quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Atentos: quatro mil presidentes de Junta

Justamente quando todo o rectângulo exige que se controle o poder e as clientelas da autarquia madeirense, o governo da República lançou uma reforma das autarquias, mas das locais. Objectivos: extinguir empresas municipais, cortar 30% de vereadores, agregar freguesias e apenas «incentivar» as fusões de municípios. O governo tenta portanto, na falta de coragem para confrontar o PSD-Madeira e presidentes de Câmara e num jacobinismo saudável mas limitado, a redução de freguesias por critérios de densidade populacional, ruralidade e urbanidade, e distância à sede de concelho.

Existem evidentes desigualdades de densidade territorial no ramo de governo mais próximo dos cidadãos. O distrito de Braga, por exemplo, com idêntica população e metade da área do distrito de Setúbal, tem seis vezes mais freguesias. Só Vila Verde tem tantas como a Península de Setúbal inteira, e Barcelos, com uma área ligeiramente superior a Sintra e um terço da população, ganha 89 a 20 em freguesias. Bragança e Beja, semelhantes em área e população, têm respectivamente 49 e 18 freguesias. Não me alongo mais.

O detalhe desta reforma será conhecido em breve. Se afectar principalmente o Norte e o interior, terá potencial para ressuscitar o conflito Norte-Sul e causar uma apoplexia na base tradicional de apoio da direita. Se mantiver tudo na mesma, perderemos todos.

1 comentário :

Luís Lavoura disse...

Os dados neste post são muito interessantes.

No Norte do país há um forte bairrismo, que faz com que todas as terras queiram ser "independentes" das suas vizinhas e, portanto, ter a sua própria freguesia. É isso que explica a enorme densidade de freguesias nessa região.

Por exemplo, quem saia a pé do centro da cidade de Braga, a menos de um quilómetro já está numa aldeola, que de facto não passa de um subúrbio da cidade, chamada Real e que tem a sua própria freguesia. É espantoso - duas sedes de freguesias separadas por um quilómetro!

Como bem diz o post, o governo, cobarde, prepara-se para impôr a fusão de freguesias mas não tem coragem para fazer o mesmo a municípios. Bate nos fracos mas foge dos fortes. Sabe que enfrentar o bairrismo das freguesias é fácil, mas enfrentar idêntico bairrismo dos municípios é difícil.