sábado, 9 de janeiro de 2010

Novamente a mensagem do cidadão Policarpo

  • «Na noite de 24 de Dezembro, a seguir ao telejornal da RTP1, surgiu no ecrã um dístico: "Mensagem de Natal de sua eminência reverendíssima o cardeal-patriarca de Lisboa." Seguiu-se um monólogo de 8,38 minutos no qual o dito falou sobre "o direito de ser ateu" como novidade desagradável e saudou os crentes das religiões "de deus único" apelando à sua união: "Juntos havemos de contribuir para que Deus não seja excluído do nosso mundo e da nossa história."  (...) Vou repetir: na noite de 24 a RTP passou propaganda religiosa com a dignidade de uma comunicação de alta figura do Estado. É legal? Legítimo? Aceitável? Através da direcção de programas, a RTP responde: "Ilegal não é." "Será discutível", reconhece, mas sublinha: "É costume - a maioria dos portugueses são católicos, portanto." Vejamos: a presidente do PSD fez uma mensagem vídeo de Natal. Passou onde? Nos telejornais, como notícia. Se o presidente do Benfica, que tem uns milhões de adeptos, quiser fazer uma mensagem antes de um derby, a RTP deixa? E o líder da comunidade muçulmana, pode "falar ao país"? Pois. (...) Não querendo expulsar deuses de lado algum - como expulsar o que me não existe? - , impedir seja quem for de crer no que lhe aprouver ou, como já vi escrito (o ridículo não conhece limite), "abolir o Natal", exijo dispensa de que me tentem converter ou insultar através dos meios de comunicação social do Estado. Chega de pagode: quero o país que a Constituição me garante, laico e sem eminências. Esperei 34 anos. Já pode ser? » (Fernanda Câncio no DN)

2 comentários :

Anónimo disse...

Ricardo Alves, você já ouviu explicação de algum crente sobre o que significa exatamente ser onipresente? Vou lhe explicar o que estou perguntando.

Estou sentado no sofá de casa. Mais à frente, há uma estante, uma televisão, alguns DVD's. Se eu dissesse que abarco toda a sala com o meu olhar, isso seria fácil de entender. Ninguém contestaria. Mas imagine se eu dissesse estar em toda parte. Neste caso, eu estaria dentro de cada átomo que compõe a estante, a televisão, os DVD's, sem excluir um só. Se eu não estivesse em todos eles, não mereceria ter o título de onipresente. Existe ainda um espaço que separa o sofá da estante. Mas, sendo onipresente, eu estaria até mesmo imerso nele.

Se sou onipresente, como posso me distinguir dos objetos a minha volta? Como posso saber que eu sou um, e eles outro? Eles não deveriam ser uma extensão do meu próprio corpo?

Ricardo Dabo, a propósito, senti pena de você por ter que discutir a questão da ressurreição com o Alfredo. Eu desisti antes.

Ricardo Alves disse...

Anónimo,
a omnipresença é realmente um trabalhão. Mas acho que a religião joga muito com a sensação «alguém a olhar por cima do nosso ombro». ;)