terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Prisão inaceitável

Como ponto prévio, acho natural a presença da polícia em grandes aglomerados de pessoas; em particular, em manifestações. No entanto, a polícia só deve atuar por razões de segurança, seja por integridade física ou seja pela propriedade pública ou privada. É sempre difícil atuar nestes casos, e a maior parte das vezes a polícia usa violência desnecessária e cega, atingindo também inocentes. Suspeita-se muitas vezes que a polícia procede com o objetivo de causar ela mesma esses desacatos (nomeadamente em manifestações de estudantes). Mas também reconheço, e a experiência diz, que existem em certas manifestações (nomeadamente manifestações de anarquistas) certos elementos (que não devem ser confundidos com todos os elementos) cujo principal objetivo é serem eles a causarem desacatos.
Não é essa, no entanto, e nunca foi a tradição ou o procedimento típico de manifestações sindicais. Um dos raros desacatos que houve numa manifestação sindical foram os ataques a Vital Moreira, no 1º de Maio de 2009, mas sabe-se que os responsáveis por esses desacatos não eram sindicalistas: as centrais sindicais (neste caso a CGTP) não tiveram nenhuma responsabilidade no acontecimento.
Na semana passada, dois sindicalistas da CGTP foram presos numa manifestação à porta da residência do primeiro ministro. Não tinham (nem há em geral nos sindicalistas portugueses) um historial de desacatos. Nem consta que escrevam no Vias de Facto ou no Spectrum. (A bem dizer, ninguém sabe quem escreve no Spectrum, mas não parece que sejam sindicalistas da CGTP.) Pelo que se sabe, foram presos só porque pretendiam circular livremente na via pública, um direito de qualquer cidadão. A sua detenção constitui uma arbitrariedade e uma prepotência, que era mais habitual no tempo em que o atual presidente da República era primeiro ministro, e que urge denunciar e combater. Exigem-se explicações.

8 comentários :

tempus fugit à pressa disse...

só porque forçaram a passagem numa rua fechada à circulação, desobedecendo às ordens policiais, um direito de qualquer cidadão é contestar o fecho da rua pedindo o nº do agente que lhe impede a passagem e não atirar-se sobre ele

quando a RTP fez uma produção na cidade de Évora fechou arbitrariamente 4 ruas, impedindo a circulação, um palerma que queria ir para casa mijar passou numa rua atrás dos bailarinos, o produtor fez um sinal à polícia e o indivíduo foi reconduzido à sede da PSP nessa época algures perto do templo dito de "diana"
e não precisou de empurrar polícias para isso

Direito de circular, fossem circular no Laranjeiro aí pelas 23 horas, aí podiam dar pedradas nos carros da polícia que ninguém ligava

o gordinho careca que não foi preso
afinfou umas cotoveladas valentes no agente que efectuou a prisão e não foi preso
Porquê?
se calhar era da SIS...

Ricardo Alves disse...

Filipe,
embora concorde com o sentido do teu post, acho que deverias ter deixado o «Vias de Facto» fora disto. Mais facilmente encontras no «5 Dias» apelos à violência.

João Branco (JORB) disse...

Por acaso, Filipe, nunca vi nenhuma manifestação anarquista em Portugal forçar ou provocar confrontos com a polícia e olha que já estive em algumas. Por outro lado, já não é a primeira nem será a última que vejo sindicalistas a forçarem confrontos. Pelos vistos o medo de desobedecer às ordens da polícia é maior mais entre os teus odiados anarquistas do que entre os teus amados sindicalistas da cgtp , estudantes, etc. que gostam muito de tentar passar cordões policiais , agredir candidatos , etc.

Em relação ao vias de facto, acho que já vi mais apelos à violencia da tua parte do que da deles (não eras tu que apoiavas o bombardeamento do Afeganistão, por exemplo? )

Diogenes disse...

"Um dos raros desacatos que houve numa manifestação sindical foram os ataques a Vital Moreira, no 1º de Maio de 2009, mas sabe-se que os responsáveis por esses desacatos não eram sindicalistas: as centrais sindicais (neste caso a CGTP) não tiveram nenhuma responsabilidade no acontecimento".
O que afirma é factual, contudo omitiu o seguinte pormenor:os responsáveis pelos desacatos e ataques a Vital Moreira são conhecidos militantes do PCP/Barreiro, sendo a CGTP uma corrente de transmissão desse partido, o resultado é o mesmo.

Filipe Moura disse...

Todas as informações de que disponho (e conheço quem conheça pessoalmente pessoas envolvidas no desacato com Vital Moreira) contrariam a afirmação de Diógenes (e o que foi publicado nos jornais). Não eram militantes do PCP.

João, é com agrado que registo que vais a manifestações de sindicalistas. Eu nunca vi desacatos nessas manifestações como os que se vêem nas de anarquistas (repito o que escrevi -não em todas as manifestações nem da parte de todos os participantes).
Reconheço que o MEDO (expressão tua - eu chamar-lhe-ia mesmo fobia) de desobedecer à polícia é maior da parte dos narquistas que das outras pessoas. Não acho que isso seja um efeito, mas uma causa: é por isso que são anarquistas.

És capaz de concretizar - estudantes e sindicalistas da CGTP que furam cordões e agridem candidatos?

Finalmente, o "Vias de Facto". Eu não gosto muito de usar este tipo de argumentos, porque escrever num blogue não é uma obrigação e as pessoas podem ter outras coisas que fazer (eu próprio não escrevo nem metade do que desejaria). Mas não deixo de registar que no Vias de Facto não se escreveu nem uma linha sobre este episódio. Fosse um anarquista que tivesse partido uma unha com a polícia e vinha a casa abaixo.

Ricardo Alves disse...

Filipe,
não tens razão quanto ao Vias de Facto:

http://viasfacto.blogspot.com/2011/01/sindicalistas-detidos-apos-manifestacao.html

Filipe Moura disse...

OK, uma transcrição do Correio da Manhã, sem mais texto nenhum. Confesso que me passou (devo ter julgado que era um post do João Tunes). E foi pena, pois perdi esta pérola do Miguel Serras Pereira:

" reacção de Manuel Alegre, decalcada ponto por ponto nessa lógica do double bind ou injunção contraditória que, segundo vários e estimáveis autores, tende a psicotizar aqueles a quem é imposta (e a psicotizar também aquele que, desdobrando-se, a adopta como auto-imposição e modo de funcionamento). (...) O double blind, duplo vínculo ou injunção contraditória, não podia ser mais claro."

Gosto muito sobretudo desta parte: "não podia ser mais claro". É claro que não, Miguel Serras Pereira. É claro que não.

Este blogue é muito eclético: mistura Correio da Manhã e Miguel Serras Pereira. Creio que o que o Miguel quer dizer se resume numa frase (legível, para variar) dele:

"Oposição e apoio ao governo de uma assentada - é obra."

Tem toda a razão. Queria ter escrito sobre isto mesmo na segunda feira. Mas lamentavelmente só vou poder amanhã.

Ricardo Alves disse...

Passámos da repressão dos sindicalistas para a tua obsessão com o «Vias de Facto».