quarta-feira, 3 de março de 2010

Em defesa da escola pública

A ofensiva neoliberal contra a escola pública assenta a sua propaganda em dois temas: os rankings (seriações) escolares, e o cheque-ensino. Essa propaganda tem sido entusiasticamente difundida por alguns media, em particular o jornal Público da era JMF.

Através da divulgação anual, na imprensa amiga do lóbi da escola privada, das seriações das escolas em função dos resultados dos alunos, martela-se todos os anos a ideia de que as melhores escolas são as privadas. Esconde-se que as privadas recusam maus alunos e que nem todas (aliás, a maioria) ficam nos primeiros lugares das seriações.

Insistindo na ideia do cheque-ensino, espalha-se a ideia de que as escolas privadas são pagas pelos privados, enquanto as públicas são pagas por todos, e que portanto seria de justiça que a escola privada fosse subsidiada pelos impostos de todos. No entanto, cada vez se confirma mais que esta última ideia é falsa. Como referi ontem, 44% dos alunos do privado são financiados pelo Estado.

Com toda esta propaganda do lóbi da escola privada, não admira que a quebra demográfica se sinta apenas no público. E enquanto não aparece um governo de esquerda que devolva à escola pública a primazia que merece, os cidadãos pouco mais podem fazer do que protestar.

Vale a pena ler alguns comentários retirados do site do Público. Realmente, os cidadãos não se deixam enganar sobre o que está em causa.
  1. «O quê?! Os meus impostos andam a financiar o ensino das elites e das corporações religiosas?! Afinal o que é isto? Se há escolas públicas, quem quer colocar os filhos no privado que as pague. Andam há décadas a destruir a escola pública, a atacar a qualidade do seu ensino, a desmantelar as necessárias regras de disciplina dos seus alunos, a disseminar a ideia de que a formação no público é má, de que os professores não são bons e não trabalham. Na prática estão apenas a direccionar a formação das elites para redes ligadas à igreja. Ontem o São João de Brito, depois o Planalto, agora o Colégio São Bernardo. E tudo com a desculpa da crise financeira do Estado. Volta Afonso Costa estás perdoado!»
  2. «Resumindo, quase metade dos alunos/clientes do ensino privado são subsidiados pelo Estado, ou seja, quase metade do financiamento do ensino privado é público. E no entanto os colégios não têm que obedecer às regras das escolas públicas, podem rejeitar alunos por serem pobres, maus alunos ou não-católicos, só para dar alguns exemplos. E certamente que a esmagadora maioria desses 44% têm uma escola pública próxima e com o mesmo currículo da privada. Que justificação então para este esbanjamento de recursos?»
  3. «Isto é completamente absurdo, só se fala em défice e depois anda o estado a pagar o colégio aos meninos!? Mas isto tem ponta por onde se lhe pegue? Quando as escolas públicas têm cada vez menos alunos? E essa dos colégios em zonas onde não há oferta pública não colhe, conheço ene casos que são supostamente assim, mas afinal basta ir à freguesia ao lado para ver a escola pública. Temos que acabar de vez com esta mentalidade dos privados a viverem à conta do estado. Não tenho nada contra o ensino privado, mas se é privado, deve ser financiado pelos privados, livrem o estado dessa!»
  4. «É assim mesmo. Os paizinhos não acham chique os filhos andar no ensino publico e quem paga é o Zé Povinho. Andamos a engordar os porcos. Pagam-se balúrdios para ter os filhos no ensino privado e os proprietários de tal ensino pagam aos seus trabalhadores (ou escravos/professores) a preço de esmola... Andamos a engordar os porcos. Mas a estupidez do povo impera. Um mesmo professor só recebe queixas no publico. No privado, como os pais pagam, desde que a nota esteja assegurada, passa de besta a bestial. O mesmo se passa com os médicos. Bom, acaba-se com o ensino publico, com a saude,... Acaba-se com todas as obrigações do estado. Mas acabe-se também com a corja de chupistas da assembleia e viva-se numa absoluta anarquia. Andamos a engordar os porcos.»

6 comentários :

André Carapinha disse...

Olá. Peço desculpa pela intromissão, mas é apenas para anunciar que o blogue 2+2=5 regressou após cerca de 1 ano de hibernação.

Obrigado e cumprimentos

Ricardo Alves disse...

Bem regressados! ;)

António Parente disse...

O Estado apoia escolas privadas onde não existem escolas públicas. Em Lisboa, duvido que alguma escola privada receba apoio do Estado, por exemplo.

Os comentários citados no seu post são de uma ignorância atroz.

Os meus filhos nunca frequentaram uma escola pública e não frequentarão enquanto eu tiver capacidade financeira e eles manifestarem vontade de continuar na escola onde estão. Os meus filhos frequentam uma escola privada laica, não confessional. Continuo a pagar os meus impostos e a financiar os estudos dos filhos dos outros, ao contrário do que alguns comentadores insinuam. Também verifico que há uma diminuição de inscrições nas escolas privadas a partir do 10º ano. Isso acontece porque vão para escolas públicas à procura de classificações mais elevadas (e conseguem-no, acrescente-se).

Posts como este que escreveu e os comentários do site do Público deixam-me preocupado. Quando fala em "governo de esquerda" ainda mais assustado fico porque essa não é a minha esquerda.

João Vasco disse...

Eu cheguei a frequentar os Salesianos de Lisboa durante 2 anos. Nessa altura a percentagem era 30%, abaixo da média nacional actual, talvez por ser em Lisboa, talvez por esta ter subido entretanto (já foi há mais de 10 anos).

Mas pelos vistos também onde há oferta o estado financia o ensino privado.

Ricardo Alves disse...

António Parente,
dinheiro público para a escola pública, dinheiro privado para a escola privada.

A escola pública desempenha um papel que as escolas privadas, regra geral, não desempenham: juntar alunos de todas as classes sociais, assegurar um ensino não confessional, ter a porta aberta para todos os alunos.

As escolas que praticam a segmentação social e o confessionalismo podem existir. Mas não devem ser subisidiadas pelo Estado.

António Parente disse...

Ricardo Alves

O meu pensamento sobre o que é público e sobre a escola pública tem vindo a modificar-se nos últimos tempos. Estou numa fase de transição. Ainda concordo com parte do que diz mas daqui a uns meses provavelmente já estou em completo desacordo.