Manuel Alegre é acusado pela ortodoxia rosa de «se ter disponibilizado» para trabalhar para a «derrocada do PS», e é acusado pela ortodoxia vermelha de «não cumprir a sua missão» de «romper e fragmentar o PS». O que é demais para Tomás Vasques é de menos para Carlos Vidal. São perspectivas incompatíveis.
É evidente que Manuel Alegre cometeu um erro terrível: não ficar quietinho a gozar a sua derrota com (algum) sabor a vitória de 2006, e ter voltado ao terreno, promovendo conferências e editando revistas, animando redes de activistas e estabelecendo pontes com outros sectores políticos. Nunca um candidato presidencial saíra tão fortalecido de uma derrota. E nunca um candidato presidencial deixou tão claro que encarava a derrota como apenas uma batalha perdida numa guerra longa.
Teria sido preferível que se calasse e distanciasse, planando pela Assembleia da República e aguardando um apoio institucional do PS, qual medalha de bom comportamento? Até podia ser preferível. Mas não seria a mesma coisa.
Alegre, em 2010 como em 2006, continua a ser insuportável para os sectários do comunismo e do anti-comunismo. Mas uma vitória em 2011 não será possível sem o apoio, também, destes e daqueles. E é esse o desafio.
2 comentários :
Pôr ao mesmo nível o Tomás Vasques e o Carlos Vidal é obsceno. Porque um é democrata e o outro, assumidamente, não é. Se é esta a linha de pensamento da candidatura de Manuel Alegre, temo o pior. O que o Ricardo aqui me faz lembrar é aquela argumentação de Álvaro Cunhal em 1939 no "Diabo" da altura, opondo o nazismo e as democracias burguesas, para concluir que bom mesmo era o Pacto Germano-Soviético. Assim, não. Sou contra.
José Teles,
eu não coloquei o Tomás Vasques e o Carlos Vidal ao mesmo nível. Só comparei como, a partir de dois extremos opostos da esquerda, Manuel Alegre é, neste momento, proscrito. Para uns é próximo demais de Sócrates, para outros não é próximo o suficiente. O que é curioso, não acha?
Ah, e não sou membro de nenhuma estrutura de apoio a Alegre nem falo por ele.
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