sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Obama continua exemplar

Obama castiga Wall Street com a criação de uma nova taxa

"A minha determinação é conseguir recuperar todo o dinheiro que pertence ao povo americano. E essa determinação resulta da constatação de que a banca regressou aos lucros maciços e aos bónus obscenos", afirmou Obama. A mesma banca que "deve a sua existência ao povo americano", acrescentou.


Veremos é se a medida passa no Congresso...

10 comentários :

João Vasco disse...

No que diz respeito às reformas financeiras, Obama não só está à direita de quase todos os congressistas democratas, como de alguns republicanos (incluindo McCain!).

É verdade que esta medida é positiva. Mas é insignificante face ao que está em jogo.

Se o nível de regulamentação era 100, e nos últimos anos passou a 40; Obama traz a "mudança" e põe o nível a 41.2!
Change we can belive in.

É uma traição exemplar aos que o elegeram.

Filipe Moura disse...

Seguramente não foi o Obama que colocou o nível de regulamentação a 40. E eu continuo sem ver onde esteja a tal "traição" de que tanto falas. Eu, que nunca fui obamaníaco, tenho que assumir aui o papel de defensor do Obama, está visto...

João Vasco disse...

«Seguramente não foi o Obama que colocou o nível de regulamentação a 40. »

Não, foi quem cumpriu as suas promessas ao eleitorado.
Nos EUA, a direita cumpre as promessas.

O eleitorado de esquerda bem pode protestar e berrar, que os políticos de direita ignoram olimpicamente e vão em frente. Só não conseguiram a privatização da segurança social.

Conseguiram tudo o resto.

Os senadores democratas querem bloquear? Reconciliation.
Os congressitas democratas querem negociar? Linha na areia, daqui não passamos.

Tinham uma proposta para desgraçar o país, e tiveram força para a cumprir. Tiveram força, e cumpriram.

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E à esquerda, Obama promete a mudança, mas faz tudo menos isso.

Faz propostas ousadas, corajosas, inteligentes, grangeia o apoio de pessoas que dão o seu esforço e as suas economias, porque vale a pena lutar por essas propostas e...

...e deita-as no caixote do lixo quando chega ao poder, para as substituir por pequenos ajustes quase irrelevantes.

Isto para não falar na "reforma" da saúde, esse presente de Natal para as seguradoras.


Têm 60 lugares no senado, e têm menos força que Bush com 51 lugares. É caricato.

Obama não é parvo. Ele está agir com tanta falta de força, não é porque não saiba. É porque não quer.

E curiosamente, ele é forte na altura de sobterrar propostas mais fortes e ousadas do seu lado da barricada. Mesmo quando têm o apoio de parte do GOP.

João Vasco disse...

Peço-te que vejas isto com atenção:

http://www.youtube.com/user/TheYoungTurks#p/u/23/Ux6cr-p8ZI8

Filipe Moura disse...

"Nos EUA, a direita cumpre as promessas."

Justamente. Nos EUA a direita pode fazer promessas; a esquerda só pode propor reformas tímidas. Os EUA são um país cujo centro de gravidade político está deslocado muito mais para a direita do que um europeu possa supor. Nos EUA um político não se pode definir como "abertamente de esquerda" (o Bush pai ganhou as eleições ao Dukakis por lhe ter chamado "esquerdista"). Definir-se como ateu, ou mesmo agnóstico, então, nem pensar. É morte política certa.

"Têm 60 lugares no senado, e têm menos força que Bush com 51 lugares."

É verdade. Mas é assim. Dentro dos democratas há muitos tipos como o Liebermann (ou candidatos a futuros Liebermann). E lá não há disciplina de voto.

"Obama não é parvo. Ele está agir com tanta falta de força, não é porque não saiba. É porque não quer."

Concordo com tudo o que escreves até este parágrafo. Olha, vai aos EUA, habitua-te a um "In God We Trust" em cada nota de dólar, a um "God Bless America" em cada conta de supermercado, e depois falamos sobre quem é o "traidor". O Obama tem conseguido coisas que pareciam impensáveis.

João Vasco disse...

«Os EUA são um país cujo centro de gravidade político está deslocado muito mais para a direita do que um europeu possa supor.»

Nos EUA Obama concorreu com um programa de esquerda e venceu.

O "centro político" queria ver esse programa cumprido.

Por exemplo, Obama propôs a "Public Option" e apesar de toda a propaganda das seguradoras, em todas as sondagens um valor entre 60%-80% era favorável a essa medida.

E se isto já é esmagador, devo dizer-te que em alguns destes casos havia quem fosse contra a public option e responder "não" na sondagem, por achar que isso era um compromisso fraco e querer o "single payer".

Mas apesar do esmagador apoio popular, a "public option" não passou.
Podia ter passado. Bastavam 51 lugares no senado ("reconciliation"), que foram os suficientes para Bush mandar a baixo as finanças com os seus cortes fiscais.
Cerca de 57(!) senadores democratas estavam dispostos a votar favoravelmente. Só eram necessários 51.

O eleitorado americano está à diretita do europeu, é certo. Mas está muito à esquerda dos políticos americanos actuais, e certamente à esquerda da casa branca (porque foi favorável ao programa de Obama, muito à esquerda do Obama actual), talvez traumatizado com Bush.

Um Roosvelt soube aproveitar a situação e deixar um legado duradouro e transformador.

Obama prometeu a mudança e vai deixar tudo na mesma, fora limpar o pó aqui e ali.

João Vasco disse...

Filipe:

Vê aqui o que Stiglitz e outros economistas dizem sobre a actual situação financeira, e sobre o que (não) tem sido feito para evitar uma crise pior que a anterior:

http://www.youtube.com/user/TheYoungTurks#p/u/48/MYvUSw51QKg

É assustador.

Não é com uma taxazita que se vai lá. Essa taxa vai aliás, de acordo com as ameças dos bancos, ser transferida para o consumidor.

É taxando sim, e principalmente conhecendo, as derivadas. Em último caso proibir muitas delas.
Obama não vai proibir nada disso, nem taxar. Obriga a que se conheçam, o que sempre seria um princípio. Infelizmente existe uma "loophole" na lei que obriga os bancos a tornarem públicos esses valores, no qual podem passar mais de 90% das derivadas.
Na prática está tudo na mesma.

João Vasco disse...

Repito: nisto a casa dos representantes está à esquerda de Obama. É o próprio Obama que luta contra várias das propostas mais fortes que vão surgindo na casa dos representantes.

Filipe Moura disse...

João, acho que está visto que nunca nos vamos entender sobre este tema. Deixa estar: não é grave. Um abraço.

João Vasco disse...

Repara Filipe que eu não lamento que Obama seja moderado, muito à direita daquilo que seria um político europeu típico.

Ele concorreu com um programa moderado, dizendo que não ia instituir um sistema público de saúde universal, dizendo que Israel poderia a continuar a contar com o apoio dos EUA, enviar mais tropas para o Afeganistão, etc..

Eu achei que fazia bem, que de outra forma não venceria as eleições e não poderia fazer mesmo nada.

O programa dele estava no "centro político" dos EUA, e em grande medida foi isso que lhe deu a vitória avassaladora que ele teve.

Mas se Bush não governou à esquerda das suas promessas, Obama não se limitou a governar à direita das suas promessas.
Porque o corporativismo não é de esquerda nem de direita, da mesma forma que a corrupção não é de esquerda nem de direita.

Obama não lutou pelo cumprimento das promessas que ele havia feito. Chegou ao extremo de lutar contra o seu cumprimento (no caso da "public option").

E no que diz respeito a este tema em particular, não te preocupa aquilo que o Stiglitz afirmou? Que com esta política vai acontecer uma nova crise possivelmente pior que anterior?
Não te preocupa que Obama não esteja a fazer nada para a evitar, e que chegue ao extremo de lutar contra quem quer fazer?
Nota que não é a minha opinião. São entendidos em economia que pensam desta forma.

Paul Krugman não é propriamente o típico militante do BE, e Stiglitz era suficientemente moderado para fazer parte do governo Clinton.

Eu sabia que Obama era moderado, apesar dos anúncios "change we can believe in", mas que faria menos que Clinton para defender os interesses dos seus eleitores, foi uma surpresa para mim.

Depois desta traição, dificilmente a esquerda se vai empenhar numa batalha eleitoral como se empenhou nesta. Isso asusta-me.