É comum dizer-se que nas últimas décadas a desigualdade tem aumentado. Diz-se que o fosso entre ricos e pobres está cada vez maior.
Isto é apoiado pelo facto de nos diferentes países isso ser verdade: escolha-se um país, e muito provavelmente as diferenças sociais entre ricos e pobres são maiores que há três décadas.
No entanto, aponta alguma direita e bem, as desigualdades entre os países têm-se atenuado. A China e a Índia, por exemplo, estão a enriquecer (em proporção) muito mais rapidamente que os páises do ocidente.
Mas qual é o balanço entre ambas as realidades? Será que ninguém tem razão, as desiguldades mantiveram-se, mas a sua distribuição espacial é que se tornou mais uniforme? Será que o aumento das desigualdades dentro de cada país supera a diminuição de desiguldades entre países?
Para aferir isto, considerem-se os rendimentos em termos de poder de compra, e considere-se o mundo inteiro como um único país. Veja-se se as desiguldades neste país aumentaram ou diminuiram. Esses dados são apresentados no seguinte gráfico:
Como vemos, ao longo das últimas décadas o fosso entre ricos e pobres diminuiu. Repetir que aumentou é caír em erro.
As razões que levam à diminuição não são milagrosas: a tecnologia que tem sido desenvolvida nas últimas décadas encoraja a difusão dessa mesma tecnologia. Assim, se uma parte significativa da produtividade se deve à tecnologia, é de esperar que à medida que a tecnologia difunda as desiguldades diminuam.
Mas se o mundo era um gigantesco «Brasil» no qual os países mais ricos se encontravam relativamente protegidos, não bastarão ligeiras reduções na desigualdade para evitar que todos os países se tornem desta forma.
As desigualdades dentro de cada país não devem continuar a aumentar, sob pena de maior criminalidade, depressão, e uma série de outros problemas sociais que lhe estão associados. Sob pena da qualidade de vida da maioria dos cidadãos ser severamente afectada. Na verdade, é possível conciliar uma diminuição das desigualdade globais, com uma diminuição das desigualdades internas, sem prejudicar a prosperidade global. As soluções são menos simples que aquelas que a cartilha do liberalismo de direita sugere, exigem mais negociação e concertação internacional. E parte de nós, eleitores, lutar por elas.
4 comentários :
«o fosso entre ricos e pobres diminuiu»
Entre «países» ricos e pobres?
As unidades para fazer os gráficos foram os países, certo?
Não.
Foram as pessoas.
«Para aferir isto, considerem-se os rendimentos em termos de poder de compra, e considere-se o mundo inteiro como um único país. Veja-se se as desiguldades neste país aumentaram ou diminuiram. Esses dados são apresentados no seguinte gráfico:»
Olhai que as diferenças entre 0,66 e 0,64 säo mínimas... ainda mais se vermos que é ao longo de 30 anos! A diminuiçäo significativa da desigualdade é um mito. Manteve-se nos 0,65 Gini ao longo de... 40 anos pelo menos.
Mas se o povo gosta, só têm o que merecem!
«A diminuiçäo significativa da desigualdade é um mito.»
Certo.
Mas nesse caso, o «aumento significativo da desigualdade», que está ainda mais longe da realidade, também.
Sem que a luta contra a desigualdade esmoreça, convém não repetir essa informação enganadora.
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