas centrais nucleares. Inclusivamente a nível interno pequenos acidentes eram prontamente abafados, sobretudo na URSS. Os engenheiros soviéticos não tinham qualquer informação sobre os acidentes nas outras centrais do país, logo na prática estavam convencidos que a estatística de acidentes era próxima de zero. Gerou-se assim um clima de excesso de confiança que foi uma das principais causas do acidente de Chernobyl, quer no desleixo como foi implementado o projecto durante a construção da central, como na negligência dos engenheiros durante o teste de segurança que ironicamente originou o acidente.
Mas o excesso de confiança estende-se às sociedades mais abertas, sobretudo quando a lógica de mercado é aplicada aos programas nucleares civis, como adverte Georges Charpak (Nobel da Física e um dos responsáveis do programa nuclear francês) na obra "De Tchernobyl en tchernobyls", Odile Jacob, 2005. Por exemplo, o acidente de 1999 em Tokaimura no Japão ocorreu porque a lógica do lucro de uma empresa privada se sobrepôs às regras mais elementares de segurança. A construção de 55 reactores no arquipélago japonês em permanente risco sísmico não são uma opção que se possa considerar razoável, por muito que se possa fazer pela segurança de uma central. Também aqui a lógica do lucro não estará certamente dissociada desta decisão.
O excesso de confiança surge ainda nos debates domésticos sobre o nuclear (não apenas em Portugal) quando se reduz o número de acidentes a Chernobyl, quando se esquece Three Mile Island em que o puro acaso não produziu outro Chernobyl, quando se ignora Tokaimura ou os recentes acidentes em centrais do Reino Unido (Sellafield) e da Suécia (Forsmark). A indústria nuclear é mais segura do que a generalidade das indústrias químicas, mas não é uma indústria imaculada, não é uma indústria de risco zero nem nada que se pareça. E como os acidentes da indústria nuclear são potencialmente muito mais perigosos e muito mais caros de remediar, quando se debate o nuclear deve-se oferecer às populações toda a informação disponível, deve-se usar da máxima transparência.
Mas o excesso de confiança estende-se às sociedades mais abertas, sobretudo quando a lógica de mercado é aplicada aos programas nucleares civis, como adverte Georges Charpak (Nobel da Física e um dos responsáveis do programa nuclear francês) na obra "De Tchernobyl en tchernobyls", Odile Jacob, 2005. Por exemplo, o acidente de 1999 em Tokaimura no Japão ocorreu porque a lógica do lucro de uma empresa privada se sobrepôs às regras mais elementares de segurança. A construção de 55 reactores no arquipélago japonês em permanente risco sísmico não são uma opção que se possa considerar razoável, por muito que se possa fazer pela segurança de uma central. Também aqui a lógica do lucro não estará certamente dissociada desta decisão.
O excesso de confiança surge ainda nos debates domésticos sobre o nuclear (não apenas em Portugal) quando se reduz o número de acidentes a Chernobyl, quando se esquece Three Mile Island em que o puro acaso não produziu outro Chernobyl, quando se ignora Tokaimura ou os recentes acidentes em centrais do Reino Unido (Sellafield) e da Suécia (Forsmark). A indústria nuclear é mais segura do que a generalidade das indústrias químicas, mas não é uma indústria imaculada, não é uma indústria de risco zero nem nada que se pareça. E como os acidentes da indústria nuclear são potencialmente muito mais perigosos e muito mais caros de remediar, quando se debate o nuclear deve-se oferecer às populações toda a informação disponível, deve-se usar da máxima transparência.
5 comentários :
e para o consumo elevado
as centrais geotérmicas chegam?
energia solar ?
quanto tempo para implementação?
custos?
Não.
As únicas formas de produzir energia em larga escala passam pelos combustíveis fósseis, todos eles finitos, ~100 anos para gás, petróleo e urânio e menos de 200 anos para o carvão.
Ou se melhora extraordinariamente a eficiência e as técnicas de produção das renováveis que conhecemos ou então tem que se descobrir uma nova forma de produzir energia em larga escala. Quem sabe a fusão possa resolver esse problema.
A terceira via é consumirmos e gastarmos muito menos daqui a 100 anos. Mas a actual geração que decide o nosso futuro não está muito preocupada com isso.
Há carvão para 400 anos
mesmo com consumos de 9mil megatones/ano
xistos betuminosos e areias asfálticas dão para séculos
hidratos de metano oceânico e gás
também 200 a 300 anos
a fusão necessitaria de muito mais investimento para se tornar viável
e a explosão de um reactor de fusão
produziria também radioisótopos
embora em menor escala que um de cisão
depósitos de urânio e tório abaixo do limite quilométrico estão inexplorados
tecnologia nova ao nível da nanoscala para
hidrólise da agua ( geração de hidrogénio) podia suprir o combustível fóssil
mas tal como o metano o hidrogénio tem os seus problemas
As estimativas variam de trabalho para trabalho obviamente. Por isso faz pouco sentido agarrarmo-nos muito a números de estimativas como se fossem certezas absolutas. Por alto, são boas indicações do que nos espera no futuro e é assim que devem ser considerados.
Mas vamos a dados, por exemplo da da Cambridge University Press, autor J. P. Freidberg:
1- Haveria carvão para 900 anos se as outras energias fossem infinitas e se o consumo de energia se mantivesse nos níveis de 2001. Se o carvão for usado como única fonte, o que pode acontecer assim que acabar o urânio e o petróleo. As suas reservas durarão menos de 200 anos.
2- Petróleo: 60 anos combinado com outras energias. 20 anos como energia única. Gás: 100 anos/20 anos. Petróleo e Gás incluem porção viável de areias e metano em lagos e oceanos (extremamente caros e cujas recolha é extremamente ineficiente).
3- Urânio: 300 anos combinado. E 20 anos como energia única. Escolhi a fasquia de 100 anos em combinado porque é um número lançado pelo trabalho do Charpak que me parece mais fiável.
Os reactores a fusão não explodem. São tecnicamente similares a aceleradores de partículas como o do CERN e como os reactores que temos nos hospitais, cujos detritos radioactivos têm tempos de vida inferiores a 100 anos, tal como o dos hospitais e não 600 mil anos como os das centrais nucleares.
"a fusão necessitaria de muito mais investimento para se tornar viável"
Certo. Se se gastasse metade do dinheiro que se gasta na investigação em petróleo, por exemplo, a investigação sobre a fusão poderia avançar a uma velocidade incomparavelmente maior.
Rui,
acho que nunca se fez tanta investigação em fusão nuclear, e nunca se alargou tanto o uso de energias renováveis. Tem-se avançado muito, nessas áreas, nos últimos 20 anos.
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