quinta-feira, 30 de julho de 2009

A direita

Vale a pena ver estes dois republicanos a falarem do que é hoje o Partido Republicano: Obama ganhou 78 dos 100 círculos eleitorais mais educados e McCain ganhou 88 dos 100 círculos eleitorais menos educados.

Economia de mercado

Estava a pensar nos comentários neo-liberais que li recentemente sobre a reforma do sistema de saúde em Portugal e a pensar que, se como dizia Milton Friedman, a única obragação moral das empresas é dar lucro, isto é capaz de ser um bom negócio.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Moral Majority

Mais outro escândalo sexual de mais um senador, desta vez do Tennessee, casado, pai de duas crianças, puritano, que declarou publicamente que as pessoas solteiras não deviam ter relações sexuais e depois se meteu na cama com uma funcionária de 22 anos.

Este ano ainda só vão quatro: um senador do Tennessee, o governador da Carolina do Sul, um senador do Nevada e um assessor duma senadora da Pennsylvania. Todos da extrema direita, puritanos e acusadores.

Devo dizer, em abono da verdade, que não são todos igualmente ordinários. Bill Maher comparou recentemente os emails de dois deles para estabelecer e clarificar as diferenças: as rebaixonices dos republicanos vão desde o simples adultério até às situações mais desgraçadas e embaraçosas.

A saúde é uma arma

No "Ladrões de Bicicletas". Para quem não viu o filme de Michael Moore "Sicko", o problema da saúde "for profit" resumido eloquentemente por Isabel Vaz.

Os EUA têm a saúde mais cara do mundo e os actos médicos são decididos por burocratas e advogados das seguradoras. Se é este modelo que Portugal quer seguir, Sócrates está de parabéns.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Sobre os anónimos

Acho que já escrevi isto aqui: os anónimos podem ser divertidos ou deprimentes, dependendo dos dias, mas são sempre repugnantemente cobardes e ofensivos para a democracia e a liberdade.

Dizer (e fazer) coisas às escondidas é uma forma de cobardia miserável, que lembra os 'chibos' do tempo do fascismo, do estalinismo, ou da China comunista.

Em Portugal há liberdade de expressão há mais de 30 anos. As pessoas podem dizer o que lhes apetece - como este blog demonstra - sem terem de odiar quem não concorda com elas, nem temer represálias. O Códico Civil já não tem uma secção para delitos de opinião.

Não há nada mais saudável nem divertido do que uma discussão inteligente, em que ambos os lados estão dispostos a mudar de opinião se os oponentes apresentarem melhores argumentos. Richard Dawkins conta que viu um professor dele mudar alegremente de opinião durante uma aula - abandonar uma opinião que tinha defendido apaixonadamente durante anos - e que essa experiência o marcou para toda a vida.

Eu costumava ser um jovem reaccionário, membro da JC, e tive até um casaco verde (o uniforme 'pinheiro manso' da JC). Fui formando dos cursos do IDL (acho que em Portugal era um eufemismo para CIA) e fui eleitor da AD. Mas nunca deixei de me dar com os meus amigos comunistas e anarquistas e socialistas. E nunca quiz matar ninguém. Nunca me levei suficientemente a sério. Mudei de opinião (vergonhosamente tarde, aos 23 ou 24 anos) quando comecei a viajar e a alargar o âmbito das minhas leituras.

Talvez por isso, ser confrontado com comentários anónimos - tantas vezes palermas e às vezes insultuosos - é um bocado deprimente.

Depois de tantos anos, como é que se pode ainda ter medo das opiniões próprias e escrever estas coisas, tantas vezes anódinas, pela calada, anonimamente, como se cada frase fosse um crime?

Ainda não perceberam para que serviu o 25 de Abril?

Sobre a existência de deus

Já tinha posto isto no meu blog, mas acho tão divertido que vou pôr aqui também:

Sobre o ensino...

Um amigo meu mandou-me este texto, escrito em 2003, antes da invasão selvagem do Iraque. Imagino que se isto se aplique a Portugal exactamente como aos EUA. A autora, Luciana Bohne, escreveu: "Cultural fascism manifests itself in an aversion to thought and cultural refinement. "When I hear the word 'culture,'" Goebbels said, "I reach for my revolver."

Vale a pena ler o texto todo.

sábado, 25 de julho de 2009

Homofobia & etc.

Hoje estava a ouvir o jornalista Charles Pierce, o homem que escreveu o livro “Idiot America: How Stupidity Became a Virtue in the Land of the Free”, a falar do racismo como um veneno que destrói tudo, conspurca tudo, estupidifica as pessoas, impossibilita-as de pensar e lembrei-me do comentário que um anónino escreveu neste blog, a propósito da candidatura de Miguel Vale de Almeida nas listas do PS.

A homofofia, como o anti-semitismo, ou o racismo, é um ódio sem objectivo, a um grupo de pessoas imaginário, que por ser imaginado pode ser tão mau e tão culpado pelos nossos problemos quanto a imaginação nos permitir.

A homofobia, o anti-semitismo e o racismo são assim formas de demência em que as pessoas aceitam como real um mundo imaginário, em que “os maçons”, ou “os judeus”, ou os “homossexuais” conspiram para dominar o país ou são responsáveis por outras fantasias, sempre mais ou menos infantis (o Hitler adorava livros de cowboys para crianças).

Por isso é importante lembrar constantemente às pessoas, como o pobre de espírito anónimo (com medo de quê?) que escreveu um chorrilho de insultos neste blog, que a homofobia é só isso: uma forma de alienação que simplifica o mundo, divide as pessoas em “bons” e “maus” (como os “cowboys” e os “índios” do Hitler) e que suja, envenena e destrói o mundo em vivemos.

É aliás curioso constatar que aqui no sul dos EUA os racistas gostam de dizer que odeiam todos os negros excepto os negros com quem convivem. Odiar pessoas com base na cor da pele delas, ou na etnia, ou nas preferências sexuais, é uma manifestação de estupidez e falta de educação.

Tudo isto é válido com uma ressalva: a homofobia pode resultar - e resulta frequentemente - de uma sublimação de pulsões homossexuais. Como no célebre caso do pastor evangélico Ted Haggard, o conselheiro espiritual de Bush, violentamente homofóbico, que está farto de ser apanhado na cama com prostitutos. Mas isso é outra história.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

As claques sentam-se nas bancadas

Agitando as suas bandeirinhas, as claques sentam-se nas bancadas, de um lado e de outro, e começam a afinar os cânticos de estádio pela tribo/clube da sua preferência. Nos próximos tempos, quem não estiver por eles estará contra eles, e quem estiver contra não terá qualquer réstea de razão.
(Curiosidade: verificar qual dos lados colocou figuras do lado oposto no cabeçalho.)

Os 'homens-sexuais' no PS

Concordo com o Ricardo e com o Ricardo que a entrada de Vale de Almeida e a saída de Sousa Franco são boas notícias para o PS e para o país. E percebo a importância de eleger um cidadão que assume a sua homossexualidade num país de trogloditas como o nosso, e sobretudo um que se apresenta ao eleitorado com uma proposta concreta, em relação a um problema concreto, relativo à segregação troglodita e impiedosa dos homossexuais em Portugal.

Mas nunca consigo deixar de achar estas questões embaraçosas. O facto de os homossexuais precisarem de ser representados é uma coisa um bocado surrealista, que se baseia na aceitação da ideia de que os homossexuais se podem definir como um grupo homogéneo, com um conjunto de interesses específicos comuns.

Por outras palavras, dá a ideia de que as pessoas se definem pelas suas preferências sexuais. Custa-me imenso imaginar o âmbito comum dos interesses do Oscar Wilde e do Padre Frederico.

A questão dos direitos dos homossexuais é uma questão de direitos humanos e devia ser discutida e resolvida nos tribunais. A perseguição de seres humanos com base nas suas preferências sexuais é uma forma de estupidez surrealista que devia ser brutalmente reprimida.

Como não é assim, temos de nos regozijar por termos um deputado (abertamente) homossexual. Mas é um tipo de regozijo um bocado triste, acho eu.

Sem prejuízo de achar que a contribuição de Vale de Almeida no parlamento vai ser incomparavelemente melhor e mais civilizada que a de Sousa Franco (cujas convicções estão já representadas no parlamento pelos deputados do PP, ironicamente um partido notável pela quantidade de homossexuais que tem no armário).

Mas acho que precisamos é de um código civil duro em relação às questões relacionadas com a segregação de seres humanos, sejam eles mulheres, africanos, lésbicas, judeus, ciganos, ou ucranianos.

Do Opus Dei ao Opus Gay

O grupo parlamentar do PS, com Pedro Silva Pereira como cabeça de lista em Vila Real, e Miguel Vale de Almeida elegível em Lisboa, promete ir do Opus Dei ao Opus Gay. Da homofobia à homossexualidade assumida. Do clericalismo ao anticlericalismo. Do catolicismo conservador ao ateísmo pós-moderno. Da direita dos interesses à esquerda universitária.

Enfim, dir-me-ão que é o «pluralismo». Com certeza. Um pluralismo tão plural que nem se percebe qual é a linha condutora por entre tantas contradições.

Espere-se umas horas para saber se continua o acordo eleitoral do PS com o grupo católico de Maria do Rosário Carneiro e Teresa Venda, que votam habitualmente com a direita e contra o resto do PS, quando a seita religiosa a que pertencem assim o ordena. (Matilde Sousa Franco, que desempenhava o mesmo papel, está fora.)

Elementar

Isto tem esta explicação.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Texas!

Em dias assim pergunto-me porque carga de água é que o melhor programa de arqueologia náutica do mundo havia de ser aqui...

No Guardian: Christian right aims to change history lessons in Texas schools...

Viver entre os talibans não é fácil. Estão sempre zangados. Será da comida? Será da vida sexual miserável que levam? Não se percebe.

O César das Neves ia adorar isto! :o)

terça-feira, 21 de julho de 2009

O Texas!

Há dias em que não tenho absolutamente nenhuma paciência para esta multidão de anormais, que não acreditam na antiguidade da Terra, nem na evolução, nem na ida à Lua, nem nas barbaridades do Hitler, que acham que o Obama não é americano, que o Bush não teve nada a ver com a crise económica, que o Iraque foi responsável pelos ataques do 11 de Setembro, que dão 10% do que ganham à igreja, que lêem o horóscopo nos jornais e acreditam...

Mas ontem, para comemorar os 40 anos da aterragem da Apollo 11, vi uma cena deliciosa no HuffPo: O astronauta Buzz Aldrin a dar um estaladão num idiota que lhe chamou mentiroso e cobarde...

No meu tempo eram duas

Aluno passa com nove negativas.

domingo, 19 de julho de 2009

Burca: uma voz islâmica pela proibição

Parece que nem todos os muçulmanos tomam a proibição da burca como um ataque à sua religião, à sua «identidade cultural», à castidade das suas mulheres ou a qualquer um dos seus direitos. Fica aqui a voz de uma mulher xíita que acha que, pelo contrário, a burca é um ataque aos direitos das mulheres.
  • «I am a Shia Muslim and I abhor the burqa. I am offended by the unchallenged presumption that women covering their heads and bodies and now faces are more pious and true than am I. (...)

    The disease is progressive. It started 20 years ago with the hijab, donned then as a defiant symbol of identity, now a conscript's uniform. Then came the jilbab, the cloak, fought over in courts when schoolgirls were manipulated into claiming it as an essential Islamic garment. If so, hell awaits the female leaders of Pakistan and Bangladesh. (...) Racism is an evil but should never be used as an alibi to acquit oppressions within black and Asian or religious communities. That cry was used to deter us from exposing forced marriages and dowry deaths and black-upon-black violence. (...) Muslim women who show their hair are becoming an endangered species. We must fight back. Our covered-up sisters do not understand history, politics, struggles, their faith or equality. As Rahila Gupta, campaigner against domestic violence, writes: "This is a cloth that comes soaked in blood. We cannot debate the burqa or the hijab without reference to women in Iran, Afghanistan or Saudi Arabia where the wearing of it are heavily policed and any slippages are met with violence." What happened to solidarity? (...) We communicate with each other with our faces. To deny that interaction is to deny our shared humanity. Unreasonable community or nationalistic expectations disconnect essential bonds. Governments should not accommodate such demands. Naturists can't parade on the streets, go to school or take up jobs unless they cover their nakedness. Why should burqaed women get special consideration? (...)» (Independent)

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Alberto João Jardim

Em relação ao AJJ, uma vez perguntei a um dirigente do P(SD) porque é que eles o toleravam no partido e ele respondeu-me que "ele ganhava eleições".

Eu tinha-me esquecido que a política é assim. Como dizia o coronel Aureliano Buendia: o que lhes interessa é o poder; o mundo que vão deixar aos filhos não interessa.

...enquanto puderem ir aumentando a altura das paredes dos condomínios onde vivem. Um dia os pobres vão-lhes comer os filhos, como já fazem na América Latina, e eles vão organizar esquadrões da morte, depois vão pedir ajuda aos americanos, quando o pessoal dos esquadrões da morte entrar no narcotráfico... isto é o projecto político do P(SD).

Jardim ruma ao referendo

Manuela Ferreira Leite continua calada sobre os dislates de Jardim, perdendo uma boa oportunidade de mostrar força e consolidar apoios ao centro. As evasivas de Aguiar Branco também não auguram nada de bom a este respeito.

No entanto, para além das manchetes há que olhar para a letra miudinha. Por detrás da poeira levantada pela «tentativa de ilegalização do PCP», o projecto jardinista de revisão constitucional parece ter como objectivo principal a possibilidade de referendos regionais, convocados pelo «Presidente da Região» (um novo cargo), e que poderiam incidir sobre questões de âmbito nacional. Como pretende também extinguir o representante da República, eliminar o «Estado Unitário», e ainda legislar em matérias (até agora?) reservadas aos órgãos de soberania (como as finanças, o ensino e outras), aquilo de que estamos a falar é de uma autonomia quase total, com a possibilidade de referendos regionais sempre que a demagógica criatura quiser.

Duvido que o PSD aceite um décimo disto. Mas o silêncio não parece bom.

Memória da guerra civil de Espanha

Este site merece ser acompanhado. Só 70 anos depois do final da guerra (e 30 depois do regresso à democracia) se estão a exumar das valas comuns os cadáveres dos fuzilados.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Jardim modera Manela

Comparada com as propostas lunáticas de Jardim de proibir o comunismo, dar o poder de convocação de referendos regionais ao «Presidente» da «Região Autónoma», permitir partidos regionais e eliminar o Estado Unitário da Constituição, Manuela Ferreira Leite até parece, subitamente, moderada.
Talvez a ideia seja essa.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Boas Notícias

Helena Roseta será a número dois da lista do PS à Câmara de Lisboa.

Sempre torna mais provável a vitória de Costa e a derrota de Santana.


Nota: o sub-título da notícia citada é «Uma espécie de coligação». Mas já confirmei que a autora da notícia não é nenhum dos «gatos».

terça-feira, 14 de julho de 2009

O dilema

Miguel Vale de Almeida, no blogue Os tempos que correm, escreve:

«Somos as pessoas que, no espectro político-partidário, tal como ele se apresenta (e não o que idealizaríamos), se colocam entre o PS e o Bloco. Não gostamos do PS-centrão, com políticas neo-liberais no trabalho e na economia, e com um séquito de pessoas predispostas ao tráfico de influências. Gostamos do PS quando se apresenta do lado da igualdade, da liberdade, da modernidade. Não gostamos do Bloco quando descai para a demagogia, quando arrebanha as pulsões populistas, ou quando aposta no «correr por fora» desresponsabilizando-se do governo da coisa pública. Gostamos do Bloco quando se apresenta … do lado da igualdade, da liberdade, da modernidade. Alguns e algumas de nós circulam em espaços criados para suprir esse ponto intermédio: em torno de Alegre, em torno de Roseta. Não é o meu caso. Porque acho que sem máquina e sem diversidade de composição social não há transformação política. Mas estejamos lá ou não, estejamos no PS ou não, estejamos no Bloco ou não, partilhamos uma série de preocupações: sentimos que o sistema político português está prisioneiro de uma lógica de grande centro que cedeu demasiado ao neo-liberalismo e que um sintoma disso são as ligações ao poder económico e o tráfico de influências; cortámos há muito com a esquerda revolucionária, mas recusámos a terceira via, acreditando que é possível uma social-democracia que aposte no papel do estado e dos serviços públicos na garantia de igualdade de oportunidades no quadro de uma economia de mercado regulada e com espaço e incentivo para formas de economia solidária e cooperativa; defendemos acima de tudo a liberdade, e esta mede-se na capacidade de garantir opções e escolhas, diversidade, reconhecimento e direitos. Somos pela escolha na interrupção voluntária da gravidez, somos pela diversidade cultural no país e pelo acolhimento dos imigrantes, somos pela plena igualdade no acesso ao casamento civil por parte de casais do mesmo sexo, somos pela despenalização do consumo de drogas, pela laicidade o estado e pela liberdade religiosa, pela efectiva igualdade de género; somos reformistas, no sentido em que queremos transformações concretas na segurança social, na saúde, na justiça, na educação que, com base na valorização dos serviços públicos e na dignificação dos profissionais, melhorem as chances de boa vida para o maior número possível de pessoas, no tempo da sua vida, sem fazer a mudança depender do agudizar de contradições que possam levar, num futuro distante, a uma sociedade perfeita – em que não acreditamos. Não desejamos que as coisas estejam mal para podermos justificar as lutas, desejamos que elas melhorem mesmo e quanto mais cedo melhor; somos pela inovação, pelo conhecimento, pela capacidade inventiva e criadora, pela sustentabilidade energética, pela ecologia – e achamos que estas áreas oferecem o melhor potencial para o futuro económico do país, ao mesmo tempo promovendo o conhecimento, gerador de liberdade; somos por um país que mede o seu valor pelo que faz agora pelos seus cidadãos e pelas suas cidadãs, nascidos ou não aqui, falantes ou não de português, e não pelos mitos do passado, recusando o medo, o atavismo e a violência simbólica das nostalgias do salazarismo ou das utopias revolucionárias. Somos por uma União Europeia assente numa verdadeira representação democrática dos seus cidadãos, com uma verdadeira Constituição e com políticas que ajudem os países mais pobres a aproximarem-se da média comunitária. Somos pela dignificação do sistema político, trazendo para ele novas pessoas, abrindo espaços e diversidades de opiniões, exigindo accountability, e não somos pelo corte definitivo entre a cidadania e a representação ou por alternativas caudilhistas, presidencialistas ou que se deixem seduzir por suspensões da democracia. Em finais de Setembro vamos ter de decidir em quem votamos. Sabemos que não votamos num PSD cuja líder simboliza praticamente tudo o que de negativo foi aqui elencado – uma política que aposta na negatividade e apela aos piores instintos de receio, fechamento, e honrada pobreza.»

[o texto continua aqui]

É um bom começo para o texto.
Identifico-me com o exposto, e com o dilema apresentado.

Votar no PS, que compromete demasiado com vários poderes instalados, com a corrupção, com princípios fundamentais; ou no BE que não compromete nada, que se recusa a exercer o poder, destruindo portanto um voto à esquerda?

Por um lado, votar no BE poderia ser um sinal para que o PS, enquanto poder, não governasse tão conivente com as exigências do centrão. Para que o PS não continuasse a aceitar passivamente o Jorge Coelho na Mota Engil, e o Pina Moura na Iberdrola, sob pena de não conseguir exercer o poder.
Por outro lado, era entregar o poder nas mãos do PSD. Era mostrar que os gastos em I&D ou nas energias renováveis foram más apostas eleitorais, era afirmar que realmente tinha sido má ideia afrontar o Alberto João, ou os Juízes, a ANF, ou outras corporações.

Ao contrário do autor, não estou decidido.
Mas aquilo que se está a passar em Lisboa pode dar o mote para que eu recuse esta recusa no compromisso. Se os partidos à esquerda do PS não querem dar o seu contributo para governar; talvez não mereçam o meu voto. A demagogia barata que envolve algumas das suas propostas irrealizáveis dá mais um empurrão nesse sentido.

E o voto em branco não está fora de questão.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

A esquerda mutilada

Portugal tem a peculiaridade, única na Europa, de a «esquerda radical» (à esquerda do PS) ter chegado aos 23% nas eleições europeias. Leituras mais apressadas podem levar à conclusão de que tal se deve ao facto, também único na Europa, de termos tido uma revolução popular de esquerda há apenas 35 anos (que, porém, não é tão pouco tempo assim). Eu estou mais convencido de que o voto massivo à esquerda do neoliberalismo (mais ou menos social), se deve, não à revolução popular em si, mas ao seu Termidor de Novembro de 1975, que implicou a exclusão da esquerda «radical» do governo desde então.

Efectivamente, como Villaverde Cabral sublinhou pela enésima vez, aquilo a que ele chama «extrema-esquerda» nunca fez em Portugal o teste do poder. Desconfio que, se por ele tivessem passado, os tais 23% seriam hoje bem menores (e que o PS seria bem mais à esquerda).

Note-se, no entanto, que na minha modesta opinião se deveria guardar o prefixo «extrema» para movimentos que defendessem explicitamente o fim da democracia republicana tal como a conhecemos. O que não é de todo o caso do BE, e que mesmo no caso do PCP será discutível. E mais: tenho a impressão (totalmente subjectiva, assumo-o) de que quatro em cada cinco dos eleitores do BE abominam a Albânia de Enver Hoxa e são indiferentes à barbicha de Trotsky. Votam no BE porque este representa as lutas por direitos civis que noutro país (a Espanha ou a França, para não ir mais longe), seriam representadas pelos PS´s locais. Acontece que, entre os militantes do BE, a proporção referida deve ser rigorosamente inversa. O que explica que nem na CML o BE se tenha aguentado na colaboração com o poder.

Enfim, o país é o que tem sido, e não o que gostaríamos que fosse. Há um quarto de século, a situação era muito semelhante, inclusivamente na existência de uma crise económica e social. O bloqueio da esquerda deu primeiro o PRD e depois os dez anos de Cavaco. Agora, já tivemos a Alegre votação na presidencial, e o aviso das europeias. Se persistirmos no «bloqueio» da esquerda, antevejo uma maioria absoluta da senhora Ferreira Leite com (ou até sem...) o eterno PP do PP. O que não me apetece muito, confesso. Parece-me que seria portanto um bom momento para acabar com a auto-mutilação da esquerda, e escaqueirar a divisória entre o PS e a «esquerda radical». O PS poderia ter o maquiavelismo de dar sinais de aceitar o apoio do BE ou do PCP, nem que fosse na forma de acordo parlamentar. E o BE e o PCP poderiam dar sinais de compreender que o mal maior é Ferreira Leite. Sem isso, a abstenção sobe e o eleitorado do centro foge para onde a maioria pode parecer mais fácil: à direita.

sábado, 11 de julho de 2009

Amin Maalouf para sempre

Muito interessante esta entrevista de Amin Maalouf ao Público.
  • «Há uma atitude no Ocidente que é dizer: "Ah, o problema dos americanos foi tentarem impor a democracia a um povo que não estava preparado para ela." Acredito firmemente no contrário. Os iraquianos queriam democracia, esperaram prosperidade, paz, modernização, e os americanos não trouxeram nada disso.

    Todos os dias ouço essa atitude no Ocidente: "Sabe, essas pessoas são assim, nós também éramos, com o tempo as coisas mudarão." É a atitude de considerar que não precisamos de ter princípios quando atravessamos o mar, porque respeitamos a especificidade. Isto é profundamente hipócrita. Não é verdadeiro e é contraproducente. A aspiração das nações, das pessoas em toda a parte, é praticamente a mesma. As pessoas querem viver melhor, querem vidas melhores para os filhos, mandá-los para a escola. Em toda a parte querem viver com dignidade.

    O que acontece às vezes é que não lhes é dada alternativa. Há um ditador e a forma de as pessoas se organizarem é a religião. E todo o discurso se desenvolve a partir daí. Quando a verdadeira aspiração não é essa.» (Público)

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Islamismo em recuo eleitoral

Parece haver um padrão claro, em todos os países muçulmanos onde há eleições com um mínimo de significado, de recuo dos partidos políticos islamistas. Razões para esperança, portanto. Se adicionarmos a este padrão a revolta popular no Irão, o futuro pode parecer menos sombrio no mundo islâmico.
  • «(...) This countertrend began in Morocco in 2007. The Justice and Development Party (PJD), a moderate Islamist group that had registered big gains five years before, was expected to win parliamentary elections. But it carried only 14 percent of the vote, finishing second to a conservative party aligned with the royal palace. And in municipal elections earlier this month, the PJD's vote sank to 7 percent.

    Jordanians also went to the polls in 2007 and handed the Islamic Action Front "one of its worst election defeats since Jordan's monarchy restored parliament in 1989," as The Washington Post reported. The party won only six of the 22 seats it contested in the parliamentary vote -- a precipitous drop from the 17 seats it had held in the outgoing legislature.



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    Forged from diverse ethnic groups linked only by Islam, Pakistan would seem fertile soil for radical Islamism. Nonetheless, Islamist parties had not done well until 2002, when -- with military strongman Pervez Musharraf suppressing mainstream political forces -- Islamists won 11 percent of the popular vote and 63 seats in parliament. But in a vote last year, on a more level field, the Islamists' tally sank to 2 percent and six out of 270 elected seats. Moreover, they were turned out of power in the North West Frontier Province, previously their stronghold.

    In April, Indonesian Islamist parties that had emerged four years earlier to capture 39 percent of the vote lost ground in parliamentary elections this time around, falling to below 30 percent. "You can't pray away a bad economy, unemployment, poverty and crime," one voter, a 45-year old shop assistant, told Agence France Press.

    Then in May came parliamentary elections in Kuwait, where women had won the right to vote and hold office in 2005 but had never yet won office. Even though the Islamic Salafi Alliance issued a fatwa against voting for female candidates, four captured seats in parliament. Adding insult to injury for the Islamists, their representation fell from 21 seats to 11. "There is a new mindset here in Kuwait," the al-Jazeera network reported, "and it's definitely going to reverberate across the Gulf region."

    Finally, Lebanon held a tense election earlier this month that many expected would result in the triumph of Hezbollah and its allies over the pro-Western March 14 coalition. Instead, the latter carried the popular vote and nailed down a commanding majority in parliament. (...)» (The Washington Post)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Haja esperança



Mais sobre isto aqui.

Investimentos Faraónicos

Aeroporto, TGV, mais auto-estradas, ponte sobre o tejo, etc...

Para todos estes investimentos existem estudos custo-benefício que justificam a sua necessidade. Os estudos são públicos e disponíveis, e merecem um descrédito generalizado.
Existe a sensação de que ao invés da decisão política ser tomada tendo em conta estudos técnicos imparciais, e em grande medida em função das conclusões destes, acontece o contrário: a decisão política é tomada, e depois são encomendados estudos que a justifiquem.

Não sei até que ponto esta sensação corresponde à realidade, mas sei que quando passei os olhos pelo estudo que justificou a mudança da localização do aeroporto para Alcochete fiquei preocupado. Sempre idealizara esse tipo de estudos como algo extremamente complexo e detalhado dificilmente ao alcance de leigos. Ao invés, via meia dúzia de contas e estimativas de algibeira que poderiam perfeitamente variar consoante a conclusão que se pretendesse.

Assim, foi mais fácil dar crédito aos que dizem que as contas do TGV não entram em linha de conta com o novo aeroporto; e que as contas do aeroporto não entram em linha de conta com o TGV. Foi mais fácil acreditar nas previsões apocalípticas de um elefante branco gigantesco, cuja construção só se justifica devido a uma série de interesses instalados que vão lucrar com as previsíveis derrapagens.

Mas não completamente. A narrativa do grande descalabro que serão estes investimentos também tem as suas falhas, pequenos indícios que não batem certo com a história de horror que vai sendo repetida. No caso do TGV, um deles é a vontade da UE em patrocinar a construção das linhas de alta velocidade por todo o lado, pagando uma fatia significativa dos custos. Outro é o facto do governo espanhol estar disposto a pagar a sua parte da ligação Lisboa-Madrid, que alegadamente não nos daria lucro que justificasse o custo de oportunidade, pagando cerca do triplo daquilo que pagaríamos. E, geralmente, quando a narrativa é contada por algum simpatizante do PSD esbarra no facto dessas preocupações só terem surgido quando o PSD passou à oposição.

Assim, no geral, restam-me dúvidas. Tendo a ver com bons olhos a terceira ponte, que unirá as vias férreas do Norte ao Sul, permitindo o acesso das cargas do porto de Sines a Lisboa. Tendo a ver de forma positiva a ligação Lisboa-Madrid ou Porto-Vigo em alta velocidade.

Sou mais céptico quanto à ligação Lisboa-Porto, em relação à qual, se não estou em erro, seria possível com um quarto do investimento garantir viagens apenas 30 minutos mais demoradas que as do TGV. E neste momento parece-me que o problema do Alfa pendular é o preço e não o tempo (pode ser tão caro ir de Lisboa ao Porto de comboio como do Porto a Londres de avião). Tendo também a ser algo céptico em relação a algumas das auto-estradas planeadas. Continuo com várias dúvidas em relação ao aeroporto - isto não é um eufemismo para dizer que estou contra, são mesmo dúvidas.


Mas estas obras vão todas acontecer. Vão acontecer se o PS ganhar as eleições, e vão acontecer se o PSD ganhar as eleições.
É preciso não esquecer isto: nenhuma destas obras foi uma surpresa inventada por Sócrates. Todas elas estavam (ou foram) planeadas quando Manuela Ferreira Leite era ministra das finanças de Durão Barroso, e nenhuma delas foi cancelada por alegadamente "não ser rentável".

Aquilo que Manuela Ferreira Leite promete é adiar.

Ora eu posso ter algumas dúvidas se é boa ideia fazer estas obras. Mas não tenho qualquer dúvida que é um enorme erro adiá-las. Manuela Ferreira Leite foi uma péssima ministra das finanças, que contribuiu para alienar o nosso património e depauperar parte da riqueza do país, com a sua falta de capacidade de gestão e grosseira falta de visão. Parece não ter aprendido grande coisa entretanto.

Os diferentes organismos internacionais aconselham os diferentes governos de todo o mundo a anteciparem eventuais investimentos que tenham planeado. Não é por acaso. Durante esta crise é importante que os diferentes estados estimulem a procura; e com a taxa do BCE a bater mínimos históricos, se havia altura em que a dívida pública era um problema que poderia fazer repensar estes investimentos era antes da crise (incluindo durante o governo em que MFL participou) ou então depois dela ter acabado (para quando MFL pretende adiá-los...).

Assim, a decisão de adiar estes investimentos é de uma estupidez tão atroz que só pode ser justificada por eleitoralismo barato, e as suspeitas de que é essa a motivação do PSD são confirmadas pela retórica vaga e vazia contra os investimentos. Sem serem concretos a respeito de calendários, de alternativas, de quais os que são feitos já e quais os que ficam para depois, tentando criar confusão entre intenções de adiar (as que têm) e as de cancelar (as querem fazer parecer que têm) os ditos investimentos. Assim vão grangeando a simpatia daqueles que acham que «estamos a gastar demasiado em cimento», sem terem a decência de esclarecer que não querem gastar um tostão a menos. Vão gastá-los, só que simplesmente em pior altura.

sábado, 4 de julho de 2009

Os Direitos do Homem não são nem de esquerda nem de direita

Ana Gomes tem tido um papel notável na investigação aos crimes de tortura e privação de liberdade que tiveram lugar durante a defunta(?) «guerra inter-galáctica contra o terrorismo». Esquece-se sistematicamente deste caso. Será por ter ocorrido com a colaboração activa das autoridades portuguesas (e não a mera conivência, que é o caso dos voos da CIA), e durante um governo «socialista»?

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Parece-me que seria má ideia a Manela contar com ele para Ministro

Dias Loureiro é arguido.

Burca e nicabe: a opinião de Catherine Kintzler

No texto recortado em baixo, destacam-se três razões possíveis para proibir a burca e o nicabe no espaço público: por ser um símbolo religioso ostensivo, por ser um instrumento de opressão das mulheres, e por «anonimizar» permanentemente quem o usa. A autora do texto aponta para esta última razão. No meu entender, todavia, a razão mais forte para proibir as burcas é mesmo o que fazem às mulheres: transformam-nas em sombras desidentificadas, obrigadas a esconderem a sua personalidade e a sua feminilidade. E não, não acredito que seja voluntário. A violência doméstica também é crime, mesmo quando não há queixa da vítima...
  • «(...) Il me semble impossible d'interdire burqa et voile intégral (niqab) dans l’espace civil au seul motif que ce sont des signes religieux. (...) Si on interdisait la burqa dans l'espace civil pour ce motif, il faudrait aussi y interdire le voile non intégral, la kippa, les croix, les phylactères, arracher les calvaires, faire taire les cloches, débaptiser bien des noms de lieux… ce qui reviendrait à abolir la liberté d’expression.

    (...)

    L’approche par la question de l’oppression des femmes semble plus solide du point de vue du débat de société et du débat idéologique. Nul doute qu’on doive s’en émouvoir : burqa et niqab sont en effet, si l’on peut dire, une exclusivité féminine, en l’occurrence une exclusivité excluante particulièrement choquante et ostensible. (...) Il sera en effet facile aux sectes concernées, comme aux bienpensants qui leur apportent souvent un appui, de trouver des porteuses de burqa et de niqab pour déclarer qu'elles affirment librement par là leur féminité et leur dignité. (...) Même si on peut penser à juste titre que cette infériorité et cette soumission crèvent les yeux de quiconque regarde une femme revêtue de ces accoutrements, le délit de déclaration illicite n’est pas pour autant constitué aux yeux de la loi. En revanche la question peut et doit déboucher sur un débat de société dans lequel il est nécessaire d’intervenir sans ambiguïté pour dire que ce port est une oppression, fût-elle revendiquée comme une liberté.

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    (...) L’angle d'attaque le plus efficace est à mon avis la question du masque volontaire et permanent, destiné à dérober l’identité, à la cacher. Cette question n'est pas propre à la burqa et au voile intégral. Son avantage est qu'elle est générale, elle concerne la dissimulation volontaire d'identité, le fait de rendre impossible l'identification physique en dissimulant le visage. Il se peut que la proposition résulte d'une injonction particulièrement odieuse proférée à la deuxième personne « tu n'es personne et ce néant se montre par ton vêtement qui doit te nier », mais en tout cas son effet réel se conjugue à la troisième personne : « il (elle) n'est personne ». Il (elle) n'est jamais identifiable dans l'espace civil. Il apparaît alors, comme on va le voir dans un instant, que ce déni d’identité est en outre une manière d’abolir l’humanité – celle de l’intéressé(e) puisqu’on le (la) retire du commerce ordinaire entre les êtres humains, celle des autres puisqu’on leur indique qu’une personne peut ainsi devenir intouchable et inacessible.

    (...)

    A la non-identification, burqa et niqab ajoutent l’indifférenciation. Dans une émission télévisée, le député Jacques Myard parlait d’une dépersonnalisation. Imaginons que tout le monde porte le même masque, que nous soyons tous des éléments intrinsèquement indiscernables et réputés tels: ce ne serait plus un monde humain, ce serait une collection formée par de pures extériorités. Voilà ce que sont les femmes pour le sectarisme qui les raye de la visibilité ordinaire en leur imposant une visibilité de négation: une simple collection. En la personne d’une femme, c’est donc bien l’atome constitutif de l’humanité civile et politique, sujet, auteur et finalité du droit, qui est aboli: on ne voit plus, tache aveugle et aveuglante, que la trace noire de son effacement.

    Je suis donc favorable à l’interdiction du port de la burqa et du voile intégral dissimulant le visage dans tous lieux accessibles au public.

    * Non pas parce que ce sont des signes religieux, car la laïcité ne les interdit pas dans l’espace civil, l’abstention étant requise dans les seuls espaces relevant de l’autorité publique.
    * Pas seulement parce que ce sont des signes d’oppression et de soumission des femmes, car ce délit serait la plupart du temps impossible à établir clairement de manière explicite.
    * Il faut les interdire parce que ce sont des dénis d’identification publique qui procèdent à une dépersonnalisation négatrice de toute singularité.» (Catherine Kintzler no boletim da UFAL.)