- «O presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), António Costa, não excluiu ontem a hipótese de se demitir do cargo, caso o PSD, com maioria absoluta na Assembleia Municipal, decida, na próxima terça-feira, chumbar o empréstimo de 500 milhões de euros que o executivo pretende contrair, junto da Caixa Geral de Depósitos, para pagar as dívidas aos fornecedores e reequilibrar a situação financeira do município. A ameaça foi deixada, numa declaração aos jornalistas, depois de os vereadores do PSD terem votado contra a proposta ontem aprovada em reunião de Câmara.» (Jornal de Notícias)
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
Lisboa ingovernável?
Democracia e amor cristão
Os paroquianos exigiam o direito de não serem incomodados com essas coisas ao fim de semana e pediam-lhe que falasse de coisas “positivas”, que os fizessem sentir bem: as coisas boas que Deus dá aos habitantes de paróquias ricas.
E o pobre homem, revoltado, cedia, para não ver a igreja vazia.
Esta pequena história, que se deve repetir em todas as paróquias do primeiro mundo onde há um padre decente – e eu admito que não sejam muitas :o) – explica de forma eloquente a atitude da igreja católica ao longo da História.
Mesmo que o sistema organizacional da ICAR premiasse os melhores e a hierarquia acabasse por ser constituída por estudiosos que percebessem as implicações morais da filosofia que embebe muitos dos textos do Novo Testamento, as classes altas que criaram a ICAR e a usam (seja para limparem a consciência ou fazer lobby político) nunca permitiriam que as ideias do Novo Testamento destruíssem o status quo e dessem ideias de justiça à populaça.
Sempre que a religião inspirou uma nesga de moral num grupo religioso a hierarquia tratou de resolver o problema com rapidez e eficiência: os albigenses, os cátaros, os protestantes...
Os franciscanos sobreviveram porque o núcleo duro vinha da classe mercantil, pertencia a famílias com influência política, e porque no fim cederam e aceitaram tornaram-se inócuos.
Aqui em território evangélico o problema resolveu-se limpando da Bíblia as modernices do Novo Testamento. Aqui acredita-se que Deus ajuda quem se ajuda a si próprio e que portanto os pobres são pobres porque querem, e merecem a pobreza neste mundo e o inferno no próximo.
AC Grayling: «Compounding the issue»
- «(...) philosophy is a very different business from either religious studies or theology. Philosophy is enquiry, critical and open-ended enquiry, in which examination of evidence, assumptions, claims, methods and motivations is conducted according to the public and challengeable discipline of reason. As a subject of study "religion" admits of historical and sociological investigation, both empirical enquiries. "Theology" turns on the assumption that there is something for it to be about (god or gods), rather as "astrology" turns on the assumption that distant stars and galaxies influence whether you are impatient or sexy or keen on travel. These two -ologies have as much credibility as each other, but the latter usually does less harm than the former. Neither merits bracketing with philosophy, any more than the study of demon possession as a source of disease is bracketable with medicine. (...) But the key point is that ethics is a matter for everyone. The question of how one should live, what one's values should be, what is worthwhile and what is unacceptable in our relationships with each other, and what matters most in our conduct and our aims, is a vital matter on which everyone should reflect. The various religions have their various (and often competing) views on these matters, and are entitled to put them; but they do not own them or even have particularly interesting, still less plausible or constructive, things to say about them - often rather far from it. The reflex running together of the words "religion and morality" as if religion has some sort of special lien, or even monopoly, on the subject of morality is part of the problem, not part of the solution, in our contemporary world. Once we disjoin the words in this unreflectively reflex conjunction, we will make better progress with thinking about what is required for the living of good individual lives in good societies.»
(AC Grayling no The Guardian.)
A guerra inter-galáctica contra o Natal
O Filipe tem razão. Como membros empenhados da conspiração secularista que visa extirpar o cristianismo da Europa (e do resto do universo conhecido e por conhecer), com o propósito secreto de a tranformar num feudo ateísta-islamista (1), deveríamos declarar guerra ao Natal (2), e portanto organizarmo-nos para espalhar piri-piri nas óstias da missa do galo, cortar o fornecimento de papel de embrulho, e espalhar boatos sobre as preferências sexuais do Pai Natal.
Mas, pensando melhor, o relacionamento entre os religiosos e os anti-religiosos deve ser como aquela célebre conversa em que o masoquista diz para o sádico:
-Faz-me mal.
E o sádico responde:
-Não faço, não faço...
Efectivamente, quando se adere a uma religião como a cristã, na qual o mito central é um episódio de perseguição religiosa que termina com o herói a ser humilhado e morto, não há nada que facilite mais a identificação do crente com o seu ídolo do que sentir-se perseguido, nem que seja apenas temporariamente. E a pior desfeita que podemos fazer aos cristãos é, por isso mesmo, não lhes fazer guerras. Um cristão sem se sentir vítima nem se sente cristão. Portanto Filipe, vamos tomar uma bebida quente, e esperar que eles comecem com aquela choraminguice do costume, a queixarem-se que quem não celebra o solstício à moda deles está a persegui-los, que se cruzam na rua com pessoas que dizem «boa tarde» e não «santo Natal na paz do Ratzinger», que se não há um presépio em cada esquina é porque querem extinguir o «Deus» deles, etc. Algo me diz que a festa está prestes a começar (3).
(1) Há mesmo quem acredite nisto. Juro.
(2) Ver alguns episódios da saga do ano passado aqui e acolá.
(3) António Marujo, estou a falar contigo, rapaz.
quarta-feira, 28 de novembro de 2007
Barroso Nobel da Paz
Austrália
Pergunto-me se o Howard terá consciência de quanto o mundo o despreza por ter sido o capacho de Bush e se perceberá as atrocidades com que pactuou...
O estalinismo ainda existe
- «O PCP expulsou a deputada Luísa Mesquita, acusando-a de "incumprimento de princípios estatutários" e de "afrontamento ao partido". Luísa Mesquita, que recusou ser substituída no parlamento em Novembro de 2006, acusa o PCP de mentir e de a ter tentado "comprar" quando em troca lhe ofereceu "um emprego na Península de Setúbal". (...) Sobre o alegado incumprimento dos estatutos, a deputada acusou o PCP de a ter enganado, uma vez que lhe foi garantido pela direcção partidária que se se recandidatasse nas eleições de 2005, seria para cumprir o mandato até 2009.» (Esquerda.net)
República da Austrália?
- «O primeiro-ministro eleito da Austrália, Kevin Rudd, e a vice-primeira-ministra Julia Gillard, a primeira mulher a alcançar este cargo, apesar de ser uma imigrante, oriunda do País de Gales, não perderam tempo. Se bem que ainda não tenham tomado posse, já deram claramente a entender que tencionam ratificar o Protocolo de Quioto, retirar gradualmente as tropas destacadas no Iraque e organizar um referendo sobre se o país deve continuar a respeitar a rainha Isabel II como chefe de Estado. A alternativa seria a proclamação da República, conforme há cinco meses foi admitido pelo líder trabalhista, sendo uma das aspirações de parte da população.» (Público)
domingo, 25 de novembro de 2007
Guerra ao Natal
O que é que havemos de fazer este ano para atacar o Natal? Poder-se-á alargar a guerra ao Hanukah? E ao Kwanza?
Podia-se acusar o Pai Natal de ter tendências socialistas: a dar presentes ao pobrezinhos que se portam bem!
Ou fomentar a inveja e a discórdia entre o Pai Natal e o Menino Jesus! Diziamos que eram as regras do mercado, a concorrência, etc.
Ajudem-nos! Aceitam-se ideias!
Viva o Solstício!
Hugo Chavez
Eu lembrei à minha mãe que o rei de Espanha nunca foi eleito e que Chavez o foi muitas vezes, com dois terços dos votos, mas ela já não me estava a ouvir. Recomendei-lhe que não se esquesse de votar sempre na direita, onde mandar o padre, porque o Paulo Portas e o Durão Barroso adoram velhinhas e nunca perdem uma oportunidade para lhes aumentarem as pensoes de reforma quando se apanham no poder...
Mas voltando a Chavez, a máquina da propaganda fez dele “um tirano”, quando ele foi sempre eleito e reeleito, e tem o apoio de dois terços da população.
Democratas como Blair, Aznar e Barroso – que participaram na invasão do Iraque com a intenção única de lhes roubar os recursos naturais e chacinaram mais de 1.000.000 de inocentes contra a vontade dos eleitores dos respectivos países – decidiram que é assim.
Chavez pode ser um homem de origens humildes e portanto pouco educado, mas não é um tirano. As mentiras, os golpes de estado, as tentativas de assassinato, a máquina de calúnias organizada que a cleptocracia montou vão certamente levá-lo a perder a cabeça um dia e a fazer algo estúpido, que depois justifique as acusaçoes de Bush e Blair.
Mas para quem se quer dar ao trabalho de tentar saber a verdade, Chavez escreveu e disse coisas interessantíssimas sobre um possível futuro para a América Latina onde haveria lugar para a paz, uma classe média, democracia, preocupaçoes ambientais, sustentabilidade, etc.
A pressão que a extrema-direita tem posto sobre ele, as calúnias,os insultos, as provocaçoes, tornam cada vez mais implausivel - porque desumana - a possibilidade de ele não reagir com brutalidade um dia destes.
E pronto. Fica o problema resolvido. A CIA assassina-o (dessa vez não falha como na última vez), a Europa aplaude, a cleptocracia venezuelana retoma o poder e nós podemos voltas todos para a cama, sabendo que o mundo com eles no poder fica muito melhor...
Os fortes têm esta prerrogativa: podem acusar os inocentes, julgá-los, condená-los e entregá-los à História com as mentiras que lhes convierem melhor. Ninguém vai ver como as coisas foram de facto.
sábado, 24 de novembro de 2007
RTP 1, 21 horas
Mais boas notícias
Um a um os aliados de George W vão sendo confrontados com a realidade: Aznar, Blair, os manos polacos, agora Howard. Só os holandeses (e o Ramos Horta) é que ainda não perceberam...
sexta-feira, 23 de novembro de 2007
Socialismo para os ricos, capitalismo para os pobres
No Ladroes de Bicicletas, a velha história:
para os ricos há mais compreensão.
Vale a pena relembrar aqui a canção de Tom Paxton: :o)
I'm Changing My Name to Chrysler
by Tom Paxton
Oh the price of gold is rising out of sight
And the dollar is in sorry shape tonight
What the dollar used to get us
Now won't buy a head of lettuce
No the economic forecast isn't right
But amidst the clouds I spot a shining ray
I can even glimpse a new and better way
And I've demised a plan of action
Worked it down to the last fraction
And I'm going into action here today
CHORUS:
I am changing my name to Chrysler
I am going down to Washington D.C.
I will tell some power broker
What they did for Iacocca
Will be perfectly acceptable to me
I am changing my name to Chrysler
I am headed for that great receiving line
So when they hand a million grand out
I'll be standing with my hand out
Yes sire I'll get mine
When my creditors are screaming for their dough
I'll be proud to tell them all where they can all go
They won't have to scream and holler
They'll be paid to the last dollar
Where the endless streams of money seem to flow
I'll be glad to tell them what they can do
It's a matter of a simple form or two
It's not just renumeration it's a liberal education
Ain't you kind of glad that I'm in debt to you
CHORUS
Since the first amphibians crawled out of the slime
We've been struggling in an unrelenting climb
We were hardly up and walking before money started talking
And it's sad that failure is an awful crime
Well it's been that way for a millenium or two
But now it seems that there's a different point of view
If you're a corporate titanic and your failure is gigantic
Down to congress there's a safety net for you
CHORUS
©1980 Accabonac Music (ASCAP)
quinta-feira, 22 de novembro de 2007
números: os políticos, os empresários e o ensino
Segundo ele os empresários portugueses era uma data de aldraboes de feira, incapazes de pensar a longo prazo e de cooperarem com quem quer que fosse, estabelecer estratégias, cumprir promessas, etc. Na versão que me contaram falou-se no "dilema dos malfeitores": antes irem presos que cooperarem.
E o ensino era um problema ainda mais curioso porque, segundo ele, desencorajava os estudantes em relação aos riscos, matava a iniciativa, preparava-os para serem trabalhadores por contra de outrém ( ainda a Contra-Reforma).
Desde que o Cavaco foi PM as coisas só pioraram. Sofremos a tragédia do Guterres – o maior incompetente que jamais governou Portugal (e em quem eu votei!) – e as desgraças que se seguiram, até o PM Barroso desertar, vender-nos por uns trocos, e deixar-nos com Santana Lopes, o PM inimputável, e o Paulo Portas, presidente do partido da homofobia...
Não se deve, em nome da justiça, comparar os ministros cavaquistas com os populistas que hoje infestam os partidos. O Ministro da Defesa de Cavaco era um tonto que ia a uma vidente “muito boa” – a que viu o “Bolama” em Cabo Verde – e o das Finanças fazia especulaçoes com as reservas. Mas não eram cínicos, tinham um projecto e queriam mudar as coisas, deixar um país melhor aos filhos.
E comparados com os ‘boys’ do Guterres eram uns meninos de coro, os políticos mais honestos que Portugal alguma vez viu (tirando o SEC, bem entendido). :o)
Mas esse PSD desapareceu. Hoje é uma massa informe, uma Jota que não cresceu, que não tem ideias, que nos anos ‘80 dava na coca e agora anda a prosac, uma escumalha sem vergonha, sem alma, sem coluna vertebral, sem cultura e sem educação, governada por uns neocons de fabrico nacional, muito mais sinistros que os originais, os neonazis aqui do partido republicano.
Neste contexto, as afirmaçoes destes políticos sobre o ensino, o desemprego, a economia, a política externa, etc., são infelzimente naturais...
E a universidade? Nas humanidades é um sistema que se auto-replica e que não se imagina que um dia mude, ainda dividido entre os saudosos do salazarismo e os PCs de gravata.
Nas ciências exactas os doutorados em universidades estrangeiras estão a mudar o sistema para melhor.
Os empresários continuam a ser cada vez menos, mais ricos e sempre boçais, iguais a si próprios.
República e sufrágio universal
Foi durante a República implantada em 1910 que as associações feministas tiveram pela primeira vez algum apoio político. E foi durante a República que se suprimiu do Código Civil a obrigação da mulher de obediência ao marido (artigo 1185º no Código Civil da monarquia), se legalizou o divórcio pela primeira vez, aliás equiparando o adultério masculino ao feminino como causa para separação, e dando à mulher, por exemplo, a possibilidade de publicar sem autorização do marido. Aos inegáveis avanços nos direitos civis das mulheres, não corresponderam, infelizmente, avanços significativos nos seus direitos políticos (apesar de ter sido em 1911 que pela primeira vez votou uma mulher em Portugal - Carolina Beatriz Ângelo).
BE: a dialéctica poder/oposição
Para quem pensava que o BE viria a ser um pacato partido do «arco da governação»:
- «O deputado Heitor de Sousa, do Bloco de Esquerda (BE), [ameaçou] romper o acordo com o PS no executivo camarário. Uma posição contrariada pelo vereador José Sá Fernandes (BE) que garantiu aos jornalistas que o acordo não está em causa. (...) Questionado sobre qual seria então a posição oficial do BE, Heitor de Sousa respondeu "A posição oficial foi aquela que eu transmiti. Sá Fernandes foi eleito nas listas do Bloco mas é independente, pode tomar as posições que quiser".» (Jornal de Notícias)
Questionamentos interessantes
- «O deputado do PS Manuel Alegre questionou hoje o Governo sobre as mudanças na empresa Estradas de Portugal e disse temer que estas representem "uma espécie de neo-feudalismo, sob a forma de privatização encapotada". Para o socialista "é inusitado um prazo tão longo, sejam 92 ou 75 anos, para a outorga da concessão da rede viária nacional" à empresa Estradas de Portugal, que foi transformada pelo actual Governo em Sociedade Anónima (S.A.). "Parece assim algo temerário comprometer o futuro a tão longo prazo, numa matéria que faz parte da esfera de um dos mais antigos serviços públicos que o Estado teve obrigação de proporcionar aos cidadãos" (...).» (Diário Digital)
segunda-feira, 19 de novembro de 2007
Meio milhão de mortos depois
- «Houve informações que me foram dadas, a mim e a outros, que não corresponderam à verdade. Tive documentos na minha frente dizendo que o Iraque tinha armas de destruição maciça. Isso não correspondeu à verdade» (Durão Barroso; SIC)
E da próxima vez? Durão aprendeu alguma coisa, ou faria o mesmo?
domingo, 18 de novembro de 2007
Sicko
A minha pobre cabecinha não consegue imaginar quais seriam os argumentos da direita para defender as injustiças obscenas do capitalismo selvagem e da saúde privada desregulamentada. Se a direita visse este documentário, claro. Felizmente não viu e conseguiu que ninguém falasse dele. Mas a pergunta parece ser cada vez mais: se eles não vêem, as coisas não existem? Era o que a FOX dizia há 7 anos: que os media fazem a realidade. Será?
Como Moore demonstra até à exaustão, uma população temerosa (dos terroristas, das abelhas africanas, do aquecimento global, etc.), endividada (cartoes de crédito, empréstimos escolares, etc.) e ignorante (religiosa, contra a ciência!) tem muito menos poder negocial perante os cleptocratas do que a população francesa (com educação gratuita e sem empréstimos), que pára a França quando os cleptocratas abusam (todos os anos).
Não é possível imaginar o dia em que os americanos se rebelem contra o capitalismo selvagem, ocupados como estão com a guerra ao terror, os casamentos gay e o aborto.
Mas as coisas estão-se a degradar todos os anos para os pobres - à medida que se tornam melhores para mim... não sei se esta situação será sustentável por muito mais anos.
Musharraf
- «O caso do general Pervez Musharraf, que tomou o poder no Paquistão em 1999, abatendo com uma quartelada o seu sempre instável e quase sempre corrupto regime civil, segue um modelo conhecido pelo mundo afora. No mês passado, fingindo ceder às pressões por mais democracia do seu aliado norte-americano, que desde o 11 de Setembro o cacifou com mais de US$ 10 bilhões e aceitou a sua bomba atômica em nome do combate ao terrorismo islâmico, o autocrata convocou a segunda eleição desde que subiu ao poder, tão fraudulenta como a anterior, e se reelegeu. (...) Mas Musharraf não fechou as madrassas que pregam a guerra religiosa e formam homens-bomba, não tratou de prender os líderes do Taleban paquistanês e nem de dissolver as células terroristas que têm organizado uma série de atentados suicidas em todo o país. Também não enviou forças militares para acabar com a “zona liberada” que o Taleban e a Al-Qaeda instituíram na fronteira com o Afeganistão. Limitando-se a prender juízes, advogados, defensores dos direitos humanos, professores e artistas, o ditador demonstrou claramente que seu objetivo não era combater o “terrorismo e o extremismo”, mas calar os grupos que há anos tentam, por via pacífica, transformar o Paquistão numa democracia secular. Tanto assim que, no mesmo dia em que decretou o estado de emergência e mandou prender as principais lideranças civis e democráticas do país, o general Musharraf determinou a libertação de 28 prisioneiros do Taleban, um dos quais sentenciado a 24 anos de cadeia por ter transportado explosivos usados em atentados. (...) Para ter uma base próxima ao Afeganistão, ao Iraque e ao Irã, os EUA fizeram vistas grossas para a situação interna do Paquistão, e assim foram criadas as condições para o paradoxo: o Paquistão governado por um aliado na “guerra contra o terror” é, também, um abrigo seguro do comando da Al-Qaeda e um núcleo importante do radicalismo islâmico.»
sábado, 17 de novembro de 2007
Liberalismo e ‘liberalismo’
O que eu quiz dizer foi que na Europa chamamos neoliberais aos que aqui nos EUA se chamam neoconservadores (os Joões Carlos Espadas e os Drs. Arrojas dos EUA).
Isto não quer dizer que eles sejam liberais politicamente, quer dizer que eles são a favor da desregulamentação económica. Porque sabem que ‘Entre le fort et le faible, entre le riche et le pauvre, c´est la liberté qui opprime et la loi qui affranchit.’
Os que aqui nos EUA se chamam liberais defendem o liberalismo político e acreditam quase todos que não há liberdade sem justiça social: educação, informação, etc. Porque sabem que ‘Entre le fort et le faible, entre le riche et le pauvre, c´est la liberté qui opprime et la loi qui affranchit.’
Mas há de tudo neste mundo e felizmente as pessoas não se dividem em dois campos ideológicos definidos com esta simplicidade. Por exemplo, um amigo meu que eu adoro e respeito imenso e que é uma pessoa excelente, generoso, etc., foi aluno do Milton Friedman e acredita nos dois liberalismos, político e económico, com a mesma energia.
Em Portugal as coisas são, infelizmente, mais simples. A direita (incluindo os neocons) tem uma tradição muito grande de marialvismo. Como se sabe, o marialvismo foi uma reacção da aristocracia portuguesa aos ideais do iluminismo, que se materializaram, por exemplo, nos esforços do Marquês de Pombal para ensinar os nobres a ler (uma afronta que ainda não está desculpada).
Por isso é que nos é dificil imaginar os políticos neocons a lerem Mill e Popper, e a filosofarem sobre teorias políticas durante os jantares em que os ricos lhes prometem favores a troco de favores.
Eu nunca sou convidado para os jantares privados do Dr. Barroso, mas suspeito que neles não se discute Plinio nem Tucidites... :o)
sexta-feira, 16 de novembro de 2007
E pronto!
Ficam as perguntas: os proponentes do ID vão ao médico, usam televisoes, andam de avião... não lhes interessa a saúde dos filhos? Não lhes interessa a segurança dos avioes?
quinta-feira, 15 de novembro de 2007
Neocons
Exactamente como aqui. Todas as semanas há mais outro republicano (‘value voters’ como eles se autodenominam) na primeira página dos jornais: um porque ofereceu 20 dólares a um polícia à paisana para lhe fazer sexo oral, outro foi preso na casa de banho de um aeroporto por espreitar e meter as mãos por baixo da baia da retrete do lado, outro (um pastor protestante) por ter sido encontrado morto na sala com dois fatos de mergulho vestidos, um por cima do outro, e um vibrador enfiado no rabo, hoje é um senador, David Vitter, a testemunhar num escândalo de prostituição... e isto são as coisas que não interessam.
As que interessam estão piores: a guerra do Golfo está perdida (mais de 1 milhão de civis mortos), agora descobriu-se que os soldados que voltam para casa se suicidam a um ritmo impressionante (120 por semana), as finanças estão numa desgraça, ninguém acredita em ninguém, a invasão do Líbano devia ser considerada um crime gratuito contra a Humanidade (600 criancas mortas e a morrerem ainda com as ‘cluster bombs’ que os ingleses, americanos e israelitas lhes mandaram para cima), os jornalistas são todos empregados dos partidos, não há debate de ideias, a separação da igreja e do estado desapareceu, para o ambiente, a educação e a justiça social esta década foi uma década perdida, e todos os dias os neocons nos espantam, quando julgávamos que já não se podia descer mais abaixo do que no dia anterior.
Assim, acho que os neocons e os defensores das virtudes da religião (os ‘value voters’) nos deviam explicar melhor a relação entre o que escrevem os profetas deles (Popper, Hayek, S. Marcos, S. Mateus, etc.) e a realidade que eles criaram na última década.
segunda-feira, 12 de novembro de 2007
Abraão, ou a obediência
No primeiro livro da Bíblia, Abraão recebe ordem de «Deus» (dito, significativamente, «o Senhor») para matar o seu filho Isaac. Abraão não estranha a ordem e nem sequer hesita: pega no seu único filho e leva-o para o altar dos sacrifícios. Pelo caminho, Isaac (cuja idade desconhecemos mas que é suficientemente crescido para falar), pergunta ao seu pai que animal sacrificarão em holocausto. Abraão responde que «Deus proverá quanto à vítima para o holocausto, meu filho». Chegados ao altar, Abraão dispõe a lenha, ata o filho, e já ergue o cutelo no ar para lhe cortar a garganta quando recebe ordem divina para parar. Era apenas um teste, e pela sua obediência é recompensado pelo «Senhor» com a promessa de uma descendência numerosa. Registe-se que o Isaac deste episódio nascera pouco depois de uma «aliança» entre o «Senhor» e o obediente Abraão, na qual Abraão prometera cortar o prepúcio a todas as crianças do sexo masculino suas descendentes a troco de algumas terras do Médio Oriente.
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O episódio do sacrifício de Isaac tem um sentido evidente: o «Senhor» («Deus») recompensa a obediência imediata e incondicional, e a disponibilidade para matar os próprios filhos. Não é demais sublinhar este último aspecto. A evolução dotou o animal humano de sentimentos de afecto pelos filhos. Matar a própria descendência é destruir a sua própria herança genética e perder também um enorme investimento em alimentos, aquecimento e educação. A disponibilidade de Abraão indica-nos o ponto na história da humanidade em que a cultura começou a combater a natureza humana, ou seja, o momento em que surgiram instituições suficientemente poderosas para tentarem convencer os seres humanos de que poderiam ter algo a ganhar na obediência acrítica e ilimitada à autoridade. Evidentemente, a aliança celebrada nesse momento não é entre os homens e um «Senhor» que não dá ordens porque não existe. A aliança é entre a religião e o Estado centralizado e autoritário: a religião convence os homens de que devem obedecer à autoridade estatal; o Estado protege a religião e os seus sacerdotes. A religião que celebra esta aliança propõe um «Deus» sem obrigações éticas ou morais, pois pode mandar os seus seguidores matar os próprios filhos. O Estado que aceita esta aliança saberá utilizar este ideal de obediência bovina, para proveito seu e da religião abraâmica, durante séculos. Existe forma melhor de se convencer os pais (e as mães) a enviar os seus filhos para a morte quase certa numa guerra perdida à partida, do que convencê-los de que há uma vida eterna?
As religiões abraâmicas começaram a ser desafiadas na Europa e em toda a bacia mediterrânica no século 18, o momento em que se disse claramente pela primeira vez que as autoridades tradicionais podiam e deviam ser questionadas, que nenhuma autoridade se podia arrogar um poder acima dos homens (ou das mulheres), e que cada indivíduo era soberano de si próprio. No entanto, o princípio abraâmico sobrevive. Foi útil no século
Em pleno século 21, felizmente são cada vez mais os que rejeitam o ideal de obediência abraâmico e preferem a sua liberdade enquanto indivíduos sem «Senhor».
[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]
domingo, 11 de novembro de 2007
O direito a converter
- «Há exactamente 25 anos vivi o pior período da minha vida quando descobri que a minha filha mais velha tinha um problema de saúde muito grave. O 9º piso da Neurocirurgia do hospital de Santa Maria, onde se situava a UCI, a SO e a sala pediátrica, estava em obras, de forma que ficámos ambas numa enfermaria comum. Um padre que visitava os doentes, certamente com as melhores intenções, resolveu dar-me apoio (não solicitado) naquela hora tão difícil. Rapidamente se apercebeu que não me poderia dar qualquer tipo de conforto, mas ficou horrorizado com as implicações éticas e morais (para ele) das minhas opções: a minha filha de 18 meses não era baptizada. Naquela altura em que o Vaticano ainda não tinha abolido o limbo, tal era completamente inaceitável para o padre de que não recordo nem o nome nem a cara, apenas o total desrespeito por mim, pela minha dor e pelo meu estado (entretanto descobrira estar grávida da minha filha mais nova). Recordo a total insensibilidade com que me avisou que não tinha direito a não a baptizar, que o tumor da minha filha era castigo do meu ateísmo, que se não me arrependesse ou pelo menos não a baptizasse, o filho que carregava no meu ventre teria igual destino. Nem o desplante com que me informou, quando soube que a mais velha tinha sobrevivido à intervenção, que o tinha de agradecer a Deus que me dera uma segunda oportunidade de arrependimento.» (De Rerum Natura)
Países diferentes, mesmo truque
- «Despite the fact that one report after another has shown that church schools ruthlessly cherry-pick their intake in order to achieve the results they do, the churches continue to claim that the schools’ success is all down to their religious ethos. (We will overlook — as the churches want us to — the fact that there are “faith schools” at the bottom of the league tables as well as at the top). The Government is in thrall to the churches. It has created a monster that it cannot now control. And it is continuing to feed that monster in order to make it stronger. More “faith schools”, more privileges, more kow-towing to the demands of bishops and imams – despite the accumulating evidence that this is creating the exact opposite effect to the one they want. And that’s before we get to the question of minority faith schools and the threat they pose to “community cohesion”.» (National Secular Society)
sexta-feira, 9 de novembro de 2007
o problema...
N. Klein, The Shock Doctrine, p. 134: "For all these reasons [Milton] Friedman had spent a fair bit of time staring down an intellectual paradox: as heir to Adam Smith’s mantle, he believed passionately that humans are governed by self-interest andthat society works best when self-interest is allowed to govern almost all activities – except when it comes to a little activity called voting. Since most people in the world are either poor or live below the average income in their countries (including in the U.S.), it is in their short-term self-interest to vote for politicians promising to redistribute wealth from the top of the economy down to them."
Este problema tem sido resolvido pelos neocons de duas maneiras: com ditaduras (como a chilena) e com propaganda populista: medo (dos imigrantes, dos terroristas, etc.), guerra (que une as pessoas à volta dos caciques), ou religião e ideologia (aqui muitos preferem ser pobres do que viverem num mundo em que os homossexuais tenham direitos).
Por isso se diz aqui que um sítio muito frio e muito escuro é "dark and cold as a republican's hart." :o)
quinta-feira, 8 de novembro de 2007
Pela reposição dos Benefícios Fiscais
Não concordamos que se diminua a qualidade de vida das pessoas com deficiência.
Já chega tudo o que têm de enfrentar no dia a dia:
Barreiras físicas que lhes limitam a mobilidade. Barreiras comunicacionais que lhes limitam o acesso à informação e ao conhecimento. Preconceitos que lhes limitam a vida.
Pessoas a quem é negada a igualdade com os restantes cidadãos no acesso à educação, emprego, cultura e lazer têm de ser objecto de uma política activa de inclusão. Os benefícios ou deduções fiscais são uma componente essencial dessa política, pois garantem às pessoas com deficiência um rendimento extra que lhes permite fazer face aos custos decorrentes da sua deficiência.
A proposta do Governo na lei do Orçamento de Estado de 2007, reiterada para o Orçamento de Estado de 2008, de retirar benefícios fiscais às pessoas com deficiência em sede de IRS não é justiça social.
Retirar benefícios, que estavam consagrados desde 1988, a quem tem de se confrontar diariamente com inúmeros obstáculos para aceder e se manter no mercado de trabalho, com custos elevados para compensar o seu handicap, é penalizar o esforço de integração feito por essas pessoas e reduzir-lhes drasticamente a qualidade de vida.
Ao alterar a situação vigente desde 1988, sem que para tal tenha efectuado qualquer estudo sobre os custos da deficiência, o Governo legislou sobre o que não conhecia, escolhendo uma via fácil, mas injusta, de melhorar a situação de algumas pessoas com deficiência mais carenciadas, à custa de aumentos de imposto perfeitamente inadmissíveis dos que têm rendimentos médios, como tem sido demonstrado pela imprensa.
Assim, nós, abaixo assinados,
Apelamos ao Governo para que realize um estudo sobre os custos que as pessoas com deficiência suportam para compensar o seu handicap, e que só então defina quais os benefícios ou deduções fiscais que devem compensar esses custos;
Apelamos ao Governo para que evite as situações económicas de ruptura familiar que está a criar com as recentes medidas e que, até ter um conhecimento aprofundado das situações reais, reponha os benefícios fiscais para as pessoas com deficiência, mantendo, porém, a dedução à colecta que definiu recentemente, deixando-as optar pelo sistema de cálculo que lhes seja mais favorável;
Apelamos ainda ao Governo para que fiscalize e puna severamente quem de modo fraudulento aceda a benefícios que devem ser exclusivos das pessoas com deficiência, pondo assim termo a insinuações lesivas da sua honorabilidade.
Lisboa, 19 de Outubro de 2007»
Esta petição encontra-se aqui.
O blogue do movimento encontra-se aqui.
Amor cristão
http://www.huffingtonpost.com/max-blumenthal, e depois, em 26 de Julho, o filme rapture ready. Isto é o partido republicano profundo, o que governa a América há 7 anos, e que Durão Barroso apoia efusivamente. :o)
«Cheque-ensino» perde referendo no Utah
- «Americans United for Separation of Church and State has hailed a vote by Utah residents, who yesterday rejected a private school voucher plan at the ballot box. Utahns voted 60-40 percent to nullify a sweeping voucher plan passed by the legislature earlier this year. (...) “The American people want to support public schools, not private religious education that teaches dogma, subjects staff to religious qualifications and discriminates in admissions.” (...) “Utahns realized this effort to force vouchers on the state was a plot by ideologues who oppose public education and wisely said they wanted no part of it,” Lynn said. “Residents of the state have no desire to subject their children to a reckless experiment in education.” (...) “Vouchers will not solve the problems we have in some areas of education,” said Lynn. “The people know that, and it’s time to move on and focus on helping public schools in need.”» (Americans United for Separation of Church and State)
terça-feira, 6 de novembro de 2007
Naomi Klein's Latest Column
by Naomi Klein
November 2, 2007
I used to worry that the United States was in the grip of extremists who sincerely believed that the Apocalypse was coming and that they and their friends would be airlifted to heavenly safety. I have since reconsidered. The country is indeed in the grip of extremists who are determined to act out the biblical climax—the saving of the chosen and the burning of the masses—but without any divine intervention. Heaven can wait. Thanks to the booming business of privatized disaster services, we're getting the Rapture right here on earth.
[...]
segunda-feira, 5 de novembro de 2007
Poppers, Hayeks, Mills, & etc.
Talvez se discutissemos mais a realidade e menos os vossos teóricos, acabássemos a concordar uns com os outros.
Protestos de boas intenções…
Em Portugal os protestos de boas intenções dos neoliberais soam a banha da cobra: os teóricos do país que já é o mais desigual da Europa vêm-nos dizer que isto é para nosso bem, que não há dinheiro para a solidariedade social, que devemos ajudar os ricos a criarem mais riqueza para si próprios porque isso é bom para nós, que cria empregos, que o salário mínimo é um estorvo à economia e um encorajamento da preguiça e da irresponsabilidade, que a concentração dos media não tem perigo nenhum para a democracia, que “o mercado” resolve tudo, que devemos ler melhor os nossos Poppers, Hayeks e Mills, etc.
Mas as estatísticas mostram bem a trajectória que eles traçaram e cujas consequências são evidentes: o empobrecimento da classe média, a concentração obscena da riqueza, o empobrecimento e a exploração ignóbil de um terço da população do planeta, o ataque continuado aos direitos dos cidadãos, o crescimento da indústria militar e o desenvolvimento de uma “fighting class” de soldados sem futuro nem aspirações.
domingo, 4 de novembro de 2007
Cheque ensino
Nos anos setenta implementou-se aqui em alguns estados um sistema que encorajava a mistura de miúdos de bairros pobres (sobretudo minorias) com os miúdos de bairros ricos (maioritáriamente brancos) e investir no ensino por forma a utilizar TODAS as escolas como instrumentos de integração.
Os cheques ensino são uma reacção a esta política: pretendem ser um mecanismo que ajude a retirar os miúdos com melhor aproveitamento das escolas mais pobres, onde ninguém quer investir. Os cheques ensino só fazem sentido num contexto de desinvestimento no ensino público.
Isto não são coisas complicadas de imaginar. O modelo de sociedade que os neoliberais querem implementar é o do Chile (o do “milagre” chileno): uma classe alta pequena e muito rica, uma classe média de burocratas, pequena e pobre, e uma classe baixa miserável, sem protecção, dócil e sempre sob a ameaça de ir presa (por fumar ervas, por dar no pó, por se associar, por exprimir opiniões, etc.)
Os cheques ensino são para os filhos dos burocratas, que se querem pobrezinhos mas honrados. Ponto final.
Os neoliberais podem dizer o que quiserem, apresentar equações, etc., protestar o mais sincero "compassionate conservatism". Mas a visão deles é o regime de Pinochet.
Um pouco de juízo
- «Instado a comentar - enquanto ex-ministro da Justiça e da Administração Interna - a recente polémica em torno das escutas telefónicas, António Costa foi peremptório: "Sempre entendi que as escutas devem ser de tal forma excepcionais que não deve haver escutas fora de processo-crime". "Tenho visto no PS e no PSD muitas pessoas entendendo que se devia rever a Constituição para habilitar os serviços de informação a realizar escutas telefónicas. A minha opinião pessoal sempre foi contrária e não mudei de opinião nos últimos três meses", sublinhou.» (SIC)
Cheque-ensino
Não encontrei ainda defensores do cheque-ensino que proponham este aumento ou que justifiquem porque se há de reduzir a contribuição dos mais ricos para o ensino dos mais pobres. Mas este nem é o problema mais importante. No Blasfémias, o João Miranda escreveu:
«O cheque ensino é em primeiro lugar uma solução para o ensino público. Serve para levar mecanismos de mercado ao ensino público. Serve para forçar as escolas públicas a funcionar de acordo com as preferências dos clientes em vez de funcionarem de acordo com as preferências dos burocratas e dos professores. Serve para tornar a gestão das escolas públicas mais eficiente.»
E é esse o problema. Imaginem o cheque-saúde. Cada pessoa teria um cheque anual para as suas despesas de saúde, forçando os hospitais a funcionar de acordo com as preferências dos clientes e a tornar a sua gestão mais eficiente. Que grande treta. Os recursos médicos devem ser distribuídos em função das necessidades e não equitativamente. Os mecanismos de mercado seguem as preferências dos clientes mas dão mais peso aos clientes que pagam mais. E a eficiência não é naquilo que queremos.
O mercado favorece os tratamentos mais rentáveis e a gestão do serviço em função do retorno pelo investimento. A menos que o paciente seja rico, ganha-se eficiência deixando morrer quem tem doenças prolongadas e dispendiosas de tratar. O mais «eficiente» são tratamentos curtos a pessoas saudáveis, que têm menos riscos de complicações e de demora na recuperação. O cheque-saúde ia promover a cirurgia plástica eficiente e acabar com a saúde preventiva e os tratamentos das doenças dos pobres.
O cheque-ensino tem os mesmos problemas. Queremos escolas onde são mais necessárias e não onde dão mais lucro. Queremos um sistema de ensino para servir as necessidades dos filhos de forma equitativa. Não para servir as preferências dos pais em função do dinheiro que têm. E a eficiência do ensino está no que ajuda os que mais precisam e não no retorno médio pelo investimento.
É mais rentável educar crianças que têm um ambiente estável em casa, pais que as podem ajudar e que participam na sua educação. Mas quem precisa mais do sistema de ensino são os outros. Aqueles que, pelos mecanismos de mercado, seria ineficiente ensinar.»
Nota:voltando a aproveitar a política de ausência de direitos reservados ( ;) ), este texto é descaradamente copiado do blogue Que Treta!.
O espaço público é mesmo de todos?
- «Com os votos dos veradores do PS e de José Sá Fernandes, do Bloco de Esquerda (BE), a Câmara Municipal de Lisboa (CML) disse sim a uma proposta subscrita por António Costa, presidente da CML, aceitando a oferta da Fundação PLMJ (constituída pela sociedade de advogados de que José Miguel Júdice é um dos membros) de colocar, em frente às instalações daquela sociedade de advogados, em plena Avenida da Liberdade, uma estátua de Rui Chafes, com cinco metros de altua e dois e meio "de raio de acção". Título "Sou como tu". A oferta da Fundação PLMJ condicionada à aceitação pela autarquia da escolha do local por parte do ofertante mereceu críticas muito frontais de toda a oposição, embora PCP e PSD se abstivessem na votação.» (Jornal de Notícias)
quinta-feira, 1 de novembro de 2007
Mina Ahadi é a «secularista do ano»
Mina Ahadi é de origem iraniana, ateísta de convição e politicamente laicista, e passou à clandestinidade no Irão, em 1980, depois de se envolver numa campanha contra a obrigatoriedade do uso do véu islâmico. À época, a sua casa foi assaltada pela polícia islamista, e o seu marido e quatro camaradas seus foram presos e executados pelos islamo-fascistas. Mina Ahadi exilou-se na Europa em 1990, e vive na Alemanha desde 1996. Fundou em Março deste ano o Comité dos Ex-Muçulmanos da Alemanha, uma ideia que foi seguida pela fundação de organizações semelhantes no Reino Unido e na Holanda.
A nomeação de Mina Ahadi para este prémio é particularmente feliz por se tratar de uma mulher ex-muçulmana. Nos países de tradição muçulmana, é a luta pela liberdade das mulheres e pela sua igualdade de direitos com os homens que mudará sociedades ainda dominadas pela aliança entre a religião tradicional e o machismo. Como afirmou Richard Dawkins na cerimónia de entrega do prémio:
- «Sinto há muito tempo que a chave para resolver a a ameaça mundial do terrorismo islâmico será o acordar das mulheres, e Mina Ahadi é uma líder carismática que trabalha para esse fim.»
«Prova de crença», diz ele
- «Setenta por cento dos conselheiros nacionais do PSD aprovaram a proposta da direcção do partido que defende a ratificação parlamentar do Tratado Reformador da UE. (...) Ao optar pela ratificação do Tratado, Portugal estará a "dar um exemplo de maturidade e crença no projecto europeu", defendeu [Luís Filipe Menezes].» (Jornal de Notícias)
Com Marques Mendes, o PSD era favorável à ratificação em referendo do tratado ex-«constitucional». Com Menezes, quer dar uma «prova de crença» na fé europeísta. Não é um acaso o uso de linguagem religiosa a propósito da UE: o projecto de uma federação europeia é utópico e por isso requer o dispositivo de negação da realidade a que se chama «fé». Mas enfim: abençoados sejam os líderes partidários que esquecem as exigências de eleição dos constituintes próprias das constituições democráticas, e que professam tanta fé nas constituições elaboradas à porta fechada por representantes não eleitos. Deles será o reino de Bruxelas.