segunda-feira, 2 de abril de 2012

A esquerda enquanto mar de ruínas

À esquerda, quase um ano depois da queda final de Sócrates, sobram os viúvos do dito. Aqueles que ainda são capazes de criticá-lo, e os que ainda parecem esperar que ele volte numa manhã de nevoeiro. Uns não percebem a irrelevância actual de criticar o defunto, outros não sabem que ele morreu.

Perante o governo troiquista, a esquerda radical acantonou-se no reflexo típico de defesa-resistência. Seguro entrincheirou-se de outra forma, amarrado de pés e mãos pelo memorando da tróica. Uns estão contentes por protestar (mais malta na luta, e tal), e os outros vão demorar anos a perceber que têm de romper com o passado.

Entretanto, o maior ataque em democracia aos direitos sociais e laborais prossegue, perante uma oposição descoordenada, algo apática e ineficaz. Mas, se tudo continuar como está, novo empréstimo ou não, receio que tenhamos Passos e Portas até 2015. Pensem bem nisso. Os que têm a certeza de que ainda cá estarão... e os outros.

17 comentários :

no name disse...

pensem bem nisso? a altura para pensar "nisso" já passou há um ano: quando parte da esquerda se suicidou (e levou a outra metade com ela) ao aliar-se à direita no famoso "chumbo do pec4". aberta a porta à direita nessa perfeita estupidez, agora o melhor é mesmo não "estar cá" em 2015!

João Vasco disse...

Com suicídio referes-te a não ceder à chantagem do «ou aprovam tudo como eu quero, ou demito-me».
A direita chumbou o PEC4 sem oferecer alternativas, mas os partidos à esquerda do PS tinham alternativas. Se acreditas que não eram realistas, até podes ter razão, mas nem sequer existiu qualquer tipo de negociação no sentido de incorporar o máximo que se pudesse dessas propostas. Existiu total inflexibilidade de TODAS as partes (que o Ricardo Alves sempre criticou), que aliás reflectem perfeitamente as hostilidades (de parte a parte) entre os vários militantes dos partidos de esquerda face aos militantes dos outros partidos de esquerda (bom, as hostilidades entre BE e PCP lá vão diminuindo...).

no name disse...

JV, lembro apenas que foram feitos contactos junto de todos os partidos à esquerda do PS para que formassem algum tipo de acordo governativo com o PS. esses contactos partiram do PS e receberam todos a mesma resposta do outro lado. agora eu não digo que não seja verdade que todos são muito inflexíveis. o que me parece fora de tempo é vir armado em virgem um ano depois dizer que "temos que pensar nisso". "nisso"?? agora é tarde.

João Vasco disse...

Ricardo Schiappa, já há vários anos que o Ricardo Alves escreve neste blogue que se tem de pensar "nisso", ainda muito antes do que relatas - já de si muito anterior à questão do PEC4.

E continua a ser tempo de pensar "nisso" porque se é tarde, antes tarde que nunca.

Maquiavel disse...

RS, "foram feitos contactos junto de todos os partidos à esquerda do PS para que formassem algum tipo de acordo governativo com o PS"? Quando? E como? Que ministérios ofereceu o PS à Esquerda?
EU näo sei de nada, se tu sabes, por favor esclarece.

É que se foi como nos PEC, foi a chantagem do «ou aceitam tudo como eu quero, ou governo sozinho».
Mais uma vez, a mentalidade tuga de que "colaborar" é um grande favor que se faz uns aos outros.

Ricardo Alves disse...

RS, não sei a que contactos te referes nem de quem partiram. O que eu sei é que nunca houve colaboração entre as esquerdas, nem nesta legislatura nem nas anteriores. E o que me interessa neste momento é que temos um governo de direita de memorando na mão, um presidente de direita e um parlamento de direita. Se queres continuar a carpir as mágoas, senta-te e chora. Mas isso não resolve nada. Temos que seguir em frente. Sócrates está politicamente morto.

Jorge Candeias disse...

Não houve nunca a mínima vontade por parte do PS de encontrar um mínimo de entendimento com a esquerda. E não houve nunca a mínima vontade por parte da esquerda de colaborar com o PS num rumo que a esquerda vem já há quase cinco anos avisando que é suicidário.

O PS até pode ter razão ao dizer que o rumo que a esquerda quer é impossível face à atual situação política na Europa. Mas é (ou antes, era; agora já é tarde) o único rumo capaz de evitar o descalabro, e nem o BE nem o PCP iria alguma vez abdicar dele.

E a verdade é esta.

Se o PS fosse um partido de esquerda, teria procurado entendimentos verdadeiros com os outros partidos de esquerda, rasgando os PECs e toda a filosofia que eles tinham por trás, e Portugal podia pelo menos tentado lutar contra a maré. Mas o PS não é um partido de esquerda. Consequentemente, Portugal vai ao fundo gerido por gente convencida de que para o fundo é que é o caminho. Com o PS no governo seria igual, porque não é com uns remendos "de esquerda" que este desastre de política se salva. Desastre de política, sublinho, que é no fundamental igual à que já estava expressa no PEC I.

Há gente no PS que já o compreendeu. Mas agora é tarde demais, e duvido muito, mas mesmo muito, de que mostrassem o mesmo tipo de compreensão se quem estivesse no poder fosse o PS.

blabla disse...

...mas de que esquerda se fala ??...be e pcp...não brinquem que já estou velho...para esses ditos de esquerda o único programa válido é o tiro ao ps seja ele o que for ou o que vier a ser...assim fizeram na ocasião do pec4 aliados conscientemente à direita rejeitando qualquer hipótese de conversa …sim sócrates propôs isso a todos…a lógica desta dita esquerda é essa mesmo...preferem lá o ppd/cds ao ps...trata-se de uma questão comercial...ganham votos...

João Vasco disse...

Não, não ganham votos. Conseguem melhores resultados quando o PS está no poder, e quanto é garantido que o pode manter (menos necessidade de voto útil na cabeça de alguns eleitores).
Isto não é uma questão táctica, mas sim visceral, e o blabla é parte do problema. Aliás, os comentários a este texto não podiam dar mais razão ao Ricardo: ele fala sobre a necessidade de entendimento entre as esquerdas, e os diferentes apoiantes dos vários partidos de esquerda comentam a dizer que os outros partidos de esquerda são maus.

Jorge, existiu uma deriva de direita tal que o programa do BE e do PCP não é muito mais «ambicioso» que o programa do PSD quando concorria nos primeiros anos, e nesse sentido o PS, que foi parte dessa deriva, não é um partido de esquerda. Mas do ponto de vista relativo, ou seja em relação ao universo partidário que existe (tendo em conta o eleitorado que representa) o PS é um partido de esquerda, centro-esquerda. Claro que uma fatia do eleitorado que não chega aos 20% não pode governar em Democracia, portanto os partidos à esquerda do PS não deveriam ver este partido como um alvo a abater, mas sim como um parceiro a negociar, pesem embora as enormes diferenças ideológicas.
Quanto aos outros, há uma diferença entre agir como o António Costa, que tentou alianças à esquerda e não conseguiu, e agir como José Sócrates, que nem tentou, e teve uma atitude «my way or the highway». No primeiro caso, os eleitores reconheceram a tentativa de compromisso, e penalizaram os inflexíveis, no segundo caso a esquerda ficou toda a perder (o BE e a CDU nem sequer se conseguiram entender entre si para apresentarem uma proposta de governo credível ao seu eleitorado). Este ódio visceral entre simpatizantes dos diferentes partidos de esquerda não tem sentido algum.

João Vasco disse...

Sobre a deriva de direita:

http://esquerda-republicana.blogspot.pt/2011/12/deriva-de-direita-em-imagens-parte-iii.html

no name disse...

RA não desvies a conversa que eu nunca me referi ao sócrates; deixa lá o homem em paz em paris. eu, por mim, já segui em frente muito antes sequer das eleições... (e pelos vistos, tal como o maquiavel, andaste distraído na legislatura anterior...)

Ricardo Alves disse...

RS, tu é que lançaste um petardo («contactos» e tal) e depois escondeste a mão.

E dizeres que eu andei distraído... ai-ai... todos os que não foram apoiantes acríticos do Sócrates foram uns tontos, é isso?

Jorge Candeias disse...

E quando é possível negociar, negoceia-se. Tem havido convergências no parlamento, tem havido campanhas várias em que a esquerda esteve ao lado do PS, tem havido coligações autárquicas, etc.

Mas o PS não poderá nunca contar com a esquerda para governar à direita. E é isto que o PS parece não querer compreender. Quando o PS quiser REALMENTE governar à esquerda, tenho a certeza de que há de arranjar à esquerda parceiros para isso. Enquanto continuar a querer fazer aquilo que no fundamental é a MESMA política do PSD, os partidos de esquerda só ajudariam se fossem completamente idiotas.

Ricardo Alves disse...

Se o problema é tanto de um lado como do outro, a solução talvez passe por uma força política capaz de estabelecer pontes.

Maquiavel disse...

Näo, RA, o problema näo é "tanto de um lado como do outro", por mais que o queiras. O problema é o PS querer governar à Direita e fazer beicinho quando o partidos de Esquerda querem que o PS governe à Esquerda. Simples.

Se o PS fosse de Esquerda faria em Portugal em 2009 o que o seu congénere SD de Robert Fico vai fazer na Eslováquia em 2012: com a crise às portas vai aplicar um programa de Esquerda para evitar que a crise chegue.

Na história inteira do PS só houve 2-pessoas-2 a quererem efectivamente criar pontes à Esquerda: Sampaio e Costa.

João Vasco disse...

«Na história inteira do PS só houve 2-pessoas-2 a quererem efectivamente criar pontes à Esquerda: Sampaio e Costa.»

Houve outros, tais como o Manuel Alegre, a Ana Gomes, etc... Mas foram sem dúvida uma minoria.

Mea Culpa Mea Maxima Culpa Miserere Dominus Meo disse...

Sampaio o obtuso?

Costa...o Afonso Costa já estava morto

e se é o António só se fizer ponte com o Narana Coissoró ou com o Abecassis...
ao menos o RUi Rio aguentou a sua metrópole de 350 mil almas a 200 milhões ao ano...

o caçador simão Manel o Alegre

a douda de Candal e a maluquinha de arroios numa só
queria fazer pontes?

sim de facto para fazer pontes à hintze ribeiro é preciso haver malucos dos dois lados...