sábado, 23 de janeiro de 2010

Ainda sobre os crucifixos das escolas

Um dos comentários que tenho ouvido mais frequente, a amigos e familiares, é que ninguém liga aos crucifixos, e nós estamos a fazer uma tempestade num copo de água. Eu não posso discordar mais desta opinião. Percebo de onde vem, mas discordo energicamente. Em primeiro lugar porque acho que esta polémica deve servir para ajudar a sociedade civil (e o clero) a verem a fronteira entre a Igreja e o Estado com mais clareza. Vai sendo tempo de ir habituando os padres à ideia de que não estão acima da lei.

Mas o problema, em meu entender, é que a maioria dos católicos que conheço nunca abriu a Bíblia, acredita que os evangelhos são uma antologia de bons conselhos, indiscutível e universalmente bons, e que a relação destes católicos com a igreja consiste em frequentarem as cerimónias dos casamentos e baptisados dos amigos e, mais importante, as missas dos enterros, que os confortam com a ideia de que as coisas que acontecem têm sentido e razão de ser e que os mortos vão para um mundo melhor onde nos poderemos todos encontrar daqui a muito tempo (o filme de Ricky Gervais, "The Invention of Lying" ilustra esta parte eloquentemente).

Estes católicos acham que os padres são seres humanos e por isso não são perfeitos, mas que a Igreja é uma organização fundamentalmente boa e moral, que promove os ideais humanistas do Renascimento e faz o que pode para melhorar a sociedade todos os dias.

Nunca pensaram na Igreja Católica como uma organização internacional com milhões de Euros de encargos mensais, que precisa de muito poder e muito dinheiro para sobreviver no mundo extremamente complexo da política e da finança internacionais.

Se virmos a questão dos crucifixos por este prisma, é tão imoral ter crucifixos nas escolas como cartazes da Procter & Gamble, ou da Apple. Independentemente da qualidade dos sabões da P&G, ou da qualidade dos computadores e dos i-phones da Apple.

Acresce que, analisada objectivamente, a qualidade do serviço da Igreja, nos últimos 1500 anos, é má: pogroms, autos de fé, excomunhões, abusos de poder, guerras, invasões, crusadas, um index para livros científicos, negociatas com a Máfia, padres camorristas, pedófilos, drogrados, ladrões, assassinos, colaboracionistas, tarados sexuais, o rol das desgraças é interminável.

Neste contexto, por muito que pareça a todos os agnósticos que em Portugal se consideram "católicos não praticantes" que esta questão é irrelevante, o que está em causa é a defesa da democracia, do estado de direito e da transparência das relações entre o Estado e a ICAAR.

12 comentários :

António Parente disse...

Caro Filipe

A violência da sua linguagem adequa-se ao estilo dos profetas do Antigo Testamento. Só falta lançar os cristãos na fogueira. Há aí um espírito inquisitorial assustador. Eu que sou cristão católico até fico aliviado por o Filipe ser ateu.

Ricardo Alves disse...

Não vejo onde está a violência verbal. Só se for no último parágrafo, mas tudo o que lá está tem exemplos bem conhecidos.

António Parente disse...

Não acha estranho o Filipe falar em 1500 e não em 2000 anos? Será que o único período bom da Igreja foi quando os cristãos eram comida de leão no coliseu de Roma?

Filipe Castro disse...

:o) Eu não falo nos primeiros 500 anos porque acho que a ICCAR não tem nada a ver com as brutalidades horríveis desses séculos, as invenções dos sítios bíblicos, as guerras entre facções, a repressão brutal da espiritualidade, da liberdade de culto e até da filosofia em todo o império romano...

Ricardo Alves disse...

A igreja cristã só existe desde o concílio de Niceia. Antes, havia um movimento religioso, mas não estruturado, e portanto sem uma teologia uniformizada nem uma estrutura de poder.

Filipe Castro disse...

Já passou em Portugal o filme do Ricky Gervais "The Invention of Lying"?

António Parente disse...

Ah, não? Nunca leu as cartas de Paulo, Ricardo?

Ricardo Alves disse...

Li sim, António. Em qual delas é que aparece um Papa estabelecido em Roma e infalível?

António Parente disse...

Em nenhuma. E o que tem isso a ver com os primeiros 500 anos?

Filipe Castro disse...

Eu espero que a Igreja Católica não se reclame herdeira do espírito dos primeiros 500 anos e das depurações das "heresias", que fazem do Zé Estaline um menino de coro.

António Parente disse...

Filipe

Seu Zé Estaline é inultrapassável. Ninguém rejeita o mau da Igreja Católica. Pelo menos eu não o faço. Não me sinto responsável por nada do que aconteceu porque até lido muito mal com o conceito de pecado original mas considero que o passado serve-nos sempre de lição para não o repetirmos no futuro quando ele nos envergonha.

No seu caso, como não o conheço, ainda não sei qual é a sua posição política e ideológica para ver que esqueletos tem dentro do armário. Espero conhecê-los pouco a pouco dando que montei a tenda aqui nesta caixa de comentários e salvo qualquer pedido explítico para me ir embora vou ficar aqui pelo menos 3 anos (não é uma ameaça... :-)).

João Vasco disse...

Antonio:

Depois de ter chamado religioso a Jonh Lennon, so faltava chamar comunista o Filipe Castro, eh!eh!eh!