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Sugestão de leitura para o próximo dia 13 de Maio.
«entre le fort et le faible, entre le riche et le pauvre, entre le maître et le serviteur, c’est la liberté qui opprime, et la loi qui affranchit.»
(Lacordaire)
Um grupo de leigos católicos pela responsabilidade social organizou ontem um encontro de oração, na igreja da Encarnação, em Lisboa, com a finalidade de mostrarem a preocupação com a questão da viabilização do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Posteriormente, o grupo entregou uma carta ao Presidente da República apelando para que vete a lei que teve luz verde do Tribunal Constitucional (TC).
"Nós pretendemos que as pessoas se juntassem em oração e pedissem ao Espírito Santo que ilumine o Presidente da República, para uma questão que ainda não está acabada e que agora só está nas suas mãos" [...]
Depois da publicação [do acordão do TC] começa a contar o prazo de 20 dias para o Presidente da República decidir se promulga ou veta a lei (artigo 136.º n.º 1 da Constituição). Se for publicado hoje, Cavaco Silva tem de decidir até 13 de Maio, em plena visita do Papa.
Para maior azar de Papandreou, no dia seguinte, o mesmo jornal trazia uma reportagem sobre a contestação de rua, em Atenas, às suas medidas, onde se registava a opinião de uma jovem de 26 anos, declarando que, em caso algum, aceitaria que prolongassem a sua idade de reforma, prevista para os 50. Porque, explicava ela, a sua profissão estava considerada por lei como de "desgaste rápido", o que lhe conferia também direito a uma reforma rápida. E qual era a profissão dela? Cabeleireira. É uma das 280 profissões ou trabalhos a que a lei grega reconheceu o estatuto de 'desgaste rápido', em consequência de sucessivas cedências às reivindicações sindicais.
Por diversas razões, que agora não vêm ao caso, eu acho que, aqui, como no resto, a Europa nunca tem sido justa com a Alemanha e nunca reconheceu suficientemente o esforço que a Alemanha tem feito em defesa da Europa e na manutenção de pontes entre o Leste e o Oeste, entre o Mediterrâneo (incluindo a Turquia) e o Norte. Talvez se perceba isso melhor quando se vê uma imigrante turca de Berlim (onde 20% dos habitantes são imigrantes) atirar para o chão, displicentemente, o embrulho do cachorro acabado de comprar. Numa cidade estimada pelos seus habitantes, limpa e onde tudo funciona, que custou milhões aos pagadores de impostos para se unificar e reconstruir depois do Muro, o gesto é uma ofensa que dá que pensar.
Nessa semana, por coincidência, eu também estava em Berlim e percebi bem por que razão 90% dos alemães não querem ajudar a Grécia a sair do buraco onde se enfiou e chegam até à ironia de perguntar se, em alternativa, os gregos não quererão antes vender algumas ilhas. Como me explicou um alemão, "Papandreou representa um país onde toda a gente tem direito a 13º e 14º mês e onde a idade de reforma nunca vai além dos 60 anos. E vem-nos pedir dinheiro a nós, esquecendo-se que aqui não há direito legal a 13º e 14º mês e a idade de reforma já vai nos 67 anos". (Miguel Sousa Tavares, 01-04-2010)
O SAP de Valença foi fechado a partir das 22h - como trinta e dois outros nos últimos três anos. Tinha uma média de 1,7 utentes por noite, os quais mobilizavam um médico, um enfermeiro, um administrativo. Três funcionários do Estado a receber horas extraordinárias e nocturnas a noite toda, para atenderem 1,7 doentes ou autodeclarados como tal: era, provavelmente, a consulta mais cara do país. Se os casos atendidos fossem graves, o serviço servia de muito pouco ou pior: fazia perder tempo a encaminhar o doente para outro lado, onde houvesse condições para o atender; se não fosse grave, o atendimento nocturno servia apenas para retirar um médico do serviço de dia, onde há mais gente para atender. Como não somos o Dubai e não temos dinheiro para manter 24 horas por dia um médico, um enfermeiro e um funcionário ao serviço de cada cidadão, o SAP de Valença fechou. Agora, a população diz que vai a Tuy, em Espanha, logo ali ao lado e onde dizem que são recebidos a qualquer hora e sem sequer pagar taxas moderadoras. Agradecidos, hastearam bandeiras espanholas na vila e dizem que só voltam a ser portugueses quando reabrir o serviço nocturno do SAP. Eu, que dou ao meu país 60% do que ganho a trabalhar, em impostos directos e indirectos, tenho um recado para os de Valença: por favor, continuem espanhóis. (Miguel Sousa Tavares, 15-04-2010)