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domingo, 3 de julho de 2016

Viva a Alemanha!

É exagerada a atenção que se dá em Portugal a declarações avulsas do senhor Schäuble. Caso se tenham esquecido, é apenas o ministro das finanças alemão. Não é o presidente da Comissão Europeia, nem comissário, nem sequer deputado europeu. É um ministro de um governo da UE. Não se lhe deve atribuir mais importância do que efectivamente tem, nem ignorar que fala para o seu partido, a direita democrata-cristã.

Se queremos centrar o debate nacional português em ministros alemães, há pelo menos outro com quem podemos aprender mais: Sigmar Gabriel, o líder dos sociais-democratas e vice-chanceler (hierarquicamente acima de Schäuble, portanto).
 
Há poucas horas, Sigmar Gabriel respondeu aos problemas que o «Brexit» coloca de forma radical, construtiva e internacionalista: defendeu que fosse concedida a nacionalidade alemã aos britânicos que vivem na Alemanha («vamos oferecer aos jovens britânicos residentes na Alemanha, na Itália ou na França que possam permanecer cidadãos da União Europeia»). A proposta tem a virtude de responder ao problema prático (e moral) dos britânicos deixados de fora do espaço europeu que sentiam como seu; e tem a vantagem política de fazer uma pega de caras à xenofobia (para mais, num país em que a dupla nacionalidade causa tantos engulhos).

A esquerda portuguesa tem que olhar mais para Sigmar Gabriel e menos para Wolfgang Schäuble.

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Carta Aberta de Alexis Tsipras aos Leitores do Handelsblatt

Lida aqui:

«A maior parte de vós, caros leitores do Handelsblatt, terá já uma ideia preconcebida acerca do tema deste artigo, mesmo antes da leitura. Rogo que não cedais a preconceitos. O preconceito nunca foi bom conselheiro, principalmente durante períodos em que uma crise económica reforça estereótipos e gera fanatismo, nacionalismos e até violência.

Em 2010, a Grécia deixou de conseguir pagar os juros da sua dívida. Infelizmente, as autoridades europeias decidiram fingir que o problema poderia ser ultrapassado através do maior empréstimo de sempre, sob condição de austeridade orçamental, que iria, com uma precisão matemática, diminuir drasticamente o rendimento nacional, que serve para pagar empréstimos novos e antigos. Um problema de insolvência foi tratado como se fosse um problema de falta de liquidez.
Dito de outro modo, a Europa adoptou a táctica dos banqueiros com pior reputação, que não reconhecem maus empréstimos, preferindo conceder novos empréstimos à entidade insolvente, tentando fingir que o empréstimo original está a obter bons resultados, adiando a bancarrota. Bastava bom senso para se perceber que a adopção da táctica “adiar e fingir” levaria o meu país a uma situação trágica. Em vez da estabilização da Grécia, a Europa estava a criar as condições para uma crise auto-sustentada que põe em causa as fundações da própria Europa.

O meu partido e eu próprio discordamos veementemente do acordo de Maio de 2010 sobre o empréstimo, não por vós, cidadãos alemães, nos terdes dado pouco dinheiro, mas por nos terdes dado dinheiro em demasia, muito mais do que devíeis ter dado e do que o nosso governo devia ter aceitado, muito mais do que aquilo a que tinha direito. Dinheiro que não iria, fosse como fosse, nem ajudar o povo grego (pois estava a ser atirado para o buraco negro de uma dívida insustentável), nem sequer evitar o drástico aumento da dívida do governo grego, às custas dos contribuintes gregos e alemães.

Efectivamente, passado menos de um ano, a partir de 2011, as nossas previsões confirmaram-se. A combinação de novos empréstimos gigantescos e rigorosos cortes na despesa governamental diminuíram drasticamente os rendimentos e, não só não conseguiram conter a dívida, como também castigaram os cidadãos mais frágeis, transformando pessoas que, até então, haviam tido uma vida comedida e modesta em pobres e mendigos, negando-lhes, acima de tudo, a dignidade. O colapso nos rendimentos conduziu milhares de empresas à falência, dando um impulso ao poder oligopolista das grandes empresas sobreviventes. Assim, os preços têm caído, mas mais lentamente do que ordenados e salários, reduzindo a procura global de bens e serviços e esmagando rendimentos nominais, enquanto as dívidas continuam a sua ascensão inexorável. Neste contexto, o défice de esperança acelerou de forma descontrolada e, antes que déssemos por ela, o “ovo da serpente” chocou  – consequentemente, os neo-nazis começaram a patrulhar a vizinhança, disseminando a sua mensagem de ódio.

A lógica “adiar e fingir” continua a ser aplicada, apesar do seu evidente fracasso. O segundo “resgate” grego, executado na Primavera de 2012, sobrecarregou com um novo empréstimo os frágeis ombros dos contribuintes gregos, acrescentou uma margem de avaliação aos nossos fundos de segurança social e financiou uma nova cleptocracia implacável.

Recentemente, comentadores respeitados têm mencionado a estabilização da Grécia e até sinais de crescimento. Infelizmente, a ‘recuperação grega’ é tão-somente uma miragem que devemos ignorar o mais rapidamente possível. O recente e modesto aumento do PIB real, ao ritmo de 0,7%, não indica (como tem sido aventado) o fim da recessão, mas a sua continuação. Pensai nisto: as mesmas fontes oficiais comunicam, para o mesmo trimestre, uma taxa de inflação de -1,80%, i.e., deflação. Isto significa que o aumento de 0,7% do PIB real se deveu a uma taxa de crescimento negativo do PIB nominal! Dito de outro modo, aquilo que aconteceu foi uma redução mais rápida dos preços do que do rendimento nacional nominal. Não é exactamente motivo para anunciar o fim de seis anos de recessão!

Permiti-me dizer-vos que esta lamentável tentativa de apresentar uma nova versão das “estatísticas gregas”, para declarar que a crise grega acabou, é um insulto a todos os europeus que, há muito, merecem conhecer a verdade sobre a Grécia e sobre a Europa. Com toda a frontalidade: actualmente, a dívida grega é insustentável e os juros não conseguirão ser pagos, principalmente enquanto a Grécia continua a ser sujeita a um contínuo afogamento simulado orçamental. A insistência nestas políticas de beco sem saída, e em negação relativamente a simples operações aritméticas, é muito onerosa para o contribuinte alemão e, simultaneamente, condena uma orgulhosa nação europeia a indignidade permanente. Pior ainda: desta forma, em breve, os alemães virar-se-ão contra os gregos, os gregos contra os alemães e, obviamente, o ideal europeu sofrerá perdas catastróficas.

Quanto a uma vitória do SYRIZA, a Alemanha e, em particular, os diligentes trabalhadores alemães nada têm a temer. A nossa tarefa não é a de criar conflitos com os nossos parceiros. Nem sequer a de assegurar maiores empréstimos ou, o equivalente, o direito a défices mais elevados. Pelo contrário, o nosso objectivo é conseguir a estabilização do país, orçamentos equilibrados e, evidentemente, o fim do grande aperto dos contribuintes gregos mais frágeis, no contexto de um acordo de empréstimo pura e simplesmente inexequível. Estamos empenhados em acabar com a lógica “adiar e fingir”, não contra os cidadãos alemães, mas pretendendo vantagens mútuas para todos os europeus.

Caros leitores, percebo que, subjacente à vossa “exigência” de que o nosso governo honre todas as suas “obrigações contratuais” se esconda o medo de que, se nos derem espaço para respirar, iremos regressar aos nossos maus e velhos hábitos. Compreendo essa ansiedade. Contudo, devo dizer-vos que não foi o SYRIZA que incubou a cleptocracia que hoje finge lutar por ‘reformas’, desde que estas ‘reformas’ não afectem os seus privilégios ilicitamente obtidos. Estamos dispostos a introduzir reformas importantes e, para tal, procuramos um mandato do povo grego e, claro, a cooperação dos nossos parceiros europeus, para podermos executá-las.

A nossa tarefa é a de obter um New Deal europeu, através do qual o nosso povo possa respirar, criar e viver com dignidade.

No dia 25 de Janeiro, estará a nascer na Grécia uma grande oportunidade para a Europa. Uma oportunidade que a Europa não poderá dar-se ao luxo de perder.»

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

O apego de Berlim à letra das regras treme como gelatina

Os alemães sabem bem como as convicções de Merkel mudam com o vento. Como é afirmado pelos seus biógrafos, o que a orienta não são princípios ou a suposta obsessão germânica com as regras, mas o poder. Apoiante fiel da energia nuclear (um dos tópicos mais quentes da política alemã), deu uma pirueta de 180º semanas depois do desastre de Fukushima estabelecendo um prazo para encerrar as centrais nucleares e arrancar com o maior investimento de sempre nas renováveis.
Nos "resgates" à Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha, cujas dívidas privadas e públicas constavam dos activos dos bancos alemães, Berlim foi implacável ao defender que o ónus da crise deveria recair no devedor e não no credor. No "resgate" ao Chipre, cujas dívidas estavam ligadas à Rússia e não a Alemanha, Berlim dá nova pirueta e defende que os dois lados são responsáveis, impondo grandes perdas aos credores.
Desde 2008 que todos os bancos centrais duplicaram ou triplicaram a moeda em circulação através da compra de títulos de dívida pública; todos excepto o BCE que sob enorme pressão de Berlim foi sempre recordado que o Tratado de Lisboa o impediria. Muito provavelmente uma tal intervenção teria reduzido a crise do euro de 2010 (que foi mais grave que a de 1929 para muitos países do zona euro) a uma mera crise orçamental em Atenas.
Estamos agora perante uma nova pirueta de Berlim no que toca às regras do euro no Tratado de Lisboa. Segundo este, não há hipótese de um país abandonar o euro dentro da UE. Esta é contudo a hipótese levantada por Berlim, uma saída do euro sem saída da UE, agora que os ventos que sopram de Atenas não são do seu agrado.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

A crise do euro É um problema moral, e não económico, aos olhos de muitos alemães

De vez em quando alguém na blogoesfera ou twittosfera portuguesa redescobre que a palavra para "dívida" e "culpa" é a mesma em alemão: Schuld. Isso seria sinal da psique alemã que veria a causa da crise do Euro nas falhas morais dos europeus do Sul.
Mas não é preciso ser tão rebuscado. A questão moral, diria até moralista, está preto no branco na imprensa alemã que se refere aos países em crise com um termo mais depreciativo do que PIIGS, eles são os Schuldensündern, os pecadores da dívida. E não me refiro à imprensa de qualidade duvidosa, falo da imprensa de referência.

No Die Welt: 
No Spiegel:
No Handelsblatt:

quinta-feira, 16 de maio de 2013

O papão da inflação

A relação que os alemães têm com a inflação é algo que só pode ser entendido como um fenómeno de histeria religiosa. Os media fazem reportagens sobre a hiper-inflação que estás quase quase quase a chegar, os bancos têm cartazes com publicidade assustando os seus clientes, promovendo os seus produtos para escapar à inflação.
No dia em que se soube que a inflação na Zona Euro e nos EUA chegou a níveis historicamente baixos, 1,2% e 1,1% respectivamente, o ministro das finanças alemão Wolfgang Schäuble vem avisar que... há demasiada moeda no mercado (leia-se,a hiper-inflação está quase quase quase a chegar por culpa dos bancos centrais).
O problema é que este fanatismo religioso não é apenas um papão que cria ansiedade aos alemães, ele tem graves consequências. Primeiro impede uma política monetária mais agressiva, exactamente quando grande parte dos países da Zona Euro está em recessão há vários trimestres consecutivamente, estando o desemprego em máximos históricos.
Segundo, porque a inflação baixa funciona como um aumento na taxa de juro (nominal) da dívida, ou seja aumenta os encargos dos endividados numa altura em que tantos esforços se fazem para controlar as dívidas. Veja-se o caso da Grécia, que tem uma taxa de inflação de -0,6%, ou seja o euro está a ganhar valor. Uma dívida a 10 anos vai sair 29% mais cara ao estado grego, do que custaria com uma inflação a 2% - estamos a falar de um custo extra gigantesco para quem já tem o país destruído.
Terceiro, e assumindo que realmente os salários da periferia têm de diminuir face aos alemães, com a inflação tão baixa são há uma maneira de reajustar os salários que é baixando-os. E isto só acontece com mais e mais desemprego.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Uma verdade inconveniente sobre a Alemanha

Durante onze anos, a «eficiente» polícia alemã e os seus «democráticos» serviços secretos tentaram convencer a opinião pública e as próprias famílias das vítimas de que os autores de dez homicídios eram da «máfia turca». Afinal, eram neonazis alemães e as polícias nunca tinham pensado que tal coisa fosse possível...

quarta-feira, 24 de abril de 2013

A direita alemã está a ganhar-lhe o gostinho II

Norbert Barthle, porta-voz sobre assuntos orçamentais da CDU alemã, afirmou hoje que "os comentário críticos de Durão Barroso sobre a austeridade na Europa irritam-me muito".
As palavras autoritaristas não são um descuido, espelham sim a mentalidade vigente em grande parte da direita alemã.

terça-feira, 19 de março de 2013

Chipre, Schäuble e o envolvimento dos dois lados

O ministro das finanças alemão, dizia há pouco que "quem investir o seu dinheiro em países onde paga menos impostos, ou talvez onde seja também menos controlado, assume o risco quando os bancos desse país deixam de ser solventes".
A ideia é simples: em cada acordo, há sempre duas partes. Sendo que ambas estavam cientes do risco à partida, ambas devem contribuir quando esse risco se concretiza. Parece-me uma ideia sensata, tomando em conta as devidas e sensatas proporções. Como alguém dizia, um grande investidor numa conta cipriota tem mais noção do risco que um pensionista cipriota, por exemplo.
Estranho é esta ideia só agora aparecer. No primeiro pacote de "ajuda" à Grécia, na Irlanda, em Portugal, na Espanha e na Itália, as condições impostas faziam recair a responsabilidade exclusivamente sobre os bancos (e por consequência sobre o Estado onde eles se localizam) ou sobre quem emitiu dívida, os Estados soberanos. Apenas no segundo pacote grego, e já depois de um longo período de troca de mãos da dívida grega, é que foi também imposta uma perda aos investidores.
Porque é que Berlim impõe agora este princípio, se o poderia ter sugerido antes? Terá algo a ver com a nacionalidade dos investidores* nos diferentes casos? E porque não se discute esta viragem radical na política europeia sobre a repartição dos encargos?

*No caso grego e espanhol, era sabido que grande parte da dívida privada e soberana era detido por investidores alemães.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

A direita alemã está a ganhar-lhe o gostinho

Ministro dos Negócios Estrangeiros alemão Guido Westerwelle:
"Os  responsáveis políticos em Roma sabem que a Itália continua a precisar de uma política sólidade de reformas e consolidação."
"Estamos por isso a contar com a continuação de uma política consequente de consolidação fiscal e de reformas por parte do novo governo"
Título da notícia: "Westerwelle exige continuação das reformas por parte da Itália".

Ministro da Economia Philipp Rösler:
"Não há alternativa ao percurso de reformas estruturais anteriormente decidido".
A Reuters diz que ele ficou triste com o resultado do resultado.


Líder parlamentar da CDU (principal partido do governo) Michael Grosse-Brömer:
"O caminho de reformas seguido por Monti tem de ser continuado de maneira consequente."


Sou só eu, ou isto são interferências demasiado óbvias e exigentes na política interna de um Estado soberano? No caso das interferências em Portugal, Grécia, Irlanda ou Chipre ainda há quem argumente que se tratam de países intervencionados. Não é o caso. São dois parceiros em pé de igualdade dentro da UE.
Alguém imagina igual tomada de posição de políticos italianos na política interna alemã?

sábado, 17 de novembro de 2012

O milagre económico alemão?

A Alemanha tem sido apresentada como uma economia exemplar pela sua pujança, em contraste com o Sul preguiçoso e irreformável. Há contudo que meter as coisas em contexto.
Desde o início do Euro até a crise, de 1999 a 2008, a Alemanha violou frequentemente os limites das finanças públicas estabelecidos em Maastricht, chegando à crise com um nível de dívida pública equivalente ao português. A Alemanha era uma das economias anémicas da Europa (como Itália e Portugal), com um fraco crescimento de 1,6% ao ano. Nesse período a UE cresceu a 2,4% e a Zona Euro a 2,2% (sem a Alemanha em ambos os casos).
A crise inverte esta tendência. De 2009 a 2013 prevê-se um crescimento de 2,2% na Alemanha, bem acima dos 0,2% na Zona Euro e 0,6% na UE. E é difícil não associar esta inversão súbita ao desenrolar da crise. É difícil não pensar na velha queixa dos empresários alemães sobre a falta de jovens com elevadas qualificações numa sociedade envelhecida como a alemã, pensar no elevadíssimo desemprego jovem no Sul, e nas políticas ativas do governo alemão para atrair os tais jovens qualificados. É difícil não ligar o modo com a sua chanceler tem aparecido como a commander-in-chief de toda a Europa, e os enormes fluxos de capitais em direção à Alemanha em busca de alguma estabilidade no meio do pânico - fluxos esses tão grandes que levam a Alemanha a ter taxas de juros mais baixas que a sua vizinha Holanda, apesar de ter o dobro da dívida pública desta (82% contra 45% do PIB). É difícil não pensar na facilidade que há hoje na Alemanha em encontrar financiamento para qualquer investimento, quando até as taxas de juros nominais da dívida pública são negativas.
Não estou a afirmar que Berlim tenha intuitos obscuros na sua condução da crise - tanto que esta também a atinge - mas há que perceber que a Alemanha que nos mostram hoje, é como é, graças à crise.


sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Schäuble e Vichy

A Reuters conta-nos há poucos minutos que o governo alemão encomendou um estudo interno, pedindo recomendações para a política económica interna francesa.
Não contentes com a domesticação de vários países do Sul, Berlim quer mandar bitaites para Paris também.
Schäuble deveria saber - mas claramente não sabe - que o equilíbrio no eixo Paris-Berlim é sagrado para a estabilidade europeia, e foi ele que nos permitiu o mais longo período de paz e prosperidade na Europa ocidental.
Citando o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros alemão Joschka Fischer, "seria uma tragédia e uma ironia se a Alemanha reunificada voltasse a arruinar a ordem europeia por uma terceira vez".

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A colonização alemã foi consumada

O Guardian tem mantido um excelente blog, com várias atualizações por hora, sobre o desenrolar da crise do Euro. 
Aqui fica um apanhado de hoje:
  • O Ministério das Finanças alemão enviou ao Governo grego uma lista de exigências, como a criação de uma conta para onde iriam diretamente parte das receitas do Estado grego, sem que os gregos pudessem mexer nela; a Grécia necessitaria de pedir autorização para contrair dívida; a Grécia receberia "consultoria" técnica obrigatória em matérias como corrupção e impostos, etc.
  • Um jornal alemão anuncia que a Grécia vai receber mais dois anos para atingir os objetivos da austeridade.
  • Mario Draghi está hoje no parlamento alemão para dar explicações sobre a actuação do BCE na crise.
  • Governo alemão diz que não há extensão do prazo.
  • O governador do Bundesbank faz uma conferência de imprensa com Mario Draghi no parlamento alemão.
Leia-se as frases acima, trocando "Alemanha" por "Eslovénia" (que em teoria tem o mesmo poder que a Alemanha na estrutura europeia), e perceber-se-á o ridículo a que chegámos.
A deslocação de Dragi ao Bundesbank é particularmente vergonhosa, porque de acordo com os tratados, o BCE não responde perante ninguém. Se respondesse deveria ser perante o Parlamento Europeu. Nunca se viu o presidente do banco central espanhol a sujeitar-se a perguntas do parlamento da Galiza... até hoje.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Revista de blogues (18/10/2012)

  • «O ministro das finanças alemão, Wolfgang Schäuble, defendeu esta semana que os orçamentos nacionais possam ser vetados pelo comissário europeu dos Assuntos Financeiros. Ou seja, o ministro alemão defende que alguém não eleito se possa sobrepor aos representantes eleitos de um povo. E que seja ele a decidir o mais importante instrumento político de um País, decidindo, independentemente da vontade dos cidadãos, o que será feito com o seu dinheiro. (...) "No taxation without representation", foi o mote para o que viria a ser a revolução americana. (...) Não há duas formas de dizer isto: o poder alemão quer destruir as bases fundamentais das democracias europeias. Em vez do federalismo democrático, em vez dos eurobonds e de uma integração cambial e financeira com pés e cabeça, defende uma ditadura orçamental que torne os cidadãos europeus em súbditos. Em contribuintes sem o direito de decidir o que fazer com os seus impostos. (...) A Alemanha, que já foi um dos principais motores da construção europeia, é hoje a principal inimiga da União Europeia. E nas suas cada vez mais indisfarçáveis tentações imperais põem em risco as democracias dos países europeus, o euro, a União e, com tudo isto, sessenta anos de paz. Travar a cegueira alemã é obrigação de todos europeístas e democratas, na Alemanha e em toda a Europa. Antes que seja tarde.» (Daniel Oliveira)

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Falta um ano para as principais eleições europeias

Em Setembro ou Outubro de 2013 terão lugar as eleições mais importantes para o futuro da União Europeia (e provavelmente para o futuro de Portugal também). Embora nenhum dos autores deste blogue tenha direito de voto (assim como a esmagadora maioria dos leitores, suspeito eu), convém prestar atenção aos protagonistas e às propostas. Como esta.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Era a isto que se referiam quando falavam em «transferências de soberania»?

O governo alemão confirma que recebeu em reunião os líderes sindicais espanhóis.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Só más línguas inventariam isto

Os serviços secretos, ainda por cima alemães, seriam capazes de destruir documentos sobre uma célula neonazi que matou dez pessoas sem ser incomodada por isso durante uma década?
E os mesmos serviços seriam capazes de manter milhares de páginas sobre dezenas de deputados de esquerda?
É evidente que a resposta a estas perguntas só pode ser «não». Nenhuma democracia se deixaria destruir assim.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Incertezas

Na China, no Chipre, e em Espanha.
E na Grécia, claro está.

No discurso do executivo alemão, a mesma falta de pudor em atacar a soberania dos parceiros europeus. Não se trata de um discurso federalista, mas sim de um discurso imperialista, a lembrar a «piada de Trichet».

Tempos imprevisíveis e, talvez por isso, algo assustadores.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Angela Quixote

A Alemanha e a Europa estão a ser governadas por uma pessoa demente. É a única explicação que me sobra para o que o Jornal de Negócios nos conta hoje. Merkel terá afirmado que,
"Os países da Europa que emitiram muita dívida estão de tal forma nas mãos dos mercados financeiros que já não conseguem tomar decisões por si mesmos. Temos de garantir que taxas de juro elevadas não nos levam ao ponto em que também deixamos de ter controlo sobre o nosso futuro".
O país que se fala no momento, Espanha, tinha em 2007 uma dívida equivalente a 36% do PIB - um dos valores historicamente mais baixos entre os países ricos nas últimas décadas.
A Alemanha tem neste momento taxas de juro reais negativas (até as nominais já o foram)! No curto-prazo a Alemanha está a pagar 0,09%. Mesmo a 10 anos tem um valor historicamente baixo de 1,75%. Este último número é importante para mostrar a sua demência, porque nele está contido aquilo que os mercados esperam que aconteça na Alemanha ao longo dos próximos 10 anos. Tanto uma como a outra taxa estão abaixo da inflação que têm vindo a acontecer, ou seja os investidores estão a perder valor ao emprestar a Alemanha. Conclusão da chanceler: a Alemanha precisa de mais austeridade.
A Europa está dominada por uma mulher que de um modo quixotesco luta com inimigos invisíveis, deixando para trás um rasto de crise social que o continente não conhecia há décadas.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A Alemanha solidária com Passos Coelho

Durante estes dias, em Colónia, Dusseldórfia (Düsseldorf), Mogúncia (Mainz) e um pouco por toda a Alemanha, os alemães foram totalmente solidários com Passos Coelho. Aproveitaram o Carnaval para trabalhar no duro, em jejum obviamente, observando um silêncio conventual, sob voto de castidade, terminando a quadra em oração coletiva agradecendo a misericórdia do FMI e dos corretores da City.