Não me dá qualquer satisfação verificar que no último quarto de século as votações na direita mais radical têm subido na Europa. Efectivamente, e considerando apenas os quinze países (1) que a União Europeia teve entre 1995 e 2004 (portanto, a UE anterior ao primeiro alargamento a Leste), temos o cenário exibido no gráfico seguinte para o total de votos em partidos da direita radical em eleições para o Parlamento Europeu.
Note-se que considerei nos somatórios os partidos (parlamentares ou não) assumidamente fascistas (MSI,
British National Party, Aurora Dourada, os grupúsculos neo-franquistas espanhóis, entre outros), mas também os que tentaram ou tentam distanciar-se da extrema direita (
Alleanza Nationale, Frente Nacional em anos recentes, FPÖ...) e ainda os populistas sem origem clara em grupos fascistas (UKIP, o PVV holandês, a
Lega Nord, etc). O critério geral foi incluir qualquer partido de direita que fizesse do eurocepticismo e da hostilidade aos imigrantes as suas principais bandeiras. Critério que, todavia, torna criticáveis as inclusões dos
clericais holandeses (que porém estão à direita dos fascistas em questões tão simples como o direito de voto das mulheres), do
Debout la République (mas no qual Nigel Farage apela a que se vote) e mais ainda dos
Fratelli d´Italia (porém, trata-se de uma organização descendente do MSI via AN). Todavia, tirando o 1,7 milhão de votos conjunto destes dois últimos partidos, as direitas radicais mesmo assim estariam em 2014 dois milhões de votos acima do seu anterior melhor resultado (o de 2004).
Analisando as percentagens de votos ao nível nacional, e novamente apenas para eleições para o Parlamento Europeu, temos um cenário de ascensão quase generalizada (a excepção são as oscilações na Áustria e na Alemanha) para este conjunto de partidos, durante este período, nos países do «norte da Europa» (2).
Deve notar-se que a subida do radicalismo de direita é mais clara a partir de 2004, e que com a excepção notável da Alemanha (e do Luxemburgo) todos os conjuntos de partidos nacionalistas nacionais estão em ascensão e (no mínimo) nos 10% dos votos em 2014.
Finalmente, as percentagens dos votos nos partidos do «sul» da Europa (3) em eleições para o Parlamento Europeu mostram um cenário diferente.
À excepção da França de 2014, os resultados neste grupo de países são menos impressionantes (há mesmo três países em que a extrema direita é irrelevante: Portugal, Irlanda e Espanha). Mais curioso, há uma queda nítida na Itália e na Bélgica nos últimos dez anos.
O conjunto destes dados mostra que as direitas radicais não são uma força negligenciável na Europa ocidental, em particular depois de 2004, e que o facto de terem vencido as eleições em três Estados (Reino Unido, França e Dinamarca), embora fosse previsível tendo em conta a tendência da última década, não significa que o fenómeno esteja restrito a esses países nem que possa desaparecer em breve.