Claro, é tudo a bem da economia e da flexibilidade, ou, sobretudo, das empresas e da competividade. Mas o que tudo isto faz à vida das pessoas não é bonito. E portanto não admira que a canção dos Deolinda se tenha tornado um lugar comum dos nossos dias.
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
Um mal que aumenta proporcionalmente não deixa de ser um mal a aumentar
Claro, é tudo a bem da economia e da flexibilidade, ou, sobretudo, das empresas e da competividade. Mas o que tudo isto faz à vida das pessoas não é bonito. E portanto não admira que a canção dos Deolinda se tenha tornado um lugar comum dos nossos dias.
Wikileaks (7): instantâneo do país dos brinquedos caros
domingo, 27 de fevereiro de 2011
Derrota de Paulo Portas na Irlanda
Paulo Portas é especialista em colar-se às vitórias dos outros (primeiro referendo do aborto, vitória de Durão Barroso nas legislativas, etc.) mas tem esta derrota coladinha à pele.
Al-Qaradawi, o clérigo que quer levar a revolução egípcia da praça Tahrir para a mesquita
A sua popularidade resulta, em boa medida, do programa televisivo «A chária e a vida», difundido a partir do Catar pela Al-Jazira há quinze anos (todos os domingos). As suas posições extremistas são elucidativas: defende o bombismo suicida na Palestina, a mutilação genital feminina (e a masculina, claro), punições para homossexuais e adultério, o assassinato de Salman Rushdie, e o extermínio dos judeus. Embora elogie frequentemente a Irmandade Muçulmana, já não é membro, e até se deu ao luxo de recusar liderá-la em duas ocasiões, a última das quais em 2004.
Os militares que se desembaraçaram do seu semi-fantoche Mubarak ainda não mostraram se apoiarão os jovens revolucionários por enquanto sem partido ou os islamistas da Irmandade Muçulmana. Há quem preveja que Al-Qaradawi será para o Egipto o que Khomeini foi para o Irão. Porém, 2011 não é 1979, e a história não se repete. Mas convém manter este homem debaixo de olho.
sábado, 26 de fevereiro de 2011
Mudanças Climáticas: convém acordar
Anomalia de temperatura em 1970:
Anomalia de temperatura em 2010:
O permafrost siberiano está a descongelar. A realidade está a confirmar as previsões mais pessimistas.
Convém acordar. Parece que todos continuam a dormir.
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
Duas notícias nas quais nem quero acreditar
Governo quer que a profissão conste no Cartão do Cidadão
Nesta última não quero, nem devo. Conforme alertou o Ricardo Schiappa, é um erro grosseiro do semanário Sol.
Distribuição da riqueza nos EUA, a realidade, a percepção e o desejo
Seria interessante aferir estes valores no que diz respeito ao nosso país.
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Pode um louco ser presidente?
- «Bin Laden está a drogar os jovens líbios (...) mete-lhes pílulas no nescafé e no iógurte (...) as pessoas não têm razão de queixa (...) deitaram-me um mau olhado (...) filhos, obedeçam aos vossos pais e entreguem as armas (...) eu sou como a rainha de Inglaterra, não tenho poder (...) o bin Laden e a Al-Qaeda estão a manipular-vos (...) tenho pena que tenham morrido quatro pessoas, xau»
Mais mentiras de Monckton Bunkum, e informação sobre as alterações climáticas
A não perder.
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
Revista de blogues (23/2/2011)
- «Há algo que pode tornar o desfecho líbio decisivo para o futuro próximo do Médio Oriente: ao contrário da Tunísia e do Egipto, aqui a hierarquia militar dispôs-se a reprimir o povo ao lado do ditador.
Assim, em breve teremos resolvida a dúvida "o que acontece se os generais e o poder se mantiverem unidos e mandarem os tanques contra os contestatários?".
Aprender com os erros
Pior, muito pior, é no meio da presente crise o senhor Sócrates manter-se calado sobre o massacre que está a acontecer na Líbia, enquanto os estadistas europeus emendam erros pretéritos e isolam internacionalmente o regime que controla Tripoli e arredores. Cameron admite que se cometeram erros, Merkel e Sarkozy apelam a sanções, e a política externa portuguesa aparece liderada pelo eterno Amado, que dispara contra a «ligeireza e os clichés» de quem fala em «Direitos Humanos e democracia», e nos transforma, de facto, no último bastião europeu do kadafismo. Neste momento, já nem se trata de privilegiar os interesses sobre os valores, já é pura estupidez: o mundo árabe está a mudar rapidamente, e só mesmo um certo indivíduo chamado Luís Amado é que ainda não o entendeu.
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
Eternamente Amado
Há quem não fique bem nesta fotografia.
O governo quer escutar as nossas conversas telefónicas
Mais mentiras desmistificadas sobre as alterações climáticas
É saudável desmistificar estas mentiras, e fazer um diagonóstico adequado da realidade enquanto é tempo. Numa sociedade democrática não basta que os especialistas tenham excelentes razões para acreditar numa teoria, é preciso que o estado do debate científico não seja distorcido - que à propaganda falsa corresponda desmistificação à altura. Este vídeo e outros são parte - bem conseguida, a meu ver - desse esforço.
Espero que as gerações seguintes não fiquem incrédulas face à cegueira e inactividade (criminosa?) da nossa geração face a este problema.
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
Egipto: ser ou não ser islâmico
- «O Islão é a Religião do Estado. O Árabe é a língua oficial, e a principal fonte de legislação é a Jurisprudência Islâmica (chária).» (Artigo 2º da Constituição do Egipto)
Eu, o Sócrates, e a crise - V
No lado das despesas a direita tem razão nas suas alegações de que não está a ser feito o suficiente. Não deixa de ser absurdo priorizar os cortes nas prestações sociais (como quer a direita...) no momento em que elas mais são necessárias. Se estas forem cortadas, deverão ser as últimas, não as primeiras.
Pelo contrário, a crise é uma oportunidade para cortar prestações a grupos de interesses cujo rendimento vem da pressão política de que são capazes, e não do serviço que prestam. Aquilo que foi feito - e bem - no que diz respeito às escolas privadas com contrato de associação, deveria ser feito a vários níveis.
Tomemos o exemplo dos Capelães nos Hospitais, nas Forças Armadas, ou dos professores de religião e moral nas escolas públicas. Tomemos o exemplo dos negócios extremamente lesivos para o estado no que diz respeito às parcerias público-privadas, muitos dos quais deveriam ser renegociados. E por aí fora...
Esta crise também representa uma oportunidade para seguir a recomendação da OCDE e aumentar significativamente a transparência nas contas públicas, o que terá como consequência menos corrupção, e menos desperdício.
No lado das receitas, esta crise seria uma oportunidade de ouro para implementar um imposto justo sobre as grandes fortunas. A própria OCDE recomendou centrar os impostos mais no património e menos no rendimento, e a implementação deste imposto é uma das causas mais importantes e sensatas à esquerda do PS. A receita obtida através deste imposto seria suficiente para que a subida do IVA não fosse necessária.
O imposto sobre as grandes fortunas teria um impacto bem mais modesto na economia que a subida do IVA, e afectaria aqueles que têm sido menos prejudicados pela crise. Até teria um impacto positivo acrescido no sentido de diminuir várias formas de especulação.
Esta crise foi também uma oportunidade para acabar de vez com o «paraíso fiscal» na Madeira, ou com o financiamento excessivo da faustosa corte de Alberto João Jardim.
Em resposta à crise tomaram-se medidas justas e sensatas (como as alterações relativas à tributação de mais-valias bolsistas), ou às vezes desesperadas mas necessárias (como os cortes de 5% e 10% aos funcionários públicos que recebem maiores salários), que muito têm sido criticadas. Tomaram-se também medidas completamente disparatadas, tais como a enorme diminuição das indeminizações por despedimento.
Mas o pior não foi o que foi feito, mas sim o que ficou por fazer: as oportunidades referidas, entre outras, foram desperdiçadas - e isso foi um erro grave.
domingo, 20 de fevereiro de 2011
Tunísia: a vanguarda laicista do Magrebe
Os ditadores não caem todos da mesma maneira
Revista de blogues (20/2/2011)
- «Em 18 de Fevereiro de 1911, há cem anos, a inscrição obrigatória de todos os portugueses no Registo Civil, independentemente da confissão religiosa, a República transferiu da esfera paroquial para a tutela do Estado o registo das pessoas que passaram a ser cidadãos sem necessidade de baptismo. A lei que instituiu o Código do Registo Civil precedeu a promulgação da Constituição da República Portuguesa e obrigou a que todos os registos paroquiais (baptismos, casamentos e óbitos) anteriores a 1911 gozassem de eficácia civil e fossem transferidos das paróquias para as Conservatórias do Registo Civil, recém-criadas.
Laicizaram-se os nascimentos, casamentos e óbitos passando a actos civis as meras cerimónias litúrgicas da religião do Estado. Em breve, em 20 de Abril de 1911, a “Lei da Separação da Igreja do Estado daria à República o carácter laico que a colocou na vanguarda da modernidade.
Não foi pacífica a medida que transferiu o monopólio dos padres católicos para os funcionários civis e concedeu a todos os portugueses o direito de que apenas os católicos usufruíam.
Hoje, 100 anos volvidos, nem o mais empedernido dos crentes contesta a legitimidade e o alcance social da lei que a República criou num país a quem a monarquia tinha legado mais de 75% de analfabetos.» (Carlos Esperança)
Democracia: eleições e negociação
sábado, 19 de fevereiro de 2011
Aquecimento global e degelo polar - alguns mitos relacionados
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
Revista de blogues (18/2/2011)
- «Which two nations still reserve places in their parliaments for unelected religious clerics, who then get an automatic say in writing the laws the country's citizens must obey? The answer is Iran... and Britain.In 2011, the laws that bind all Brits are voted on by 26 Protestant bishops in the House of Lords who say they are there to represent the Will of God. They certainly aren't there to represent the will of the people: 74 per cent of us told a recent ICM poll the bishops should have to stand for election like everybody else if they want to be in parliament. These men use their power to relentlessly fight against equality for women and gay people, and to deny you the right to choose a peaceful and dignified death when the time comes.And here's the strangest kicker in this strange story: it looks like the plans being drawn up by the Liberal Democrat leader Nick Clegg, now Deputy Prime Minister in coalition with Conservative David Cameron, to "modernise" the House of Lords will not listen to the overwhelming majority of us and end these religious privileges. No - they are poised to do the opposite. Sources close to the reform team say they are going to add even more unelected religious figures to parliament.(...)
Wael Ghonim
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
As responsabilidades assumem-se
Mas merece respeito quem, como Colin Powell, assume que fez o discurso mais importante da sua carreira quase integralmente baseado em informação falsa, e pede «explicações» à CIA e ao Pentágono. Para a generalidade dos portugueses, deve parecer quixotesco. Mas as responsabilidades exigem-se. E assumem-se.
Supracomandante Angela
A chanceler há poucas semanas arrogava-se até ao direito de sugerir políticas microeconómicas ao estilo alemão que, independentemente das suas possíveis virtudes, foram decisões do foro interno dos países membros.
Ontem a chanceler nomeou um dos seus boys para presidente do Bundesbank, o banco central alemão, fazendo orelhas mocas do mandamento número um da política económica que a Alemanha defende há décadas: uma forte independência dos bancos centrais.
Subcomandante Louçã
Mais recentemente tivemos o tirar de tapete a Sá Fernandes, problemas com a justiça da única autarca do BE, a falta de consulta interna sobre o apoio à candidatura de Manuel Alegre, os obstáculos colocados à oposição interna quando esta quis convocar uma convenção nacional, etc. O Bloco era um partido que até há pouco fingia não ter um líder claro na sua hierarquia e ainda só tem um "coordenador da comissão política", apesar de Louçã ser o político que há mais tempo está à frente de facto de um dos 5 maiores partidos e da sua foto estar omnipresente na página do Bloco.
O recente anúncio da moção de censura provou ao mais ingénuo, ferrenho e distraído militante do Bloco que o Bloco é um partido como todos os outros, não só pela jogadinha política implícita no anúncio mas pela decisão ter passado ao lado da Mesa Nacional do partido (o que já levou a várias demissões).
Não vejo isto como algo grave, antes pelo contrário. Talvez deixe a altivez e contribua para convergências à esquerda.
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
2010 é ano mais quente de sempre
Apesar destes serem dados preliminares, sendo passíveis de pequenas correcções, é evidente que na década anterior se acentuou consideravelmente o aquecimento global e, perante os dados de 2010, essa tendência poderá manter-se na actual década. O facto de o Sol ter passado recentemente por um mínimo de actividade relativamente longo só reforça a gravidade do aumento de temperatura registado.
No seu relatório de 2010, os cientistas do NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) chamam a atenção para a influência na temperatura e na precipitação global do fenómeno climático La Niña, especialmente forte no final de 2010. Mas, numa tabela onde se registam os 10 fenómenos climáticos mais importantes do ano, a NOAA considerou a vaga de fogos na Rússia e as inundações no Paquistão como os acontecimentos mais significativos.
Se a clareza destes dados não forem suficientemente fortes para convencer os líderes europeus, americanos e chineses a mudar a lógica de desenvolvimento, ficaremos certamente entregues à arbitrariedade de acontecimentos climáticos catastróficos, até finalmente a classe política tomar medidas adequadas.
A resposta era 4
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
É oficial: as armas de «destruição maciça» eram uma grandessíssima treta
De como os media, correndo atrás de uma moda, passaram, numa semana, do verdadeiramente extraordinário ao completamente banal
- «Mulher esteve morta em casa durante nove anos» (Rinchoa, Sintra, notícia de 9/2)
- «Um homem que estaria morto há três meses foi encontrado pelas autoridades na sua habitação» (Cantanhede, notícia de 12/2)
- «O ex-agente da PSP Ernesto Henriques, de 68 anos, esteve morto em casa durante 10 dias» (Amadora, notícia de 14/2)
- «Um homem de 67 anos que estava morto há uma semana no seu apartamento (...) foi (...) encontrado, após os vizinhos terem estranhado a sua ausência» (Ourém, notícia de 14/2)
- «O vizinho, que tinha as chaves de casa do idoso, afirmou que o idoso não era visto há alguns dias» (S. Mamede de Infesta, Matosinhos, notícia de 14/2)
- «O alerta foi dado pelo senhorio que estranhou não ver o homem (...) há cerca de dois dias (...) a GNR diz (...) que o homem deveria estar morto "há um ou dois dias"» (Laranjeiro, Faro, notícia de 14/2)
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
O Bloco censura-se a si próprio
Adivinha
- (I) «Deus destruirá a semente dos **** e há de extirpá-los do mundo. Estes **** são patifes amaldiçoados, que choram lágrimas de crocodilo enquanto matam pessoas; é proibido ter piedade deles.»
- (II) «Os **** legitimaram o homicídio das suas próprias crianças ao matarem as nossas. (...) Os **** legitimaram a morte dos seus em todo o mundo ao matarem os nossos. (...) A vitória chegará, com a vontade de Deus.»
- São ambos muçulmanos;
- São ambos judeus;
- (I) é muçulmano e (II) é judeu;
- (I) é judeu e (II) é muçulmano;
- Nenhuma das respostas anteriores.
sábado, 12 de fevereiro de 2011
Musharraf implicado no assassinato de Bhutto
- «Musharraf tem o caminho cada vez mais desimpedido. Tenham sido os islamistas por ele, ou ele pelos islamistas, pouco interessa. Reforçaram-se.»
- «Um tribunal paquistanês emitiu hoje um mandado de detenção para o ex-Presidente Pervez Musharraf, exilado em Londres, no âmbito do inquérito ao assassinato da antiga primeira-ministra Benazir Bhutto. (...) Pervez Musharraf é acusado de, na altura, ter conhecimento dos planos dos taliban contra Benazir Bhutto mas de nada ter feito para evitar o atentado em Rawalpindi.» (Público)
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
Futuro aberto no Egipto
As revoluções no Magrebe
Mubarak saiu, Suleiman que o siga
Mubarak caiu
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
Sempre achei que cheirava a esturro
Comissão Europeia vai investigar compra de submarinos pelo Estado português.
Paulo Portas, Paulo Portas, a ver se é desta que te apanham.
Pequena dúvida 2
Note-se que há uma enorme diferença entre dizer que se pode eventualmente avançar... e avançar mesmo.
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
43 mulheres mortas por violência doméstica em 2010
Os centros de ajuda que foram criados nos últimos anos são um apoio extraordinário, mas são claramente insuficientes dados os números desta tragédia. Enquanto acharmos normal a verborreia machista e tradicionalista, enquanto classificarmos o marialvismo de bonacheirão, enquanto não respeitarmos o sexo oposto na sua plenitude, isto não pára. Não é com centros de ajuda nem com prisões que se muda a mentalidade de trogloditas dispostos a matar mulher e filhos e de se suicidar em seguida.
Número de deputados na Europa
Foi isso que foi feito nestes três textos do blogue Margens de Erro.
O último deles mostra, em escala logarítmica, os diferentes países europeus representados em termos da população e número de deputados na câmara baixa. Mostra também um ajuste linear feito com todos esses pontos.
É curioso verificar que, feito este ajuste linear, Portugal é o país mais próximo da linha resultante. Face à realidade europeia é impossível argumentar que temos mais ou menos deputados que aquilo que seria de esperar para um país com a nossa dimensão.
É como ficaríamos nós, de acordo com a proposta de diminuição para 180 deputados?
Não digo em termos de menor representatividade, e maiores distorções dos resultados; de maior dificuldade de eleger pequenos partidos; de favorecimento injusto dos maiores, ou do silenciamento da sociedade civíl. Nem tão pouco na forma como poupar meia dúzia de tostões numa instituição que gere milhões resulta geralmente em gastos adicionais várias ordens de grandeza acima da poupança proposta.
Falo apenas em termos da nossa posição relativa no contexto europeu. Foi para responder a esta pergunta que adaptei a imagem do blogue Margens de Erro, para incluir a proposta de 180 deputados:
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
A CNPD diz não a Amado
- «Abusivo, excessivo, demasiado genérico, difícil controlo de pesquisas indevidas, sem garantia da protecção dos dados transmitidos para os EUA e falta de salvaguarda da pena de morte na partilha de informação. Estas são algumas das conclusões a que a Comissão Nacional de Protecção de Dados (CNPD) chegou na sua análise ao acordo que o Governo português assinou com os Estados Unidos. Este tratado prevê a troca automatizada de dados pessoais, impressões digitais e perfis de ADN.» (Diário de Notícias)
domingo, 6 de fevereiro de 2011
Descubra Portugal enquanto há comboio
A CP é uma empresa surpreendente. Convida-nos, através de spots publicitários, a dar "uma escapadela com amigos e descobrir Portugal de comboio", como competente agência de turismo. E, ao mesmo tempo, continua a fechar linhas. Uma a uma, sem complacências a ajudar ao despovoamento.
Apresse-se, pois, se tenciona responder ao desafio da ferroviária portuguesa e partir à conquista do país ao som do pouca-terra, pouca-terra. Tanta é a pressa de excluir troços ferroviários que o gestor do site da CP, por certo, dificilmente acompanhará o ritmo. Na página online da companhia, o visitante é induzido em erro. Não existem nove propostas, como diz, "À descoberta de Portugal a bordo do comboio regional". Eram nove, agora são oito. No ramal de Cáceres, em Portalegre, o comboio deixou de apitar no primeiro dia de Fevereiro. (...)
Serão estes cortes uma inevitabilidade? Não haveria outra solução: ao invés de encerrar, tornar estas linhas atractivas, verdadeiras alternativas ao automóvel?
O caminho parece ser outro. Há muito tempo, é certo, não ouvimos os políticos a dar qualquer sinal de preocupação com a despovoamento que devasta o país. Isso também faz parte do passado. E assim se avança. Fecham urgências hospitalares, fecham serviços de atendimento permanente, acabam os comboios. Até que não reste ninguém a morar por esses sítios. Quando a CP - empresa do Estado, da qual se espera um serviço público - fechar as linhas que dão prejuízo, fica no ponto para mudar de mãos. Quem a comprar não terá, seguramente, de prestar qualquer serviço público - o objectivo será mais prosaico, o lucro.
P.S. Nem só o interior é alvo do desmantelamento da CP. A linha de Leixões, pensada para transportar 2,9 milhões de pessoas por ano, fechou. Sem que a estação que lhe daria sentido (no hospital de S. João) chegasse sequer a nascer.
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
Frases que marcam
- «(...) a classe média (a verdadeira: salários líquidos a partir de 2500 euros mensais) (...)» (Eduardo Pitta)
Revista de imprensa (4/2/2011)
- «The great Czech dissident Vaclav Havel outlined the “as if principle”. He said people trapped under a dictatorship need to act “as if they are free.” They need to act as if the dictator has no power over them. They need to act as if they have their human rights. Havel rode that principle to the death of Soviet tyranny and to the Presidential Palace of a free society. The Egyptians are trying the same – and however many of them Mubarak murders on his way out the door, the direction in which fear flows has been successfully reversed. The tyrant has become terrified of “his” people – and dictators everywhere are watching the live-feed from Liberation Square pale-faced and panicked.
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Sobre o ataque a reguladores e ao parlamento
O caso BPN já nos custou 5 mil milhões de euros injectados na CGD (o maior investimento público de sempre). No entanto quase nada foi feito para reforçar a regulação do sector financeiro, como aumentar o número de efectivos das entidades reguladoras, de preferência bem pagos para estarem mais imunes a actos de corrupção. Ou ampliar os poderes de fiscalização do parlamento. Quando se ouve Jorge Lacão a pedir uma redução do número de deputados superior a 20% simultaneamente com a redução dos vencimentos das entidades reguladoras, parece que estamos a assistir à sequela do livro de William Black. Na sua obra, Black (um regulador) descreve com detalhe como este tipo de ideias era proposto por políticos americanos não eleitos, geralmente após uma noite regada de champanhe em veleiros cheios de acompanhantes de luxo pagas pelos bancos.
Merkel quer rever a Constituição da República portuguesa
Espectáculo papal sim, ajuda ao terceiro mundo não
A notícia está a causar escândalo no Reino Unido, onde a pompa e excesso da visita do papa, em Setembro passado, é escrutinada com rigor. Sabe-se já que custou, no total, cerca de dez milhões de libras.
Entretanto, não sabemos qual foi o custo da visita do mesmo senhor a Portugal, em Maio. Provavelmente, foi muito superior.
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
Haja um governo que dê a volta a isto!
- «Dos 231 milhões de viagens de comboio realizadas em 1988, passou-se para 131 milhões em 2009, uma redução de 43 por cento. (...) Ontem, foi retirado o serviço ferroviário regional em mais 138 quilómetros de vias-férreas, depois de, no ano passado, se terem encerrado 144 quilómetros de linhas (com a promessa de reabilitação que não aconteceu). (...) Em 1990, quando Cavaco Silva era primeiro-ministro, reduziram-se abruptamente 700 quilómetros de vias-férreas, sobretudo em Trás-os-Montes e no Alentejo. O resultado foi que as linhas principais, vendo-se amputadas dos ramais que as alimentavam, ficaram com menos gente. (...) Os números do Portugal do betão e do alcatrão são significativos: o pequeno país periférico tem 20 metros de auto-estrada por Km2 contra 16 metros que é a média europeia. Mas na rede ferroviária só possui 31 metros por Km2 contra 47 metros da média da União Europeia. (...) Em 20 anos, nuestros hermanos, que apostaram no TGV, passaram de 182 milhões de passageiros dos seus velhos comboios dos anos oitenta (muitos deles, à época, bem piores do que os portugueses) para 467 milhões de clientes da ferrovia. (...) Entre 1992 e 2008, por cada euro investido no caminho-de-ferro eram aplicados 3,3 euros na rodovia. Durante este período, a Refer investiu 5,9 mil milhões de euros e os contratos da Estradas de Portugal para construção de novas vias rodoviárias atingiam 19,8 mil milhões de euros.» (Público)
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
Krugman: Europa melhor que EUA face à crise
Destaco a passagem da comparação com os EUA. Quem já viajou pelos EUA sabe do que Krugman está a falar. Dá-se de caras com uma miséria chocante de que já perdemos a memória na Europa. Muitos jovens sem tecto e velhinhos sem reforma a dormir em jardins ao fim de uma vida de trabalho em que alguns acumulavam dois empregos.
"Not long ago Europeans could, with considerable justification, say that the current economic crisis was actually demonstrating the advantages of their economic and social model. Like the United States, Europe suffered a severe slump in the wake of the global financial meltdown; but the human costs of that slump seemed far less in Europe than in America. In much of Europe, rules governing worker firing helped limit job loss, while strong social-welfare programs ensured that even the jobless retained their health care and received a basic income. Europe’s gross domestic product might have fallen as much as ours, but the Europeans weren’t suffering anything like the same amount of misery. And the truth is that they still aren’t.
(...) The Europeans have shown us that peace and unity can be brought to a region with a history of violence, and in the process they have created perhaps the most decent societies in human history, combining democracy and human rights with a level of individual economic security that America comes nowhere close to matching."
As más ideias de Lacão
Revista de blogues (1/2/2011)
«Em quase todas as eleições os jornalistas chamam à atenção para a abstenção.[...]
E isto, a mim, enerva-me. Que metade do País que se deu ao trabalho de ir votar gaste tanto tempo a falar da metade do País que se esteve nas tintas. Que fritemos a cabeça a tentar descortinar as motivações da inação de quem preferiu ficar em casa. Que os cidadãos que levam a sério essa sua condição e querem ter autoridade para criticar os eleitos se sintam na obrigação de fazer o papel de ama-seca de quem não quer saber.
[...]
Sou contra o voto obrigatório. Exatamente porque não gosto da ideia de que quem não quer decidir seja determinante nas nossas grandes escolhas. Acho que a abstenção, num país livre, é um direito. Mas, por favor, não peçam a quem se preocupa, pensa e escolhe para perder tanto tempo com quem não o faz.
[...]
Querem um número que merece reflexão? 277.835 cidadãos saíram de casa, foram à mesa de voto e votaram branco ou nulo. Esses sim, quiseram dizer alguma coisa. Os outros ficaram calados. E quem cala consente.»
No Que Treta!, o Ludwig Krippahl escreve:
«[...]Se os nossos impostos fossem um pagamento pela educação dos nossos filhos, seria razoável pedir um reembolso se puséssemos os miúdos na escola privada. Mas não é esse o caso. O Estado não é um negócio de vender educação a quem pagar. O papel do Estado, e dos impostos, é garantir as condições necessárias para podermos vender o nosso trabalho, ganhar dinheiro e ter a liberdade de o gastar. Uma dessas condições é a educação ser acessível a todos, mesmo que não a possam pagar. Quem julgar que só lhe interessa a educação dos seus filhos, lembre-se que a sociedade em que vive é composta, principalmente, pelos filhos dos outros.
Além destas confusões acerca de qual é o direito à educação, de quem é esse direito, e de qual o papel do Estado e dos impostos nisto tudo, há também um mal-entendido acerca do sector privado. Tanto o ensino privado como o ensino público são um direito, mas não são o mesmo direito. O ensino público justifica-se pelo direito à educação, que deve ser acessível a todos, ao passo que o privado resulta do direito de cada um gastar o seu dinheiro como entender. Quem quer pagar colégios finos para os seus filhos tem esse direito, e quem montar colégios finos tem o direito de aproveitar a procura para ganhar algum. Isso não é o direito à educação, mas apenas o direito de comprar e vender.
Por isso, o papel do Estado no ensino privado deve ser somente regular o negócio para que não se prejudique as crianças. De resto, não faz sentido subsidiar o lucro de privados com dinheiro público, seja com vouchers, contratos de associação ou outro esquema qualquer. Esse dinheiro faz falta para garantir o direito à educação.»
Noutro texto, acrescenta o seguinte:
«[...] Assim, o que compete ao Estado garantir é o direito a uma educação que permita, a cada criança, desenvolver-se como membro pleno da sociedade e consciente dos seus direitos. Que lhe permita "tomar parte livremente na vida cultural da comunidade [e] participar no progresso científico". Que lhe dê realmente "liberdade de pensamento, de consciência e de religião", "liberdade de mudar de religião ou de convicção» e «liberdade de opinião e de expressão". Só depois de se garantir estes direitos fundamentais é que os pais podem escolher se querem ter os filhos no ensino público ou pagar o ensino privado. Mas isso já não é com o Estado, nem é coisa que os outros pais tenham obrigação de pagar.»