segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
Os uns e os outros: diálogo inter-religioso na terra dita «santa»
O outro lado de Teresa de Calcutá
- «Any organisation that demands you stick to a rigid timetable and do exactly what you're told is on the road to inhumanity, and I think and that was the problem," she says. "Mother Teresa asked you to give up your brain, your will, everything. She asked for total surrender of the person."» (Courier Mail)
O isolamento e condicionamento psicológico típico das seitas:
- «"You're cut off. You can't listen to the radio or read the newspapers or talk to friends. You have very little contact with your family. Your mind is only hearing one opinion. There's only one voice speaking. It's difficult to leave when Mother Teresa is telling you that it's to do with the devil."» (idem)
A recusa de providenciar tratamento médico às crianças nos dias «santos»:
- «"A ruling was made that on this recollection day, this day of prayer, children were not to be admitted to the Home for the Children. "This really sick child came in with stick arms, breathing really fast and dehydrated and I was told he couldn't stay."» (ibidem)
A ordem religiosa de Teresa de Calcutá era, no fundo, um sistema totalitário:
- «Mother Teresa's mistake, says Livermore, was in thinking that obedience was more important than compassion."That's not something that's widely known and not part of what the media says about her. It was dictatorial. I should have got out sooner," she says.» (ibidem)
E não falta o detalhe da auto-flagelação:
- «She says the problems within the order are exemplified by the nuns' practice of self-flagellation, whipping themselves to try to imitate Christ's suffering.» (ibidem)
Todavia, há um final feliz: esta freira já não o é.
- «"I ended up an agnostic," she says.» (ibidem)
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
Máquina de Costura Portátil
de muitas pessoas.
As injustiças e ganâncias subjacentes a muitos destes casos são satirizadas pelo The Onion:
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
Jacques Brel: «Les bigotes»
Elas envelhecem com pequenos passos
Como de cãezinhos ou de gatinhos
As beatas
Elas envelhecem tão depressa
Que confundem o amor e a água benta
Como todas as beatas
Se eu fosse diabo ao vê-las por vezes
Eu acho que me faria castrar
Se eu fosse Deus ao vê-las rezar
Eu acho que perderia a fé
Pelas beatas
Elas procissionam em pequenos passos
De pia de água benta em pia de água benta
As beatas
E patati e patata
As minhas orelhas começam a assobiar
As beatas
Vestidas de negro como o Senhor Padre
Que é demasiado bom com as criaturas
Elas beatizam-se de olhos em baixo
Como se Deus dormisse sob os seus sapatos
De beatas
No sábado à noite depois do trabalho
Vê-se o operário parisiense
Mas nada de beatas
Porque é no fundo das suas casas
Que elas se preservam dos rapazes
As beatas
Que preferem encarquilhar-se
De vésperas em vésperas, de missa em missa
Muito orgulhosas de terem conservado
O diamante que dorme entre as suas pernas
De beatas
Depois morrem em pequenos passos
Em fogo lento, em montinhos
As beatas
E enterram-se em pequenos passos
De manhãzinha num dia frio
De beatas
E no céu que não existe
Os anjos fazem depressa um paraíso para elas
Uma auréola e duas pontas de asa
E elas voam... com pequenos passos
De beatas
(Jacques Brel, 1962; tradução livre de Ricardo Alves)
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Les bigotes
Elles vieillissent à petits pas
De petits chiens en petits chats
Les bigotes
Elles vieillissent d'autant plus vite
Qu'elles confondent l'amour et l'eau bénite
Comme toutes les bigotes
Si j'étais diable en les voyant parfois
Je crois que je me ferais châtrer
Si j'étais Dieu en les voyant prier
Je crois que je perdrais la foi
Par les bigotes
Elles processionnent à petits pas
De bénitier en bénitier
Les bigotes
Et patati et patata
Mes oreilles commencent à siffler
Les bigotes
Vêtues de noir comme Monsieur le Curé
Qui est trop bon avec les créatures
Elles s'embigotent les yeux baissés
Comme si Dieu dormait sous leurs chaussures
De bigotes
Le samedi soir après le turbin
On voit l'ouvrier parisien
Mais pas de bigotes
Car c'est au fond de leur maison
Qu'elles se préservent des garçons
Les bigotes
Qui préfèrent se ratatiner
De vêpres en vêpres de messe en messe
Toutes fières d'avoir pu conserver
Le diamant qui dort entre leurs f...s
De bigotes
Puis elles meurent à petits pas
A petit feu en petit tas
Les bigotes
Qui cimetièrent à petits pas
Au petit jour d'un petit froid
De bigotes
Et dans le ciel qui n'existe pas
Les anges font vite un paradis pour elles
Une auréole et deux bouts d'ailes
Et elles s'envolent... à petits pas
De bigotes
Jacques Brel (1929-1978)
domingo, 21 de dezembro de 2008
Solstício de Inverno
É o instante em que a ponta norte do eixo de rotação da Terra se encontra inclinada 23.44º para fora da órbita da Terra (ver o lado direito da imagem de baixo). No solstício de verão, a ponta norte do eixo de rotação da Terra encontra-se inclinada para dentro da órbita da Terra (ver o lado esquerdo da imagem de baixo).
O dia mais curto do ano e a noite mais longa do ano marcam o início de um novo ciclo, com dias que se alongarão sucessivamente durante os próximos seis meses, até ao solstício de verão, quando o sol estará no seu máximo de altura no horizonte.
Bom ano!
Humanismo secular (na medida do possível)
Obama nomeou Jane Lubchenco (segundo a AP "an Oregon State University professor specializing in overfishing and climate change) para dirigir a NOAA (a NASA dos oceanos), e três cientistas para dirigirem o White House Office of Science and Technology Policy. Segundo a AP:
Eric Lander, "who teaches at both MIT and Harvard, founded the Whitehead Institute-MIT Center for Genome Research in 1990, which became part of the Broad Institute in 2003."
John Holdren "is a former president of the American Association for the Advancement of Science in Washington who has pushed for more urgent action on global warming."
Harold Varmus, "who was a co-recipient of the Nobel Prize for his research on the causes of cancer, served as NIH director during the Clinton administration."
Nada mau, depois de oito anos a sermos governados por pastores evangélicos, loucos varridos a chefiarem gabinetes políticos e científicos. Lembram-se do Dr. Hager, o chefe da FDA que sodomizava a mulher contra a vontade dela?
sábado, 20 de dezembro de 2008
God is not Great
“(…) To us no spot on earth is or could be “holier” than another: to the ostentatious absurdity of the pilgrimage, or the plain horror of killing civilians in the name of some sacred wall or cave or shrine or rock, we can counterpose a leisurely or urgent walk from one side of the library or the gallery to another, or to lunch with an agreeable friend, in pursuit of truth or beauty. Some of these excursions to the bookshelf or the lunch or the gallery will obviously, if they are serious, bring us into contact with belief and believers, from the great devotional painters and composers to the works of Augustine, Aquinas, Maimonides, and Newman. Those mighty scholars may have written many evil things or many foolish things, and been laughably ignorant of the germ theory of disease or the place of the terrestrial globe in the solar system, let alone the universe, and this is the plain reason why there are no more of them today, and why there will be no more of them tomorrow. Religion spoke its last intelligible or noble or inspiring words a long time ago: either that, or it mutated into an admirable but nebulous humanism, as did, say, Dietrich Bonhoeffer, a brave Lutheran pastor hanged by the Nazis for his refusal to collude with them. We shall have no more prophets or sages from the ancient quarter, which is why the devotions of today are only the echoing repetitions of yesterday, sometimes ratcheted up to screaming point so as to ward off the terrible emptiness.”
acho que vou copiar para aqui mais algumas passagens deste livro. :o)
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
O sistema partidário implantado pelo 25 de Novembro
Omer Goldman
Acho fantástico que a voz deles tenha passado os crivos da propaganda da extrema direita, que há anos tenta vender uma imagem inventada dos judeus, todos iguais, todos sionistas de direita, todos contentes com os ataques de Sharon à classe média israelita e com o tratamento escandaloso dos colonos, um grupo de fanáticos violentos e racistas que custam um braço e uma perna aos contribuintes israelitas e americanos.
As direitas americana e europeia, que controlam os media, habituaram-se a perseguir quem critica a brutalidade da direita israelita contra os não judeus com insultos de anti-semitismo.
Isto é uma injustiça repugnante quando se sabe, por exemplo, que quatro quintos dos judeus americanos votaram Obama, apesar da propaganda da direita que pintou Obama como um muçulmano perigoso.
Como é óbvio, ser-se judeu, católico, luterano, ou muçulmano não define ninguém, de ponto de vista nenhum. Há judeus horríveis, como há católicos horríveis, luteranos horríveis e muçulmanos horríveis. Como há judeus, católicos, protestantes, muçulmanos, budistas e indus fantásticos.
E estes miúdos são verdadeiros heróis, com uma generosidade e uma coragem formidáveis, que se atrevem a arriscar o futuro pelos ideais humanistas que os inspiram, apesar dos ataques dos media ao bom senso, à paz e à solidariedade entre os seres humanos.
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Em tempos de crise, pensemos nos ricos
Neste momento de crise, o nosso coração (não me refiro ao órgão que faz circular o sangue, mas à metáfora sentimental dos poetas) deve estar com os ricos em dificuldades. O Estado, por todos nós, tem estado com eles. Tudo pelos milionários!
(Agradecimentos aos contemporâneos.)
Contas erradas?
Acho que não vale a pena discutir com eles porque os nossos pressupostos e as nossas prioridades são diferentes.
Como acho que não vale a pena discutir com os jeovás. Para os neo-cons a solidariedade social é uma ideia que contraria uma ganância primária e infantil, um bocado disparatada, baseada numa visão do mundo paroquial e de curto prazo.
A esquerda tenta argumentar com eles, mas a realidade dos últimos 30 anos demonstra que os neo-cons não são intelectuais. São uma seita, como os PCs, ou os jeovás, ou os creacionistas.
Nós andamos para aí a defender uma visão do mundo com uma classe média forte e informada, com democracia, com teatros, óperas, museus e livrarias, cidades planeadas, um sistema de segurança social que assegure condições mínimas de dignidade para os fracos, os lentos, as crianças, os doentes e os velhos, e eles passam os dias a ver revistas de automóveis e a sonhar com um ferrari.
Que se lixem o ambiente e os pobres, se eles puderem ir a uma festa ostentar o relógio novo.
Quando vivia em Portugal via-os no S. Carlos, chateados de morte, com brilhantina e um caracol modernaço por cima do colarinho branco da camisa às riscas, a olharem para o relógo como se o tempo tivesse parado, com umas mulheres horríveis, cheias de pulseiras, mascaradas de adolescentes, as saias curtas demais, sempre a mexerem no cabelo e a olharem para o relógio de marca...
As nossas realidades não se tocam.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
Contas erradas
«A Segurança Social portuguesa paga por ano cerca de 12 mil milhões de euros em pensões. Este valor é o fluxo. Supondo uma rentabiliade de 5%, o stock de capital necessário para gerar este fluxo é de 240 mil milhões de euros.»
Nos comentários, vários explicaram ao João Miranda o disparate. Além da assunção razoável de uma população constante, este raciocínio assume que todos os contribuintes da segurança social são imortais. Imortais: com o sistema do João Miranda, um indivíduo podia contribuir durante 40 anos e viver para a eternidade dos seus rendimentos.
É evidente que isto é uma exigência um bocadinho mais forte que a mera sustentabilidade da segurança social...
Alianças, compromissos e acção
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
O «caso Esmeralda»: na contra-corrente
- «Esmeralda-Sim» (vários autores).
- «Os factos, República!, os factos!» (André Pereira).
- «A minha versão do "Caso Esmeralda"» (Nuno Albuquerque).
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Da inutilidade da oração
- «The 1,802 patients were divided into three groups, two of which were prayed for by members of three congregations: St. Paul’s Monastery in St. Paul, Minnesota; the Community of Teresian Carmelites in Worcester, Massachusetts; and Silent Unity, a Missouri prayer ministry near Kansas City. The prayers were allowed to pray in their own manner, but they were instructed to include the following phrase in their prayers: “for a successful surgery with a quick, healthy recovery and no complications.” Prayers began the night before the surgery and continued daily for two weeks after. Half the prayer-recipient patients were told that they were being prayed for while the other half were told that they might or might not receive prayers. The researchers monitored the patients for 30 days after the operations.
Results showed no statistically significant differences between the prayed-for and non-prayed-for groups. Although the following findings were not statistically significant, 59% of patients who knew that they were being prayed for suffered complications, compared with 51% of those who were uncertain whether they were being prayed for or not; and 18% in the uninformed prayer group suffered major complications such as heart attack or stroke, compared with 13% in the group that received no prayers.» (Skeptic Society)
Aguarda-se, com expectativa, que a Ministra da Saúde apresente provas em sentido contrário.
E pronto
O resumo da situação aqui.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Prioridades
A expressão ‘dignidade da pessoa humana’ aplica-se quase sempre a óvulos, espermatozóides e embriões. Quando nascemos deixamos de lhes interessar (a menos que tenhamos dinheiro ou poder, mas isso é outra história).
E é assim: num planeta em que se mata e tortura por razões políticas, em que os frabricates de armas organizam guerras, metade da população vive na pobreza mais abjecta, os oligarcas do capitalismo selvagem global destroem o ambiente e as diferenças entre ricos e pobres não param de aumentar, o que verdadeiramente preocupa o Vaticano é a fertilização in vitru...
Sereis europeus, quer queireis quer não
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
Professores II
Por um lado, considerava que os professores tinham razão em várias das críticas concretas que faziam a esta reforma. Por outro lado, defendo o principio da avaliação, e considerava que não estava nenhuma proposta alternativa séria em cima da mesa.
Esta objecção parece não ter mais razão de ser. Pelo que tenho lido e visto na comunicação social, a mais recente proposta da plataforma sindical dos professores é séria. Pretende-se avaliar a assiduidade, o cumprimento do programa lectivo, e a competência científico-pedagógica. Por outro lado, rejeitam as quotas.
Agora os detalhes serão tudo. Uma avaliação sem quotas não tem nada de errado, se for suficientemente restritiva para que nem todos (nem muitos) consigam a nota máxima, o que levaria à ausência de qualquer tipo de esforço para cumprir os requisitos. Como será avaliada a competência científico-pedagógica? Como será aferido o cumprimento do programa?
Mas aquilo que sei até agora parece promissor. No geral, parece existir mais bom senso nesta proposta alternativa do que na proposta original do ministério. Agora é esperar que exista compromisso de parte a parte, e esperar que não ocorra uma persistência cega (chamada "teimosia") em manter o modelo antigo durante este ano, mesmo caso se tenha encontrado um modelo melhor. As declarações que já aconteceram nesse sentido são preocupantes.
Isso seria um conflito inútil, apenas explicado por eleitoralismo barato. Se isso acontecer, o ministério irá perder qualquer razão que possa ter tido neste processo.
Se a ministra souber alcançar um bom compromisso, aceitando aquilo que de bom esta nova proposta dos sindicatos possa ter, a sua persistência terá sido compensada, e todos ficarão a ganhar.
Crente perde bilhete para o paraíso
Os suspeitos tinham feito a habitual peregrinação aos santuários ex-mujahedin, ex-talibã, ex-anticaxemira da fronteira noroeste do Paquistão.
Sempre disponíveis
Sempre pensei, na minha ingenuidade, que a democracia portuguesa se construíra, deste 1976, sobre um consenso ético de repúdio por práticas anteriores ao 25 de Abril de 1974 como a tortura, as escutas telefónicas e as detenções indefinidas sem culpa formada. Parece que, afinal, era tudo treta. PSD´s e PS´s colaboraram alegremente com a deslocalização da tortura e com o «off-shore» de Guantánamo sem problemas de consciência, e preparam-se agora para dispersar as provas e os prisioneiros, sem punir os responsáveis nem tirar consequências. Mas eu vou tirá-las.
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
A cura pelo cura
- «O novo acordo de colaboração entre o Ministério da Saúde e a Igreja Católica, no sentido de regular a assistência religiosa nos hospitais, levanta sérias preocupações a dois níveis. Por um lado, porque se aparenta justificar numa suposta eficácia terapêutica que terá a participação de padres católicos no processo de recobro. Por outro lado porque representa uma intromissão inaceitável do Estado nesta matéria tão pessoal que é a religião.
A Sra. Ministra da saúde Ana Jorge anunciou em Fátima que o acordo com a igreja católica se justificava porque a saúde «não é só o tratamento físico», mas a «espiritualidade entra neste campo global»(1). No entanto, mesmo que o bem estar dos doentes não resulte só da terapia e da medicação, não é verdade que exija uma espiritualidade no sentido de crença religiosa ou dependência do sacerdócio. Muitos doentes encontrarão todo o conforto e consolo nos seus familiares, nos seus amigos e na competência e empenho dos técnicos de saúde que os acompanham. A religião não é uma componente necessária da terapia.
Além disso, a espiritualidade religiosa não é necessariamente o catolicismo. Só se justificaria por razões médicas celebrar este acordo específico com a Igreja Católica se houvesse evidências concretas que esta religião não só é eficaz no recobro dos pacientes como é mais eficaz que as outras religiões que não estão cobertas por este acordo. Não há indícios que assim seja.
Quanto ao direito de acompanhamento religioso este acordo tenta resolver um problema inexistente. O direito de receber apoio espiritual já está garantido nas visitas hospitalares, nas quais o doente pode receber familiares, amigos ou sacerdotes da sua religião sempre que tais visitas não comprometam a sua recuperação. Por isso o que parece estar em causa neste acordo não é o direito à assistência religiosa mas sim quem financiará este encargo, se a Igreja Católica ou se o contribuinte. O que põe em causa outros direitos do doente.
Põe em causa o direito do doente, enquanto doente, que o Ministério da Saúde promova uma utilização eficiente dos recursos de que dispõe. E estes não são tão abundantes que o salário de um capelão não faça falta para equipamento, técnicos de apoio, de enfermagem ou médicos. Põe em causa o direito do doente, enquanto crente, que o Estado não se intrometa na religião nem favoreça umas em detrimento de outras. E põe em causa o direito do doente, enquanto contribuinte, que o seu contributo para o Estado seja usado com justiça para ajudar aqueles que mais precisam em vez de subsidiar a Igreja Católica, uma das organizações mais opulentas de Portugal.» (Do Diário Ateísta)
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Leis Secretas
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
Amado que responda
- «Em causa estão as notícias dos últimos dias no diário espanhol El País dando conta que logo em Janeiro de 2002, cerca de dois meses depois do início dos ataques dos EUA ao Afeganistão (que derrubaram o regime talibã), as autoridades norte-americanas pediram autorização às de Espanha para utilizar o seu território no transporte de prisioneiros do Afeganistão para Guantánamo. Segundo o El País, documentos diplomáticos secretos espanhóis dessa altura revelam também que os EUA tencionavam fazer o mesmo pedido a outros países, depreendendo o jornal que um deles seria Portugal, por ficar na rota para Guantánamo. (...) Aparentemente, as respostas de Amado não deixaram os deputados socialistas Paulo Pedroso e Vera Jardim completamente esclarecidos. Daí o requerimento ontem anunciado. São feitas ao MNE português duas perguntas: "Iniciou ou tenciona iniciar qualquer processo de averiguação da eventual existência de contactos de teor semelhante com as autoridades portuguesas?"; e se "está em condições de disponibilizar à Assembleia da República o que tiver apurado ou vier a apurar sobre a matéria?"» (Diário de Notícias)
Curiosidades jornalísticas
Lavar a História
Mas enfim, na sequência de uma administração caracterizada pelo secretismo, propaganda, desrespeito pela lei e conspiração permanente, W já começou a divulgar a versão oficial destes 8 anos ignóbeis na história do mundo.
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
O fim político de Maria de Lurdes Rodrigues?
A culpa é sempre dos outros...
"One of the keys to being seen as a great leader is to be seen as a commander-in-chief. My father had all this political capital built up when he drove the Iraqis out of Kuwait and he wasted it. If I have a chance to invade---if I had that much capital, I'm not going to waste it. I'm going to get everything passed that I want to get passed and I'm going to have a successful presidency."
A guerra foi planeada antes do 11 de Setembro e as armas foram inventadas. A história está documentada num discurso do senador ted Kennedy. E aqui: http://www.gnn.tv/articles/article.php?id=761; e aqui: http://www.pbs.org/wgbh/pages/frontline/shows/iraq/etc/cron.html; e aqui: http://www.newamericancentury.org/.
Toda a gente sabia - pelo menos aqui a imprensa fartou-se de repetir - que as armas biológicas não duram 10 anos.
Armas de destruição em massa
É possível observar que existiram vozes ignoradas ou silenciadas (e pessoas demitidas) nos diferentes serviços de informação por tentarem trazer a público as lacunas na alegação das ADMs no Iraque. E que neste sentido, tendo tido a casa branca um papel importante no silenciamento destas vozes, o erro não podia deixar de ser da responsabilidade do presidente e dos seus colaboradores mais próximos.
É possível notar que existiu fraude deliberada na tentiva de associar Saddam à compra de urânio da Nigéria. Fraude com intenção de enganar não apenas o povo americano, mas a comunidade internacional, tendo em vista o alargar da «coalition of the willing».
É possível referir que perante os factos de que todos dispunham antes da invasão, não deixaria de ser um erro de análise grosseiro assumir que (parte d)os serviços de informação americanos estavam correctos no seu receio face às ADMs, e que os restantes serviços de informação em todo o mundo (mesmo a injustiçada Mossad) estavam equivocados por não ter detectado nada, bem como toda a informação publicamente acessível a respeito da destruição de grande parte das armas químicas de que Saddam chegou a dispôr. Ter nessa assunção disparatada confiança ao ponto de planear com base nela uma gigantesca campanha militar, sem confirmações adicionais de nenhum tipo.
Mas demos tudo isso de barato. Esqueçamos a fraude deliberada, imaginemos que a casa branca não silenciou nenhuma voz crítica nos seus serviços de informação, consideremos que não existiu qualquer erro de análise na confiança elevadíssima que o presindente depositou nos serviços de informação do Pentágono, mesmo que em contradição com toda a restante informação disponível.
Ainda assim teria sido um erro a invasão do Iraque.
Poucos se parecem lembrar que as nações unidas tinham enviado para o Iraque um conjunto de inspectores. Saddam começara por dizer que estes não podiam entrar no seu território, mas acabou por temer o ataque norte-americano, e deixou entrar os inspectores para que estes procurassem as ADMs.
E à medida que o tempo passava, e os inspectores não encontravam nada, as potencias ocidentais pressionavam o regime de Saddam para que aos inspectores fosse dada maior margem de manobra, para que o escrutínio pudesse ser mais eficaz. O regime resistia, mas acabava sempre por ceder. O governo dos EUA mantinha a sua indignação pelo facto das armas não aparecerem, e anunciava um ataque para breve. Hans Blix pedia mais dias, manifestando a sua vontade de encontrar as alegadas armas, mas dando já a entender algumas suspeitas de que as mesmas podiam não existir.
Sabendo-se que Saddam estava com as mãos e pés atados para usar qualquer ADM que pudesse ter em seu poder enquanto os inspectores por lá estivessem, não existiu qualquer justificação para que não tivesse sido dado mais tempo à comissão de Hans Blix. Aqui não há «erros de análise» ou «confiança nas pessoas erradas», ou qualquer tipo de legitimação parcial desta atitude. Foi unilaterialismo belicista, violento, arrogante, imperialista.
Desta tragédia, espero que ao menos tenha saído uma lição da dimensão da asneira.
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
«Destruímos as provas», sr. ministro?
A culpa é sempre dos outros
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Diário Ateísta reloaded
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Aquecimento Global
Vale a pena vê-los do início ao fim (cada um tem cerca de 10 minutos):
Nota: para quem tiver mais tempo, vale muito a pena ver outros videos do mesmo autor.
Discutir com católicos
Há outros católicos (apesar de tudo não são muitos) com quem é difícil discutir. Não apenas porque não entendem os argumentos que utilizamos, mas principalmente porque confundem argumentar com insultar. Não nego que também haverá ateus assim, mas com esses nunca discuti religião.
Às vezes lembro-me daquilo que me disseram: «um imbecil faz a discussão descer de nível, para depois ganhar por experiência». Em vez de descer o nível, faço um comentário sobre a postura daquele que prefere os insultos aos argumentos, e daí não saio.
Outras vezes, infelizmente, esqueço-me dessas sábias palavras e não resisto a responder na mesma moeda. Assim, se as palavras do meu interlucutor, mesmo que ocupem um parágrafo ou dois e contenham vestígios de riqueza gramatical e vocabular, se resumem ao infantil «Os ateus são parvos, la!la!la!la!», posso ser tentado a retorquir por outras palavras algo como «os católicos são parvos, la!la!la!la!la!». E isto é idiota na medida em que eu nem sequer acredito nisso.
Acredito que muitos católicos, e isto inclui alguns padres, não são parvos, podem até ser brilhantes. E são pessoas tolerantes e boas. No momento em que escrevo estas linhas estou a lembrar-me de um padre em particular, bem como cerca de 10 pessoas que conheci mais de perto (entre familiares e amigos).
Não me interpretem mal: continuarei a discordar dessas pessoas na medida em que acredito que a Igreja Católica tem hoje um impacto negativo na sociedade. Continuo a acreditar que o catolicismo é uma crença errada, não menos disparatada que outras crenças que a nossa sociedade considera ridículas. Continuo a acreditar que as crenças católicas desencorajam em alguma medida a tolerância, e em maior medida o espírito crítico. Isto não é o mesmo que dizer que nenhum católico é tolerante (ver parágrafo acima) ou sequer que qualquer católico seria mais tolerante fora do catolicismo. Acredito que algumas pessoas tolerantes podem ver no catolicismo uma boa justificação da sua tolerância, e por isso esta crença religiosa pode contribuir para que a aprofundem. Mas, como creio que a Bíblia é mais facilmente interpretável de outra forma, percebo que seja mais comum a situação oposta - um intolerante encontra no catolicismo a legitimação da sua intolerância, e assim manifesta-a e aprofunda-a devido à sua religião. Já no que respeita ao espírito crítico, creio que podem existir católicos com muito espírito crítico, mas ninguém o desenvolve devido ao catolicismo. Já o oposto é possível.
Clarificando a minha posição - a de que existem pessoas boas e más entre católicos e ateus, pessoas brilhantes e burras entre católicos e ateus, pessoas tolerantes e intolerantes entre católicos e ateus; a de que apesar de acreditar que a Igreja e a crença católica tem um impacto negativo na sociedade, e que o catolicismo é epistemologicamente equiparável a outras crenças que (mal ou bem) não encontram grande respeito por parte da nossa sociedade, é possível ter uma discussão civilizada com alguns católicos, em que cada um dos intervenientes compreenda melhor as posições do outro - serve este texto para reforçar a minha intenção de não «chafurdar na lama» quando algum crente mais boçal começar a insultar o ateísmo e os ateus sem apresentar qualquer vestígio de argumentação.
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
God is Not Great
Mas este livro é eloquente. Filho de um pai baptista e de uma mãe judia, ambos apostatas, e educado anglicano (acho eu), Christopher Hitchens conta-nos histórias horríveis de ódio e supertição, doenças e práticas médicas e dietas absolutamente idiotas, inspiradas por ideias infantis de pureza, muitas vezes com resultados letais. Os Jeovás e as transfusões, por exemplo, ou a circuncisão feminina entre muçulmanos, ou a prática de alguns judeus ortodoxos que retiram o prepúcio às criancas com a boca, provocando infecções e herpes entre as crianças em quem estas mutilações medievais são praticadas.
Ainda só li 3 capítulos e já tenho pena de não ter tempo para copiar para este blog várias páginas. "God is not Great" é um livro obrigatório.
Paul Kurtz:«Belief in God Essential for Moral Virtue?»
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To say that a person is moral only if he or she obeys God's commandments--out of fear or love or God or a desire for salvation--is hardly adequate. Ethical principles need to be internalized, rooted in reason and compassion. The ethics of secularism is autonomous, in the sense that it need not be derived from theological grounds. Secular humanists are interested in enhancing the good life both for the individual and society.
Escândalo BPN já chegou à Madeira
- «A ERGI foi vendida em Dezembro de 2006 ao grupo brasileiro WTorre, por 135 milhões de euros. Mas no relatório e contas desse ano, a administração do BPN refere um encaixe de apenas 5,5 milhões de euros com a operação, o que significa que os restantes 129,5 milhões de euros não foram incluídos nas contas do banco.» (Público)
A imaginação voa quando se põe a pensar onde foi parar tanta bagalhoça... Projectos caritativos, sem dúvida.
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Democracia
Foi esta sociedade que colocou um homem na Lua, impugnou um presidente escroque, inventou o rock'n'roll, reinventou o cinema, implementou o Plano Marshall e inspirou o Civil Rights Movement.
E isto no contexto da Guerra Fria, contra o poder da enorme do KGB, da American Legion e do KKK, e apesar das barbaridades que a direita cometeu ou instigou na América Latina, da Guerra do Vietnam e dos assassinatos de John e Robert Kennedy, e de Martin Luther Ling.
Durante 40 anos a América foi um dos países mais justos e mais dinâmicos do mundo, com uma mobilidade social extraodinária (a GI Bill). E é em parte essa memória que faz os americanos tão optimistas e quase completamente destituídos de cinismo. Aqui as coisas mudam muito depressa e nem sempre para pior :o)
domingo, 23 de novembro de 2008
Segurança Social
Para a direita a religião é um factor fundamental, que permite manter as massas ocupadas com assuntos como o aborto ou o casamento gay, em vez de as deixar considerar as oportunidades que uma distribuição justa da riqueza proporcionariam ao mundo.
Uma das primeiras coisas que Bush fez em 2001 foi transferir o apoio social para organizações religiosas. A outra prioridade na cartilha da direita é desbaratar as finanças públicas para não haver dinheiro para a solidariedade social (small government, como eles dizem). Mas vale a pena ler a opinião do sr. Cannon:
Posted by Michael F. Cannon
Ditto Baucus’ health plan. And Kennedy’s. And Wyden’s.
Why? Norman Markowitz, a contributing editor at PoliticalAffairs.net (motto: “Marxist Thought Online”), makes an interesting point about how making citizens dependent on the government for their medical care can change the fates of political parties:
A “single payer” national health system – known as “socialized medicine” in the rest of the developed world – should be an essential part of the change that the core constituencies which elected Obama desperately need. Britain serves as an important political lesson for strategists. After the Labor Party established the National Health Service after World War II, supposedly conservative workers and low-income people under religious and other influences who tended to support the Conservatives were much more likely to vote for the Labor Party…
I’m no student of British history, but that sounds about right. Markowitz continues:
The best way to win over the the portion of the working class in the South or the West that supported McCain and the Republicans is to create important new public programs and improve the social safety net. National health care [and other measures] will bring reluctant voters into the Obama coalition. That is how progress works.
Republicans might want to take note.
(Anyone who thinks that Obama’s plan is not socialized medicine should read this.)
Bentinho, Bentinho!
Nunca é tarde para perdoar.
Agora o Vaticano podia-nos pedir perdão por ter apoiado o Ustasa, Hitler, Mussolini, Franco, Salazar, Pinochet e Videla, pela Operação Condor, por ter deliberadamente escondido e apoiado 5000 pedófilos perigosos durante mais de 20 anos, por ter queimado filósofos, dramaturgos, escritores e matemáticos a torto e a direito durante 250 anos, por ter proibido e queimado livros, por ter mentido a gerações incontáveis de criancinhas sobre o Natal e os presentes que o menino Jesus só dá aos meninos cujos pais têm posses, por ter mentido aos doentes sobre Lourdes e sobre Fátima, por ter inventado a história do coxo de Calandra, por ter mentido aos fascistas sobre os milagres de Monsenhor Escrivá e por ter organizado as crusadas.
Não vale a pena pedirem perdão pelos crimes dos papas porque esses, apesar de serem incontáveis e inenarráveis, estão largamente esquecidos.
sábado, 22 de novembro de 2008
Obama
A máquina de propaganda da direita divulgou os 'talking points' das eleições através dos canais do costume e a direita portuguesa leu-os e repetiu-os, como faz sempre, lascarinamente e sem pensar.
A narrativa da direita é que a 'culpa' da 'esquerda' teria feito a América progressista votar em Obama só por causa da cor da pele dele. Desta premissa emanaram as discussões sobre a cor dele e a cor da mãe dele, e a do pai, etc. (estou a excluir deliberadamente desta discussão os anormais que queriam discutir se ele era um terrorista muçulmano)
Mas o que esteve em causa foi a eleição de um homem inteligente, culto e normal, com uma família normal e amigos normais, para substituir um idiota, ex-alcoólico e ex-drogado, que passou 8 anos a conspirar contra a democracia em nome do deus dos alcoólicos anónimos e a entregar o erário público a um grupo de amigos. Mais nada.
A questão da cor da pele de Obama faz muito mais sentido num país profundamete racista como Portugal, que se recusa a discutir o esclavagismo e a brutalidade do colonialismo, do que aqui, onde a escravatura e o racismo são discutidos e estudados nas universidades e há políticas de quotas que asseguram que a paisagem humana seja incomparavelmente mais diversa do que na Europa.
Irrita-me um bocado que os europeus (que invadiram e esventraram a Africa, e lhe venderam os habitantes aos americanos e aos brasileiros) passem a vida a falar da América como se a América fosse mais racista do que a Europa.
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Proudhon tinha razão
- «Foi perto das 21.00 de ontem que José Oliveira e Costa, ex-presidente do BPN, entrou, como arguido, para a garagem do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC). Ficando para a História como o primeiro banqueiro de topo em Portugal suspeito de cometer crimes no exercício de funções: burla agravada, falsificação de documentos, fraude fiscal e branqueamento de capitais são, segundo apurou o DN, as suspeitas que incidem sobre o antigo homem forte do BPN.» (Diário de Notícias)
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Partido ou quadrilha?
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Fugiu-lhe a boca para a verdade...
- «E até não sei se a certa altura não seria bom haver seis meses sem democracia, mete-se tudo na ordem e depois então venha a democracia» (Público).
Ora bem. Uma ditadura provisória? Provisória quando começar ou quando acabar? E para durar quanto tempo? E com quem? Com a Manuela como ditadora? Ou outro(a)? São só perguntas inocentes. Por enquanto ainda se podem fazer. Se a Manuela partir para a ditadura, já não sei se as poderemos fazer...
Desemprego
- «Em seis anos, o Norte de Portugal enfrentou mais de 60 casos de reestruturação de empresas que motivaram despedimentos em massa. Dados da Eurofound sugerem a destruição de mais de 17 500 postos de trabalho, sobretudo no sector têxtil. (...) A falência é o principal motivo para estes casos de destruição de emprego (37 empresas) no Norte de Portugal, seguida das reestruturações internas (14) e das deslocalizações (6).» (Diário de Notícias)
Mia Couto: «E se Obama fosse africano?»
- «Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles. Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor. Nesse momento, eu era também um vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África. (...) E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana?
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1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí fora, perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente. Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular.
2. Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-lhe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-lhe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia.
3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente "descobriram" que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado 'ilegalmente". (...)
4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um "não autêntico africano". O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos "outros", dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?).
5. Se fosse africano, o nosso "irmão" teria que dar muita explicação aos moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para os advogados da chamada "pureza africana". Para estes moralistas – tantas vezes no poder, tantas vezes com poder - a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos.
6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado - a vontade do povo expressa nos votos. Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa mesa com um qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores.
(...) Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos falando e nós mesmos moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte.
Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos.
A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos - as pessoas simples e os trabalhadores anónimos - festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama. Mas não creio que os ditadores e corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para esta festa.
Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no dia 5 de Novembro nascia de eles investirem em Obama exactamente o oposto daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o bem público.
(...)» (Mia Couto; ler na íntegra.)
Sobre a discriminação racial
Em Fevereiro, Pacheco Pereira escrevia na revista Sábado que Obama era um «produto da fábrica de plástico», «politicamente correcto na cor, nem muito preto, nem muito branco». Admito que, para padrões portugueses e brasileiros, Obama seja considerado mulato. No entanto, para padrões norte-americanos, Obama é negro. Se Obama tem a cor certa, é difícil entender como conseguiram os anteriores 43 presidentes ser eleitos com a cor errada. Na realidade, Barack Hussein Obama não só tinha a cor errada como também tinha o nome errado. Negar isto é desconhecer a realidade. Nos Estados Unidos, a probabilidade de um negro estar preso é oito vezes maior do que a de um branco, a probabilidade de estar desempregado é o dobro e os que estão empregados ganham salários muito mais baixos. Claro que podemos e devemos perguntar se o racismo explica tudo ou se também devemos apontar o dedo à população negra.
Em 2004, Marianne Bertrand e Sendhil Mullainathan levantaram um pouco o véu sobre esta questão, conduzindo uma experiência de campo. Marianne e Sendhil enviaram mais de 5000 currículos vitae falsos como resposta a 1300 anúncios de emprego. A alguns currículos deram nomes tipicamente «brancos», como Emily e Greg, enquanto os outros ficavam com nomes tipicamente «negros», como Jamal ou Lakisha. Sem surpresa, concluíram que um candidato negro com exactamente as mesmas qualificações profissionais e académicas que um branco tem muito mais dificuldades em encontrar emprego. Verificaram também que quanto mais qualificada a profissão a concurso maior a discriminação.
Os professores Roland Fryer, Jacob Goeree e Charles Holt levaram a cabo um jogo que ilustra as causas e consequências de tais injustiças. Repartiram os alunos entre empregadores, trabalhadores verdes e trabalhadores roxos. Cada trabalhador começa cada round com um nível de educação zero e tem a opção de comprar, ou não, educação. Os custos dessa compra variam de trabalhador para trabalhador e de forma aleatória. De seguida, cada trabalhador faz rolar dois dados de seis faces. Com base nos dados, é-lhe atribuída uma classificação. Quem tiver adquirido educação tem 25% de hipóteses de ter nota alta, 50% de ter nota intermédia e 25% de ter nota baixa. Para quem não investiu, as probabilidades são de 3, 28 e 69%, respectivamente. Finalmente, o empregador decide se contrata o trabalhador ou não. No entanto, apenas observa duas variáveis: a cor do trabalhador e o resultado do teste. O empregador ganha dinheiro se contratar alguém com educação e perde se contratar alguém sem educação. O procedimento é repetido 20 vezes. A única constante ao longo dos 20 rounds é a cor de cada trabalhador.
Numa dessas experiências, por mero acaso, os custos do investimento em educação foram maiores para os trabalhadores roxos nos três primeiros rounds. Esses custos acrescidos induziram estes trabalhadores a investir menos. A partir do quarto round, os empregadores deixaram de contratar trabalhadores roxos, enquanto os trabalhadores verdes eram quase sempre contratados. De nada servia aos roxos investirem em educação. Eram pura e simplesmente rejeitados. No fim do jogo, os ânimos estavam exaltados. Os roxos queixavam-se de discriminação. Os empregadores acusavam os trabalhadores roxos de serem de pouca confiança e de não investirem em educação. Um dos roxos retorquiu que deixou de gastar dinheiro a adquiri-la, porque raramente era contratado.
Ou seja, num ambiente absolutamente controlado, em que verdes e roxos partiram em igualdade e em que no início de cada round todos voltavam a estar nas mesmas circunstâncias, rapidamente se criou uma sociedade segregacionista com trabalhadores verdes educados e a trabalhar e com trabalhadores roxos, sem instrução, revoltados e desempregados.
Se isto acontece neste ambiente, imagine-se a realidade, com condições desiguais causadas por séculos de História de discriminação racial. É um ciclo vicioso da baixa instrução, baixos salários, elevado desemprego e alta criminalidade. A vitória de Barack Obama é notável e é uma estultícia desvalorizá-la. Felizmente que os americanos perceberam isso e não desperdiçaram a oportunidade de fazer História, dando um passo para uma América pós-racial.
Já conhecia a primeira experiência relatada, devido ao Freakonomics. A segunda é igualmente elucidativa...
sábado, 15 de novembro de 2008
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Prop 8
Sentido de Humor
As notícias são as notícias com que as pessoas de bem sonham: o fim da guerra, Bush incriminado por traição, Thomas Friedman a pedir desculpa por ser um crápula e a declarar que não volta a escrever artigos de opinião, Condoleeza pede desculpa aos soldados por ter mentido sobre as armas de destruição massiça... divertidíssimo.
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Os professores
Como estou sobre outros.
É impossível a um eleitor estar devidamente informado sobre todos os assuntos respeitantes à governação e à política. No entanto, na altura do voto cabe-lhe avaliar os partidos e o governo o melhor que pode.
Claro que tem o dever de se tentar esclarecer, e perder algum tempo da sua vida a informar-se sobre as diferentes questões em jogo. Mas por muito tempo que perca numas, vai sempre ter informação insuficiente sobre outras.
Para isso, o eleitor acaba por ser forçado a usar heurísticas: formas de raciocinar que lhe permitem formar uma opinião, mesmo com informação incompleta. As heurísticas podem ser mais ou menos sofisticadas, mas são sempre falíveis. Podemos ter mais ou menos confiança neste indivíduo ou naquele pela avaliação de situações passadas, podemos ter em linha de conta quais são as partes interessadas, quais são as dinâmicas usuais de comportamento, etc... O importante é que exista sempre alguma abertura para corrigir uma opinião baseada em heurísticas se melhor informação revelar que esta era errada. Assim sendo, passo a expôr as minhas impressões sobre esta questão dos professores, num convite a que me esclareçam melhor se estiver errado.
1- Seria bom que passasse a existir um sistema de avaliação sério. Progressões automáticas, ou um número ilimitado de lugares de topo não cumprem este requisito. Os lugares de topo não precisariam de ser fixos por escola, mas o seu acesso teria de ser sempre de tal forma restrito que na prática só uma percentagem reduzida dos professores lhe pudesse aceder.
2- Uma crítica que me parece algo legítima que os professores fazem a este sistema é relativa à avaliação por pares, e toda a "politiquice" envolvida. O ideal seriam critérios objectivos. Será possível medir o mérito desta forma? Se sim, como seria isso feito? Parece-me disparatado medir o mérito quase exclusivamente pela auto-avaliação. Posto isto, existe alguma proposta em cima da mesa que cumpra o requisito 1 e que ultrapasse este problema?
3- Uma crítica que me parece algo legítima que os professores fazem refere-se ao peso dos encarregados de educação na avaliação. Tanto quanto descobri, este peso é muito reduzido. É defensável que não devia ser nenhum. Mas não estamos a falar de um problema grave, sendo o peso tão reduzido.
4- Uma crítica que me parece algo legítima que os professores fazem diz respeito à necessidade de passarem muitos alunos. Alega-se que promove o facilitismo, e premeia os professores que são mais generosos na altura de dar as notas, e não aqueles mais rigorosos.
4.1- Por si, parece disparatado que o professor seja avaliado pelas notas que ele próprio escolhe dar. Isto é como premiar um juiz quando absolve os arguídos - assim ele torna-se parte interessada no julgamento em curso, e a justiça fica comprometida. A ser assim, os professores têm toda a razão neste ponto. Será que eu percebi mal?
4.2- O senso comum diz-nos que em Portugal existe um grande facilitismo. Esta forma de avaliação é acusada de agravar este problema. Mas os números e os estudos aprofundados desmentem o nosso senso comum. Há argumentos sérios e bem estruturados que podem ser usados para sustentar que em Portugal não existe retenção insuficiente, mas sim excessiva. Isto foi uma surpresa para mim que acreditava que um dos nossos grandes males era o facilitismo. Creio que grande parte dos professores acreditam que é, mas podem estar equivocados. De qualquer forma, mesmo pretendendo encorajar os professores a alterar as suas taxas de retenção, a avaliação de professores não deve ser usada com esse objectivo. É possível defender que a generalidade dos professores devia aprovar mais alunos, mas é disparatado assumir que os melhores professores aprovam mais do que os piores.
5- Um aspecto muito positivo deste sistema de avaliação é que a assiduidade é tida em linha de conta. Já aumentou significativamente. Este é um aspecto a manter.
6- As críticas mais disparatadas que oiço por parte dos professores são aquelas que dizem respeito à "forma" como são tratados pela ministra. Se dão importância a este aspecto, perdem toda a razão. Sempre que leio entrevistas de Maria de Lurdes Rodrigues, ou a oiço a falar, parece-me que tudo aquilo que diz é uma exposição do seu ponto de vista perfeitamente normal. Geralmente algum tempo depois vejo os sindicatos indignados com uma expressão qualquer que ela usou, a "falta de respeito", a "arrogância", etc... Quase que dá a impressão de se terem de discutir a forma por não quererem discutir o conteúdo.
Conclusão: não me parece difícil de acreditar que este modelo de avaliação é mau. É o primeiro que cumpre o critério exposto em 1, e para que uma mudança desta envergadura saia bem não é estranho que se tenham de dar muitas voltas.
Aquilo que eu gostaria de ver seria um conjunto de propostas alternativas bem estruturadas, que conseguissem o apoio de grande parte dos professores, que obedecessem ao critério 1, e não descartassem o aspecto 5. Seria uma excelente oportunidade para que o nosso sistema de ensino melhorasse significativamente.
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Palavra de animal!
Cisão no PS francês
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Consumismo - IV
Acho razoável que seja limitada a publicade nas escolas e infantários - principalmente no que respeita a comida pouco saudável - e não me indigna que só a partir das 22h possam ser publicitadas bebidas alcoolicas. Também me parece razoável que exista um limite para o número de intervalos televisivos, e para a duração dos mesmos.
Nenhuma destas limitações pretende, nem pode, resolver o problema do consumismo. O problema do consumismo é mais profundo e está relacionado com a manipulação. É impossível proibir a manipulação em geral, sem destruir completamente o direito à liberdade de expressão. E isto é verdade para a manipulação em geral, e também verdade para a publicidade em particular.
Para a manipulação temos de desenvolver outro tipo de respostas, ao nível social, ao nível psicológico, ao nível comportamental. E a primeira defesa contra a manipulação é a indentificação do manipulador. Se entendermos que um determinado agente tem interesse em manipular a nossa percepção e comportamento, não necessariamente no nosso melhor interesse, é mais provável que abordemos a sua mensagem com espírito crítico. É menos provável que sejamos enrolados.
Então a primeira das armas que temos contra a publicidade é a conscencialização dos seus propósitos, dos seus instrumentos e tácticas. Quando os anúncios são descronstruídos, as tentativas de manipulação tornam-se transparentes, e a sua eficácia reduz-se significativamente.
É preciso ter em conta que quando a publicidade se torna menos eficaz num indivíduo, ela torna-se menos eficaz em toda a sua rede social. Assim, a conscencialização de uma rede social pode tornar-se progressivamente mais fácil.
E se a eficácia da manipulação na publicidade diminui, ela pode deixar de ser do interesse dos vendedores. Conforme expliquei num texto anterior, a manipulação tende a destruír valor, pelo que à medida que os indivíduos se forem tornando menos susceptíveis a esta manipulação, toda a sociedade sai beneficiada.
Consumismo - III
Enquanto que a economia clássica é incapaz de lidar com o problema fundamental do consumismo (a manipulação em geral e a publicidade em concreto), ela é mais do que suficiente para explicar porque é que os padrões de consumo actuais são tão devastadores para o planeta. A razão é simples: as externalidades associadas à produção de vários produtos não são internalizadas no custo dos mesmos.
Um exemplo simples: imaginemos que eu quero comprar um produto. Os fabricantes A, B e C usam uma técnica de produção que é agressiva para o meio ambiente. Com isso o custo de produção baixa, e como existe concorrência o produto é algo mais barato. Os fabricantes D, E e F não usam essa técnica. Neste caso, não é preciso manipulação alguma: se eu for irresponsável e não quiser saber do planeta, vou escolher os produtos mais baratos. D, E e F irão falir se não existirem consumidores responsáveis, enquanto que os envolvidos nas transacções de A, B e C continuarão impunemente a beneficiar à custa de destruição do planeta.
Se o consumismo faz as pessoas consumirem mais, é a ausência da internalização dos custos ambientais que desloca os padrões de consumo para bens cuja produção tem um impacto ambiental severo. Mas a resolução deste problema é mais simples e independente da questão do consumismo. Os custos ambientais têm de ser internalizados. Não o fazer, e isto é economia clássica básica, é ineficiente. Se os custos não forem internalizados, ocorrerão transacções voluntárias sem qualquer manipulação que causam destruição de riqueza - ou seja: em que aquilo que ambas as partes ganham é nenos valioso que a destruição que causaram.
Internalizar os custos ambientais nos bens de consumo é urgente e necessário. Mas não vai resolver o problema essencial do consumismo, descrito no texto anterior. Os indivíduos terão um perfil de consumo mais adequado ao valor que a sociedade der ao planeta, mas continuarão a consumir mais do que aquilo que serve os seus interesses.
Como evitar tal situação?
Consumismo - II
Reticências, que as coisas não são bem assim. Se um indivíduo está interessado numa troca e o outro não, não quer dizer que a troca não se faça. O indivíduo interessado na troca pode utilizar várias estratégias para que a transacção se realize. A manipulação, a mentira, a ameaça (nos limites que forem socialmente aceites), e outras estratégias podem ser empregues, permitindo assim que sejam efectuadas trocas que não seriam necessariamente no interesse de ambas as partes. Assim sendo, é possível que uma troca crie riqueza, e é possível que destrua.
Estas estratégias de manipulação e engano são utilizadas hoje na publicidade (ver também aqui). Quando uma troca traz muita vantagem a um determinado vendedor, ele vai querer realizar o máximo de transacções. Assim, o publicitário eficaz é aquele cuja mensagem mais se aproximará deste objectivo, que alcança não apenas aqueles clientes "a priori" interessados na transacção, mas também persuade o máximo daqueles que não estariam.
Imaginemos um universo em que existem 3 fabricantes de sabonetes cada um com um produto conhecido por todos, dos quais cada um deles adequaria melhor ao gosto de 1/3 dos consumidores. Seria de esperar que se dois fabricantes iniciassem uma estratégia publicitária agressiva, a vendas do terceiro fabricante diminuissem - de outra forma não valeria a pena iniciar tal estratégia. Assim, ficariam todos pior servidos: não só os consumidores que tivessem alterado os seus hábitos de consumo, mas também todos outros que pagariam mais pelos sabonetes consumidos (a publicidade não é gratuita).
O advento actual do consumismo tem uma razão de ser análoga. Quando trabalhamos trocamos o nosso tempo por dinheiro. Se não existisse publicidade, no que respeita a quem ganha mais do que o suficiente para providenciar às suas necessidades básicas, ocorreria uma transacção entre tempo de lazer e bens de consumo. Cada um trabalharia o número de horas que desejaria para maximizar o seu bem estar.
Mas enquanto que os bens de consumo são publicitados, o tempo sem consumir não é. Tal como no caso do sabonete não publicitado, é de esperar que a publicidade distorça esta escolha no sentido de fazer as pessoas consumirem mais do que aquilo que seria o seu melhor interesse.
A publicidade recorre aos impulsos naturais descritos no texto anterior, tentando exacerbá-los no limite das possibilidades dos meios ao dispor. Interessa não apenas associar o objecto de consumo a sensações agradáveis, despertando o desejo do consumidor; interessa associar a posse do objecto a sucesso, e o reverso ao falhanço; interessa que tal associação não persuada apenas o potencial comprador mas também a sua rede social, por forma a torná-la real.
Assim, o consumismo exacerbado é uma consequência natural e expectável da publicidade.