domingo, 31 de janeiro de 2010

Emburcar ou desemburcar não é bem a mesma coisa

A questão que me interessa não é, realmente, proibir ou não proibir os véus integrais. O meu problema é que não consigo pensar em maior símbolo da opressão da mulher, neste planeta e neste século, do que a burca. E é evidente que não é apenas um símbolo: é um instrumento (entre outros) da ideologia extremista que, da Arábia Saudita e do Irão até aos subúrbios europeus, pior lugar reserva para o sexo feminino.


Pensava eu, na minha ingenuidade, que a esquerda em particular e os progressistas em geral o compreendiam. Mas não.


Sou acusado pela Maria João Pires e pelo Daniel Oliveira de ter um programa formatado (e compulsivo) para a «libertação das mulheres», e até de pretender saber o que é uma «mulher livre». A prova do delito? Um parágrafo interrogativo no meu texto anterior, em que lançava algumas perguntas (os perigos da retórica...) sobre a vivência concreta das mulheres emburcadas.


Porque não estamos, digam o que disserem, a falar de mulheres que usam burca ou nicabe como quem usa mini-saia ou calças. Que existem mulheres que usam a burca obrigadas é, para mim, uma evidência. A violência contra mulheres que usam o véu está documentada. Mas essas mulheres não parecem entrar  em conta nas posições que vejo por tomar. O que dirão a Maria João Pires e o Daniel Oliveira se, um dia, as mulheres muçulmanas agradecerem que as burcas tenham sido proibidas? «Desculpa lá, não sabia, imaginei que gostasses»?


Ah, e o meu programa para a «libertação das mulheres» (versão minimal): escolham o que querem. É esse o meu programa. Mas há outro programa nesta conversa: o do islamismo extremista. E esse é que deveria preocupar as feministas. Porque proibir a burca e obrigar à burca não são duas faces da mesma moeda. São divisas diferentes.


Obrigar à burca em nome da versão talibã do islão, espancar as mulheres de Teerão que descobrem o cabelo, ou forçar as mulheres dos subúrbios de Paris a cobrirem-se, é tudo parte de um projecto de sociedade em que a mulher não tem os mesmos direitos do homem, nem liberdade. Multar as sauditas que desfilam de nicabe nos Campos Elísios, ou as francesas que se emburcam, é parte de um projecto de sociedade em que a mulher tende a ter o mesmo poder do que o homem, e só obedece a quem quer, e em que as pessoas interagem de cara descoberta e olhos nos olhos.

Ser contra algo, sem ser a favor da sua proibição

Há vários comportamentos e atitudes em relação aos quais estamos «contra», sem acreditarmos que devam ser proibidos.

Quando o Ricardo levantou esta questão da Burca, ele fez mais do que defender que a mesma deveria ser proibida em nome da luta aos sexismo - ponto em relação ao qual teria algumas dúvidas. O Ricado falou na Burca como um símbolo de submissão das mulheres, que remete para toda uma cultura e conjunto de valores (de extremismo e fundamentalismo religioso no qual, felizmente, vários islâmicos no ocidente não se revêem) nas quais elas de facto têm menos poder, menos direitos, menos dignidade que os homens.

Todos quantos apresentaram a sua discordância alegaram que seria uma intromissão indesculpável à liberdade das mulheres - serem impedidas pelo estado de vestir o que queriam, apenas para as proteger de uma hipotética falta de liberdade para fazer o contrário. E se alguém o fizesse porque queria?

No entanto, ficou sempre por discutir uma possibilidade. A possibilidade de ser-se contra o uso de Burcas, sem ser a favor da proibição. A possibilidade de acreditar que, sendo este um símbolo sexista, dever-se-ia combater o seu uso, não pela força da lei, mas pela força das palavras, da persuasão, da discussão livre, das ideias. As culturas não são estáticas, são dinâmicas, e nós moldamo-las quando interagimos uns com os outros.

Quando as mulheres finalmente conseguiram a consagração da igualdade entre homem e mulher perante a lei, ainda havia muito a fazer, segundo afirmavam as feministas da altura. Muitos comportamentos e mentalidades que, julgando "ultrapassados", tentaram mudar - e tentaram mudar afirmando-se contra. E em muitos casos, não seria pela lei que se iria fazer a mudança.
Por exemplo, seria absurda uma lei que obrigasse os casais a passar um número de horas semelhantes em tarefas domésticas. Mas isso não implica que não se esteja "contra" a discrepância que actualmente existe (em média).

Por isso, é curioso que nesta discussão não se veja esta declaração: «Sim, acredito que as mulheres se devem poder vestir como quiserem, que não deve ser o estado a impedi-lo. Mas estou contra o uso da Burca e do Nicabe. São símbolos de extrema opressão feminina. Será uma vitória para as mulheres quando o seu uso for negligenciável».

Uma lição a não esquecer!

Todos os pervertidos com tendências invertidas deviam ver este vídeo! Se as mães fossem todas como a mãe deste senhor, não havia homens-sexuais. Este senhor teve tendências homossexuais há muito tempo, mas hoje está curado, graças a Deus!

sábado, 30 de janeiro de 2010

Queimar a burca ou enfiar a burca, eis a questão

A Fernanda Câncio não gostou do que escrevi sobre a postura de algumas jugulares sobre a proibição dos véus integrais. Eu sei que a questão é complexa. Justamente por isso não se compadece com irritações e graçolas fáceis. Vamos lá.


Feministas como a Maria João Pires não hesitam em falar em «livre vontade de uma mulher adulta» para se oporem à proibição de burcas e nicabes. A Fernanda, no seu artigo do DN, menciona também a «autodeterminação de adultas» para concluir que «o rosto, o corpo, a vida é de cada um. E dizer que as mulheres que usam véu precisam desta interdição para se libertarem é dizer que não lhes reconhecemos a capacidade de serem livres». É de justiça reconhecer que a Fernanda repudia no primeiro parágrafo o véu e a desigualdade que significa. Mas o problema está na conclusão.


Serão realmente livres as mulheres que usam o véu? Serão realmente mulheres que tomam a pílula, vão  para casa e põem os maridos a lavar a louça, que os metem em tribunal quando eles as violentam? Mulheres que têm relações sexuais antes ou até «ao lado» do matrimónio? E, se assim é, porque será que sentem necessidade de usar a burca?


Há a tradição e a «cultura», claro. E é aí que não estou, nitidamente, a fazer-me entender.
Os véus, integrais ou não, são impostos, pela força e com justificação religiosa, nos países do Golfo Pérsico, no Irão e noutros. Na Arábia Saudita e no Irão, há polícia própria para assegurar que a pele das mulheres não fica à mostra. A nudez da mulher é vergonhosa e deve ser tapada, não vá despertar a luxúria dos homens. O regime mais retrógrado que este planeta conheceu nos últimos vinte anos, o dos talibã, obrigou as mulheres a emburcarem-se e a só saírem à rua acompanhadas de um homem que fosse familiar próximo. É a essas mulheres que devemos a nossa solidariedade.


E portanto não podemos falar de burcas como se fossem escolhidas por mulheres que as usam às segundas, quartas e sextas, e que usam mini-saia às terças, quintas e sábados. O véu integral é a bandeira e a arma de uma ideologia autoritária, totalitária e sexista.

Haverá mulheres que as usam livremente? Sim, umas porque não conhecem alternativa e outras porque são soldados conscientes do islamismo integrista. Às primeiras, devemos explicar que na Europa as mulheres são livres e iguais em direitos aos homens. Às segundas, devemos combatê-las (é de uma guerra cultural que se trata). E haverá também mulheres que não usam os véus livremente. E essas agradecerão que as proíbam de os usar. É pela igualdade que desejam e merecem que este combate se trava.

Tony 'Bliar': No regrets!

Kim Jong Blair, como lhe chamou a BBC, está a responder pelos crimes do seu mandato e por ter lambido as botas a George Bush e ao capitalismo selvagem internacional, por dinheiro. sem vergonha nem escrúpulos, como um sociopata comum, tem repetido as mentiras que os media espalharam na altura e garantido que a invasão do Iraque não teve nada que ver com o facto do país flutuar em cima dum lago de petróleo.

Bronzeado e multimilionário, declarou que se sentia "chocado" com as histórias de tortura de Abu Ghraib. Como se fôssemos todos estúpidos.

Blair sabe que, no fim do dia, esta pequena humilhação pública será rapidamente esquecida e a fortuna que recebeu em troca dos favores políticos que prestou continua a render.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Algumas ideias sobre a CP e os comboios

Durante esta semana foi moda comentar este artigo do Público sobre os conhecidos defeitos da CP. Eu sou utente regular da CP, na Linha do Norte e nos Urbanos do Porto (e linha de Cascais no verão). A CP tem muitos defeitos, excetuando talvez justamente as linhas que uso (e os Urbanos de Lisboa) – os serviços com mais procura. Custa-me por isso ler críticas tão pouco fundamentadas, patentes no artigo, como “a inexistência de uma ligação directa Estarreja-Azambuja”. Existem vários intercidades Aveiro-Vila Franca de Xira (duas vezes por dia, até param em Estarreja). Perfeitamente sincronizados com esses intercidades, existem urbanos para as ligações Estarreja-Aveiro e Vila Franca – Azambuja. Por que raio haveria de haver essa ligação direta?
Outra crítica descabida é a do Bruno Sena Martins. Intercidades Porto – Lisboa há a cada duas horas tirando a meio do dia (param todos em Coimbra). A isto acrescem os intercidades Lisboa – Guarda (também param em Coimbra). Conto um total de dez intercidades Lisboa – Coimbra por dia (fora os alfas, que são onze). Os horários “não servem” ao Bruno? Comentários como este e o da Azambuja-Estarreja levam-me a concluir que esta gente não quer comboios – quer é táxis!

As verdadeiras feministas queimam burcas

Não sei se se deve proibir o véu integral, mas espanta-me e choca-me que não cause horror e repulsa a todas as feministas europeias.

É provável que a França venha a proibir a burca afegã e o nicabe saudita nos transportes públicos e até nas ruas, invocando razões de segurança e de «identificabilidade», mas não em nome da laicidade, que se aplica à escola estatal (onde se aprende a cidadania) e não aos espaços públicos de circulação e manifestação livre. E se compreendo a proibição, temo que se esteja a ceder a uma provocação calculada.

Porque as burcas não são meros pedaços de pano. São um símbolo e um instrumento de opressão das mulheres. São a bandeira de uma interpretação fundamentalista e ultra-sexista do Islão, que cresceu em países muçulmanos e que pretende afirmar-se (provocando) na Europa. Não são comparáveis à liberdade de usar mini-saia ou de se vestir à moda gótica, pela simples razão de que não existe país nenhum do mundo em que as mulheres sejam atiradas para a prisão ou espancadas na rua por não usarem mini-saia. Quando em França e em Espanha há mulheres agredidas por não usarem véu, quando vemos, em cidades europeias, mulheres caminharem dois passos atrás do marido e de olhos postos no chão, ou quando os casamentos forçados se tornam comuns entre os muçulmanos europeus, há que ter muito cuidado com a defesa da liberdade de ser integrista (que todavia existe).

Evidentemente, existem muçulmanos que repudiam os véus integrais. E devem ser apoiados. Ao contrário da proibição dos minaretes, que atinge todos os muçulmanos sem excepção, «laicizados» ou integristas, proibir véus só atingirá aqueles que rejeitam o laicismo europeu e cospem na liberdade das mulheres.

A solidariedade dos homens e mulheres europeus que prezam a igualdade de direitos entre os sexos deveria estar com as mulheres que no Irão, na Arábia Saudita ou no Afeganistão, são agredidas se não usam o véu. Porque a liberdade sem a igualdade é apenas o direito do mais forte de oprimir o mais fraco.

Espanta-me portanto o que tenho lido nessa barricada do feminismo pós-moderno em que a Jugular se tornou. Os véus não são uma expressão de liberdade, são o seu contrário. E as verdadeiras feministas contemporâneas deviam queimar burcas. Acho eu, que sou homem.

Pois...

«A escola, como instituição ao serviço da educação não pode ser laica.»

Cardeal Policarpo, aqui.

Mas é exactamente ao contrário: a escola pública tem de ser laica, pois o contrário seria inconstitucional, além de injusto, conflituoso e pouco sensato.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Mais livre do que um tipo sem casa, só mesmo um tipo sem emprego

Já todos conhecemos mais ou menos os argumentos dos que se dizem a favor do arrendamento de casas (mesmo se tal prática constitui um feudalismo dos tempos modernos que perpetua uma distribuição desigual dos bens imobiliários, quando o direito à habitação está garantido na Constituição). O arrendamento deveria ser encorajado porque há casas desabitadas (que os senhorios não querem vender). As rendas deveriam ser aumentadas porque os senhorios não têm dinheiro para fazerem obras e as casas degradam-se (mas nem pensar em os senhorios venderem as casas!). Enfim. Um argumento mais recente, lançado há uns anos por Francisco Sarsfield Cabral num artigo do DN e bastante usado na blogosfera de direita, defendia a precariedade laboral disfarçada nas supostas “boas” intenções do mercado do arrendamento: um indivíduo não deveria comprar casa porque deveria estar sempre pronto para mudar de emprego, de local e mesmo de cidade de trabalho. Eu até aceito este argumento para um jovem, mas só até a uma certa idade. Pelos vistos há quem ache que a precariedade e instabilidade laboral devem durar toda uma vida. Agora, no Blasfémias vai-se mais longe: “cada vez que uma família se vincula a uma casa – habitação própria, alugada ou de renda social – compra a sua própria escravidão.” Não nos vinculemos a casas. Não nos vinculemos a emprego. Não nos vinculemos a nada, pois caso contrário somos “escravos”. Eu ainda hei-de ver esta gente defender que um desempregado é mais livre do que quem trabalha. O que nem deixa de ser verdade: um desempregado não tem horários nem patrão nem responsabilidades. Ainda hei-de ver algum deles escrever que, sempre que um patrão despede empregados, está a contribuir para a sua liberdade.

Uma vitória de Bin Laden

O terrorismo, só por si, não destrói uma sociedade democrática. As reacções ao terrorismo podem fazê-lo. Um objectivo de Bin Laden e restante escumalha terrorista seria, sem dúvida, levar as democracias europeias e os EUA a reprimirem, pela violência e à margem dos princípios que apregoam, o islamismo. Conseguiram-no com o regresso da tortura, que se sabe ser uma prática cada vez mais generalizada dos serviços «de informações» europeus e norte-americanos. Confirma-se que funcionários do governo do Reino Unido indicaram, detiveram,  elaboraram questionários ou até participaram em sessões de tortura de islamistas no Paquistão e alhures. Bin Laden agradece. Foi também para isto que ordenou o 11 de Setembro.

Que o respeito pelos Direitos do Homem, bandeira das democracias europeias desde 1945, esteja a ser abandonado sem reacção notável dos cidadãos, é um dos sinais mais tristes dos nossos tempos.

Sobre o combate ao terrorismo

Bruce Schneier escreve o seguinte sobre a actual abordagem ao problema do terrorismo (ênfase meu):


«[...]To the extent security failed, it failed before Abdulmutallab even got to the airport. Why was he issued an American visa? Why didn't anyone follow up on his father's tip? While I'm sure there are things to be improved and fixed, remember that everything is obvious in hindsight. After the fact, it's easy to point to the bits of evidence and claim that someone should have "connected the dots." But before the fact, when there are millions of dots -- some important but the vast majority unimportant -- uncovering plots is a lot harder.

Despite this, the proposed fixes focus on the details of the plot rather than the broad threat. We're going to install full-body scanners, even though there are lots of ways to hide PETN -- stuff it in a body cavity, spread it thinly on a garment -- from the machines. We're going to profile people traveling from 14 countries, even though it's easy for a terrorist to travel from a different country. Seating requirements for the last hour of flight were the most ridiculous example.

The problem with all these measures is that they're only effective if we guess the plot correctly. Defending against a particular tactic or target makes sense if tactics and targets are few. But there are hundreds of tactics and millions of targets, so all these measures will do is force the terrorists to make a minor modification to their plot.

It's magical thinking: If we defend against what the terrorists did last time, we'll somehow defend against what they do next time. Of course this doesn't work. We take away guns and bombs, so the terrorists use box cutters. We take away box cutters and corkscrews, and the terrorists hide explosives in their shoes. We screen shoes, they use liquids. We limit liquids, they sew PETN into their underwear. We implement full-body scanners, and they're going to do something else. This is a stupid game; we should stop playing it.

But we can't help it. As a species, we're hardwired to fear specific stories -- terrorists with PETN underwear, terrorists on subways, terrorists with crop dusters -- and we want to feel secure against those stories. So we implement security theater against the stories, while ignoring the broad threats.

What we need is security that's effective even if we can't guess the next plot: intelligence, investigation, and emergency response. Our foiling of the liquid bombers demonstrates this. They were arrested in London, before they got to the airport. It didn't matter if they were using liquids -- which they chose precisely because we weren't screening for them -- or solids or powders. It didn't matter if they were targeting airplanes or shopping malls or crowded movie theaters. They were arrested, and the plot was foiled. That's effective security.

Finally, we need to be indomitable. The real security failure on Christmas Day was in our reaction. We're reacting out of fear, wasting money on the story rather than securing ourselves against the threat. Abdulmutallab succeeded in causing terror even though his attack failed.

If we refuse to be terrorized, if we refuse to implement security theater and remember that we can never completely eliminate the risk of terrorism, then the terrorists fail even if their attacks succeed.
»

Mais valias

Escreve Daniel Oliveira no Arrastão:

«Foi há uma década que o secretário de Estado das Finanças, Ricardo Sá Fernandes, propôs no seu pacote fiscal a tributação das mais-valias bolsistas. O argumento era simples: se a produção paga imposto, se o trabalho paga imposto, se todas as actividades comerciais pagam imposto, se as doações pagam imposto, se a venda de imóveis paga imposto, como raio se justifica que o lucro conseguido pela venda de acções não o pague?

A ameaça veio rápida: Belmiro de Azevedo prometeu debandar para a bolsa holandesa. Ninguém acreditou, mas não foi preciso esperar muito. Uma desculpa mal amanhada – uma frase qualquer sobre o caso Camarate em que Sá Fernandes fora advogado das famílias das vítimas – serviu para mandar borda fora o incómodo secretário de Estado. O pacote fiscal morreu ali e com ele a proposta de acabar com esta excepção difícil de explicar com qualquer argumento moral, económico ou fiscal.

Depois veio o Orçamento Limiano e o pântano e Guterres partiu. Durão Barroso chegou a São Bento e a excepção manteve-se. Um tabu manteve-se intocável, mesmo quando o combate ao défice se dizia desígnio nacional. Sempre que foi ao Parlamento morreu às mãos da maioria.

Voltou o PS. Passaram-se quatro anos. O défice afinal ainda era incomportável. Todos tinham de se sacrificar um pouco. Todos? Não. As mais-valias para acções compradas há mais de um ano continuaram e continuam isentas de qualquer imposto. Nada. Zero. Mesmo sabendo-se que em quase toda a Europa e nos Estados Unidos elas são, como é evidente, tributadas. Que restam poucos países civilizados para onde Belmiro partir. Que só no último ano os 16 principais investidores viram os seus títulos valorizados em 5,3 mil milhões de euros. E que se vendessem o que têm nem um tostão do seu lucro pagaria imposto. E ainda assim nem uma agulha buliu num Estado que teima em financiar-se quase exclusivamente através do esforço dos que trabalham.

Nas últimas eleições o PS voltou a pôr, como ornamento, esta proposta no seu programa eleitoral. Ontem, no programa "Prós e Contras" da RTP, Jorge Lacão confessou, sem se esforçar muito com argumentos aceitáveis, que ainda não é desta. Que é preciso combater o défice, sim. Que todos têm de ajudar, claro. Que por isso não se pode acabar com o Pagamento Especial por Conta, evidentemente. Mas que assustar a bolsa com uma medida que existe em quase toda a Europa é que não pode ser. A bolsa que teve o seu melhor ano dos últimos doze em 2009 é sensível a qualquer contrariedade.

Talvez no dia em que as galinhas tenham dentes o lucro do jogo bolsista se junte ao trabalho, à agricultura, ao comércio, à produção para ajudar às contas públicas. Talvez nessa altura também a banca, que está muitíssimo bem e recomenda-se, pague tanto de IRC como o resto das empresas. Mas isso será na altura em que os nossos governantes peçam realmente sacrifícios a todos. Que palavras como "rigor" e "responsabilidade" queiram realmente dizer alguma coisa.

Até lá, caro leitor, saiba que o seu trabalho, taxado sem apelo nem agravo ao fim de cada mês, tem menos dignidade para o Estado do que a compra e venda acções. A si, não se importa o governo de contrariar. Afinal de contas, dificilmente fará cair um secretário de Estado com a ameaça de abalar para a Holanda



Nos comentários, em resposta a este texto, muitos alegaram que o nosso mercado bolsista precisa desta bonomia fiscal, ao contrário de outros que são por si mais atractivos (EUA, Fraça, etc..) e que podem dar-se ao luxo de taxar as transacções. Independentemente da justeza da medida, alegaram, a fuga de capitais que iria ter como consequência acabaria por nos prejudicar a todos.
Isto obviamente é um argumento técnico e não político. Mas, como muitos arguemntos deste tipo, não está fundamentado em mais que um preconceito. Não existe nenhum estudo, não existem contas que fundamentem esta alegação.

Mas na verdade existe o oposto.

Não cumprir esta promessa eleitoral nas circunstâncias actuais não é mais que uma traição.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Howard Zinn

Morreu hoje, aos 87 anos. Foi um homem extraordinário, um herói de guerra, um militante corajoso pela paz e pela justiça, e um historiador fantástico.

O obituário no Boston.com dizia: As he wrote in his autobiography, “You Can’t Be Neutral on a Moving Train” (1994), “From the start, my teaching was infused with my own history. I would try to be fair to other points of view, but I wanted more than ‘objectivity’; I wanted students to leave my classes not just better informed, but more prepared to relinquish the safety of silence, more prepared to speak up, to act against injustice wherever they saw it. This, of course, was a recipe for trouble.”

O masoquismo é um direito

Karol Wojtyla autoflagelava-se com um cinto. Nada tenho contra, o corpo era dele. Os adultos têm o direito de fazer mal a si próprios, e na medida em que isso não prejudique os que deles dependem, não se deve impedi-los. Pode-se, evidentemente, tentar persuadi-los de que o excesso de álcool estraga o cérebro e o fígado, de que a heroína vicia, ou de que os fritos sobem o colesterol. Mas, na medida em que sabem o que estão a fazer e não se prejudicam, é lá com eles.

Todavia, não se deve fazer a propaganda do alcoolismo, incentivar as crianças a alimentarem-se exclusivamente de batatas fritas e chocolate, ou banalizar o sofrimento, mesmo quando provocado pelo próprio e livremente.

Não é portanto muito normal que se considere como «modelo de virtudes» um tipo que, aparentemente, procurava a dor deliberadamente, e que se considere o cinto (ou a auto-agressão em si?) um «instrumento de perfeição». Há gostos para tudo, mas convém não exaltar a auto-imposição do sofrimento.

Terceiro inquérito

Pergunta: quais são os principais factores de risco para a democracia portuguesa?
Respostas:
  • Os serviços «de informações»
  • A ICAR
  • Os grupos económicos
  • Os sindicatos
  • A corrupção
  • A demagogia
  • O peso do Estado
  • Os partidos extremistas
  • O desinteresse dos cidadãos
  • A União Europeia
  • Outros factores
É possível escolher mais do que uma resposta. O inquérito já se encontra no topo da coluna da direita, e é possível participar até à meia-noite do dia 5 de Fevereiro. Agradece-se a participação dos leitores.

Resultados do segundo inquérito

E depois do inquérito sobre matéria política, terminou o inquérito sobre matéria religiosa.
Pergunta: qual é a sua orientação em matéria religiosa?
Resultados (em número de respostas e percentagem):
  • Ateísmo: 69 (45.7%)
  • Agnosticismo: 33 (21.9%)
  • Catolicismo: 21 (13.9%)
  • Cristianismo evangélico: 4 (2.6%)
  • Testemunha de Jeová: 0 (0%)
  • Cristianismo Ortodoxo: 2 (1.3%)
  • Outra cristã: 0 (0%)
  • Islão: 0 (0%)
  • Bahá´í: 3 (2%)
  • Hinduísmo: 0 (0%)
  • Budismo: 3 (2%)
  • Judaísmo: 1 (0.7%)
  • Paganismo: 1 (0.7%)
  • Outra não cristã: 0 (0%)
  • "Existe um Deus": 4 (2.6%)
  • Nenhuma orientação: 10 (6.6%)
O terceiro inquérito começará nas próximas horas e terá um tema bastante diferente.

Leituras (27/1/2010)

  1. «Pedro Passos Coelho já não é um miúdo, mas mantém, apesar dos 45 anos, um jovial aspecto de bom rapaz. (...) Fiquei a saber que, para este bom rapaz, a educação e a saúde devem ser asseguradas pelo sector privado ou pagos ("co-financiados", diz ele) pelos utilizadores. Fiquei a suspeitar, nas entrelinhas, que ele está quase convencido a cobrar propinas no ensino obrigatório, a exigir lucros no tratamento do cancro ou a aliviar os ricos de taxas para a Segurança Social. Mas, querido povo, descansai que ficará o Estado "a regular" tudo… (...) Não preciso de ficar a saber mais. Com Passos Coelho poderemos ganhar um bom rapaz no Governo, mas os maus rapazes do costume, na noite em que ele for eleito, abrirão garrafas de champanhe.» (Diário de Notícias)
  2. «Tem-se vindo a verificar uma divisão nítida, tanto quanto eu posso ver/ler em dois tipos de blogs: Os profissionais; Os amadores. Os profissionais são escritos por pessoas que têm alguma profissão ligada à escrita e, por isso, têm facilidade de se exprimir. Consideram também que o blog tem de ter um certo número de posts diário, mesmo que não exprimam nada de especial. Este tipo de blogs tem vindo a concentrar-se, isto é, alguns encerram e os seus colaboradores mudam para outro o que permite que mantenham o tal número de posts regular. Muitas vezes estão conotados com partidos ou correntes políticas. Os amadores que são, ou eram, a verdadeira essência do sistema: repositórios de textos que não seriam publicados em órgãos de comunicação estabelecidos, pelas mais variadas razões, desde a falta de interesse ao boicote de determinadas opiniões por parte desses mesmos órgãos. (...) Lamentavelmente este grupo, no restrito universo em que me movo, tem vindo a diminuir de dimensão, pelo encerramento, ou suspensão voluntária pelos seus autores.» (Croquete-matinal)

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Em busca do centro perdido

No Público de hoje, Vital Moreira argumenta que Manuel Alegre perderá os votos do «centro político», o que daria, inevitavelmente, a vitória a Cavaco Silva na eleição presidencial. O argumento assenta, implicitamente, numa premissa muito comum: a de que o «centro político» divide o eleitorado em duas metades. E no entanto, a verdade é que, nas eleições de âmbito nacional de 1995 para cá, raramente  a divisão do eleitorado em «esquerda» e «direita» se aproximou de duas metades (ou seja, raramente a mediana estatística esteve próxima do tal «centro político», entendido como o ponto entre o PS e o PSD).


Como mostra o gráfico, a votação total nas eleições presidenciais e legislativas, nos últimos 15 anos, foi quase sempre favorável à «esquerda» (há duas excepções). Em média, a «esquerda» teve três milhões de votos, e a «direita», 2.35 milhões. Quando a «direita» ganhou (nas legislativas de 2002 e na presidencial de 2006) foi por diferenças muito pequenas (respectivamente, por 49 mil votos e por 64 mil votos). As vitórias da «esquerda» foram sempre bastante mais amplas (no mínimo - a presidencial de 1996 - por 440 mil votos de diferença; em dois casos, por 1.3 milhão).
O que estes números significam é que não é impossível perder no «centro político» e ganhar a eleição presidencial. A manter-se a tendência dos últimos 15 anos, bastaria a Manuel Alegre ter 90% dos votos habituais da «esquerda» para vencer. O que torna tudo bastante mais interessante.

Mais um...

Desta vez chama-se Mgr Tadeusz Pieronek e era muito amigo do papa João Paulo II. A mensagem é sempre a mesma: "os judeus" inventaram esta história do Shoah para agora "obterem vantagens muitas vezes injustificadas". A seguir falou da conspiração judaica, etc.

Ontem estava a dizer a um amigo meu que, entre os evangélicos e os católicos, ainda assim preferia os católicos, porque eram menos estúpidos e menos selvagens... mas foi uma coisa impensada que eu disse e ainda bem que aqui o Monsenhor Pieronek me relembrou esta parte do credo deles.

No fundo, no fundo, estes monsenhores acham que o Holocausto foi chato, que o Hitler abusou um bocado e tal, mas que "os judeus", como ele diz, "são duma arrogância insuportável" e estavam mesmo a pedi-las!

Leio estas coisas e fica-me a apetecer ver um 'remake' do filme do Tarantino mas desta vez passado em Roma!

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Revista de blogues (25/1/2010)

  1. «Classificar Hugo Chávez de "tirano" é um erro de interpretação. O homem tem muitos defeitos e está a afundar a Venezuela, mas não é um ditador que tome decisões arbitrárias e sanguinárias. E o seu regime não é comunista, embora também não seja um bom exemplo da melhor democracia. O mesmo se pode dizer de Evo Morales, que está a afundar a Bolívia. (...)
    Quando analisam o regime chavista, muitos observadores usam a analogia cubana, que é claramente imprópria. Acho que deviam fazer a comparação com Juan Perón, que afundou a Argentina nos anos 40 e 50. A megalomania de Perón teve um método que lembra o de Chávez: o poder assentou primeiro no controlo das forças armadas, depois no controlo da economia e, finalmente, no controlo da comunicação. A intenção era a mesma: criar uma potência regional.» (Luís Naves)
  2. «José Eduardo dos Santos decidiu fazer-se eleger pelo parlamento, por mais cinco anos, por mais dez anos, troçando da democracia, por uma razão muito simples: porque pode. Porque já nem sequer precisa de fingir que acredita nas virtudes do sistema democrático. Enquanto Angola der dinheiro a ganhar, aos de fora e aos de dentro, e mais aos de fora que aos de dentro, como sempre aconteceu, ninguém o incomodará. Para isso, para que Angola continue a dar dinheiro, exige-se alguma estabilidade social, sim, mas não democracia. Democracia é um luxo.
    (...)
    Aos angolanos resta a esperança de que o crescimento económico possa contribuir para a formação e o regresso de jovens quadros. Estes, juntamente com uma mão-cheia de jornalistas independentes, de activistas cívicos, de militantes de pequenos partidos, todos juntos, talvez consigam criar um amplo movimento social capaz, a médio prazo, de vencer o medo e de transformar Angola numa verdadeira democracia.» (José Eduardo Agualusa)

Homenagem aos regicidas

  • «Os promotores da romagem à campa dos homens que mataram o rei Dom Carlos voltam a homenagear os regicidas no próximo domingo, este ano com fortes críticas ao programa do centenário da República por excluírem o regicídio das comemorações. (...) A romagem realizar-se-á um dia antes da efeméride, a 31 de Janeiro, altura em que "todos os actores dos factos ocorridos se encontravam vivos e aptos a modificarem as suas opções". "Não deixo de reconhecer que a morte é sempre passível de ser condenada, por isso comemoramos o acontecimento no dia 31 de Janeiro, porque festejamos a vida e não a morte. Deixamos a morte para ser comemorada por aquelas instituições que acreditam no transcendente. Nós, não", disse Luís Vaz.» (Associação Promotora do Livre Pensamento, no Público)

Romagem à campa dos regicidas em 1911.

Imagens espalhadas por Lisboa em 2008 (via Nadir dos Tempos).

    domingo, 24 de janeiro de 2010

    E o Grande Vencedor do «Grande Prémio Coligação Socialista 2010» é...


    97+21>116
    (E nem precisa de garantir votar a favor. Que sentido de responsabilidade! Que coragem! Quanta transparência! E obrigado, socialistas...)

    sábado, 23 de janeiro de 2010

    Ainda sobre os crucifixos das escolas

    Um dos comentários que tenho ouvido mais frequente, a amigos e familiares, é que ninguém liga aos crucifixos, e nós estamos a fazer uma tempestade num copo de água. Eu não posso discordar mais desta opinião. Percebo de onde vem, mas discordo energicamente. Em primeiro lugar porque acho que esta polémica deve servir para ajudar a sociedade civil (e o clero) a verem a fronteira entre a Igreja e o Estado com mais clareza. Vai sendo tempo de ir habituando os padres à ideia de que não estão acima da lei.

    Mas o problema, em meu entender, é que a maioria dos católicos que conheço nunca abriu a Bíblia, acredita que os evangelhos são uma antologia de bons conselhos, indiscutível e universalmente bons, e que a relação destes católicos com a igreja consiste em frequentarem as cerimónias dos casamentos e baptisados dos amigos e, mais importante, as missas dos enterros, que os confortam com a ideia de que as coisas que acontecem têm sentido e razão de ser e que os mortos vão para um mundo melhor onde nos poderemos todos encontrar daqui a muito tempo (o filme de Ricky Gervais, "The Invention of Lying" ilustra esta parte eloquentemente).

    Estes católicos acham que os padres são seres humanos e por isso não são perfeitos, mas que a Igreja é uma organização fundamentalmente boa e moral, que promove os ideais humanistas do Renascimento e faz o que pode para melhorar a sociedade todos os dias.

    Nunca pensaram na Igreja Católica como uma organização internacional com milhões de Euros de encargos mensais, que precisa de muito poder e muito dinheiro para sobreviver no mundo extremamente complexo da política e da finança internacionais.

    Se virmos a questão dos crucifixos por este prisma, é tão imoral ter crucifixos nas escolas como cartazes da Procter & Gamble, ou da Apple. Independentemente da qualidade dos sabões da P&G, ou da qualidade dos computadores e dos i-phones da Apple.

    Acresce que, analisada objectivamente, a qualidade do serviço da Igreja, nos últimos 1500 anos, é má: pogroms, autos de fé, excomunhões, abusos de poder, guerras, invasões, crusadas, um index para livros científicos, negociatas com a Máfia, padres camorristas, pedófilos, drogrados, ladrões, assassinos, colaboracionistas, tarados sexuais, o rol das desgraças é interminável.

    Neste contexto, por muito que pareça a todos os agnósticos que em Portugal se consideram "católicos não praticantes" que esta questão é irrelevante, o que está em causa é a defesa da democracia, do estado de direito e da transparência das relações entre o Estado e a ICAAR.

    A Igreja toma posição

    O Público: "O cardeal patriarca de Lisboa afirmou hoje que a Igreja “nunca aceitará” o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, argumentando que a família se baseia no “contrato entre um homem e uma mulher”, “onde acontece a procriação”."

    Eu: "OK".

    Ninguém lhes pede que concordem ou mudem leis canónicas. Por mim até podem ser a favor da pena de morte para os apóstatas. Desde que não nos queiram impor as convicções deles, acho que se devem exprimir livre e energicamente.

    sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

    Eu n´«As Tardes da Júlia»

    Eis aqui, a pedido de vários comentadores e de várias famílias (umas muito católicas, outras nem tanto), a minha prestação no programa da TVI «As Tardes da Júlia», no dia 10/11/2009, em debate sobre laicidade e crucifixos com o sacerdote católico Jacinto Farias e com Hermínio Corrêa, representante da CONFAP (Confederação Nacional das Associações de Pais).

    Crucifixos nas escolas - Tardes da Júlia from Republica Laicidade on Vimeo.

    Guerra Santa

    A administração Obama mandou retirar os versículos da Bíblia que a administração Bush tinha mandado estampar nas miras das armas que o Marine Corps e o exército encomendaram a uma empresa (cerca de 300 mil entregues até agora).

    Os talibans da administração Bush encomendaram armas com dizeres do género: JN8:12, que quer dizer John 8:12 "Then spake Jesus again unto them, saying, 'I am the light of the world: he that followeth me shall not walk in darkness, but shall have the light of life'"; ou 2COR4:6, que quer dizer "For God, who commanded the light to shine out of darkness, hath shined in our hearts, to give the light of the knowledge of the glory of God in the face of Jesus Christ".

    quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

    Monarquia e discriminação

    O filho mais velho da Elizabete, não o deixaram casar com uma católica e deu no que deu; os netos, se quiserem ser ateus ou outra coisa qualquer que não seja a religião da avó, perdem o direito à herança da família; as bisnetas, se tiverem um irmão, serão preteridas.
    E depois ainda há quem se espante por dizermos que a monarquia é contrária aos Direitos Humanos?

    Revista de blogues (21/1/2010)

    1. «É curioso que enquanto figuras do Socratismo - Vital Moreira, José Lello, Correia de Campos e agora José Vitorino - atacam Manuel Alegre, dizendo que ele está demasiado colado ao BE, alguma esquerda, acusa-o de estar demasiado colado a Sócrates e ao Governo, chegando mesmo os mais afoitos a dizer que a cara de um é o focinho do outro. Parece-me que ou o Vitorino ou o Renato estão a analisar mal a situação política. Não podem estar os dois certos.» (Spectrum)
    2. «A esquerda que passa o tempo a queixar-se de que os governos PS defraudam o eleitorado de esquerda que vota no PS, a maioria das vezes com razão, formatou-se no nojo ao PS, do tipo do “antisocialismo primário”. E com uma veemência que lhes impede a distinção entre o cú e as calças e insistindo em duas generalizações igualmente abusivas: na contabilidade anti-direita, todo o PS entra na “conta de esquerda”; para desancar a direcção centrista do PS, ninguém do PS sobrevive para as causas de esquerda.» (Água Lisa)

    quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

    Está um frio do caraças lá fora...


    ...e eu estou sempre com este gajo. Não tenho propriamente pena dele e nem da sua indemnização. Mas espero que regresse já a Nova Iorque e que regresse depressa à televisão com o seu humor (que, pelos vistos, não agradou às audiências americanas das 23:30). Até lá vou ter saudades.

    Provocação?

    A «nova» Praça do Comércio (e não «Terreiro do Paço»...), a principal obra que assinalará o centenário da implantação da República (embora eu tenha bastantes dúvidas sobre o que aquela renovação tem que ver com a República...) será inaugurada por um monarca absolutista que se desloca a Portugal em Maio, e que ali realizará um comício ritualizado.

    Erros do liberalismo de direita - IV

    Se o estado tiver pouca influência na economia, alegam os liberais de direita, pode até existir uma fase inicial na qual se verifica uma elevada desigualdade, e pobreza abundante. Nesta fase existem múltiplas oportunidades de investimento para quem tem capital, e abundância de mão de obra disposta a trabalhar por muito pouco. No entanto, estes investimentos vão tornar o capital mais abundante face à mão de obra. Como o valor relativo do trabalho face ao capital sobe, a prosperidade generaliza-se e a economia torna-se largamente numa economia de classe média.

    Um exemplo elucidativo disto corresponde aos EUA. Se é verdade que as desigualdades eram muito significativas no século XIX e nas primeiras décadas do século XX, a verdade é que diminuiram significativamente nas décadas seguintes, e foram diminuíndo até por volta dos anos 70.

    Mas na verdade a história dos EUA mostra precisamente o oposto. O nível de desigualdades manteve-se relativamente constante até à grande depressão, contrariando a evolução gradual que seria de esperar se esta perspectiva estivesse correcta.

    O New Deal de Roosevelt, uma significativa intervenção do estado na economia, originou uma abrupta diminuição das desigualdades. Ao invés de originar o desastre que os liberais de direita que se lhe opunham vaticinavam, foi compatível com várias décadas de forte crescimento económico, de um aumento de prosperidade e diminuição de desigualdades sustentados sem precedentes nos EUA.

    É relevante saber que a relação entre os rendimentos brutos do capital e do trabalho se manteve constante ao longo dessas décadas, o que já de si contraria o raiocínio exposto no início do texto. Foram os impostos que alteraram a relação entre os rendimentos líquidos, e assim permitiram uma maior equidade.

    Na verdade, Roosevelt chegou a cobrar 79% de impostos sobre o rendimento para os escalões mais elevados, e isso não impediu a prosperidade; da mesma forma que a taxa máxima anterior (24%) não impediu a grande depressão. Nos anos 50 a taxa máxima chegou aos 91%, e isso não colocou em causa a prosperidade. O imposto sobre os lucros empresariais mais do que triplicou (14%-45%) e o imposto sucessório foi subindo de 20% para 77%.

    E voltando a diminuir a acção do estado? E voltando a diminuir a tributação?
    As desigualdades foram aumentando sucessivamente como resposta. Hoje as desigualdades que existem nos EUA são semelhantes às que existiam antes da grande depressão, da mesma forma que são semelhantes os impostos cobrados.

    Não decorre daqui que a intervenção do estado, qualquer que seja a sua magnitude, não possa ter efeitos nefastos sobre a criação de riqueza total. Tal conclusão seria igualmente incompatível com alguns dados a que temos acesso, os que estão na ponta da língua dos liberais de direita.
    Mas decorre que é possível compatibilizar uma intervenção significativa com uma prosperidade saudável e sustentada, e que pode ser essa a única forma de fazer face a desigualdades que o mercado realmente não resolve.

    Este tema está explorado em grande detalhe no livro «A consciência de um Liberal» de Paul Krugman. Ao longo do livro Krugman tem várias oportunidades de mostrar como a «sabedoria convencional» dos liberais de direita contraria os dados empíricos a que temos acesso. Por essa razão devo voltar a esse tema em alguns dos próximos textos desta série.

    terça-feira, 19 de janeiro de 2010

    O casamento gay de Santo António

    Claramente o casamento civil é uma instituição laica, e isso é válido também para os casamentos civis "de Santo António", apoiados financeiramente pela Câmara Municipal de Lisboa. Uma vez aprovado (como julgo que esperamos) o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a questão do apoio financeiro a esses casamentos por altura do Santo António teria que se pôr (e a resposta correta seria, claramente, a não discriminação, como manda a constituição). Mas essa questão só deveria ser posta nessa altura: tudo o que fosse pô-la antes da aprovação definitiva da lei seria uma provocação inútil e com consequências nefastas. Não me refiro somente à opinião dominante na sociedade sobre o casamento de pessoas do mesmo sexo: refiro-me mesmo aos agentes que ainda têm que intervir no processo (Presidente da República; juízes do Tribunal Constitucional). Provocar a Igreja Católica pode ter graça para alguns, mas provocar estes senhores (e alguns deles podem sentir-se provocados por esta questão dos casamentos de Santo António) pode ter consequências desagradáveis, numa altura em que a lei ainda não passou (e não se sabe se passa).
    Foi isso que eu pensei quando soube que esta questão se punha: falta de sentido de oportunidade. E é bem possível que a Fernanda tenha razão: pode ter sido uma ratoeira lançada pela Igreja Católica. E que a Câmara Municipal de Lisboa mordeu.

    Segundo inquérito

    Agora que já conhecemos a orientação dos nossos visitantes em matéria política, vamos à matéria religiosa.
    Pergunta: qual é a sua orientação em matéria religiosa?
    • Ateísmo
    • Agnosticismo
    • Catolicismo
    • Cristianismo evangélico
    • Testemunha de Jeová
    • Cristianismo Ortodoxo
    • Outra cristã
    • Islão
    • Bahá´í
    • Hinduísmo
    • Budismo
    • Judaísmo
    • Paganismo
    • Outra não cristã
    • "Existe um Deus"
    • Nenhuma orientação
    Agradece-se a simpática participação dos nossos leitores (coluna da direita, topo).

    Resultados do primeiro inquérito

    O nosso leitorado votou sobre a sua orientação em matéria política. E os resultados da votação dos leitores do Esquerda Republicana são os seguintes.
    Pergunta: em que partido costuma votar?
    Resultados:
    • PS: 27 votos (30%)
    • BE: 15 votos (16.7%)
    • CDU: 7 votos (7.8%)
    • Um dos três anteriores, mas depende: 26 votos (28.9%)
    • PSD: 5 votos (5.6%)
    • CDS: 7 votos (7.8%)
    • Um dos dois anteriores, mas depende: 1 voto (1.1%)
    • Nenhuma das respostas anteriores: 2 votos (2.2%)
    O próximo inquérito começa ainda hoje.

    Paranoia securitária

    Na Jugular, li isto:

    «No dia 6 de Janeiro, Paul Chambers estava preocupado com o encerramento do aeroporto, devido ao mau tempo que assolava a Inglaterra, donde planeava voar no dia 15 de Janeiro. Resolveu ventilar essa preocupação no Twitter de uma forma que considerou humorística:. "Robin Hood airport is closed. You've got a week and a bit to get your shit together, otherwise I'm blowing the airport sky high!!"

    Aparentemente a polícia inglesa não achou muita piada ao tuite e, uma semana depois, Chambers foi detido, interrogado durante quase sete horas, preso mais uma hora e só depois libertado sob fiança. Agora aguarda, até 11 de Fevereiro, informação sobre se será acusado de conspiração para criar uma ameaça de bomba. Entretanto, os detectives que o interrogaram confiscaram-lhe o i-Phone, o portátil e o computador de casa. Chambers foi ainda suspenso do seu trabalho enquanto aguarda uma investigação interna e foi, alegadamente, banido para o resto da sua vda do aeroporto de Doncaster.»


    Apesar do mediatismo, o terrorismo é um fenómeno que não justifica a velocidade com que estamos a abdicar das liberdades, direitos, e até do bom senso.
    Morrem muitas mais pessoas em acidentes viários num dia, no mundo inteiro, que em atentados terroristas num ano. Não vendamos a liberdade por tão pouco.

    segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

    Revista de blogues (18/1/2010)

    1. «Selon le site islamiste “Al Hisba”, le gouvernement palestinien de Gaza, dirigé par le Hamas mais démis par Mahmoud Abbas depuis le coup d’État mené contre l’Autorité palestinienne, a récemment pris des décisions confirmant sa radicalisation. Après avoir prôné l’introduction de la Charia dans son code pénal, et après avoir imposé le port du voile et la non-mixité aux écoles, le premier ministre démis Ismaël Haniyeh impose le calendrier du Hégire, et supprime trois jours fériés du calendrier chrétien.» (ReSPUBLICA)
    2. «O PPM obteve 0,27 % dos votos nas últimas eleições legislativas. No entanto, hoje, um dos seus dirigentes afirmou que a República é o «resultado da vontade de uma minoria». (...) Amanhã, Carmelinda Pereira, do POUS, que obteve 0,08%, virá exigir que se inscreva já em 2010, na Constituição, a «revolução proletária», opção que nunca foi referendada. Uma monarquia sob a coroa do senhor D. Duarte a cobrir uma revolução proletária liderada por Carmelinda Pereira é uma solução a ter em conta para os «ideólogos» do fim do regime.» (hoje há conquilhas, amanhã não sabemos)

    domingo, 17 de janeiro de 2010

    Scanner Corporal

    Cada vez estou mais convencido que os cidadãos da união europeia têm mais a temer daqueles que nos dizem estar a combater o terrorismo do que dos próprios terroristas. E espanta-me a passividade de tantos cidadãos.



    Mas o melhor comentário a esta curiosa medida do Scanner corporal encontra-se aquiO mundo enloqueceu, e eu tenho a prova»).

    sábado, 16 de janeiro de 2010

    Felizmente somos uma República

    O cidadão Duarte é contra os casamentos entre pessoas do mesmo sexo (e está no seu direito). O pior é que há quem ache que ele deveria ser chefe de Estado vitalício e sem possibilidade de destituição. É costume argumentar que um monarca seria neutro e tal. Como se vê, não seria.

    Alegre: BE e não PS?

    No mínimo curioso: enquanto Francisco Louçã declara o apoio do BE à candidatura presidencial de Alegre, o PS emite dúvidas e tergiversações (e o PCP está noutra).

    Há candidato

    Manuel Alegre, que há quatro anos ficou a setenta mil votos da segunda volta na eleição presidencial (a margem mais curta de sempre), passou à disponibilidade.
    • «Como republicano, quero uma República moderna, escola pública, serviço nacional de saúde, protecção social, direitos políticos individuais articulados com os direitos sociais, culturais e ambientais.

      Como socialista, acredito na possibilidade de construir uma sociedade mais justa e solidária, através de serviços públicos geridos, não pela lógica do lucro, mas pela realização do interesse geral, e através de um novo modelo económico onde se conjuguem planeamento e concorrência, iniciativa pública e iniciativa privada.
      » (Discurso de Portimão, 15/1/2010)
    Sendo evidente que Sócrates não apresentará um candidato contra Alegre - porque terá aprendido a lição de 2006 (quando Alegre teve o melhor resultado de sempre para um candidato sem apoio de uma máquina partidária), a grande incógnita é saber o que fará Cavaco.

      Marijuana Policy Project

      O legado de Barak Obama não se vai reduzir aos discursos (fantásticos) e às tentativas (muitas delas falhadas, porque os ricos mandam mais do que os políticos) de fazer do planeta um sítio mais decente para todos. Há milhões de coisas que mudaram no dia a dia dos EUA desde que não temos um idiota e um criminoso ao leme do país.

      Uma das consequências de termos um presidente civilizado na Casa Branca, por exemplo, é que as perseguições a quem fuma uma broca estão a diminuir (já em 14 estados) sem que o estado federal se intrometa.

      Vale a pena seguir o trabalho notável deste grupo de cidadãos, que deixou de ser persguido pelas autoridades em Janeiro do ano passado.

      sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

      Obama continua exemplar

      Obama castiga Wall Street com a criação de uma nova taxa

      "A minha determinação é conseguir recuperar todo o dinheiro que pertence ao povo americano. E essa determinação resulta da constatação de que a banca regressou aos lucros maciços e aos bónus obscenos", afirmou Obama. A mesma banca que "deve a sua existência ao povo americano", acrescentou.


      Veremos é se a medida passa no Congresso...

      Os nobres e o povo

      Deixem-me ver se entendi: o veículo que tinha levado uma Excelência, que colidiu com o veículo que levava outra Excelência, quando circulavam ambos a 120 km/h na Avenida da Liberdade de Lisboa, passando alegremente semáforos vermelhos, e abusando da «marcha de emergência» a que as Excelências têm direito (sabe-se lá porquê...), não cometeu qualquer crime? E as infracções ao código rodoviário são toleradas? E se um dia atropelarem um carrinho de bebé ou matarem alguém? Desculpa-se porque a «nobreza» securitária tem o direito de atropelar o povo?
      É triste.

      Isilda Pegado tem razão

      Por uma vez haveria de concordar com a Isilda Pegado: «a Câmara de Lisboa “tem toda a legitimidade” para incluir [os casais do mesmo sexo] na iniciativa ["Casamentos de Santo António"]. “É uma das consequências da lei”, observa. “Devemos é deixar de lhes chamar casamentos de Santo António».
      Nem mais.

      Revista de blogues (15/1/2010)

      1. «A verdade é que o sistema vigente consegue garantir a concretização paulatina na UE do projecto neoliberal de sociedade: um sistema em que a lógica de mercado se expande a esferas cada vez mais amplas da vida em sociedade e o papel do Estado se limita a garantir as condições da expansão dessa lógica mercantil (com consequências negativas cada vez mais óbvias em termos de democracia e justiça social).
        Com as disposições previstas nos tratados, basta que um pequeno número de governos da UE (por absurdo, basta mesmo um) seja controlado por defensores deste modelo de sociedade para que nada do que é relevante possa ser alterado. Como alguém dizia, os tratados aprovados desde Maastricht conseguem aquilo que o FMI nunca conseguiu com os seus programas de ajustamento estrutural: impôr as linhas directrizes do consenso de 'Washington' (liberalização, privatização, desregulamentação), blindando o regime com a cláusula da unanimidade nas decisões fulcrais.» (Ladrões de Bicicletas)
      2. «O cenário desta Comissão II é preocupante. Os candidatos parecem ter instruções para revelarem o menos possível sobre prioridades, visões políticas e aspirações. A maior parte das audições são exercícios estéreis em que os deputados fazem perguntas de substância, para receberem sistematicamente respostas vagas e vazias, tanto do ponto vista político, como da substância. Talvez haja recomendações do Presidente Barroso, que, traumatizado pela humilhação de 2004 - quando o Parlamento impôs a retirada do reaccionário Buttiglione e uma reafectação parcial das pastas - quererá evitar atritos e situações delicadas.
        Pois ficou bem pior a emenda do que o soneto. A procissão ainda vai no adro, ainda há candidatos para apreciar, mas a confirmar-se a tendência, Barroso vai ter que fazer mudanças para convencer o Parlamento Europeu a aprovar a Comissão.» (Causa Nossa)

      Desigualdade

      Desta vez escrevo para denunciar um mito urbano à esquerda.

      É comum dizer-se que nas últimas décadas a desigualdade tem aumentado. Diz-se que o fosso entre ricos e pobres está cada vez maior.
      Isto é apoiado pelo facto de nos diferentes países isso ser verdade: escolha-se um país, e muito provavelmente as diferenças sociais entre ricos e pobres são maiores que há três décadas.
      No entanto, aponta alguma direita e bem, as desigualdades entre os países têm-se atenuado. A China e a Índia, por exemplo, estão a enriquecer (em proporção) muito mais rapidamente que os páises do ocidente.

      Mas qual é o balanço entre ambas as realidades? Será que ninguém tem razão, as desiguldades mantiveram-se, mas a sua distribuição espacial é que se tornou mais uniforme? Será que o aumento das desigualdades dentro de cada país supera a diminuição de desiguldades entre países?

      Para aferir isto, considerem-se os rendimentos em termos de poder de compra, e considere-se o mundo inteiro como um único país. Veja-se se as desiguldades neste país aumentaram ou diminuiram. Esses dados são apresentados no seguinte gráfico:



      Como vemos, ao longo das últimas décadas o fosso entre ricos e pobres diminuiu. Repetir que aumentou é caír em erro.

      As razões que levam à diminuição não são milagrosas: a tecnologia que tem sido desenvolvida nas últimas décadas encoraja a difusão dessa mesma tecnologia. Assim, se uma parte significativa da produtividade se deve à tecnologia, é de esperar que à medida que a tecnologia difunda as desiguldades diminuam.

      Mas se o mundo era um gigantesco «Brasil» no qual os países mais ricos se encontravam relativamente protegidos, não bastarão ligeiras reduções na desigualdade para evitar que todos os países se tornem desta forma.

      As desigualdades dentro de cada país não devem continuar a aumentar, sob pena de maior criminalidade, depressão, e uma série de outros problemas sociais que lhe estão associados. Sob pena da qualidade de vida da maioria dos cidadãos ser severamente afectada. Na verdade, é possível conciliar uma diminuição das desigualdade globais, com uma diminuição das desigualdades internas, sem prejudicar a prosperidade global. As soluções são menos simples que aquelas que a cartilha do liberalismo de direita sugere, exigem mais negociação e concertação internacional. E parte de nós, eleitores, lutar por elas.

      quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

      Os limites da tolerância

      Nunca olhei para o Reino Unido como um país em que a liberdade de expressão fosse particularmente prezada. Os acontecimentos de hoje, com a proibição de mais uma organização  por «delito de liberdade de expressão», dão-me razão.

      Islam4UK é um grupo de jovens muçulmanos que prestam atenção a mais ao Islão e atenção a menos às raparigas. É um sucedâneo de um outro grupo, por sua vez proibido por «glorificar o terrorismo». Note-se: proibidos não por terem organizado actos de violência, ou sequer por terem apelado à violência, mas sim por terem «glorificado a violência».

      A proibição segue-se à intenção, anunciada pelo Islam4UK e que agora não será concretizada, de homenagear os islamistas mortos no Afeganistão numa marcha através da mesma rua em que desfilam habitualmente os caixões dos mortos em combate britânicos. Nada de muito diferente das marchas e contra-marchas comuns na Irlanda do Norte.

      Proibir este género de agremiações, como mostra a experiência passada do próprio RU (ou do País Basco), não serve de nada: reagrupam-se com outro nome. Processá-los por crimes concretos, ou responsabilizar os seus dirigentes por apelos à violência, pode ser mais eficaz. E não enfraquece os princípios fundamentais da democracia.

      Porque este género de organizações joga, evidentemente, o jogo da provocação-proibição. Proibir as provocações é conceder-lhes a tese de que a democracia é uma farsa.

      Melhor, é dizer claramente que embora possam actuar em legalidade, estão, enquanto fascistas que são, para além dos limites da tolerância. O que se faz recusando-lhes as cortesias exigíveis numa sociedade democrática - tratando-os como párias, sem direito a exporem os seus pontos de vista em programas de televisão, ou a terem qualquer tipo de subsídio do Estado, por indirecto que seja.

      No Reino Unido como na Suíça, transigir em limitar a liberdade a troco de um ganho ilusório de segurança é um caminho que dá argumentos ao adversário - e que não resolve o problema.

      Psicopatas que vigiam psicopatas

      O «Chefe das secretas» garante que «não há bases da ETA em Portugal». Ainda bem. Menos tranquilizador é saber que há bases do SIRP e do SIS em Portugal.

      Erros do liberalismo de direita - III

      A corrupção, pela sua natureza, tende a aumentar com o peso do estado na economia. Se o estado é residual, as transacções tendem a ser de mútuo acordo, e o mercado tende a penalizar aqueles que defraudam os outros. Mas se o estado tem maior dimensão e funções, há mais oportunidades para que os políticos aproveitem o seu mandato para proveito próprio, entre favoritismos e sacos azuis.

      Até parece fazer algum sentido. Mas está errado.
      Tão errado, que o oposto seria uma descrição mais próxima da verdade.

      Vejam-se os dados mundiais relativos às percepções de corrupção aqui, vejam-se os dados da OCDE relativos ao peso do estado na economia aqui, que reproduzo de seguida:



      Entre outras coisas, é curioso verificar que são os mesmos que lideram ambas as listas.

      O facto de os dados serem tão expressivos a este respeito, mas ainda assim ser tão reproduzido o discurso que associa o peso do estado à corrupção mostra que existe, à direita em geral, e entre os liberais de direita em particular, algum autismo. Uma recusa em adaptar as crenças sobre o mundo que os rodeia à realidade, aos dados empíricos. Parece não existir, entre eles, quem lhes diga «cuidado, a realidade desmente essa afirmação».

      Essa coisa difícil da moral

      «A maior parte dos crentes defende que a Bíblia exige uma leitura hermenêutica. Curiosamente, a hermenêutica é traçada à medida das conveniências e acaba sempre num exaltar laudatório dos poucos pontos minimamente aceitáveis e numa relativização e tresleitura daquilo que é manifestamente repugnante. Faz lembrar aqueles adeptos para quem um erro do árbitro é um falhanço humano se dá a vitória à sua equipa e um roubo escandaloso se resulta num lançamento de linha lateral para o adversário.

      [...]

      Sintetizando, que o post já vai longo: não, a nossa moral não tem inspiração cristã. Pelo menos metade dos Mandamentos é estapafúrdia e a restante metade limita-se a recapitular prescrições éticas anteriores ao Antigo Testamento e transversais à maioria das culturas. Usar a Bíblia para estudar a moral é como usar os livros do Homem Aranha para compreender Nova Iorque: grande parte do que lá vem está errado e o que está certo pode ser encontrado noutra fonte qualquer.»

      Vindo directamente daqui.

      quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

      Malandros! Malandros! Malandros!

      A rapaziada católica que no Facebook faz campanha contra o casamento dos outros alterou o texto do seu manifesto, poucas horas depois de eu o ter criticado em amável tom de chalaça. Que sensíveis. Que flores de estufa. Que... maricas.
      Então vamos lá outra vez.
      • «Neste grupo pretendemos demonstrar a nossa revolta com os métodos seguidos nesta acção de liberalização do casamento homossexual. [A construção frásica melhorou, mas continuo a achar que extensão do papel do Estado não é liberalização.] A democracia está em decadência, [Se a democracia se medisse por coisas destas, estaríamos bem tramados.] o povo já não interessa, já se vai contra todos os príncipios, [Contra o da igualdade não se foi; e contra o da liberdade também não...] a inconstitucionalidade é ignorada, [Já não contam com o Cavaco?] mais um passo para queda do nosso país. [Até houve um tremor de terra! Vamos cair ao mar!]»
      O  português está melhor, mas continuam a não saber escrever «princípios». O que não quer dizer que não os tenham, claro. Os princípios.

      Sai um subsídio para o blasfemo ir estudar

      Quem contrapõe valores quase instantâneos, medidos ao longo de dias, a valores médios, medidos ao longo de muitos anos, não percebe nada de estatística. Deveria sair um subsídio era para o João Caetano Dias (um engenheiro do Técnico) ir repetir a cadeira de Probabilidades e Estatística. Ele já não se lembra do que é uma média.

      Há pérolas no Facebook

      Movimenta-se no Facebook um grupo de gente como eu pensei que já não existisse. Leia-se o  seu manifesto, absolutamente imperdível (comentários meus entre [,]).
      • «Neste grupo pretendemos demonstrar a nossa revolta para com a forma como está a ser realizada esta acção de liberalização do casamento homossexual.["Liberalização" não era retirar ao controlo do Estado? O contrário do que se está a fazer agora, portanto?] Por motivos políticos exigimos a realização de um Referendo, pois uma questão que afecta toda a sociedade não pode ser deliberada por 200 e poucas pessoas.[Pois. Mas não foi justamente para votar questões que afectam toda a sociedade que essas tais 200 pessoas foram eleitas?]
        Por motivos sociais, éticos e também religiosos,
        [Ah. A ordem de importância dos motivos é crescente, certo?] não admitimos o casamento homossexual pois este é uma tradição cristã [Bem me parecia. Bom, não me lembro de o personagem principal do Novo Testamento ter oficiado casamentos, e sei que já os havia AC, se é que interessa. Ou não interessa?] adoptada pela sociedade devido ao forte domínio desta religião [Domínio pernicioso, na minha opinião...] na mesma e pois esta liberalização vai provocar muitas polémicas e dúvidas [Acho que já provocou.] para além de ir afectar a liberdade dos heterossexuais [Ups! A sério? Como assim?] que não tem de ter uma tradição originada na religião manchada pela homossexualidade [Estão com um século de atraso: o casamento é civil. Ah, e os padres pedófilos «mancham» a ICAR?] que é um acto banido nos príncipios fundamentais do Cristianismo. [«Banido»: sim, talvez, assim como a liberdade das mulheres, a liberdade de blasfemar, e outras coisitas que não afectam ninguém e dão espaço às pessoas.]
        O casamento entre pessoas do mesmo sexo vai liberalizar a homossexualidade
        [Queriam o monopólio para os padres?] o que vai peturbar muitos principios [Segunda vez que erram nesta palavra. Arre!] seculares além de necessariamente ir provocar inumeras alterações a nivel economico, comercial [Novos negócios em perspectiva?] e aumentar ainda mais a descriminação. [Ameaças?]» (Quem não acredita que veja a página do Facebook, fatalmente descoberta no i; respeitei a ortografia original, incluindo os erros.)
      Para quem acha que isto é irrelevante: o grupo tem 1768 membros no Facebook. Também há, em sentido contrário, o grupo Pela rápida promulgação da lei do casamento homossexual. Que tem 5396.

      terça-feira, 12 de janeiro de 2010

      Renovação e primeiro inquérito

      Como devem ter notado os leitores mais atentos, esta humilde chafarica foi parcialmente renovada. Há novas funcionalidades na coluna da direita, incluindo um arquivo mais fácil de consultar e um novo motor de busca, «seguidores» e uma carrada de etiquetas/marcadores na parte de baixo do blogue.
      O cromatismo tornou-se subliminarmente (ou não) republicano, o que faz muito pela coerência ideológica desta casa e pela promoção da estética verde-rubra em ano de celebração do centenário da implantação da República (mas não centenário da República, porque o regime corporativista-clerical, de republicano, só teve mesmo o nome).
      Passamos também a ter inquéritos (coluna da direita, topo).
      Para o primeiro, pergunta-se aos leitores: em que partido costuma votar?
      • PS
      • BE
      • CDU
      • Um dos três anteriores, mas depende
      • PSD
      • CDS
      • Um dos dois anteriores, mas depende
      • Nenhuma das respostas anteriores
      Através deste inquérito, este blogue, que é alternadamente acusado de ser socretino, esquerda caviar ou até estalinista, não resolverá as suas dúvidas internas mas ficará mais informado das inclinações de quem nos visita e simpaticamente quiser participar. O que já é alguma coisa.

      Serviço público: contra a publicidade

      É possível inscrever o número de telefone e o endereço de email na lista nacional de não recepção de comunicações publicitárias. É fácil, não demora nada, e evita que no futuro apaguemos muito lixo.
      (Via Público.)

      Mais valias de acções

      No margens de erro encontra-se o seguinte teste:

      «1. É verdade que um grupo de peritos nomeado pelo Ministério das Finanças recomendou ao Governo, em Outubro passado, que agravasse a tributação das mais-valias de investimentos em Bolsa?
      VERDADE
      MENTIRA

      2. O programa de governo do PS, partido de governo, previa "aproximar o regime de tributação das mais-valias mobiliárias ao praticado nos países da OCDE"?
      VERDADE
      MENTIRA

      3. A proposta de Orçamento de Estado de 2010 vai incluir o agravamento de impostos sobre as mais-valias de acções?
      VERDADE
      MENTIRA
      »


      As respostas estão lá. E são lamentáveis.

      segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

      A República não se referenda

      Não se referenda se o meu filho ou um qualquer descendente dos Braganças têm igual direito a serem chefes de Estado. Como não se referenda se só podem ser homens, ou brancos, ou gordos, ou bigodes, a aceder a esse cargo.

      quem não compreenda esta coisa simples. E até fale numa «lei fundamental igual para todos» por via monárquica sem se engasgar. Uau. Lei igual para todos com uma única família a poder aceder à chefia do Estado?

      (Já agora: referendar a República é inconstitucional. Felizmente. Perde-se menos tempo.)

      Mais um!

      O mundo é um sonho. A parte melhor da história é que um amigo meu, turco, me contou que há imensos grupos na região a enterrarem madeiras e a cobrarem dinheiro aos turistas (e a estes "exploradores") para lhes indicarem "o sítio" onde a Arca ficou.

      Imaginem o que eles se estarão a divertir com esta história, a fazerem este desgraçado pagar para escavar aquele buraco. E em calhando, quando ele chegar ao fundo dizem-lhe que era um bocadinho ao lado, uns 20 m, e cobram-lhe mais mil dólares...

      sábado, 9 de janeiro de 2010

      Novamente a mensagem do cidadão Policarpo

      • «Na noite de 24 de Dezembro, a seguir ao telejornal da RTP1, surgiu no ecrã um dístico: "Mensagem de Natal de sua eminência reverendíssima o cardeal-patriarca de Lisboa." Seguiu-se um monólogo de 8,38 minutos no qual o dito falou sobre "o direito de ser ateu" como novidade desagradável e saudou os crentes das religiões "de deus único" apelando à sua união: "Juntos havemos de contribuir para que Deus não seja excluído do nosso mundo e da nossa história."  (...) Vou repetir: na noite de 24 a RTP passou propaganda religiosa com a dignidade de uma comunicação de alta figura do Estado. É legal? Legítimo? Aceitável? Através da direcção de programas, a RTP responde: "Ilegal não é." "Será discutível", reconhece, mas sublinha: "É costume - a maioria dos portugueses são católicos, portanto." Vejamos: a presidente do PSD fez uma mensagem vídeo de Natal. Passou onde? Nos telejornais, como notícia. Se o presidente do Benfica, que tem uns milhões de adeptos, quiser fazer uma mensagem antes de um derby, a RTP deixa? E o líder da comunidade muçulmana, pode "falar ao país"? Pois. (...) Não querendo expulsar deuses de lado algum - como expulsar o que me não existe? - , impedir seja quem for de crer no que lhe aprouver ou, como já vi escrito (o ridículo não conhece limite), "abolir o Natal", exijo dispensa de que me tentem converter ou insultar através dos meios de comunicação social do Estado. Chega de pagode: quero o país que a Constituição me garante, laico e sem eminências. Esperei 34 anos. Já pode ser? » (Fernanda Câncio no DN)

      sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

      Erros do liberalismo de direita - II

      No que diz respeito à ideia de que a menor intervenção do estado na economia traz prosperidade, existe toda uma escola de pensamento que a justifica com base numa série de modelos que o demonstram dedutivamente.
      Como é próprio dos modelos, existem simplificações que são assumidas. Em concreto, assume-se que, em grande medida, o homem se comporta de forma racional e coloca o interesse próprio acima do interesse alheio (o Homo Economicus).

      Querendo contrariar as conclusões destes modelos, a esquerda faz notar que estas assunções não correspondem à realidade. Notam - e bem - que vários estudos demonstram de forma definitiva que em muitas circuntâncias as pessoas não tomam decisões de forma racional, e que em muitas circunstâncias as pessoas colocam o interesse alheio acima do interesse próprio.
      Se as premissas estão erradas, as conclusões estão por provar, são uma questão de convicção política, fim da história.

      Nem por isso.

      Em ciência é comum fazer aproximações. Galileu considerou modelos em que a força de atrito ou a pressão do ar eram desprezados. Se alguém tivesse dito "mas o atrito existe, logo não vou tormar em consideração nada daquilo que dizes", teria revelado insensatez, e perderia razão.

      Mas é verdade que por vezes a disparidade entre as aproximações e a realidade coloca mesmo em causa as conclusões. Galileu concluiu que os corpos demoravam o mesmo tempo a cair, mas todos sabemos que uma pena demora mais tempo que uma pedra.

      O juiz, claro está, deve ser a realidade. O cientista propõe um modelo, no qual considera determinadas aproximações. Depois, o modelo permite fazer previsões, que são comparadas aos resultados das medições que forem efectuadas. Se as previsões não corresponderem aos resultados empíricos, as assunções de partida não são adequadas ao problema em estudo.

      E esta é a razão fundamental pela qual não podemos confiar nas conclusões simplistas da escola de Chicago, as que alegam que a diminuição do peso do estado tende a resultar em maior prosperidade: a realidade não lhes dá razão. Os dados empíricos mostram que estas conclusões são falsas.

      Nos próximos textos irei dar alguns exemplos concretos desta situação.

      Por fim, mostrarei como a diminuição do peso e papel do estado (a partir da situação típica de um país da OCDE) tende a criar outros problemas ao bem estar das pessoas, independemente do seu efeito na prosperidade.

      Um casamento tão gay

      O casamento torna-se mais do que nunca, a partir de hoje (e salvo intervenção posterior de Belém), um contrato civil. Ou seja, um contrato definido pelo Estado e alterável em função da evolução da sociedade.
      É, principalmente, um passo importante para a igualdade de direitos entre cidadãos, e um sinal de maturidade dos homossexuais, que mostram assim querer assumir também os deveres inerentes à vida em comum contratualizada (será que se dão todos conta disso?).
      Infelizmente, há meio passo atrás com a não aprovação da adopção.
      Nota final para uma curiosidade da votação: houve duas deputadas da bancada do PS que votaram contra uma proposta que se encontrava no programa com o qual foram eleitas. (O que é bastante diferente da situação dos deputados do PS que votaram a favor da adopção, sobre a qual o programa do PS não se pronunciava.) Votaram também a favor do referendo, curiosamente. Porque será que a sua posição não foi anunciada durante a campanha eleitoral? E se têm um «acordo especial» com o PS, porque será que esse acordo não se encontra no domínio público? A invisibilidade do «arranjo» PS-MHD é uma forma de fraude eleitoral.

      Enfim, parabéns aos que, salvo cavaquice, passarão a poder casar-se.

      Erros do liberalismo de direita - I

      A palavra «liberalismo» é algo confusa, pois pode designar coisas muito diferentes consoante o contexto. Nos EUA designa aqueles que defendem um maior peso do estado na economia, na Europa já teve sentidos muito diferentes consoante o momento histórico a ser vivido, desde um maior enfoque nos direitos individuais, até, paradoxalmente, à defesa de um menor peso do estado na economia.



      O sentido que dou ao termo, como já tinha defendido antes, está indicado no esquema acima. Em Portugal, no entanto, é comum auto-designarem-se liberais aqueles que defendem um menor peso do estado na economia e, alegadamente (se bem que em vários casos não seja assim na prática), e uma maior defesa dos direitos individuais. Vou chamar-lhes liberais de direita, conotando a direita com uma maior defesa da propriedade privada face a outros valores que possam estar em oposição.

      Aquilo que quero distinguir com este texto é os dois possíveis fundamentos que podem estar subjacentes à defesa desta posição ideológica:

      -Argumentos de índole ética. Alega-se que, sendo a liberdade um valor fundamental, ela está em causa quando o estado tem poder sobre a propriedade das pessoas. Assim, independentemente das consequências práticas da tributação e das funções sociais do estado, estas devem ser reduzidas à sua expressão mínima. (Hayek)

      -Argumentos de índole utilitarista. Implicitamente assume-se um ponto de vista utilitarista, e um no qual a prosperidade é uma componente central do bem estar. Depois, mostra-se como as organizações sociais onde o estado tem menos peso na economia promovem a prosperidade global. (Friedmann)

      Poucos alegam explicitamente este segundo fundamento para a sua posição pessoal. É sempre o primeiro. Mas, na prática, grande parte do discurso liberal de direita é convincente apenas na medida em que passa esta segunda mensagem. Em teoria apela-se à defesa da liberdade, e a prosperidade é uma consequência natural. Na prática, quase todo o discurso é direccionado para mostrar como o liberalismo de direita traria mais prosperidade à sociedade em que fossem implementado.

      Neste blogue já denunciei o primeiro fundamento como erróneo. A defesa vigorosa da propriedade privada não só não leva garantidamente à maior liberdade dos membros da comunidade em que ela acontece, como pode em grande medida restringir essa liberdade.

      Interessa pois falar sobre o segundo fundamento.

      Já não era sem tempo

      terça-feira, 5 de janeiro de 2010

      Revista de blogues (5/1/2010)

      1. «O que eu já não compreendo, nem apoio, é que o PS e o Governo entendam, do mesmo passo, introduzir uma outra inaceitável discriminação contra os homosexuais: e é isso o que acontecerá, se for aprovada a inclusão no Código Civil da interdição de adoptar, para homosexuais que se casem. (...) E assim, ficará em causa a coerência política desta iniciativa do PS. Até porque, além de inconstitucional, esta discriminação é duplamente injusta, se tomarmos em conta que a lei hoje não proibe cidadãos homosexuais, solteiros ou casados, de adoptarem crianças. É injusta para os homosexuais que, se quiserem adoptar, terão se se manter solteiros ou entrar em casamentos heterossexuais de fachada. E é também muito injusta para os milhares de crianças institucionalizadas no nosso país, que desesperam por famílias de acolhimento.» (Causa Nossa)
      2. «O abominável comentador das neves está que não pode. Imagine-se que o governo Sócrates permite e abençoa que "(...) um homem [possa] abandonar a família para fugir com a mulher de outro". Isto contra os verdadeiros sentimentos da sociedade, que só por apatia não sai à rua de barba furibunda e pedra em punho. Não muito perto do seu habitat natural mas também escondidos nas montanhas da Ásia, há uns cavalheiros que continuam a bater-se pelos mesmos ideais do comentador do DN. E que, tal como ele e apesar dos séculos, mantêm uma confiança absoluta na sua própria rectidão e no direito divino de a impor aos outros. Desgraçadamente, só não partilham da mesma fé em referendos.» (Verdade ou Consequência)