segunda-feira, 7 de junho de 2010

As escalas das escolas

Existem escalas para diversas grandezas, graças às quais nem todos os valores dessas grandezas são fisicamente equivalentes, podendo mesmo determinar valores críticos, abaixo ou acima dos quais certas aproximações podem ou não ser válidas. Por exemplo, a velocidade da luz representa uma dessas escalas (que determina se é válida a aproximação newtoniana ou se se tem de considerar a teoria relativista). A constante de Planck é outra (e determina se um sistema é quântico ou se é bem aproximado pela física clássica). Por que têm estas grandezas os valores que têm e não outros é algo que a física ainda não sabe explicar, mas seguramente as nossas vidas seriam bem diferentes se esses valores não fossem estes. (Quem quiser “imaginar” como tal seria pode ler “As Aventuras do Sr. Tompkins” de George Gamow.) Estes valores possuem, assim, um significado físico bem claro.
Menos claro é o significado da escala que o governo decidiu fixar para o tamanho mínimo (em número de alunos) para uma escola poder funcionar - 20. Mesmo assim, apraz-me perguntar aos opositores desta medida se concordam que tal escala deve existir, mesmo que eventualmente tivesse outro valor, ou acham que tal escala não deveria existir? A segunda hipótese corresponde a uma teoria sem escalas fixas. Para além de tal não existir na natureza ao nível fundamental, tal hipótese equivale a uma escola só com um aluno representar o mesmo que uma escola com cinco mil alunos. É isto mesmo que defendem?
Na primeira hipótese, a de concordarem com a fixação da escala mas não com o valor proposto pelo governo, podem propor outro valor e justificá-lo? Ainda não vi nada nesse sentido.

Da mesma forma pergunto ao governo: será que tal escala deveria ser universal, isto é, o tamanho mínimo ser o mesmo para todas as escolas, independentemente da sua localização? Não me parece: numa cidade o tamanho mínimo deverá ser bem diferente de numa aldeia remota, com acessibilidades totalmente dferentes. Talvez este valor de 20 alunos já tenha isso em conta e seja o mínimo dos mínimos (que existe, uma vez que o conjunto de todas as escolas é limitado). Ou seja, talvez esse valor (20) tenha sido estabelecido já a pensar nas mais remotas aldeias e nunca em cidades. Ainda assim, o governo teria tudo a ganhar em justificar como chegou a este valor. Da minha parte, e embora reconheça o sacrifício que possa ser exigir a uma criança que se levante mais cedo e chegue a casa mais tarde, parece-me evidentemente desejável que as crianças convivam com colegas de outras terras que não a sua (se for uma aldeia pequena). É importante para uma criança ter colegas; escolas com muito poucos alunos não estimulam as crianças como deveriam nem conseguem proporcionar a qualidade pedagógica adequada. Se for mesmo verdade que esta foi uma medida “a régua e esquadro” e o número 20 resulta de uma folha de cálculo de um gabinete da 5 de Outubro, sem grande contacto com o mundo real das escolas, talvez fosse bom que neste assunto surgissem propostas alternativas construtivas.

1 comentário :

Anónimo disse...

Sobre o sair de casa cedo e chegar tarde:

há montes de crianças, tanto nas aldeias como nas cidades, que são deixadas no infantário (sim, crianças até com 3 ou 4 anos de idade) antes das nove da manhã e que só são de lá levadas às sete da tarde. E isto passa-se em Lisboa, até. Montes de crianças neste país que só vão a casa para dormir, tal como aliás os pais. Por comparação, as crianças das aldeias que agora irão para escolas primárias nas sedes de concelho até estarão melhor: provavelmente sairão de casa mais tarde e chegarão a casa mais cedo do que muitas crianças, até bem mais novas do que elas, da zona de Lisboa.

Tanta choradeira por causa das criancinhas de Alguidares de Baixo, quando as crianças da Brandoa ou de Linda a Velha vivem bem pior!

Luís Lavoura