segunda-feira, 16 de abril de 2012

Apontamentos sobre uma sondagem

A Universidade Católica fez, em Novembro, uma sondagem de rua a 3500 pessoas. Os resultados parcelares estão nos jornais de hoje e merecem alguns breves comentários.
  1. A percentagem de pessoas sem religião aumenta relativamente a outro estudo de 1999: passa de 8.2% para 14.2%. Nesse grupo, os ateus passam de 2.7% para 4.1%, os agnósticos de 1.7% para 2.2% e os indiferentes de 1.7% para 2.2%.
  2. As pessoas de outras religiões passam de 2.7% para 5.7% (evangélicos de 0.3% para 2.8%, testemunhas de jeová de 1% para 1.5%, não cristãos de 0.2% para 0.8%).
  3. Os católicos passam de 86.9% para 79.5%.
Estes resultados parecem-me razoáveis e expectáveis. Mas há um segundo conjunto de dados que me parece mais discutível. 
  1. 31.7% dos portugueses (dizem que) vão à missa «pelo menos uma vez por semana» e 14% «pelo menos uma ou duas vezes por mês». Algo de muito estranho se passa aqui: os 31.7% que (dizem que) vão à missa todos os domingos, mais um quarto dos 14% que vão «pelo menos uma vez por mês» (portanto pelo menos um domingo em cada quatro) são uns 35%. A nível nacional, parece imenso. Mas acontece que há poucas semanas a diocese de Viseu da ICAR divulgou uma «contagem de cabeças» que concluiu que a presença na missa dominical tinha caído de 29% para 20% entre 2001 e 2011. É possível que 20% dos viseenses vão à missa todos os domingos e que a média nacional seja 35%? Seria possível se distritos onde vivem muitas mais pessoas tivessem percentagens mais elevadas. Não creio que seja o caso: Viseu deve estar acima da média nacional em presenças na missa. Portanto, os respondentes à sondagem da Católica mentiram(*).
  2. Um terço dos inquiridos não concorda «com a doutrina de nenhuma igreja ou religião» e 22% «discorda das regras morais das igrejas e das religiões». Esse terço (33%) inclui os 14% sem religião, mas inclui também uns 19% que, mesmo assim, se dizem católicos ou de outra confissão religiosa? Quer dizer que 19% da população nacional vai à igreja ou templo evangélico ouvir doutrina com que «não concorda»? Então vai ouvir música e ver o espectáculo? Ou serão todos não praticantes? É cómico.
Nota final: só mesmo o António Marujo para pegar nos dados desmontados acima(*) e produzir o título  triunfalmente católico «Oito em cada dez portugueses são católicos e quase metade vai à missa». Infelizmente, este género de manipulação é habitual neste jornalista militante clerical que já ganhou dois prémios da Fundação Templeton, conhecida por «dar dinheiro a quem tem algo de agradável a dizer sobre a religião» (ler as esclarecedoras opiniões de Daniel Dennett e Anthony Grayling, Massimo Pigliucci e Richard Dawkins sobre a Templeton).

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

24 comentários :

Banda in barbar disse...

1º ó gaijo quais eram as alternativas

1 vez por semana
1 vez ou 2 por mês
1 vez por ano
nunca

se fôr feita assis é tendenciosa o pessoal tende a concentrar-se na 1ª e 2ª alternativas

quanto a haver 40% de frequentadores regulares nos 80% de católicos

nã é de descurar que há 100 mil enterros por ano
e 60 mil baptizados e casórios
maIS AS missas pra pedir chuva

4000.000 de visitantes....tendo em conta que 5 milhões vivem nas grandes cidades?
e 3 milhões no sul e vale do tejo pouco dados a missas...

é pouco provável ó senhor das notas de 500 mél réis e dos passos perdidos

laudati deo

Inês Meneses disse...

Ricardo, acho que eles fizeram a sondagem à porta das igrejas, só pode... 35% de frequência à missa queriam eles, estão doidos ou julgam que somos todos parvos?

António Parente disse...

Inês

Se a sondagem tivesse sido feita à porta das igrejas, era curioso ver tantos ateus irem à missa...

Ricardo

Tudo o que na sondagem vem de encontro às suas expectativas, aceita. Tudo o que não lhe agrada, desvaloriza. Pode fazer isso? Claro que pode, mas não me parece bem.

Sobre a frequência da missa dominical se eu seguisse a mesma linha de raciocínio do Ricardo diria que os resultados estavam subvalorizados dado que as igrejas que frequento ao domingo estão invariavelmente repletas de gente e na Páscoa estive numa aldeia do centro do país e o fenómeno repetiu-se. Mas não o vou fazer. Simplesmente, vou aceitar os dados da sondagem.

Em relação à diocese de Viseu, esqueceu-se de mencionar no post que referiu o assunto que a diocese ia entregar os dados a um sociólogo para serem analisados e que tudo isso fazia parte de um projecto que vai até 2016, quando serão divulgadas todas as conclusões, incluindo as da prática dominical.

É por estas e outras coisas, que a esquerda me desiludiu nos últimos anos.

Filipe Moura disse...

«Oito em cada dez portugueses são católicos e quase metade DIZ QUE vai à missa.» A confiar na sondagem, isto é verdade.

Maquiavel disse...

É bom ver que o pessoal näo só é católico näo praticante, mas mentiroso. Ou entäo as igrejas se expandiram porque parecem-me sempre vazias quando por acaso as vejo à hora da missa. Tá bem.

...

Ehpá, mas quando é que passou a moda em português separar decimais com pontos?
Nos jornais todos está como deve ser, com vírgulas, e aqui...

É que a aculturaçäo anglo-saxónica já é demais, com um raio!

Miguel Madeira disse...

Essa percentagem que diz que vai à missa inclui só a missa católica, ou todas as celebrações religiosas?

Ricardo Alves disse...

Devem estar com medo dos resultados do censo... ou então já os conhecem...

Ricardo Alves disse...

António Parente,

«Tudo o que na sondagem vem de encontro às suas expectativas, aceita. Tudo o que não lhe agrada, desvaloriza.»

Não. Por exemplo, não estava à espera de que houvesse tanta gente a dizer «discordar» da doutrina e simultaneamente a dizer-se «católica» ou «evangélica».

«as igrejas que frequento ao domingo estão invariavelmente repletas de gente e na Páscoa estive numa aldeia do centro do país e o fenómeno repetiu-se»

Se a sua igreja tiver capacidade para 40 pessoas e estiver num bairro que tem 40 mil, é pouco significativo que esteja cheia. A sondagem da católica é sobre as percentagens na população total.

«Em relação à diocese de Viseu, esqueceu-se de mencionar no post que referiu o assunto que a diocese ia entregar os dados a um sociólogo para serem analisados»

Os dados em bruto foram divulgados e permitem conclusões.

«É por estas e outras coisas, que a esquerda me desiludiu nos últimos anos.»

O que é que isto tem a ver com esquerda e direita?

Ricardo Alves disse...

É verdade mas isso não é notícia (no sentido de «novidade»). O que é novo é a percentagem de católicos ter caído. Basta ver o que os outros jornais titularam:

DN: «Portugal com menos católicos e mais protestantes»

Sol: «Estudo: há cada vez menos católicos em Portugal e mais protestantes e Testemunhas de Jeová»

JN: «Portugal tem menos católicos e mais protestantes/evangélicos»

PT: «Portugal perde 7,4 por cento de católicos numa década, diz estudo»

O Marujo levou para o título justamente algo que não é novidade, mais um dado muito duvidoso. Isto é manipular.

Ricardo Alves disse...

Não gosto de vírgulas no meio dos números, Maquiavel.

Ricardo Alves disse...

Parece-me que só a católica, Miguel.

António Parente disse...

Ricardo Alves

A sua resposta mostra que não vale a pena continuar.

Cumprimentos,

Maquiavel disse...

Pois claro. näo gosta. näo usa? Convençöes säo coisa de direita,
Acho muito bem. que as regras servem é para serem violadas,
Bute lá continuar a escrever em português. mas com números em inglês, Muito cosmopolita?

Filipe Castro disse...

Eu acho que os portugueses são muito mentirosos, muito respeitadores e muito reaccionários. Parece-me natural que 80% se digam católicos e que a maioria diga que vai à missa duas vezes por semana. Mas isto são semanas de 65 dias... :o)

NG disse...

"ler as esclarecedoras opiniões de Daniel Dennett e Anthony Grayling, Massimo Pigliucci e Richard Dawkins sobre a Templeton."

Olha que ricas autoridades. Independentes e nada facciosas. Nem vivem à conta de quem tem ódio à religião...

NG disse...

O que acho interessante nos resultados da sondagem é que os ateus são apenas 4% (e destes não sabemos quantos são ateístas, os que promovem o ódio à religião). É que fazem um chinfrim como se fossem 80%. Ainda no outro dia o Ricardo Alves se queixava do excesso da presença do Cardeal Patriarca na comunicação social. Ora, na sua campanha prosélita neoateísta, tenho visto o Ricardo mais vezes na televisão e nos jornais do que o próprio D.José. O seu tempo de antena não é proporcional ao número de fiéis de Dawkins e Dennet.

Ricardo Alves disse...

«a sua campanha prosélita neoateísta, tenho visto o Ricardo mais vezes na televisão e nos jornais do que o próprio D.José»

Há muitos anos que não vou à TV falar de ateísmo. E apareço menos vezes que o Policarpo, deixe-se lá de tretas...

Maquiavel disse...

Agora há diferença entre "ateu" e "ateísta"? Näo sabia! E eu a pensar que o primeiro termo era o original, usado em Portugal, e o segundo termo era usado no Brasil, por aculturaçäo, provindo do inglês "atheist".

As cousas que se aprendem com os fundamentalistas religiosos...

Sérgio disse...

Sempre que fica sem argumentos esta criatura sai de cena... "aaaah, tenho uma excelente resposta mas não vale a pena..."

Um perspectiva ligeiramente mais polido...

António Parente disse...

Sérgio

Sair de cena é uma forma de mostrar inteligência. Quando se vê que mum debate se vai continuar numa série interminável de repetições em que cada um fala apenas para si então a atitude mais sensta é ocupar o tempo de outra forma mais útil.

Isto não é uma guerra, Sérgio. É uma caixa de comentários de um blogue. Tente perceber isso, por favor, antes de se meter comigo.

Cumprimentos,

João Vasco disse...

António Parente,

Se fosse verdade que as suas «saídas de cena» são uma questão de enfado e aversão às repetições constantes e não uma questão de falta de argumentos, dificilmente veríamos tantas «entradas de cena» para repetir as mesmas provocações...

É o toca e foge :)

António Parente disse...

João Vasco

Eu sei que adoraria que eu ficasse por aqui a animar o esquerda republicana mas não vai ter essa sorte... É só uma visita de cortesia, hoje às 24 horas encerro a minha participação e volto em 2015... :-)

João Vasco disse...

Mais uma repetição ;)

António Parente disse...

A vida é um eterno retorno ;-)

Abraço :-)