Fernando Nobre e José Manuel Coelho (mais o segundo que o primeiro) representam votos de protesto. Não creio que o primeiro reunisse condições para ser um bom presidente da república, e não acredito que alguém quisesse o segundo nessa função.
Defensor de Moura marcou o início da campanha, com a denúncia da parcialidade de Cavaco Silva, e um ataque eficaz no caso do BPN. Mais para o fim, no entanto, assumiu-se como "candidato regional", do norte. Um presidente da república tem todo o direito a ser regionalista, mas não regional. Louvo-lhe a iniciativa, creio que desempenhou um papel importante nestas eleições, mas acabou por não contar com o meu voto, mesmo tendo ponderado votar nele por algum tempo. Pareceu-me que Defensor se candidatava em nome de uma "ala direita" do PS, que rejeitava coligações com o Bloco de Esquerda. Reconheço o direito dessa tendência a ter um candidato, mas não era ela que eu queria reforçar com o meu voto.
Creio que faz falta mais esquerda, e a candidatura mais à esquerda era sem dúvida a apoiada pelo PCP. Só que aí põe-se o problema oposto. Eu poderia perfeitamente ter votado num militante do PCP respeitável e que tivesse desempenhado um papel meritório no resto da sociedade e não só dentro do partido. Casos de Carlos Carvalhas, Octávio Teixeira, Carvalho da Silva ou mesmo Odete Santos (era um sonho meu ver a Odete Santos numa eleição presidencial). Não dei o meu voto a alguém que pode ter um passado muito respeitável (e acabou por fazer uma boa campanha contra Cavaco), mas não passa de um funcionário de partido. Não é este o perfil que eu considero indicado para um presidente da república.
Restou Manuel Alegre, em quem votei por exclusão de partes. Conforme era de prever, face à sua desastrosa derrota, a direita tratou logo de afirmar que uma aliança PS-Bloco de Esquerda era rejeitada pelo povo. Sendo esta a solução de governo que eu desejo para Portugal, achei importante contrariar esta interpretação. Mesmo se estas não eram eleições legislativas. E mesmo que para tal tenha acabado por votar num candidato que, sabia, estava longe de ser o ideal.
Por que é que Alegre não era o candidato ideal? Porque a um candidato a presidente exige-se independência e autonomia, mas também um rumo certo, próprio. E foi isso que Alegre não demonstrou, fazendo uma campanha ziguezagueante face às contradições dos partidos que o apoiavam, ora procurando o apoio de um, ora o de outro. Tal tornou-se particularmente evidente no caso dos sindicalistas detidos de que aqui falei. Confrontado com a notícia, e ainda sem saber do que se tinha passado, a primeira reação de Alegre foi dizer que era "evidentemente" contra. (E se os sindicalistas tivessem mesmo agredido o polícia? Poderia dizer que era contra, fazendo as devidas ressalvas, cono eu fiz, dizendo que não sabia o que se passara.) Mais tarde, pareceu querer mesmo criticar a manifestação, ao questionar a sua razão dada a ausência do primeiro ministro. Alegre nunca se conseguiu libertar do espartilho que era ter o apoio de dois partidos que são adversários em tanta coisa. Nunca foi um homem livre. Nunca teve um rumo próprio e consequente. Estas são qualidades que se apreciam num presidente da república.
E agora? Estamos na mesma como estávamos. Pior, talvez: nas próximas eleições legislativas, sejam elas quando forem, a direita aparenta ser favorita, embora um governo de direita não seja inevitável. Até lá, a crise. Daqui a cinco anos a esquerda tem que apresentar candidatos mais fortes.
1 comentário :
Se há cinco anos havia um ex-presidente (o melhor deles) a querer regressar ao lugar.....
é engraçado como se criam os mitos do bom presidente
engraçado é nunca se ter questionado porque foi cavaco tão facilmente demolido sem nenhum repúdio visível
e o caso carlos castro por uma piada inócua ou o caso do telemóvel
levantaram um turbilhão de críticas
soares também tinha e tem os seus podres em termos de bens materiais e ganhos gigantescos
mas estranhamente nunca ninguém o censurou
um perdeu a intocabilidade em meses
o outro só foi apodado de xéxé
é assi a memória das gentes
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