terça-feira, 1 de junho de 2010

O trauma de 2006 e a esperança de 2011

O apoio do PS à candidatura presidencial de Manuel Alegre não é (ainda?) unânime entre a esquerda moderada. Não é outro senão Mário Soares quem diz que Sócrates «cometeu um erro grave», e na blogo-esfera há quem jure, desde já, que não votará em Manuel Alegre.

Compreende-se. Não se perdoa a Manuel Alegre ter provado, em Janeiro de 2006, que tinha razão contra a socrática direcção do PS, que entendeu dividir a esquerda com a candidatura extemporânea de Mário Soares. Alegre, em 2006, concorreu sem o apoio de partido algum, e teve o melhor resultado de sempre para um candidato nessas condições.

Ou não se lhe perdoa, principalmente, não seguir a linha justa, verdadeiramente rosa, do Partido: o ter passado uma parte dos últimos quatro anos a demarcar-se do PS pela esquerda e a construir pontes com o BE. Eu, que nunca tive partido, confesso que tenho uma simpatia instantânea por quem se marimba nos directórios partidários, nos seus tabus e nas suas eminências pardas. E Manuel Alegre, que representa a ala esquerda da social-democracia, é alguém que compreendeu que o sistema partidário implantado pelo 25 de Novembro, ao excluir a esquerda «radical» do governo, desequilibra sistematicamente à direita um país que vota consistentemente à esquerda. Que tente ultrapassar esse bloqueio só abona em seu favor.

É possível a um candidato da esquerda vencer a eleição presidencial sem ganhar o centro político. E Cavaco venceu, em 2006, pela margem mais curta de sempre para uma eleição presidencial. Nada está decidido. E não serão os partidos que irão a votos em Janeiro. (Felizmente.)

9 comentários :

Fernando disse...

Alegre não representa social-democracia, ala esquerda da social-democracia nem porra nenhuma: os nossos tempos trataram de dividir o espectro em quem suporta a economia de mercado ou que se lhe opõe violentamente. Sobra um sujeito que é político profissional desde a "revolução", daí não fazer muito sentido o post falar em alguém que se marimba nos directórios partidários; sem o PS, Alegre não iria longe.
Para terminar, deixe-me dizer-lhe que esse lugar-comum de dizer que Portugal vota consistentemente à esquerda é absolutamente erróneo: 80% dos portugueses votam nos três partidos do centro: ou ainda existe coragem para dizer que o PS pode ser considerado de esquerda, quando despudoradamente promove um código de trabalho como fez recentemente, e deixa cair a crise nos ombros de quem trabalha? Se o Capitalismo dá margem ao PS ou não, é outra questão. Mas ofende ao falar em esquerda, e virei repetir a cassete quantas vezes for preciso.

João Vasco disse...

«os nossos tempos trataram de dividir o espectro em quem suporta a economia de mercado ou que se lhe opõe violentamente. »

A ideia de que toda a esquerda "a sério" se opõe violentamente à economia de mercado denota uma lucidez tão grande como a ideia, partilhada por muitos "liberais" na blogosfera, de que o PP e o PSD são "socialistas".

É uma mera questão de perspectiva. Para quem está no Algarve, o Alentejo está a norte. E para quem está em Braga, o Porto está a Sul.

Daí a virem dizer que o Alentejo está no Norte do país, ou que o Porto está no Sul do país, corresponde a entrar na dimensão do disparate.

Se dividirmos o eleitorado português em Esquerda e Direita, como quem divide o país em Norte e Sul, vemos que grande parte da esquerda não se opõe (menos ainda violentamente) à economia do mercado, tal como grande parte do Sul está acima do Algarve.

Fernando disse...

Meu caro, eu já votei PS. Pretender que um partido é de esquerda e simultaneamente, repito, "promove um código de trabalho como fez recentemente, e deixa cair a crise nos ombros de quem trabalha" é uma falácia. Eu compreendo que os que tomaram conta do PS não são de todo pessoas com mau coração, o mercado é que não deixa o PS colocar-se à esquerda. Daí eu ter mudado de perspectiva. Mas peço desculpa por me ter afastado do post. Continuem o bom trabalho, ultra-frutífero, de promover uma Esquerda Grande que inclua trostkistas, maoístas, sindicalistas, social-democratas de esquerda, centro e direita, e continuem a ignorar a dinâmica do Capitalismo. Estamos conversados.

João Vasco disse...

Fernando:

Há aqui duas discussões diferentes. Uma é saber qual deveria ser a estratégia da esquerda. O Fernando acredita que a natureza do capitalismo é tal que, se a esquerda não o destroi é por ele subterrada. Discordo, mas é uma discussão interessante.

Outra discussão diferente é saber se quem não quer destruír a economia de mercado deixa automaticamente de poder ser considerado de "esquerda" a sério.

Eu não quero destruír a economia de mercado, e sou de esquerda.
A razão é mais ou menos a mesma pela qual estando em Lisboa estou no Sul do país (as Beiras são o centro).
Podemos tomar como referência este país, a UE, o mundo ocidental, o mundo todo. Em qualquer dos casos, sei que existem consideravelmente mais pessoas à minha direita, que à minha esquerda.
Por isso sou de esquerda, mesmo que acredite na importância da economia de mercado. Posso estar muito enganado quanto a esta consideração, mas não deixo de ser de esquerda.

Nota: eu não diria que Sócrates é de esquerda. Mas diria que a esmagadora maioria dos militantes e eleitores do PS são de esquerda.

Anónimo disse...

O Mário Soares é um gajo rancoroso, não há dúvida. Já com o Salgado Zenha foi a mesma coisa.
O Mário Soares é de esquerda porque para ele ser de esquerda é a melhor forma nos tempos que corre para ter poder e dinheiro. Poder e dinheiro é a única coisa que o move. Para ele e para os membros da Corja, claro.

Ricardo Alves disse...

Fernando,
uma das grandes vantagens da candidatura de Manuel Alegre é justamente ele poder fazer a ponte entre os 75% que votam nos partidos de governo e os outros, entre os que querem se «opõem violentamente» ao capitalismo e os que o celebram.

Fernando disse...

Ricardo: Nesse caso voto Fernando Nobre, que defende uma coligação dos partidos todos para salvação nacional. Veja lá, abrange 100% dos portugueses, enquanto o Manuel Alegre se fica pelos 75%.

Ricardo Alves disse...

Boa, Fernando. ;)

Mas não era bem isso que eu estava a dizer...

Antanças disse...

Fernando,

O amigo queria a União Soviética, não é? Mas não tem, nem terá. No dia em que vexas forem poder (dia de são nunca à tarde), terão resitência armada, se terão! Palhaços! Vivi durante anos sob um regime comunista-fascista; vi irmãos serem presos e nunca mais lhes deitei a vista, provavelmente torturados e mortos. Veja, olhe para os países onde o seu ideal foi implementado. SACANAS SEM LEI. Sabe que mais, seu palhaço, Vá para a Coreia do Norte que o pariu!