Um dia depois de a Bélgica ter dado um primeiro passo para proibir os véus integrais, vale a pena dar voz a Fatoumata Sidibé, uma deputada belga de origem muçulmana que defende a proibição da burca. Fica um extracto de um artigo seu, aqui divulgado recentemente.
- «Eu, cidadã belga de cultura muçulmana, originária do Mali, um país muçulmano a 90% onde a religião influencia fortemente as leis, regulamentos e diferentes aspectos da vida quotidiana, onde certos costumes e tradições retrógradas perpetuam as discriminações das mulheres, onde mais de 80% das raparigas são vítimas de mutilações sexuais, onde a poligamia é legal, onde os casamentos forçados são impostos às jovens, onde em matéria de herança as mulheres são atingidas pela desigualdade, onde, desde a mais jovem idade, se ensina às raparigas que o seu destino é sofrerem, resignarem-se, submeterem-se, casarem-se, fazer filhos e honrar a família,
Eu, vinda de um país onde o integrismo islâmico ganha terreno trazendo como corolário a proliferação do uso do véu (...)
Declaro que nem todas as mulheres veladas são submissas, e que nem todas as mulheres que usam os cabelos ao vento são livres e emancipadas, mas que as raparigas e mulheres que usam o véu por pertença cultural, convicção religiosa, ou porque as proíbem de o usar, não retiram nada ao significado político deste véu sacralizado pelos islamistas e imposto pelo proselitismo dos auto-proclamados procuradores de Deus. Aquelas que avançam o argumento de que "é a minha escolha" deveriam ter a decência e a «sororidade» de reconhecer a opressão daquelas que não têm escolha.»
Note-se que Fatoumata Sidibé não separa a sua hostilidade aos véus dos combates que tem travado contra o patriarcado, a violência doméstica, a misoginia, a falta de acesso à contracepção, a homofobia, e a favor da laicidade, do feminismo, e da igualdade entre homens e mulheres.
Leituras complementares: Yasmin Alibhai-Brown, Sara Rasmussen, Azam Devisti, Mina Ahadi, Maryam Namazie e Azar Majedi.
1 comentário :
Obrigado pelo artigo. Julgo que a maioria dos portugueses não faz a menor ideia da quantidade de mulheres aprisionadas pelo véu integral em terras europeias.
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