terça-feira, 30 de abril de 2013

Revista de blogues (30/4/2013)

  • «(...) Se pensarmos bem nas coisas como elas são, de facto uma empresa pode ter bastante mais liquidez para investir e crescer se simplesmente deixar de pagar aos seus trabalhadores. Vamos lá ver: os trabalhadores devem pensar no bem-estar da empresa que faz o favor de lhes dar trabalho (...). Podem muito bem abdicar dos seus ordenados para manter as máquinas em funcionamento. Apenas com tal sacrifício e abnegação da massa colaboradora poderão as empresas continuar a distribuir dividendos pelos seus accionistas no final do ano. (....) Quando os trabalhadores da empresa onde eu estava decidiram fazer greve para protestar por dois meses de salário em atraso, foram acusados de serem traidores para baixo. Com toda a razão, pois claro. Se tivéssemos continuado a trabalhar, resistindo à vil tentação de recebermos um ordenado pelo nosso trabalho, a empresa teria tido muito mais flexibilidade para manter uma frota de automóveis topo de gama ao serviço dos administradores e os accionistas teriam recebido mais pelo seu hercúleo esforço. Fomos, na realidade, gente mesquinha, que apenas queria a desgraça da empresa. Onde já se viu, exigirmos receber pelo trabalho produzido? (...) indigna não é a entrevista na qual o inspector-geral do trabalho defende a criminalização do atraso no pagamento de salários. Indigno é haver patrões que acham que podem gerir as suas contas particulares e as dos accionistas com os salários dos trabalhadores. (...)» (Sérgio Lavos)

Neoliberalismo ou neo-esclavagismo?


Não é por acaso que um neoliberal ferrenho já pede a demissão imediata do Inspector Geral do Trabalho: defender a criminalização dos patrões que atrasam o pagamento dos salários é uma blasfémia contra o dogma da sacralidade do capital e contra a não menos intocável autoridade do santo patronato (*). Na doutrina neoliberal, o valor supremo é a «liberdade» do empresário de incumprir os contratos em que (livremente) se comprometeu, quiçá de não pagar o trabalho que comprou, no limite de praticar as ilegalidades que só afectem a remuneração dos trabalhadores. A obrigação de remunerar o indivíduo que trabalha é secundária face ao «fim» de «salvar» o colectivo («empresa»), e a obrigação dos assalariados é trabalhar, mesmo sem remuneração. Em tempos, chamou-se a isto esclavagismo. Hoje chamam-lhe «liberalismo» (estragando uma excelente palavra que tinha o sentido quase oposto).

sábado, 27 de abril de 2013

Portugueses: os piores condutores da Europa ocidental

  • «Bulgária, Grécia, Roménia, Lituânia, Polónia, Letónia e Chipre são os países europeus que têm mais mortos [por milhão de habitantes] devido aos acidentes rodoviários do que Portugal» (Jornal de Notícias).
Assim se comprova que do ponto de vista do comportamento cívico a um nível básico (respeito pela vida alheia), Portugal é o país mais atrasado da Europa ocidental. Consta que até é normal pessoas gabarem-se de conduzir acima dos limites de velocidade.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Ninguém pode demitir um presidente de Câmara?

Há algum tempo que penso que, dado o poder executivo de um presidente de Câmara em Portugal, alguém deveria poder demiti-lo(a). Por exemplo, o presidente da República. Senão...

Análise (contabilística) do discurso do presidente da República

(Contagens do número de ocorrências neste texto, tecnologia word.)

«Europ/eu/eia/a»: 30. «Portug/al/ês/eses/...»: 31.

«União Europeia»: 6. «Democracia»: 4.

«Mercado»: 8. «Desemprego»: 4.

«Banco Central Europeu»: 4. «Assembleia da República»: 2.

«Programa de Assistência Financeira/Programa de Ajustamento»: 17. «Cidadãos»: 4.

«Economia»: 9. «Sociedade»: 2.

«Empresas»: 4. «Partidos»: 1.

«Financiamento»: 7. «Subsídio»: zero (*).

«Dívida pública/soberana/comum»: 6. «Revolução»: zero (*).

«Consenso»: 4. «Negociação»: zero (*).

«Fundo Monetário Internacional»: 2. «República»: zero (*).

«Tratado Orçamental»: 4. «Constituição»: zero (*).

25 de Abril sempre (?)

(José Mário Branco, 1982)

quarta-feira, 24 de abril de 2013

No essencial eles estão todos de acordo

Depois das recentes remodelações, à primeira vista, para quem não está habituado, é surpreendente a naturalidade com que entram para o governo vários novos ministros e secretários de estado (nomeadamente Miguel Poiares Maduro e Fernando Alexandre) imediatamente a seguir a o terem criticado duramente. Passos Coelho parece seguir uma política iniciada por Relvas, quando contratou para seu assessor o blóguer João Gonçalves, outrora forte crítico (pela direita) do PSD: chamar para junto de si os seus maiores críticos, de preferência com méritos académicos, coisa que eles (Relvas e Passos) não têm. Uma primeira análise poderá levar a questionar a consistência deste governo e a coerência dos seus membros, capazes de esquecerem o que imediatamente antes haviam dito em troca de um prato de lentilhas. Não vou estar a pôr as minhas mãos no fogo a defender a coerência de nenhum destes novos membros do governo, mas a minha interpretação é outra. Todos eles partilham a mesma ideologia (repito: ideologia) liberal: estado e governo mínimos. Todos eles podem discordar entre si no que defendem, mas até por isso partilham a ideia de que o governo deve governar o mínimo possível. Pessoas que pensem desta forma podem discordar em certos aspetos, mas acharão essa discordância normal entre liberais que estão de acordo no princípio do estado mínimo. Por isso eu não me deixo impressionar por estas divergências que são só aparentes.    

A direita alemã está a ganhar-lhe o gostinho II

Norbert Barthle, porta-voz sobre assuntos orçamentais da CDU alemã, afirmou hoje que "os comentário críticos de Durão Barroso sobre a austeridade na Europa irritam-me muito".
As palavras autoritaristas não são um descuido, espelham sim a mentalidade vigente em grande parte da direita alemã.

domingo, 21 de abril de 2013

Itália: uma colecção de absurdos

A situação política italiana dificilmente poderia ser mais absurda: Bersani ganhou as eleições e demitiu-se; Berlusconi perdeu-as e mantém-se líder (partidário); Monti teve 10% e continua Primeiro Ministro; Napolitano tem 87 anos e foi reeleito Presidente para um mandato que terminará quando tiver 94 anos; e Beppe Grillo diz que o candidato dele não ser eleito Presidente é um «golpe de Estado».

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Quem disse: "a Troika e a Alemanha têm atitudes neo-coloniais"?

Enquanto em Portugal ainda caí o Carmo e a Trindade se o PS faz uma crítica ligeira à Troika, Hannes Swoboda diz que a Europa não precisa de Troikas, que a Troika não têm legitimidade democrática, e que o governo alemão e a Troika têm atitudes quase neo-coloniais.
Swoboda não é um populista de extrema-esquerda/direita qualquer, é o líder parlamentar do Partido Socialista Europeu, o segundo maior no Parlamento Europeu e que engloba toda o centro-esquerda incluindo o PS português. 
Ah, e tem a vantagem de ser austríaco.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Por uma revisão constitucional de esquerda

Se fosse espanhol, talvez fosse militante do PSOE: quando os clericais ladram que querem mudar as leis do casamento civil e da IVG, esse partido responde logo com a ruptura da Concordata. Nem mais: se querem guerra, tê-la-ão. 

Por cá, seria bom que a esquerda se deixasse de uma defesa acrítica da Constituição e pensasse em a rever à esquerda. Por exemplo: a mais este rosnido dos pseudo-nacionalistas madeirenses, deveria responder-se alto e bom som que é necessário retirar dos limites de revisão constitucional o estatuto da Madeira. Se não entenderem, explica-se ainda melhor: é para depois extinguir a «região autónoma». Os madeirenses elegem deputados à AR, que votam em questões continentais que na Madeira são decididas «autonomamente»: esta é uma desigualdade.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Revista de blogues (15/4/2013)

  • «Um princípio republicano que me é particularmente caro resume-se nisto: a política é um serviço, não é uma profissão. Também porque o leninismo (em circunstâncias históricas que até o admitiam) criou a figura do revolucionário profissional, e a manteve, muitos países acabaram em monarquias norte-coreanas. Entre nós mais que uma profissão transformou-se numa carreira, com jota-iniciação e passagem a sénior deputado ou autarca, com a agravante de nos partidos do arco se ir rodando pelo poder empresarial, que não busca nos políticos talentos mas mero tráfico de influências. O anedótico episódio dos presidentes de câmara que querem mudar de concelho porque lhes limitaram os mandatos chega a ser caricato. É certo que o mal vem detrás, não faz qualquer sentido o típico pára-quedismo que admite aterragens em concelhos onde nunca se viveu, aproveitando normalmente famas mediáticas. Mais um tribunal acaba de mandar Luís Filipe Menezes ganhar a vida noutro lado (que diabo, o homem até é médico, não fica desempregado), e a falta de clarificação da AR promete enriquecer o luso-anedotário; dificilmente o assunto será resolvido a tempo de, na altura da legalização das candidaturas e no curto prazo em que cada juiz as valida, haver jurisprudência nacional. A insistência do PSD neste caso já brada aos céus. Como Passos Coelho se vai afirmando um reputado especialista em bodes expiatórios e calimerismos puros e duros, e não vendo nenhum ex-autarca do PSD no desemprego ou na emigração, começo a desconfiar que a insistência em seabras, menezes a até ribaus, tem um fito: chegar à noite das eleições e choramingar que a pesada e inevitável derrota eleitoral que se avizinha é culpa dos tribunais. Então se chegar ao Constitucional, vai ser um festival de lágrimas. (...)» (João José Cardoso)

sexta-feira, 12 de abril de 2013

A democracia é uma coisa frágil



Há quase 15 anos exilado no Texas, é-me ainda difícil perceber o que leva os americanos a elegerem delinquentes e sociopatas como Reagan, Bush, ou Rick Perry, e continuarem a adulá-los ao mesmo tempo que perdem o emprego, a pensão de reforma e o seguro de saúde, que a indústria das prisões suborna os políticos para lhes prenderem os filhos, que a indústria do armamento os manda morrer pela indústria do petróleo em países cujos nomes eles não sabem nem pronunciar, e que os gangsters das finanças lhes gastam as poupanças em lamborghinis e jantares com prostitudas que levam dez mil dólares por hora. 

O que é que faz os americanos destruírem o bem estar que constroem e entregarem as poupanças e o poder de decidirem sobre o próprio futuro a gangsters e a sociopatas?

Não é fácil falar desta realidade.  Como Foucault explicou eloquentemente, todas as sociedades impõem uma série de regras que controlam, seleccionam, organizam e redistribuem as coisas ditas de forma a enfraquecer e domesticar o poder e o perigo das palavras.  As pessoas aceitam sem problemas que certas explicações da realidade sejam deixadas aos malucos e aos comediantes, indefesos e sujeitos à censura do poder (por exemplo, Herman José nunca se atreveu a dizer piadas sobre bispos ou generais).  Certas verdades não se podem dizer senão a brincar.  George McGovern disse dos artigos de Hunter S. Thompson compilados em Fear and Loathing: On the Campaign Trail '72: "not factual but accurate".  O mesmo se poderia dizer do texto de Sue Townsend sobre Margaret Thatcher: The Secret Diary of Margaret Hilda Roberts.  Não é factual, mas descreve com grande precisão a cabeça duma sociopata sem outras emoções que nojo e desprezo pelos pobres e os indefesos.  

A avalanche de textos laudatórios que se seguiu à morte de Thatcher fez-me pensar na fragilidade da democracia.  A maioria dos antropólogos acredita que os humanos, como a maioria dos primatas, têm tendência para seleccionar chefes (alpha males) que os protejam e guiem.  Nesse sentido a democracia é uma instituição anti-natural, que tenta nivelar os direitos, as liberdades e as garantias de todos os cidadãos.  Sabemos que as maiorias não se excitam facilmente com as ideias da liberdade e da dignidade individuais:  primeiro querem sentir-se protegidas e todos os políticos sabem que nada reforça a cola social como uma boa ameaça.  Umberto Eco escreveu um ensaio excelente sobre este assunto (Costruire il nemico).

Mas não é fácil explicar o que faz a América odiar Carter e Clinton, e adorar Reagan e os gangsters da família Bush.   Uma explicação óbvia é que a maioria não sabe nem percebe nada, não quer responsabilidades e não tem qualquer interesse em decidir sobre coisa nenhuma:  limita-se a repetir o que ouve na televisão.  E na América a televisão dos pobres e dos simples é a FOX News.  Como Goering explicou aos americanos, as pessoas nunca percebem nada:  "Why, of course, the people don't want war. Why would some poor slob on a farm want to risk his life in a war when the best that he can get out of it is to come back to his farm in one piece? Naturally, the common people don't want war; neither in Russia nor in England nor in America, nor for that matter in Germany. That is understood. (…) but (…) the people can always be brought to the bidding of the leaders. That is easy. All you have to do is tell them they are being attacked and denounce the pacifists for lack of patriotism and exposing the country to danger. It works the same way in any country."

Outra explicação possível é que os puritanos odeiam humanistas.  A América profunda não quer viver bem, não quer ter segurança social, não quer partilhar nada com ninguém, e por isso não quer aceitar nada de ninguém.  Culturalmente são descendentes dos colonos que povoaram o oeste bravio e exterminaram os nativos.  Adoram o campo e o isolamento, não percebem para que serve o governo ou o que é a sociedade, são extremamente orgulhosos da sua independência e só se sentem seguros com a casa cheia de armas.  E como calvinistas acham que o bem estar é um caminho certo para o pecado e a perdição da alma.  Por isso gastam tudo o que têm e preferem viver crivados de dívidas.  São as dificuldades que os acalmam, porque estão habituados a elas.  

O psicólogo Lloyd Demauze acredita nesta explicação.  Para ele certas sociedades associam o bem estar a sentimentos de culpa e insegurança insuportáveis.  Sobre a América de Reagan escreveu estas palavras sábias e proféticas:  "Therapists hear similar complaints daily. 'All my boyfriends treat me like dirt.' 'I keep running into bosses who do nothing but fight with me.' 'Every career I've tried is boring.' 'None of the women I meet want to get close.' Faced with such repetitive life patterns, one of the hardest tasks of the therapist is to point out to the patient that their major complaint is also their major complaint is also their major wish-that they unconsciously choose unfaithful wives and caring boyfriends or hostile bosses in order to avoid the anxiety around in themselves if they were to enjoy their families, love lives or work too much.
                Imagine, then, how difficult it becomes to analyze a nation's psyche. imagine uncle Sam on the couch, describing what he believes to be his main problem: 'I seem unable to enjoy a really sustained success at anything. I keep getting into periods of depression during which I lose much of what I've worked so hard to gain. Why, in this century alone, I've gone through twelve major cycles of boom and bust, and I seem condemned to repeat the pattern endlessly. And to top it all off, just as things seem to be looking up, I get involved in a war that puts me even more behind, so that I'm now over a trillion dollars in debt. How can I stop my bad luck?'" (Reagan's America.  NY: Creative Roots, 1984, p. 51).

Estas são as pessoas que querem dar a Thatcher nomes de ruas e que dizem que Reagan "derrotou o império soviético"...  e se estas pessoas são a maioria, em democracia têm o direito de serem representadas e fazer valer a sua vontade.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Revista de imprensa (11/4/2013)

  • «Verdadeiramente quem manda no país há dez anos são os banqueiros, apoiados por senadores e comentadores de topo que andam há muito por aqui e são unha com carne com os banqueiros. Muitos conhecem-se da vida partidária, porque há cada vez mais banqueiros vindos da política, o que aumenta a promiscuidade e o poder de influência dos bancos sobre a governação do país. (...) Para dar espaço de manobra ao Governo de Passos Coelho, os banqueiros lançam apelos para um governo ou pacto nacional com o PS, bem sabendo que António José Seguro não quer nem tem condições políticas para o fazer. O objectivo é salvar o governo de Passos. (...) Foram os banqueiros que asfixiaram o governo de José Sócrates em 2011, deixando de comprar dívida portuguesa, e estiveram na origem do pedido de resgaste a Portugal e da demissão do líder do PS. (...) Os bancos têm ganho muitos milhões de euros com a compra de dívida portuguesa. Financiaram-se junto do BCE a juros baixos, compraram dívida e obtêm rentabilidades muito superiores. A vida corre-lhes bem.» (Paulo Gaião)

terça-feira, 9 de abril de 2013

Um governo de foras da lei

No início da presente situação política, escrevi aqui que «a Constituição não fica anulada com uma simples maioria conjuntural». Efectivamente, tendo um Presidente que nunca prometeu sê-lo «de todos os portugueses», uma maioria (mesmo bipartidária), as principais câmaras municipais (à excepção de Lisboa) e um governo «desculpado» pela tróica, Passos Coelho e os seus capangas tinham todas as condições para fazer uma mini-revolução. Todas, menos uma: a Constituição continuava, e continua, em vigor. E Portugal não é a Venezuela, onde se fazem plebiscitos à Constituição com base em maiorias referendárias conjunturais a mando do poder eleito do momento.

Passaram-se quase dois anos e a Constituição mostrou-se a mais eficaz força de defesa da democracia liberal portuguesa e do Estado social. Ambos os orçamentos propostos até agora foram considerados inconstitucionais. Se o Presidente não fosse tão sectário (é isso que esconde a máscara de silêncio), um teria bastado para demitir o governo. O «regular funcionamento das instituições» está em causa, como dizia Alegre há dias.

E, para lá da Constituição, acontecimentos como a demissão de Relvas (aparentemente despoletada por um relatório da Inspecção Geral da Educação e Ciência), a absolvição de Myriam Zaluar num caso de tentativa de limitação à liberdade de manifestação, ou ainda o bloqueio legal (por associações cívicas) dos «dinossauros» autárquicos, mostram como os poderes ficalizadores (a «justiça») limitam o poder dos políticos.

A própria limitação da «resistência constitucional» é que ao TC não compete demitir o governo. E este Presidente dificilmente o fará.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

A troika decidiu vir... ou foi convidada a vir?

O anúncio por parte do Ministério das Finanças, que a Troika viria fazer uma visita extra, é no mínimo suspeito. Não vieram em situações anteriores, onde os valores em causa era maiores: quando houve derrapagens, quando o corte na TSU apareceu e desapareceu, aquando chumbo constitucional anterior, quando o corte "permanente" de 4 mil milhões desapareceu da agenda, etc.
E que bem que este anúncio encaixa na estratégia de vitimização e radicalização do governo...

domingo, 7 de abril de 2013

Guardem isto. Pode ser útil na próxima presidencial.

  • «The European Commission welcomes that, following the decision of the Portuguese Constitutional Court on the 2013 state budget, the Portuguese Government has confirmed its commitment to the adjustment programme, including its fiscal targets and timeline. Any departure from the programme's objectives, or their re-negotiation, would in fact neutralise the efforts already made and achieved by the Portuguese citizens, namely the growing investor confidence in Portugal, and prolong the difficulties from the adjustment. The Commission therefore trusts that the Portuguese Government will swiftly identify the measures necessary to adapt the 2013 budget in a way that respects the revised fiscal target as requested by the Portuguese Government and supported by the Troika in the 7th review of the programme. (...) The Commission reiterates that a strong consensus around the programme will contribute to its successful implementation. In this respect, it is essential that Portugal's key political institutions are united in their support.» (Durão Barroso)

Quem não apoiou Manuel Alegre que meta a mão na consciência

  • «O Presidente da República reitera o entendimento de que o Governo dispõe de condições para cumprir o mandato democrático em que foi investido e manifestou o seu empenho em que sejam honrados os compromissos internacionais assumidos» (do blogue de Cavaco).

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Este governo não sabe governar Portugal

Independentemente da solução que vier a ser encontrada (e o Conselho de Ministros extraordinário de amanhã poderá ou não adiantar algo nesse sentido), parece-me ter ficado demonstrado que este governo não sabe governar Portugal com esta constituição. Dado que são as leis que têm que se submeter à Constituição e não o contrário (como recordou o presidete do tribunal), é uma questão de honestidade mínima: se (e quando) Passos Coelho decidir recandidatar-se à liderança do governo terá, primeiro, de se convencer, e depois deixar claro que só aceita formar governo (ou seja só terá condições para governar) com uma maioria de 2/3, necessária para mudar a constituição. Enquanto tal não for conseguido, ou enquanto não for encontrada outra solução governativa, andaremos num impasse. Impasse esse que não traz nada de bom.

Ouvir tudo com atenção

Relvas: as instituições que cumpriram (ou não) os seus deveres

  1. A Entidade Reguladora da Comunicação Social provou que Relvas mentiu, sabia que ele tinha acedido aos ficheiros SIS/SIED sobre a vida privada de jornalistas, e decidiu por votação partidariamente orientada não o condenar. A instituição liderada por Carlos Magno demonstrou que não protege os direitos dos cidadãos contra o governo, preferindo servir o poder político do momento.
  2. A Inspecção Geral da Educação e Ciência propôs a «nulidade do ato de avaliação» de um aluno de 2006 que em 2013 é ministro, com razões fundamentadas, implicando a «declaração de nulidade do grau». Cumpriu, mesmo estando na dependência directa do ministério. Serviu a Universidade.
Acontece que é mais grave ameaçar pessoas, acho eu.

Revista de blogues (5/4/2013)

  • «(...) o que fazer a alguém que é acusado dos crimes de abuso de poder, violação de segredo de Estado e de acesso indevido a dados pessoais? Pois bem: integrá-lo nos funcionários da Presidência do Conselho de Ministros. Que mais poderia ser? Talvez mais isto: pô-lo ao nível salarial anterior e pagar-lhe os vencimentos que não auferiu entretanto. Nada mais? Eu sugeriria os pés lavados com água de malvas pelos portugueses espiados ilegalmente, pelo jornalista que teve as suas comunicações violadas, pelo cidadão que teve o azar de casar com uma ex-mulher de um espião lusitano, pela jornalista que viu a sua vida pessoal devassada. Mais alguma coisa? Uma petição às avessas para saber o que pretende de nós Jorge Silva Carvalho, o espião que teve reuniões de negócios com Miguel Relvas, para esquecimento deste no parlamento. Sim, eu sei. Vão dizer que o ex-espião tinha de ser reintegrado ao abrigo de uma lei já antiga, de 007 — 2007, quero dizer — que permite a um espião pedir a exoneração e a reintegração ao mesmo tempo, possibilitando, entre uma coisa e outra, uma incursão de carreira no privado — para o qual antes se tinham passado informações. Para que deveriam dar satisfações aos cidadãos os dois autores do despacho de reintegração, Pedro Passos Coelho e Vítor Gaspar? Bem, talvez para nos dizer se o trabalho do ex-espião e agora funcionário público vai ter algum tipo de precauções, algum tipo de restrições? Talvez para nos dar conta da possibilidade de um processo disciplinar, agora que Silva Carvalho voltou? Talvez para nos explicar com que interpretação se permite a reintegração de alguém que está acusado de violar a lei no seu posto anterior? (...)» (Rui Tavares)

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Eu sei, o Al Capone foi preso por evasão fiscal, mas...

Lição: em Portugal pode-se ameaçar jornalistas com dados da vida sexual das pessoas saídos dos esgotos dos serviços secretos. Não se pode é aldrabar na licenciatura. A confirmarem-se as razões da queda de Miguel Relvas, a conclusão parece ser essa, não é?

Revista de blogues (4/4/2013)

  • «Conheci Miguel Gonçalves num desses colóquios sobre “observação de tendências” a que acedo, com vaga relutância, por razões profissionais. Aos que não conhecem a mecânica dos colóquios em Portugal basta explicar que aí se cruzam três tipos de oradores: o semideus americano com trabalho publicado, consultoria pujante e coisas para dizer; o rato de laboratório, que uma pesquisa esdrúxula alcandorou à bolsa de estudo em Manchester ou ao louvor endomingado de Marcelo Rebelo de Sousa e, para deleitar a turbamulta, os palhaços. Miguel Gonçalves era o palhaço. Durante trinta minutos exibiu o rosto amável do empreendedorismo merdalejo com vocação universal: ele tinha criado uma “startup” espectacular. Ele visitara o Silicon Valley em chanatas e bebera Coca-Cola no McDonalds frequentado por Bill Gates. Ele tinha programado uma “aplicação” “brutal” para uma bosta qualquer e trabalhava “vinte e quatro horas por dia” para cumprir o sonho meritório de vir a ser “pornograficamente rico”. Pior que tudo, ele não parava de gritar. “Que pena”, reflecti na altura, “não meterem este tipo no PSD”. Alguém me ouviu.» (Luís M. Jorge)

Os aristocratas do comentário político

Houve um certo estrépito com a passagem ao comentário político do anterior Primeiro Ministro, um tal José Sócrates. Debateu-se se tem direito ao seu programazito de comentário político, e se tem direito na RTP ou nos canais já privados, etc. Combatendo o sono que o senhor e os outros personagens de cima me provocam quando falam a solo, há algo que acho importante acrescentar.

Em curto: o problema não são os personagens, é o formato.

Em longo: há uma péssima tradição nos media portugueses, a dos programas de «comentário político» sem contraditório. Colocar todas as semanas ex-líderes partidários como Marcelo, Marques Mendes ou Louçã perante um(a) jornalista que irradia simpatia e «respeito» pelo personagem, é colocá-los num pedestal que até pode permitir (os adversários garantem que permite) lançarem-se para outros voos. E é pouco republicano. Um debate republicano não é dois padres alternarem nos dias em que dizem a missa(*) (como parece ir acontecer na RTP com Sócrates e Morais Sarmento). Um debate republicano é o confronto de opiniões contrastantes (como acontece nos programas de debate que juntam, felizmente, políticos ou comentadores de opiniões assumidamente contrárias).

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Sempre Amado

Não resisto: quem é o ex-ministro do PS capaz de dizer isto: «moção [de censura] foi "cedência da direcção do PS a vozes críticas" (...) revela imaturidade democrática»?

A terceira República espanhola a caminho?

A filha do chefe do Estado vizinho foi acusada de corrupção. Seu pai, fazendo jus à sua educação entre ditadores e padres, não hesita em usar o cargo que ocupa vitaliciamente e sem eleição para atacar o poder judicial. Desespero bourbónico? É divertido, e de bom augúrio...