Atribuí-lo a Boaventura Sousa Santos, autor do mais célebre panfleto anti-ciência português das últimas décadas.
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
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5 comentários :
por momentos, pensei que isto dizia respeito à bolsa de 2.4 milhões do erc.
tens linque para o panfleto?
Pode discordar-se das teses de Boaventura em domínio da filosofia da ciência (eu discordo de grande parte dessas teses), mas tratá-las como "panfleto anti-ciência" (provavelmente referindo-se ao "Discurso") é, perdoe-me a expressão, um disparate. As últimas décadas estão cheias, em todo o mundo, de acusações de "anti-ciência" que sobreviveram pior do que os seus alvos. E por boas razões: o facto de a ciência ser uma extraordinária aventura da humanidade (que é) não a torna imune aos condicionalismos de toda a actividade humana - coisa que, infelizmente, alguns cientistas têm dificuldade em compreender.
Fique surpreendido (provavelmente por distracção minha) ao ver aqui este despojo da "guerra das ciências" à portuguesa.
Referia-me ao «Um discurso sobre as ciências», que infelizmente ainda deve ser possível encontrar à venda em livrarias. E, embora seja um abjecto panfleto anti-ciência (continuado pontualmente noutras obras do mesmo autor), não considero que seja inócuo ou que deva ser minimizado. Muitos licenciados saem hoje de faculdades «de ciências sociais» tendo bebido da fonte as ideias de BSS ou dos seus seguidores - nomeadamente, seguem acreditando que a física quântica ou a biologia são tanto «ciências sociais» como a sociologia ou a análise literária.
BSS é um sintoma do nosso atraso em cultura científica.
Eu, pelo contrário, acho que essa opinião sobre BSS (cujas teses, como escrevi antes, me parecem ter muitas falhas) é um sinal da arrogância "científica".
E se alguém disser que BSS é um sinal de "atraso português", estará simplesmente a manifestar ignorância sobre o que no mundo se pensa acerca da ciência. É que discordar de uma dada posição é uma coisa; caracterizá-la como atraso cultural pode ser, isso sim, um sinal de atraso cultural.
«Arrogância» foi o que me veio à cabeça ao ler o «Um discurso sobre as ciências».
Por exemplo, esta passagem: «Primeiro, começa a deixar de fazer sentido a distinção entre ciências sociais e naturais; segundo, a síntese que há que operar entre elas tem como pólo catalizador as ciências sociais; terceiro, para isso,as ciências
sociais terão de recusar todas as formas de positivismo lógico ou
empírico ou de mecanicismo materialista ou idealista com a
consequente revalorização do que se convencionou chamar humanidades».
Diga-me lá quando e como é que deixou de fazer sentido a distinção entre ciências naturais e «ciências sociais»? Ou porque seria necessário fazer uma «síntese» entre elas? Ou porque é que o «pólo catalizador» seriam as «cs´s»? São todas asserções arrogantes.
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