sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

2010: cem anos da implantação da República

Lá para 5 de Outubro, vamos celebrar os 100 anos da implantação da República (e 51 de regime efectivamente republicano).
Alguns monárquicos, visíveis sobretudo na blogosfera, falam do «5 de Outubro» como se este tivesse consistido no desembarque, na Rotunda, de um disco voador do qual alienígenas estranhos à Naçon e desfasados da realidade tivessem desembarcado, apostados em tomar o poder e realizar medidas sem qualquer lógica nem racionalidade e que ninguém em Portugal legitimamente desejava: abolir a monarquia (como se um plebeu, um filho de um gasolineiro de Boliqueime ou um cabo-verdiano pudessem um dia ser chefes de Estado sem provocar uma catástrofe cósmica), laicizar o Estado (como se ser português não fosse sinónimo de ser católico), alargar o ensino básico e criar universidades (como se não bastasse a de Coimbra e o povo quisesse ler, sabe-se lá, quiçá pensar), dar direitos às mulheres (como se os maridos não soubessem o que é melhor para elas), e meter Portugal na guerra europeia (o que até os monárquicos apoiaram).

Enfim, 1910 foi um dos melhores momentos do Portugal do século 20, só comparável a 1974.
O Partido Republicano foi o primeiro partido político português moderno, com um real projecto de modernização nacional, e com uma sólida implantação de base. Quem não acredita pode ir estudar, por exemplo, o que foi a rede de Centros Republicanos, que serviam simultaneamente de escolas (num período em que o Estado não cumpria as suas obrigações nesse campo), de centros difusores de cultura e propaganda (não havia blogues), e de pólos políticos. Pode dizer-se que, há 100 anos atrás, a hegemonia cultural e política nos centros urbanos era republicana. Muito graças aos numerosos Centros Republicanos.
Os republicanos não eram alienígenas. Também não eram perfeitos. Mas sem eles, estaríamos hoje muito pior.
Um feliz 2010 republicano.

2 comentários :

Francisco Brito disse...

Caro Ricardo Alves,

Concordo com muito do que diz, mas há certas coisas que, quando se quer falar deste assunto com seriedade não se podem dizer ou esquecer. Falo por exemplo de referir a origem social dos PR durante a Primeira República, que se for a ver bem não é muito diferente da dos Ministros da Monarquia Constitucional (vinham por regra das elites). Falo também do facto das mulheres não terem direito a votar. Falo do número de eleitores ter descido durante a Primeira República, da censura, dos presos políticos, etc.

Cumprimentos e Bom 2010,

Francisco Brito

Ricardo Alves disse...

Caro FB,
a origem dos PR´s durante a presente República já não é elitista de origem, como pode reconhecer. Quanto às mulheres: concordo que foi uma falha não lhes conceder o direito de votar. Mas, mesmo assim, a implantação da República veio a traduzir-se em avanços significativos para os direitos das mulheres. Por exemplo: a igualdade no casamento e no Código Civil.