- «Vem de longe a comemoração do dia em que Camões foi transladado para o Mosteiro dos Jerónimos, em 1880. Feriado nacional desde os anos 20 do século passado, a data ganhou um novo significado em 1944, quando Salazar a rebaptizou como «Festa de Camões e da Raça», por ocasião da inauguração do Estádio Nacional. Mais graves, e bem mais trágicos, passaram a ser os 10 de Junho a partir de 1963. Transformados em homenagem às Forças Armadas envolvidas na guerra colonial, eram a data escolhida para distribuição de condecorações, muitas vezes na pessoa de familiares de soldados mortos em combate (...). Desde 1978 que não é Dia da Raça e, para além de Portugal e de Camões, passou a festejar-se também as Comunidades Portuguesas.» (Joana Lopes)
- «Parece que é a nossa vocação mórbida que conduz à celebração da morte em vez da exaltação da vida e à perpetuação das piores memórias da ditadura para alimentar rituais que a higiene democrática já devia ter banido. (...) O 10 de Junho é a repetição da liturgia do Império a que faltam, agora, as colónias e os mutilados, as mães dos filhos mortos, as criancinhas a quem mataram o pai e os Pides que nunca foram julgados. (...) Para quem fez a guerra colonial e não perdeu a sensibilidade, é com um misto de revolta e de vergonha que vê o nome de Camões associado à palhaçada que a ditadura montava para legitimar a guerra ignóbil em que destruiu uma geração, com o cardeal a dizer uma missa por alma dos que mataram. Eu saí da guerra colonial, dos quatro anos e quatro dias de tropa, mas nunca saíram de mim os 26 meses de Moçambique, o Moura que lá ficou no rio Zambeze e o Dias cujo calor do corpo esmagado ainda sinto a sangrar-me nos braços a fazer-me sangrar por dentro.» (Carlos Esperança)
- «António Barreto é um académico decadente. Provou-o quando veiculou publicamente uma calúnia mal forjada sobre o almirante Rosa Coutinho. E esse acto infame é daqueles que desqualificam irremediavelmente um intelectual. (...) Entre as centenas de milhar de “soldados portugueses” que fizeram as guerras coloniais, houve quem as fizesse com gosto ou convicção, quem cometesse crimes de guerra, quem as fez como fatalidade do destino traçado, quem as fizesse lutando contra elas, quem por causa delas fizesse uma revolução que nos libertou do fascismo e do colonialismo. E houve, não poucos, os que optaram pela deserção para não se envolverem em guerras que repudiavam. (...) É que eu não me revejo nos comandos de Wiriamu ou nos fuzileiros do “Mar Verde”. Como estes, mais que certo, não lamentam a minha prisão no Pelundo (Guiné) por me rebelar contra uma ordem militarista e muito menos se dispõem a cumprimentar os que desertaram.» (João Tunes)
sexta-feira, 11 de junho de 2010
Revista de blogues (11/6/2010)
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6 comentários :
qual é a "calúnia mal-forjada" de que fala o último lincado?
não tenho aqui o discurso à mão.
A calúnia mal forjada é uma carta que a extrema-direita atribui a Rosa Coutinho e que podes ler nos comentários deste artigo:
http://esquerda-republicana.blogspot.com/2010/06/na-morte-de-rosa-coutinho.html
Quanto ao discurso do Barreto, ainda não o vi transcrito na íntegra.
A carta de Rosa Coutinho será verdadeira? Será forjada? Que provas existem de que terá sido ele a escreve-la? Que provas existem de que alguém a escreveu por ele?
Uma coisa é verídica: o terror que é descrito na carta.
A carta é obviamente forjada. Nem o Pacheco Pereira acredita nela.
Se o Ricardo garante que a carta é forjada o Povo fica mais descansado. Ficaria ainda mais descansado, se os factos relatados na carta não tivessem ocorrido, mas isso o Ricardo já não pode garantir, porque, ao contrário da carta, há provas de que foram reais, infelizmente.
Agora percebo porque não gosta de Carlos Santos, por ele não ser capaz de branquear a História: http://corta-fitas.blogs.sapo.pt/3715459.html
É assim mesmo. Se determinado fulano denuncia que um familiar morreu à custa das más politicas dos obreiros da esquerda, diz-se logo que o seu voto natural é o PNR. Quando a propaganda de esquerda é ameaçada por factos que lhe são desfavoráveis, a formula a utilizar é simples: chamar fascista ao adversário. Resulta sempre (ou já não).
Jamais se deve por em causa o dogmatismo da esquerda. É esta a tal esquerda que, tal como dizia Ricardo Araújo Pereira, ganha sempre. Mesmo que o voto popular lhes dê 6% nas eleições, dizem sempre que falam em nome do Povo.
Excelentíssimo Senhor Anónimo das 10:19,
nunca tive partido. Tento manter os olhos abertos e raciocinar com frieza, sem ser sectário. Parece-me óbvio que a carta é forjada, e já o expliquei a vários anónimos (não sei se vossemecê era um deles ou não).
Quanto a atribuir o que parece ser um aborto espontâneo à intercessão (divina?) de Rosa Coutinho, qualifica quem o faz.
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