terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Revista de blogues (5/1/2010)

  1. «O que eu já não compreendo, nem apoio, é que o PS e o Governo entendam, do mesmo passo, introduzir uma outra inaceitável discriminação contra os homosexuais: e é isso o que acontecerá, se for aprovada a inclusão no Código Civil da interdição de adoptar, para homosexuais que se casem. (...) E assim, ficará em causa a coerência política desta iniciativa do PS. Até porque, além de inconstitucional, esta discriminação é duplamente injusta, se tomarmos em conta que a lei hoje não proibe cidadãos homosexuais, solteiros ou casados, de adoptarem crianças. É injusta para os homosexuais que, se quiserem adoptar, terão se se manter solteiros ou entrar em casamentos heterossexuais de fachada. E é também muito injusta para os milhares de crianças institucionalizadas no nosso país, que desesperam por famílias de acolhimento.» (Causa Nossa)
  2. «O abominável comentador das neves está que não pode. Imagine-se que o governo Sócrates permite e abençoa que "(...) um homem [possa] abandonar a família para fugir com a mulher de outro". Isto contra os verdadeiros sentimentos da sociedade, que só por apatia não sai à rua de barba furibunda e pedra em punho. Não muito perto do seu habitat natural mas também escondidos nas montanhas da Ásia, há uns cavalheiros que continuam a bater-se pelos mesmos ideais do comentador do DN. E que, tal como ele e apesar dos séculos, mantêm uma confiança absoluta na sua própria rectidão e no direito divino de a impor aos outros. Desgraçadamente, só não partilham da mesma fé em referendos.» (Verdade ou Consequência)

13 comentários :

João Vasco disse...

«O que eu já não compreendo, nem apoio, é que o PS e o Governo entendam, do mesmo passo, introduzir uma outra inaceitável discriminação contra os homosexuais»

Eu compreendo perfeitamente.
Não faz sentido do ponto de vista ético e legal, mas faz sentido do ponto de vista político.

E essa é uma cedência que compreendo, parece-me aceitável. Vivemos em democracia, e sem esta cedência possivelmente não se teria chegado tão longe.

Percebo que os políticos dos partidos com ambição de poder queiram, a este respeito, dar um passo de cada vez.

Ricardo Alves disse...

Do ponto de vista político, é uma medida prudente demais. Poderia até dizer «cobarde». Mas que é apoiada pela generalidade dos movimentos de homossexuais, tanto quanto vejo.

De qualquer modo, trata-se de criar uma discriminação, o que só vai arrastar o problema no tempo.

João Vasco disse...

Não me parece prudente de mais. Por incrível que pareça, conheço muito poucas pessoas acima dos 40 que falem a favor do casamento homossexual. Mesmo pessoas de esquerda.

E que falem contra, não tenho ouvido outra coisa da parte de gente dessa idade.

Claro que isto é a heurística da assessibilidade, teria de ver estatísticas para ver se corresponde à realidade. Mas não é por acaso que esse casamento é permitido em tão poucos países, e até vamos ser algo pioneiros. É realmente uma medida politicamente difícil.

Sou não consigo é compreender porquê.

Ricardo Alves disse...

As sondagens que vi indicam uma maioria estreita no contra. Mas eu diria que as pessoas contra, salvo uma pequena minoria, são muito menos militantes e emocionais nesta questão do que, por exemplo, no caso da IVG.

E a questão da adopção vai colocar-se fatalmente, logo a seguir. O que só prolonga esta questão.

João Vasco disse...

Ricardo:

O PS pode aprovar o casamento sem adopção, porque era o que constava do programa eleitoral.
Como adopção estava fora da equação, a questão do casamento não dominou a campanha eleitoral, e o PS não perdeu muitos votos à custa desta problemática.

Se o PS tivesse proposto a adopção, podia ter tornado este assunto num assunto mais importante, e isso além de poder custar a maioria ao PS, poderia mesmo custar a maioria à esquerda (duvido, mas não é impossível).

Claro que um partido não deve pensar só em função dos votos, e estou disposto a penalizar um partido que o faça. Mas também não sou ingénuo: não esperaria que um partido, para tentar avançar mais rápido nesta questão, fosse correr sérios riscos de perder as eleições.

Pareceu-me um compromisso perfeitamente aceitável.

Ricardo Alves disse...

As eleições já passaram. Foi eleita uma maioria parlamentar apoiante do casamento (explicitamente) com componentes favoráveis à adopção (BE, deputados do PS...). Não creio que fosse uma traição ao eleitorado o PS apoiar agora a adopção.

João Vasco disse...

Esse é um bom argumento.

Mas aí ficava mais delicado recusar o referendo.

Na circunsância actual essa recusa é perfeitamente defensável.

Ricardo Alves disse...

Mas afinal (esquecendo o compromisso eleitoral), qual é a razão de fundo para os casais homossexuais não poderem adoptar? É assim tão importante que leve a que:
a) o casamento apareça sem adopção nos programas eleitorais;
b) se o casamento passa a incluir a adopção, isso dá direito a referendo?

João Vasco disse...

«Mas afinal (esquecendo o compromisso eleitoral), qual é a razão de fundo para os casais homossexuais não poderem adoptar? »

Não me parece que exista nenhuma razão fora do domínio das estratégias eleitorais.


«É assim tão importante que leve a que:
a) o casamento apareça sem adopção nos programas eleitorais;
b) se o casamento passa a incluir a adopção, isso dá direito a referendo?»

Eu não acho que dê direito a referendo.
Eu acho que quem o recusasse nessa circunstância (e deveria fazê-lo, obviamente) estaria numa situação mais frágil.

Anónimo disse...

"O abominável comentador das neves". Épico :)

no name disse...

a mim o que me irrita nestas questões é que vamos pé ante pé com medo de ferir susceptibilidades conservadoras e retrógadas e demoramos 10, 20 anos para fazer um punhado de alterações legislativas que se podiam discutir e fazer numa ou duas semanas... porque depois falta a adopção e depois a eutanásia e depois não sei que mais, e chega a 2020 e ainda andamos nisto... seeeeca.

José Teles disse...

Ricardo Alves, muito bom este vosso blogue, canudo, e ninguém me dizia nada, sou sempre o último a saber. Pois faço-me seguidor, inclui-o na minha lista de blogues que é obrigatório ver!
saudações republicanas

Filipe Castro disse...

Também me parece de uma cobardia injustificável proibirem as adopções.