A primeira volta das presidencial francesa será já no domingo. Estranhamente, e apesar de o presidente francês ser de facto o vice-governador da União Europeia, a eleição parece interessar pouco à opinião publicada em Portugal.
Merkozy parece ferido de morte no dia em que escrevo. Dificilmente uma vitória de Hollande permitirá a Merkel manter o rumo actual do espaço político em que, sem referendos nem verdadeiro debate, estamos inseridos desde 1985. O próprio Sarkozy foi forçado pela dinâmica eleitoral a contestar o consenso monetarista europeu, enervando Berlim com sugestões de que o BCE deveria apoiar o crescimento económico.
Há lições portuguesas da política francesa, embora três circunstâncias hexagonais não tenham paralelo por cá (a reduzida expressão da esquerda anticapitalista incapaz de exercer o poder, o peso da extrema-direita da dinastia Le Pen e o eleitorado centrista de Bayrou, decisivo mas imprevisível).
Primeira lição: o quadro europeu não é imutável e uma viragem antineoliberal parece mais próxima, tornando absurda a pressa de Coelho e Seguro de aprovar a emenda constitucional alemã.
Segunda, a esquerda mais radical devia aprender com Mélenchon como é possível apresentar uma proposta credível e moderna a partir do legado republicano e socialista.
Terceira, a esquerda que cede sistematicamente ao BCE e a Berlim vai perder uma desculpa.
2 comentários :
Mélenchon "apresenta uma proposta credível e moderna"? De verdade?
Eu creio que nem ele nem ninguém apresenta qualquer proposta credível.
Já agora, em vez de "Merkozy", não seria mais apropriado "Merdozy"?
Para os interessados:
ruitavares.net/textos/ha-uma-nova-esquerda-2
Enviar um comentário