O Comité Central do Partido Clerical Português não tem dúvidas:
- «Portugal afunda-se hoje numa profunda crise económica e social, a que não é alheia a teia legislativa dos últimos seis anos de governação, destruidora dos pilares estruturantes da Sociedade (...)».
E quais foram as causas da crise? Suspenda a respiração, caro leitor, porque combatendo as causas combate-se a crise, e os clericais propõem medidas para resolver a crise de uma penada: basta reverter seis-leis-seis dos últimos anos.
- «Estas medidas são também instrumentos indispensáveis para saldar o défice e a dívida, assegurar a sustentabilidade do Estado Social e sair da crise em que o Governo anterior nos deixou».
Quais são as medidas que nos permitirão sair da crise, segundo as cabeças pensantes do clericalismo nacional (que incluem Bagão Félix, Manuel Braga da Cruz, Gentil Martins, César das Neves, Isilda Pegado e Soares Loja)? Pois é, caro leitor, a dívida e o défice ficarão «saldados» se se revogarem («no todo ou em parte», veja-se lá a moderação dos nossos ultramontanos) as seguintes leis:
- «Reprodução artificial»;
- «Liberalização do aborto»;
- «Lei do divórcio»;
- «Casamento entre pessoas do mesmo sexo»;
- «Lei de mudança de sexo»;
- «Lei do financiamento do ensino particular e cooperativo».
Se duvida que a revogação destas leis nos permitirá «voltar aos mercados», é porque tem fraca fé, caro leitor.
3 comentários :
Ó Ricardo,
Vais dizer que se deputados, jornalistas e opinião pública tivessem ocupado o tempo que andaram entretidos a falar nessas miudezas a investigar e discutir a fundo, por exemplo, os contratos de PPPs que entretanto eram celebrados, hoje estariamos na situação em que estamos?
Mal se falou na «Reprodução artificial», e na «Lei de mudança de sexo».
As leis associadas ao ensino particular e corporativo também não foram quase nada faladas, mas têm impacto nas finanças.
Quanto às restantes 3, acho absurdo chamar-lhes miudezas. Não são, de todo.
Se fossem, isso seria também uma crítica à direita, visto que apenas foram faladas e discutidas porque a direita também lhes deu importância (são precisos dois para dançar o tango).
Tenho orgulho no facto de Portugal ter sido um dos primeiros países do mundo a abolir a pena de morte (excepto para crimes militares, nisso fomos tardios), e estou convencido que os nossos descendentes terão orgulho no facto de Portugal ter sido dos primeiros países a dar esse passo simbólico no fim da descriminação quanto à orientação sexual que é permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Não é nada uma miudeza, é um assunto importante.
Quanto às PPPs, muito tempo perderam os jornalistas com futebol, celebridades e outros disparates. Não foi por falta de tempo que não falaram nesse tipo de negociatas - e continuam sem falar à medida que a corrupção se agrava com este Governo vergonhoso - foi porque os meios de comunicação social estão cada vez mais concentrados em menos mãos, bem relacionadas com quem beneficia desses negócios.
O João Vasco já respondeu. E bem.
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